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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - TERCEIRA IDADE
Idosos radicais

Eles não querem apenas uma cadeira de balanço e um pouco de sol e competem com os jovens em todas as atividades profissionais, esportivas, culturais e de lazer, invadindo e conquistando espaços incomuns

Texto publicado no semanário santista Boqueirão News, edição de 28 de maio a 3 de junho de 2005:

MELHOR IDADE
Vovôs radicais

Chegar à terceira idade não significa parar no tempo. Pessoas como seo Américo Antônio, de 80 anos, estão abertas a sensações novas, como a de pular de paraglider


Foto publicada com a matéria

IDADE MELHOR
Sempre jovens e radicais

Quem pensa que idade é documento, está enganado. Confira relatos de senhores com alma de jovens, que vivem intensamente os prazeres da vida

Ana Paula Bordinhon
Da Reportagem

"Viver e não ter a vergonha de ser feliz (...)" O trecho da música de Gonzaguinha reflete uma forma simples de sentir e viver a vida, "(...) que é bonita, é bonita, é bonita (...)". Mas para aqueles que a aceitam de peito aberto, que se dispõem a aprender, ensinar e superar suas provações. Pessoas que entendem que "é preciso saber viver (...)", como diriam Erasmo e Roberto Carlos.

Annibal Orrin é um exemplo disso. Força, superação e alegria fazem deste senhor de 71 anos um jovem à flor da idade. Um viúvo que curte a vida com intensidade e que descobriu no surf uma das suas maiores paixões.

Sua relação com o esporte iniciou por acaso. "Eu morava em São Paulo e cuidava da minha esposa, que tinha Mal de Alzheimer. Por conta disso, eu sempre estava ao lado dela, pois tinha muito medo de perdê-la", conta. "Depois que ela descansou, eu tiver que refazer minha vida. Aí, vim morar em Santos, onde fiz muitos amigos e encontrei uma namorada, com quem compartilho todos os meus momentos", conta. "Um dia, eu estava assistindo a televisão e vi uma reportagem sobre a escolinha de surf. Fiquei interessado, me inscrevi e, de lá pra cá, este esporte se tornou uma extensão da minha vida", explica.

O surf, segundo Annibal, é uma atividade completa, porque proporciona saúde física e mental. "Depois que comecei a surfar me tornei outro homem", reconhece.

Para manter o pique sobre uma prancha, a fórmula é dormir e acordar cedo todos os dias. "Quando dá 5h30 já estou no mar. Venho acordar o sol", brinca. Quando questionado sobre o que faz para ter tanta vitalidade, ele é direto: "Fazer o bem incondicionalmente para tudo e todos e procurar ver sempre o lado positivo das coisas".


Anibbal Orrin, aos 71 anos, chega à praia às 5h30 para surfar
Foto: Ana Paula Bordinhon, publicada com a matéria

Aventureiro - No céu, voando de paraglider. Foi assim que o porteiro do colégio e da Universidade Santa Cecília, Américo Antônio, comemorou sua oitava década de vida. "Foi uma completa sensação de liberdade, que eu nunca havia sentido antes", relata. "Além disso, foi maravilhoso ter a visão panorâmica de toda a Baixada Santista. Foi uma imagem sensacional e inesquecível", completa.

De acordo com ele, quem o despertou para esta idéia foi João Alberto Paschoa, professor da universidade, que pratica o esporte há sete anos. "O que começou como uma brincadeira, acabou repercutindo em um dos momentos mais inusitados da minha vida", confessa.

O aventureiro Américo admite que este acontecimento mudou sua visão de realidade. "Depois disso, tive a prova de que nunca é tarde para vivermos grandes emoções", afirma. "Acho que enquanto estamos vivos e com saúde, devemos aproveitar todas as oportunidades, sempre focados na nossa realização pessoal", reitera.

Conforme Paschoa, o vôo foi o seu presente para seo Américo. "Ele é muito querido e foi uma satisfação proporcionar esse momento para ele. Nós saltamos juntos e ele parecia uma criança de 10 anos. O sorriso e a alegria dele naquele momento me marcaram muito. E isso não tem preço", afirma.

Para se ter idéia do tamanho da sua popularidade, há uma comunidade no Orkut (rede de comunidade virtual) chamada Amigos do Sr. Américo, uma homenagem dos alunos do colégio e da universidade a este profissional camarada e dedicado. Quem planta o bem, recebe em dobro", enfatiza.


PRAZER E ADRENALINA - Praticante de vôlei há duas décadas, 
Nélia Gonçalvez, 79 anos, está sempre disposta a jogar
Foto: Ana Paula Bordinhon, publicada com a matéria

Tricotar? Nem Pensar! - Aos 79 anos, Nélia Gonçalvez Perez está longe de ser a vovózinha que fica em casa tricotando. Aposentada, ela mantém o sustento de duas netas, um neto e três bisnetos. E ainda arruma disposição para praticar ioga e vôlei. "Quando fico em casa, eu entristeço", diz.

Segundo ela, o vôlei é uma das suas maiores paixões. "Jogo há cerca de 20 anos e me sinto muito bem. Quando estou jogando, me divirto, me exercito e faço amizades. É muito gostoso", afirma.

De acordo com Roseli Matheus, professora de Educação Física da Secretaria de Esportes de Santos, na cidade há inúmeras opções para quem está disposto a praticar atividades. Ginástica, vôlei, ioga, tai-chi-chuan, alongamento, dança de salão. "Só fica em casa esperando a vida passar e tomando remédios quem quer", destaca.

Segundo a professora, dona Nélia participou dos Jogos Regionais do Idoso (Jori) até o ano passado. "Ela é ágil e tem flexibilidade. Além de força de vontade", diz. "Ela faz pontos em cima de pessoas muito mais jovens que ela. Além disso, ela corre para pegar a bola e se movimenta bastante na quadra", destaca.

Segundo Roseli, não precisa ser um profissional para poder fazer atividades físicas. "Muitas pessoas se intimidam porque acham que não são capazes de praticar o esporte, por vergonha ou simplesmente por falta de iniciativa", diz. "Eu quero deixar claro que todos, independente da idade, podem e devem praticar atividades físicas, sempre respeitando suas limitações", ressalta.

Conforme dona Nélia, problemas todos têm. "A receita é não ficar se lamentando. As coisas ruins são passageiras e servem de lições", diz. "Eu acho que as pessoas têm que aprender a sorrir mais para a vida. E eu faço isso diariamente", conclui.

O que nós fazemos com os dias e os anos de nossas vidas depende apenas de nós. Portanto, o que nos resta é valorizar a singularidade de cada um deles, que infelizmente não se repetem.