BAIRROS MAIS POPULOSOS: Embaré – 37.807; Aparecida – 36.440; Ponta da Praia – 31.573; Boqueirão – 30.869; Campo Grande – 27.787; Gonzaga – 24.788; Marapé – 20.992; Macuco – 19.870; Rádio Clube – 19.179; Encruzilhada – 15.588

Imagem: infografia publicada com a matéria

BAIXADA SANTISTA

Bairros mostram contraste chocante

Censo 2010 divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revela as diferenças entre as realidades de Santos

Maurício Martins

Da Redação

A empregada doméstica Flávia Souza do Nascimento, de 31 anos, mora com a mãe em um barraco dividido em três cômodos, na Alemoa. Vive sem saneamento básico, em condições degradantes. "Aqui há muitos bichos, mosquitos. Quando chove, enche tudo", diz. Estar ali não é questão de escolha, mas de salário. O que ganha é pouco para uma moradia melhor e aumentar a remuneração não é fácil. "Falta oportunidade, um investimento maior do poder público em cursos".

Já a empresária Rosa Maria Bandiera Marsaioli é moradora de uma casa ampla, no Morro Santa Terezinha. Foi a primeira a se instalar no condomínio, há 41 anos, quando o então marido Cláudio Doneux loteou o local. Tem à disposição 341 metros quadrados de área verde, com vistas generosas. "É uma tranquilidade, com muito verde, segurança. Gosto dos jardins, da qualidade de vida daqui. Gostaria que outras pessoas pudessem ter isso".

O contraste entre as duas realidades fica evidente no resultado do Censo 2010, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A renda média mensal, por pessoa, na Alemoa, é de R$ 334,58. Doze vezes (ou 92%) menor do que o valor apurado no Morro Santa Terezinha, de R$ 4.199,23. O índice leva em conta o total da renda de cada bairro, dividido pelo número de moradores acima de 10 anos.

O presidente da Associação de Melhoramentos da Vila Alemoa, José Inácio Leite, acha que a renda no bairro pode ser melhorada com qualificação profissional. "A pessoa precisa aprender uma profissão para ter um salário melhor". Leite acredita que parcerias entre a prefeitura, o Sesi e o Senai podem ajudar. "Os moradores também têm que se interessar".

As rendas mais baixas, além da Alemoa, foram constatadas pelo IBGE no Morro da Caneleira, Cabuçu, Monte Cabrão e Chico de Paula. Os bairros com os melhores indicadores, depois do Morro Santa Terezinha, são Gonzaga, Boqueirão, Pompéia e Ponta da Praia.

Os barracos da Alemoa são bem o símbolo de um bairro onde a renda menor da Cidade pede ação urgente do poder público

Foto: Fernanda Luz, em 29/1/2010, publicada com a matéria

Já no Morro Santa Terezinha, de maior renda, moradores têm conforto e boas condições

Imagem: Google Maps, publicada com a matéria

Analfabetismo – As taxas de analfabetismo também são desiguais. Enquanto no Morro Santa Terezinha o índice é zero, na Alemoa chega a 7,8%.

No entanto, os resultados mais negativos neste quesito estão nos bairros Trindade (28,6%), Guarapá (15,7%) e Iriri (12,8%), todos na Área Continental do Município (veja quadro).

Com aproximadamente 100 moradores, essas áreas refletem pouco no índice total de alfabetização da Cidade. Ainda assim, a Prefeitura afirma que faz um trabalho para reduzir esses números.

"Temos, no Monte Cabrão e em Caruara (Área Continental), um programa chamado Parceiros do Saber. São salas de alfabetização, com um tipo de educação não formal. Encaminhamos o professor e o material, mas não existe uma quantidade de horas, de dias letivos. Vamos nos adequando à comunidade", explica a coordenadora de política educacional da Secretaria de Educação (Seduc), Suzana Artonov.

Atualmente, segundo a Seduc, 42 jovens e adultos estão em processo de alfabetização no local.

Bairro tem 37.807 moradores. Secretário atribui maior densidade à excelente infraestrutura

Foto: Alexsander Ferraz, publicada com a matéria

Embaré, o mais populoso, cresceu 2,7%

O Embaré é o bairro mais populoso de Santos, segundo dados do Censo 2010. Os números divulgados pelo IBGE mostram que o local possui 37.807 moradores.

Em uma década (o último levantamento foi em 2000), o Embaré cresceu 2,7%, nove vezes mais do que a média da Cidade, que foi de 0,3%. Santos passou de 417.983 para 419.400 habitantes.

Desta vez, a Aparecida, conhecida pela grande concentração de moradores, ficou em segundo, com 36.440 pessoas.

O técnico em radiologia odontológica Rogério Pereira de Macedo, de 50 anos, sempre viveu no Embaré. Já mudou três vezes de casa, mas não de bairro. Percebe que a vizinhança aumentou.

"O movimento na rua é maior, têm mais carros". Macedo não pensa em sair do bairro. "É um dos melhores de Santos. Bem localizado, com boa estrutura. Tem supermercados, bancos e comércio em geral".

Infraestrutura – Para o secretário de Planejamento de Santos, Bechara Abdala, o aumento da população do Embaré é plenamente justificável. "Todo bairro que tem uma excelente infraestrutura é altamente interessante para novos empreendimentos. Nós temos lá duas Unidades Básicas de Saúde, quadra esportiva e escolas". Por esse motivo, Abdala não acredita em impactos negativos na substituição de casas por grandes prédios.

O secretário afirma que o novo Plano Diretor do Município vai frear o adensamento dessa região, já que o potencial construtivo foi diminuído em 30%. "A tendência é que as novas obras sejam feitas em outros bairros. Já tínhamos uma leitura do que estava acontecendo". Além disso, as construções precisam apresentar agora uma série de relatórios de impacto para serem autorizadas.

Hoje, o Embaré é o quarto bairro em número de empreendimentos em construção. São oito obras. O Gonzaga tem 19 obras, a Ponta da Praia 11 e o Boqueirão, nove.

Rogério muda de casa, mas não de bairro: "É um dos melhores"

Foto: Alexsander Ferraz, publicada com a matéria

Bairros de Santos