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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - II GUERRA
Santos na II Guerra Mundial (3)

Marinheiros de navios apresados desembarcaram em Santos, rumo a campos de concentração criados no interior paulista
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A Segunda Guerra Mundial foi traumática para os santistas, que temiam ataques por submarinos alemães ao porto e pela aviação nazista à Usina Henry Borden ou à própria cidade. Japoneses, italianos e alemães tiveram de deixar a região às pressas, pelo receio que colaborassem com seus países de origem, então inimigos do Brasil. E a cidade também compareceu com sua cota de sacrifício humano e material para o esforço de guerra brasileiro, enviando seus pracinhas para o combate nos campos de batalha da Força Expedicionária Brasileira (FEB) na Itália.

Por outro lado, passaram pelo porto santista alguns dos tripulantes de navios inimigos capturados, e que foram levados para campos de concentração criados pelo Brasil no interior paulista, como registra o texto de Fábio Galvão, publicado no CD-ROM II Guerra Mundial, editado em São Paulo em 1995 pela revista Neo Interativa, com materiais da Agência Estado e do jornal Estado de Minas):


Prisioneiros japoneses numa fazenda-prisão no Brasil
Foto: Gedoc/BM - CD-ROM II Guerra Mundial
(Agência Estado/jornal Estado de Minas, edição Revista Neo Interativa, S.Paulo/SP, 1995)

Campos de concentração no Brasil

Durante a Segunda Guerra, o Brasil também teve seus campos de concentração. Em lugar dos judeus estavam alemães. Os campos brasileiros, porém, eram a antítese dos europeus. Mais se assemelhavam a colônias de férias. Em vez de torturas e câmaras de gás, proporcionavam aos prisioneiros banhos de piscina e partidas de futebol.

No livro O Canto do Vento, lançado no início de 1995, o jornalista Camões Filho contou como funcionavam esses lugares. Os campos de concentração do governo brasileiro eram fazendas-prisões instaladas no interior de São Paulo - Pindamonhangaba, Guaratinguetá, Ribeirão Preto e Pirassununga - onde, entre 1944 e 1945, ficaram detidos 244 alemães. No local onde funcionou o campo em Guaratinguetá está hoje a Escola de Sargentos da Aeronáutica, e o de Pindamonhangaba, a fazenda mais populosa da época, abriga hoje a Estação Experimental de Zootecnia. Nenhum alemão morreu nesses locais em decorrência dos maus-tratos. Ao contrário, quase todos gostaram tanto do Brasil que acabaram ficando.

A idéia, segundo Camões Filho, partiu de um oficial que, após ler o noticiário da guerra sobre o confinamento de judeus em campos nazistas, achou que o Brasil deveria fazer o mesmo com o inimigo. Esses alemães aportaram em Santos (SP) por causa de um desvio de rota e, nos primeiros tempos, desfrutaram o litoral paulista no navio de luxo em que viajavam, o Windhuk, sustentados pelo governo alemão. Com o rompimento das relações diplomáticas entre o Brasil e a Alemanha,  a situação se complicou.

O governo de Getúlio Vargas desrespeitou convenções internacionais ao enviar tripulantes e passageiros para as fazendas. "A vida nos campos era tranqüila", contou a sobrevivente Kurt Brenneke, aos 81 anos, em março de 1995. Apesar de submeterem os alemães a uma rotina que pouco lembrava a de uma prisão - eles nadavam pela manhã e cultivavam suas próprias hortas à tarde -, os campos tinham características de presídio: eram cercados por arames farpados e vigiados.

Nos finais de semana os alemães viravam atração turística para os moradores das cidades vizinhas. Os homens jogavam futebol contra os detentos e muitas das moças suspiravam pelos estrangeiros.

Therezinha Dantas, moradora de Pindamonhangaba, resumiu o clima de absoluta camaradagem em entrevista à revista Veja: "Eu e meu marido, que era aviador, íamos sempre lá. Muitas vezes comíamos os pãezinhos que os alemães tinham enorme prazer em oferecer aos visitantes".

Erwin Dietrich, outro sobrevivente, com 74 anos em março de 1995, foi um adesista de primeira hora à causa nazista. "Eu sou nazista", disse ele em entrevista ao Jornal da Tarde. Outros sobreviventes ouvidos pelo jornal, Jonny Specht e Otto Kramper, admitiram que na época simpatizavam com o nazismo, mas hoje tentam evitar discussões políticas. "Éramos jovens, com 20, 22 anos", disse Kramper. "Fomos educados com as idéias de Hitler. A Alemanha vinha de um período ruim e o governo queria mudar tudo". Os três reclamaram do governo brasileiro. Achavam que não deveriam ter sido presos e denunciaram que seus bens foram confiscados depois de os terem confiado à guarda do Lloyd Brasileiro.

Sobreviventes contaram ao Jornal da Tarde algumas histórias que não constam do livro O Canto do Vento. Como em toda prisão, eram vigiados por guardas, sob o comando de um diretor. A Cruz Vermelha se encarregava da correspondência, que era censurada. Os presos também não tinham acesso a jornais. Por fim, algumas empresas alemãs que atuavam no Brasil articularam entre a comunidade germânica de São Paulo o apadrinhamento deles, na tentativa de que a estada fosse melhorada. (Fábio Galvão)

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