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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - AUTONOMIA
De volta ao voto (2)

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Historicamente uma cidade guerreira, que sempre lutou por seus direitos, ao ponto de ser marcada com epítetos como Moscou Brasileira e Cidade Vermelha, Santos foi duramente castigada pela Ditadura Militar, com a perda de sua autonomia política e administrativa, em função de seu enquadramento como Área de Segurança Nacional.

Ao inaugurar o Terminal de Contêineres da Margem Esquerda do Porto de Santos, em Conceiçãozinha (Guarujá), em 30/8/1981, o então presidente da República deu o sinal verde para o início da corrida pela autonomia municipal. O fato foi destacado na imprensa logo após a visita presidencial e continuou repercutindo nos dias seguintes. Esta matéria especial foi estampada na última página da  edição de 13 de setembro de 1981 do jornal santista A Tribuna:

Autonomia vem aí!
(mas os candidatos se escondem)

Texto: Álvaro de Carvalho Júnior
Fotos: Arquivo



Imagens publicadas com a matéria

"Podem iniciar a campanha"
(João Figueiredo, dia 30/08/81)

Essa frase, arrancada a duras penas do presidente da República, João Figueiredo, durante a inauguração do Terminal de Containers em Conceiçãozinha, deveria ter agido como uma espécie de catalisador da classe política santista. Ou melhor: deveria precipitar um processo político-eleitoral na Cidade, mostrando aos 250 mil eleitores que há muito interesse em se eleger um prefeito, principalmente numa cidade privada desse direito desde 1969.

Surpreendentemente, os diversos nomes considerados elegíveis para a Prefeitura entraram no obscurantismo. Se a partir do momento em que se iniciou a chamada abertura política, vários nomes apareceram na Cidade interessados em ocupar a Prefeitura, horas após o aval do presidente, esses mesmos nomes desapareceram. Apenas dois políticos não abriram mão de sua condição de candidatos: Esmeraldo Tarquínio do PMDB, e o ex-prefeito Antônio Manoel de Carvalho, ainda sem partido, mas com boas possibilidades de ingressar no PTB.

Nem mesmo o lançamento das candidaturas de Joaquim Coutinho Marques (PDS) e Rony Dutra de Oliveira (PTB) podem ser consideradas confiáveis. A primeira nasceu claramente de uma cisão existente no partido situacionista, onde a bancada junto à Câmara Municipal praticamente fechou suas portas ao prefeito Paulo Gomes Barbosa, seriamente desgastado politicamente, e sem maiores possibilidades de se eleger. Sua opção foi definir-se pela Assembléia Legislativa, outra meta bastante difícil de ser atingida.

A segunda deixa claro que o PTB santista está insatisfeito com a indecisão do ex-prefeito Antônio Manoel de Carvalho, a nível partidário. O diretório municipal do partido, com o lançamento de Rony Dutra de Oliveira, procurou demonstrar claramente que pretende manter uma certa independência como única forma de criar efetivamente a sigla em Santos, depois do abalo com a debandada de vários políticos (Oswaldo Carvalho de Rosis, Gilberto Tayffour e Paulo Pimentel), provocado pela renúncia do ex-presidente Jânio Quadros.

As alegações dadas por lideranças das duas agremiações são pouco convincentes. O vereador Fernando Oliva, líder do PDS, explicou o lançamento de Joaquim Coutinho Marques como "o momento da classe política" (o que não deixa de ser uma crítica velada ao atual prefeito), enquanto o líder do PTB, José Gonçalves, explicava que a candidatura de Rony Dutra de Oliveira apenas vinha fortalecer o partido com mais uma sublegenda.

Na realidade, com a garantia de eleições para 1982, as diferenças políticas e pessoais acabaram chegando à tona. No PDS, a bancada na Câmara não acredita no potencial eleitoral do prefeito Paulo Gomes Barbosa. No PTB, os vereadores que debandaram do partido há pouco mais de um mês e meio não mantêm um bom relacionamento com o ex-prefeito Antônio Manoel de Carvalho. Portanto, as duas candidaturas lançadas nos últimos dias são apenas o resultado de um péssimo relacionamento entre homens dentro dos partidos. Nunca um efetivo posicionamento político.

O que pensam - A falta de nomes para a Prefeitura nas eleições de 1982 foi definida pelo presidente do diretório municipal do PDS, Mílton Lopes, diretor financeiro da Prodesan, como um momento de reflexão dos possíveis interessados no cargo. Ele acha, inclusive, que existia, e ainda existe, muita especulação em torno do assunto, e que seu partido está procurando manter o equilíbrio, aguardando uma definição para as regras do jogo eleitoral de 1982.

"O nome ou os nomes, dependendo das regras do jogo, que lançaremos para prefeito - afirmou - dependerá de um consenso das lideranças do partido. Não acho boa política o lançamento prematuro de candidatos, pois fatalmente cairão num enorme desgaste político. Além disso, o candidato a prefeito precisa ser preparado e apoiado pelo partido, num trabalho sério e bem elaborado. A responsabilidade é muito grande. Por isso, estamos na expectativa, pois vamos lançar o nosso, ou os nossos candidatos, no tempo certo".

É claro que o presidente do diretório situacionista não admite a falta de bons nomes dispostos a ingressar no PDS. Mas esse é um problema que o partido vem enfrentando desde que o atual prefeito, demonstrando muita falta de maturidade política, iniciou sua luta contra Antônio Manoel de Carvalho. O ex-prefeito deveria ser, naturalmente, o nome mais indicado para concorrer pelo PDS (afinal foi nomeado pelo Governo e ficou no cargo durante cinco anos), hipótese que no momento deve ser descartada.

Paralelamente aos atritos com o ex-prefeito, Paulo Gomes Barbosa acabou desgastando seu relacionamento com o secretário de Assuntos Metropolitanos, Sílvio Fernandes Lopes, uma das reconhecidas lideranças políticas do PDS na Baixada. Como o deputado Antônio Erasmo Dias dá seu total apoio ao nome de Antônio Manoel de Carvalho, restaram muito poucas opções ao partido situacionista, pois nenhum secretário municipal chegou a aparecer no cenário político local em condições de se candidatar.

A ajuda de Athiê Jorge Coury ao atual esquema do prefeito chega a ser bastante discutível. Atuando sempre na Oposição, o deputado federal não conseguiu ainda provar sua liderança dentro do partido situacionista, e sua receptividade eleitoral deverá cair sensivelmente em 1982, principalmente levando-se em consideração que Santos sempre foi uma cidade tipicamente oposicionista, e com bastante coerência eleitoral. Nesse caso, o comportamento do eleitorado em relação ao deputado federal nas próximas eleições pode ser considerado imprevisível.

Dentro desse quadro político, o PDS santista deverá optar por nomes quase desconhecidos na vida política da Cidade. José Lopes, atual superintendente da Sabesp, poderá ser uma das opções (é considerado um excelente nome), mas já deixou claro mais de uma vez que não tem grandes pretensões políticas, preferindo continuar seu trabalho na Sabesp. O presidente do diretório, Milton Lopes, não confirma essa indicação, mas também não descarta.

Esmeraldo - Candidato à Prefeitura desde sua cassação em 1968, Esmeraldo Tarquínio tem uma certeza: a luta nas eleições do próximo ano será difícil. Ele acha que no atual momento político existe um clima de indefinição, faltando um ano e dois meses para as eleições e aproximadamente 10 meses para que as coisas se coloquem em seus devidos lugares. Outro detalhe que está gerando a ausência de candidatos: a definição do pacote eleitoral, que praticamente será o responsável pelo lançamento de candidatos a todos os níveis.

Sua posição, como candidato a prefeito, chega a ser cômoda, apesar das dificuldades que deverá enfrentar. Eleito em 1968, foi cassado antes de tomar posse, apesar de ter recebido seu diploma de prefeito. Nestes anos de exceção, nada foi provado contra sua integridade e, inteligentemente, procurou manter-se afastado dos grandes acontecimentos políticos, enquanto não se passaram os 10 anos de cassação. Somente a partir daí Esmeraldo voltou à luta, desta vez com mais calma, e fatalmente deverá ser um dos candidatos mais votados nas próximas eleições.

Os políticos oposicionistas acreditam que dificilmente Esmeraldo deixará de ser o próximo prefeito. Antes de mais nada, afirmam que o Governo tem uma espécie de dívida com o eleitorado: Esmeraldo foi eleito pelo voto direto e impedido de exercer sua função. Por isso, acreditam que os mesmos eleitores que o apoiaram em 1968 voltarão a apoiá-lo em 1982.

"É bom lembrar - afirmou Esmeraldo - que ainda teremos as convenções municipais. Sou candidato, mas meu nome deverá ser levado à convenção. Não acredito que exista a falta de nomes e de candidatos, mas sim a falta de uma moldura eleitoral. Não se conhece o pacote divulgado há pouco tempo pelo Governo, e, conseqüentemente, não se sabe quantos dados serão utilizados no jogo. No momento, está havendo um exercício natural da inteligência política, todos trabalhando com muito cuidado".

Antes da afirmação presidencial, o PMDB lançou vários nomes considerados candidatáveis. Antônio Rubens Lara, Nélson Fabiano e até o deputado federal Del Bosco Amaral, foram apontados como possíveis candidatos ao cargo. Após a definição do presidente, automaticamente esses nomes se afastaram: Esmeraldo passou a ser o candidato único ao cargo, tendo Oswaldo Justo como seu vice-prefeito, repetindo uma dobradinha com quase 16 anos de idade.

O vereador oposicionista Eduardo Castilho Salvador considera que o início da luta política provoca uma espécie de acomodamento nos candidatos. Muitos reavaliam suas posições, realizam pequenas pesquisas junto ao eleitorado e tomam suas decisões. "À medida que a autonomia vem chegando - explicou -, os pretensos candidatos fazem sua avaliação das possibilidades. Em seguida, concluem que existem três candidaturas, mas, numa avaliação mais minuciosa, sentem que a tendência será para a existência de apenas dois candidatos. Particularmente, não acredito na candidatura de Coutinho Marques em termos de resultado. O vereador situacionista, nesta altura, está colhendo resultados positivos eleitorais, numa publicidade gratuita que, como resultado, irá elegê-lo vereador".

O presidente do diretório do Partido Popular, Alfeu Brandão Praça, acha que os possíveis candidatos a prefeito estão avaliando a situação e aguardando as soluções institucionais para as eleições. Considera as sublegendas como fundamentais nas próximas eleições, pois estas influenciarão na formação dos partidos, principalmente os pequenos. "Os grandes - comentou - não sofrem tanto essa influência. É preciso que se tenha um mínimo de respaldo eleitoral para se entrar numa aventura dessas. Candidatar-se a prefeito pelo simples fato de concorrer seria uma loucura".

Com bastante determinação, Alfeu Brandão Praça (que chegou a ser convidado a ocupar o cargo de prefeito nomeado e não aceitou) acha que a decisão de concorrer ou não nunca deverá ser pessoal, mas dependendo da convenção do partido e da opinião das bases. Ele afirma ainda que não pretende ser candidato ao cargo, pois seu trabalho no partido não visa a essa meta. "Meu trabalho - afirmou - precisa ser desenvolvido a nível regional. Estou procurando organizar os diretórios municipais nas cidades da Baixada, e, com certeza, não serei candidato a prefeito. Na verdade, quero apenas fortalecer o partido em suas bases".

As lideranças do PT santista já deixaram claro que dificilmente encontrarão nomes para a Prefeitura. Esse partido, inclusive, talvez seja o único que realiza um verdadeiro trabalho nas bases, sem se preocupar com grandes resultados eleitorais. É o que se pode chamar de um trabalho de paciência e calma, de muita discussão política e, principalmente, de um estudo dos problemas que afetam as populações mais carentes.

Tanto que a política de criação dos núcleos nos diversos bairros, iniciada pelo PT, acabou sendo copiada até pelo PDS, um dos partidos mais desgastados em Santos. A diferença é que o PT enfrenta dificuldades até financeiras para desenvolver uma grande campanha, mas ideologicamente está muito bem estruturada. Talvez por isso, dificilmente encontrará um nome candidatável, apesar de o advogado Sérgio Sérvulo da Cunha ter sido oficiosamente indicado por algumas lideranças.

Portanto, o quadro para as eleições a prefeito do próximo ano está bastante indefinido. Além de Esmeraldo Tarquínio e Antônio Manoel de Carvalho, outros personagens dificilmente resistirão a uma análise mais profunda. Santos vive um momento de espera e de reflexão, e somente a partir do ano que vem os interessados realmente colocarão a cabeça fora do obscurantismo, evitando, no momento, um desgaste político desnecessário. Esmeraldo e Carvalho dificilmente enfrentarão esse desgaste devido à participação que têm mantido no cenário político local, mas os demais preferem esperar, e torcer para que a palavra presidencial seja realmente mantida.

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