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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS
"Chuva. Porto parou" (2)

Antes da conteinerização das cargas, qualquer chuva se tornava um problema

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Uma brincadeira entre os jornalistas, nas redações dos jornais santistas, por volta de 1980, era observar pela janela: se estivesse chovendo, a manchete do dia seguinte já estava garantida: "Chuva. Porto parou". Quantas vezes, à falta de notícia mais importante, essa manchete foi estampada nos jornais, às vezes com pequenas variações? Incontáveis.

Numa época em que era mínima a conteinerização das cargas, o aparecimento de uma simples nuvem negra mais carregada já bastava para que começasse o procedimento de interrupção da carga ou descarga e acionamento dos guinchos que movimentavam as pesadas tampas das bocas de porão, nos navios. Com os atrasos nas operações, os navios na fila de espera iam se acumulando, nas áreas de fundeio situadas na entrada da Baía de Santos. E os trabalhadores avulsos, ganhando por produção, viam seus rendimentos do dia minguarem pela impossibilidade da execução dos serviços no porto.

E assim ocorreu, por exemplo, em 1985. Em uma quinta-feira, 24 de janeiro de 1985, o jornal santista A Tribuna publicou, em sua coluna Porto & Mar (página 18):


A chuva forma lamaçais nos armazéns de farelos e prejudica o acesso ao cais
Foto publicada com a matéria

Chuva prejudica outra vez as operações no cais

As chuvas de ontem, que causaram vários prejuízos na Baixada, deixando muitas pessoas desabrigadas, além de muitos trechos alagados, também prejudicaram as operações portuárias em toda a extensão do cais.

No convés dos vários navios atracados no porto, era comum encontrar reuniões dos trabalhadores avulsos das diversas categorias, que aguardavam e torciam para uma estiagem da chuva para que pudessem aumentar o ganho do dia com a produção de embarque.

Nos locais onde ocorrem desembarque de sal, farelos e trigo, formaram-se enormes lamaçais, prejudicando o trânsito de pedestres e sujando as viaturas que trafegavam. Esses locais são, inclusive, evitados pela maioria dos trabalhadores portuários que andam pela zona primária do cais, pois através do uso de grabes ou das esteiras rolantes há um grande desperdício dos produtos, o que provoca a existência de várias empresas de fiscalização, além de um enorme trabalho para os funcionários de serviços gerais.

A continuidade do mau tempo poderá provocar o congestionamento das várias embarcações na barra aguardadas para os próximos dias, já que as atracadas deverão atrasar a saída e ainda está prevista a atracação de sete navios de guerra da Marinha Brasileira para o próximo sábado.

No mesmo jornal A Tribuna, em um sábado, 13 de abril de 1985 (página 17):


Imagem: reprodução da matéria original

Chuvas recordes param a maior parte do porto

As chuvas intensas que caíram durante todo o dia de ontem (102,1 mm) prejudicaram de forma sensível os serviços portuários, provocando a paralisação das operações de navios que carregavam ou descarregavam produtos sensíveis às intempéries, como sacarias, adubos, fertilizantes, ou caixarias. Exceção feita ao Terminal de Contêineres (Tecon) e aos terminais de líquidos a granel, o mau tempo parou o porto.

Segundo a Codesp, ontem, 42 berços estavam ocupados e 16 estavam vazios. A tendência, de acordo com trabalhadores portuários mais experientes, é a de os berços vazios serem ocupados, nos próximos dias, a perdurarem as condições climáticas adversas. um deles comentou que o fato de o porto estar operando com capacidade ociosa representa um benefício, pois poderia haver congestionamento, com a manutenção de embarcações no estuário ou na barra, à espera de vagas.

O mau tempo também afetou os trabalhos de movimentação e estufagem de contêineres nas dezenas de terminais privados existentes nas cercanias do porto ou em pontos mais distantes. A intensidade das precipitações pluviométricas tornou impraticável o trabalho, mesmo em empilhadeiras cobertas, conforme destacou um operário de um dos maiores terminais privados da Cidade. Além disso, o tráfego de veículos pela avenida que corre paralela à faixa do cais também sofreu, pois o piso de paralelepípedo, normalmente escorregadio em virtude do derramamento dos mais variados produtos por parte dos caminhões que deixam ou demandam aos armazéns, tornou-se ainda mais perigoso e dirigir qualquer tipo de veículo nas proximidades do cais passou a exigir cuidados especiais.


A intensidade das precipitações pluviométricas afetou o trabalho no cais
Foto publicada com a matéria

Mais chuvas - Técnicos em assuntos do porto asseguram que todos esses fatores contribuem para a semi-paralisação do complexo portuário nestas circunstâncias. O elemento humano enfrenta dificuldades de se locomover na faixa do cais, trabalha em condições difíceis e se movimenta cm morosidade até mesmo por uma questão de auto-preservação.

O meteorologista de A Tribuna, Murilo Ferreira Filho, prevê uma ligeira melhoria para o dia de hoje, mas haverá mais chuva no decorrer do período. As precipitações pluviométricas de ontem simplesmente superaram as ocorridas até o dia 11, ou seja: nos 11 primeiros dias do mês, Santos recebeu uma carga pluviométrica de 33,4 milímetros. Das 9 horas até as 18 horas de ontem, a carga foi de 102,1 milímetros, conforme dados colhidos junto à Base Aérea de Santos. Por esse motivo, a semi-paralisação do complexo portuário foi inteiramente justificada, pois há muito a Baixada Santista não ficava sob tantas chuvas.


As operações de carga e descarga foram paralisadas em razão das fortes chuvas cuja intensidade superou as precipitações ocorridas em todo o mês
Foto publicada com a matéria