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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - A MAIS ESPORTIVA
Profissão: olheiro

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Em sua primeira edição, no dia 1º de julho de 1967, o jornal Cidade de Santos (grupo Folha de São Paulo - exemplar no acervo do historiador Waldir Rueda -), publicou esta matéria:
 
Estes dois são olheiros

Falar em revelação no futebol santista é falar em Ernesto Marques e Arnaldo Silveira, o Papa. Ambos têm um título em comum: "descobridores de craques".

Ernesto ganhou projeção no Jabaquara, Papa também. Os dois não perdem um bom jogo de várzea e, no final, sempre um dos jogadores é convidado para treinar no Santos ou na Portuguesa. A luta não fica somente na várzea: quando há o jogo Santos vx. Portuguesa, ela continua. O primeiro quase sempre vence, com esta explicação de Papa: "O Santos oferece melhores condições para os garotos. Nós da Portuguesa somos mais modestos, aqui se joga por amor à camisa".

Os rivais amigos - A verdade, porém, é uma só: os dois são figuras indispensáveis a seus clubes. Ernesto Marques, 48 anos, começou jogando futebol ao lado de Baltasar e Cláudio, no Guarani do Macuco, mas abandonou a carreira cedo para dedicar-se à de técnico. Foi para o Jabaquara na época em que Papa se transferiu para a lusa santista. Ficou dois anos no Jabaquara, depois aceitou convite de China, auxiliar de Lula no Santos. Na vila permanece até hoje, não pretende sair.

"Ganhar do Papa - diz Ernesto - não é coisa nova para mim. Quando o conheci, num jogo do meu Independente contra o AA Olga, dele, venci-o por quatro a um. Nesse dia eu fiz o primeiro gol, na cobrança de falta".

Ernesto não usa o mesmo método de Papa para descobrir um bom jogador: "Primeiramente, converso com o menino e pergunto qual é a posição que ele prefere. Em três coletivas não tenho mais dúvidas. Se não deu certo, mudo de posição. Com esse sistema lancei para a fama Cabralzinho, Edu, Nenê, Araras, Canhoto, Eliseu, Ademir, Luís, Odarci, e muitos dos quais não me lembro".

Papa não gosta de falar - Muitos nem o conhecem por Arnaldo de Oliveira. Com 50 anos, dois mais que Ernesto, Papa sempre foge das entrevistas, não gosta de falar. Mas, quando começa a elogiar seus garotos, não pára mais. Antes de abraçar a carreira de descobridor de craques, era meia-esquerda do Pacheco FC e da AA Olga. Jogou em diversos clubes, foi da Força Pública e pendurou as chuteiras no Barretos, tradicional da várzea santista.

O primeiro quadro que dirigiu foi o Aliança. Logo ingressou no Jabaquara, onde ficou 13 anos dirigindo a garotada. Lá "descobriu" Gilmar, Feijó, Álvaro, Ramiro, Pagão, Rato, os principais. Depois foi convidado para ingressar na Portuguesa santista, onde está até hoje. E continua lançando craques: Cláudio, Adelson, Clóvis, Capitão, Lorico, Joel, Osmar e mais recentemente Ari, Palito e Careca, o Trio de Ouro, já no quadro principal da lusa.

"A arte de descobrir um bom jogador - afirma Papa - está em achar sua verdadeira posição. Quando trago um elemento da várzea, ele treina do gol à ponta-esquerda. Posso afirmar que essa é a melhor maneira: cito como exemplo o Gilmar, que começou na ponta-esquerda, para transformar-se no melhor goleiro do Brasil".

Revelações da Vila - Enquanto as atenções estão voltadas para o médio-volante Clodoaldo, apontado como o sucessor de Zito na meia-cancha santista, o "velho" Ernesto vem lapidando Léo, um garoto de 17 anos, que parece jogar por música. O pai desse menino foi um quarto-zagueiro dos bons que passou pelo Jabaquara.

Léo não se contenta apenas em jogar futebol. Ele grita com os companheiros, briga, xinga como Zito e não gosta de perder nem nos treinos. Joga com uma facilidade que espanta. Seus lançamentos são perfeitos e lembram Didi nos passes de longa distância. Para Ernesto, será uma das maiores revelações que descobriu.

Didi, o malicioso - Adir Cid Rodrigues, o Didi, é miudinho para seus 16 anos. Meia-armador dos bons, dono de um futebol mesclado de arte e malícia. Um pouco tímido, abaixa a cabeça quando "seu" Ernesto começa a elogiar seu futebol, dizendo ser mais perfeito que o de Léo. O forte de Didi são seus dribles desconcertantes, o adversário quase sempre vai ao chão.

Mas as revelações do Santos não ficam somente em Léo e Didi. Entre os juvenis, um ponta-direita destaca-se pela velocidade: Álvaro, 16 anos, parece o Dorval dos bons tempos.

Douglas já subiu - Um dos garotos do Ernesto será aproveitado neste campeonato na equipe titular do Santos. É o centro-avante Douglas, 17 anos. Começou na equipe mirim e nunca quis deixar a vila, apesar de receber propostas tentadoras do Fluminense, Corintians e São Paulo. Formava com Reinaldo uma das mais perfeitas duplas de área da vila Belmiro. Eram chamados de "nova edição" de Pelé-Coutinho. Marcavam 4 gols, em média, por partida.

Reinaldo foi embora, mas Douglas continua marcando seus gols. Um dia foi convocado para treinar entre os titulares. Formou dupla de área com Pelé e agradou. Antes do Santos embarcar para a África, jogou em Brasília, contra o selecionado local. Faltando 15 minutos para terminar o encontro (o Santos ganhava fácil), Antoninho chamou Douglas e disse: "Entra, garoto, e faz o teu". Ele entrou e fez mesmo. Resultado: foi considerado o melhor jogador em campo.


Foto publicada com a matéria

Máquina de gols - Eles ainda jogam sem chuteiras. Suas idades variam entre 12 e 14 anos. São os mirins do Santos, que ganharam o apelido de "máquinas de gols". A média por partida é 4 a 5 tentos e o ponto principal da equipe é o trio atacante, formado por Picolé, David e Djair. Perder jogo é piada para eles. Em toda a Baixada não existe uma equipe de mirins tão boa quanto essa.

A defesa é muito sólida, com Maurício e Julinho no miolo da área. Na opinião de Ernesto, nem goleiro é necessário no time, pois esses dois não deixam passar nada.

Outros estão despontando nas equipes inferiores: Cabeção, uma espécie de coringa; Marcos e Alves, quartos-zagueiros; Cao, ponta-de-lança e Reinaldo, ponteiro-direito e esquerdo.

Portuguesa não fica atrás - Revelar jogadores não é privilégio do Santos. Há mais garotos na vila, mas a Portuguesa já teve essa primazia há tempos. Atualmente, todos comentam na cidade o Trio de Ouro da lusa, formado por Ari, Careca e Palito. O primeiro, jogador de meio-campo e os outros, pontas-de-lança. Esse trio deu muita dor de cabeça ao Ernesto. Quando Santos e Portuguesa se enfrentam, Ernesto e Papa travam um duelo fora do campo, de fórmulas e malícias.

Uma das mais gratas revelações da lusa é o meia-esquerda Índio, de apenas 17 anos: rápido, driblador e chuta com os dois pés. Ele é artilheiro da equipe, uma segurança para o técnico. Dificilmente deixa de marcar seu gol numa partida. Outro que leva muita confiança da gente portuguesa, é o ponteiro-direito Almir, um futebol parecido com o de Marcos, do Corintians. Talvez neste campeonato seja lançado na equipe titular.

Justo, o injustiçado - Muitos afirmam que Justo é o melhor goleiro que a Portuguesa revelou. Calmo, bom reflexo, estatura ideal, rápido e corajoso. Foi convocado para a seleção paulista de novos que sagrou-se campeã brasileira em Belo Horizonte. Quando voltou, pediu para sair da Portuguesa mas ninguém concordou. Afinal, perder um goleiro como Justo não era nada bom.

O bom goleiro não foi para outro clube profissional, mas não ficou na Portuguesa. Joga na várzea ou na praia, de vez em quando. Seu futebol, que prometia muito, poderá acabar se não houver acordo com o clube que o projetou.

Adilson (zagueiro-central), Ciro (quarto-zagueiro) e Alemão (lateral-esquerdo), são outros que brevemente poderão estar no quadro de cima, alegrando a torcida portuguesa.

Jabaquara, herói anônimo - E o Jabaquara Atlético Clube, o "Leão do Macuco", não revela ninguém? Se Santos e Portuguesa santista têm bons esquadrões mirins, infantis e juvenis, devem muito ao Jabuca, primeiro clube a ser procurado pelos garotos. Mas, quando começam a aparecer, Santos ou Portuguesa entram na vida do pequeno craque.

Se Ernesto Marques e Papa são conhecidos de todos na cidade, o responsável pelas divisões inferiores do Jabaquara permanece no anonimato: Nilson Ledo, 37 anos, também jogou futebol. "Eu era grosso e fui obrigado a abandonar a lateral-direita de um clube que nem existe mais. Meu ideal mesmo era ser técnico".

Nilson está há 5 meses cuidando da garotada, mas essa não é a primeira vez que dirige o Jabuca. Já esteve duas vezes na direção do Departamento Amador.

O médio-volante Joel foi a grande revelação jabaquarense deste ano. Mas, como sempre acontece, o jogador não durou muito tempo. Foi negociado recentemente com o Botafogo, de Ribeirão Preto. Depois de Joel, outro garoto já foi promovido: o ponteiro-direito Antenor, por quem grandes clubes já estão interessados.

E tem mais, dois verdadeiros "cobras" estão pintando entre os garotos: Claudionor, goleiro, 16 anos, um gato no arco. Apelidado "Muralha", graças aos vôos e firmeza, suas características.

Numa época em que os ponteiros-esquerdos são raros, o Jabaquara tem uma grande esperança. Adilson, 15 anos e já muito futebol. Joga no estilo Zagalo, já é conhecido como o "Formiguinha". Tem muita velocidade e faz o vaivém durante toda a partida sem sentir cansaço. Chuta forte com o pé esquerdo, mas sabe também disparar com o direito quando é preciso.

Breno, centro-avante de bom porte, é clássico e sabe jogar sem bola. Usa muito a cabeça, não dá um passe errado. Sempre procura o companheiro melhor colocado para entregar a bola: desloca-se muito fácil. Não é de marcar muitos gols, mas quase todos os tentos da equipe acontecem nas seqüências de suas jogadas.

Uma dupla de meio-campo que está crescendo é João Carlos-Paulinho, dos mirins e infantis. Entrosagem perfeita, formam a peça mais importante dos garotos do Jabaquara. Para o técnico Nilson Ledo, se João Carlos e Paulinho não se separarem poderão formar um meio de campo perfeito.

Outros como Osvaldo, Sílvio, Zulu e a dupla de área Manteiga-Alemão, são esperanças para daqui a pouco.

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