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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - A MAIS ESPORTIVA
Remo perdeu a força que tinha em 1900

Começou em 1893 e já foi esporte destacado em Santos
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Em sua primeira edição, no dia 1º de julho de 1967, o jornal Cidade de Santos (grupo Folha de São Paulo - exemplar no acervo do historiador Waldir Rueda -), publicou esta matéria:
 


Os barcos dos clubes de regatas de Santos estão assim, na prateleira
Foto publicada com a matéria

Remo, esporte que vive de saudades

O remo, que Santos conheceu em 1893 e já foi aqui esporte de projeção, hoje está quase extinto e só vive do "matar saudades" no encontro de amigos em fins de semana. Os cinco clubes santistas de regatas quase nada fazem para levantar o esporte, e seus barcos, parados, já não levam, como em outros tempos, multidões à Ponta da Praia e ao cais do Valongo

Para justificar a decadência do remo em Santos, as opiniões dos entendidos variam. Dizem que a mudança da sede da Federação Paulista de Remo (em Santos, até 1945) levou o prestígio do esporte para São Paulo. Outros atribuem ao aparecimento de muitos clubes de praia, onde os jovens gastam menos e podem praticar futebol, basquete, volei etc. Há os que acham que o remo é, atualmente, um esporte deficitário para os clubes. Um barco skiff, por exemplo, não custa menos de mil cruzeiros novos. Além disso, o tráfego marítimo é hoje em dia muito mais intenso, dificulta o treinamento.

A Federação Paulista de Remo promove provas de regatas nas represas Billings e Jurubatuba. A dificuldade de transporte dos barcos é mais um motivo pelo qual Santos raramente é representada nas competições. Outro fator da queda do remo: os jovens de hoje preferem gastar mais para praticar um esporte moderno e emocionante, a motonáutica. "A juventude de hoje é do ié-ié-ié, da era atômica, não gosta de fazer força", comentou um veterano remador.

Mas, há os que ainda acreditam no reerguimento do remo. Muitos treinadores de clubes, por exemplo, dizem que o esporte ainda tem público, falta apoio da Federação e dos clubes para que seja reabilitado.

Bandeirantes é o nome de um skiff de dois lugares, doado em 1944 por um industrial a dois atletas cariocas que tentaram remar do Rio a Buenos Aires; desistiram em São Vicente, deixando o barco no Tumiaru. José Andrade e Antonio Rocha, dois atletas do clube vicentino, gastaram 120 dias para remar de São Vicente a Buenos Aires e completar a aventura iniciada. O Bandeirantes é o único barco que sobreviveu no Tumiaru, com significado importante para a história de seu remo.

Os veteranos costumam se encontrar no Vasco da Gama, aos domingos. Eles remam também nos antigos barcos, às vezes vão até o Forte ou até a praia do Góes. Um deles, o sr. Antonio Beverino, de 60 anos, sempre competiu pelo Vasco da Gama. Ele acha que o público não mais se emociona com o remo, o que diz ser ruim, pois "o esporte não existem sem o calor da torcida". O Vasco não participa de competições, embora tenha ainda muitos barcos.

Sem recursos para praticar o remo, o Saldanha da Gama ainda luta pela sua sobrevivência. Seus três barcos estão sob responsabilidade do sr. Januário Pessoa, chefe do Departamento Náutico. Os dois ioles (a 2 e a 4) e um auterigue estão guardados na praia de Santa Cruz. O Saldanha tem muitas lanchas, que movimentam seu Departamento de Motonáutica.

No Internacional, o remo começou no ancoradouro da Bocaina, mas já há 15 anos o clube não possui sequer um barco. "Seu" Benedito, um dos mais antigos funcionários, lembra com saudades do remo. Mas não acredita que possa voltar: "A mocidade de hoje gosta mais dos veleiros e dos barcos motorizados".

O sr. Miguel Evangelista Santos, treinador do Clube de Regatas Santista (que ainda participa das regatas em Jurubatuba), não desiste: "É difícil concorrer. Os meios para se transportar os barcos são precários; mas acho que o remo não pode desaparecer, por tudo de bom que oferece".


Só veteranos, aos domingos, animam-se a tirá-los para remar um pouco
Foto publicada com a matéria

História - Em 1893, comerciantes portugueses que moravam em Santos fundaram o Clube de Regatas Santista, na Ilha da Bocaina. Começava a prática do remo em canoés.

Um quadro da primeira competição de regatas inter-clubes, em 1897, foi pintado por Benedito Calixto. O movimento crescia, foi fundada a Federação de Remo para congregar os clubes. A União Paulista das Sociedades de Remo, surgida em 1905, elaborou estatutos e importou auterrigues da Alemanha para promover oficialmente as competições.

Um campeão - José Ferreira, do Vasco da Gama, campeão brasileiro em 1921, 22 e 24, foi a figura de maior projeção do remo santista. Esportista autêntico, alto e forte, conquistou muitos troféus e a admiração de muita gente. O remo estava na moda, meninos de calças curtas treinavam, sonhando ser José Ferreira.

De 1920 a 1945, grandes equipes de remadores foram formadas em Santos. As duas rivais mais famosas eram "Os Papagaios", do Saldanha, e "Os Alemães", do Vasco. As competições de auterrigues (a 2, a 4 e a 8) eram as mais comuns, mas os skiffs que o Internacional importara dos Estados Unidos causavam sensação, por suas formas arrojadas. Esses barcos foram apelidados de "agulhas".

Competição e festa - Dia de regata em Santos era uma festa. Os torcedores esperavam os remadores nos navios do Lóide, atracados no cais do Valongo. Flores para os vencedores, algumas vaias para os vencidos e depois a confraternização com danças e bebidas nos salões dos navios.

Os troféus mais importantes eram o "Protetora" e a "Taça da Câmara". Para alcançá-los, houve muita disputa entre nomes que se tornaram famosos, como o dos irmãos Antonio e Agostinho Marba, Elias Boughé, Odair Faber, Mário Monteiro, João Lourenço Lopes e outros.

Houve façanhas, como a de José Andrade e Antonio Rocha, os dois que remaram de São Vicente a Buenos Aires. Mais tarde, o segundo morreu ao tentar o percurso Santos-foz do Amazonas. Seu barco espatifou-se contra um recife da praia de Saquarema, no Rio de Janeiro.

Senhores de cabelos brancos, os "bons" daquele tempo, hoje só remam aos domingos, para recordar. Os treinos eram intensivos, fazia-se aquilo por amor. Os atletas dormiam nos clubes, saíam às 4 horas, remavam até as 6 e dali iam para o trabalho.

A brincadeira predileta era a do "pegador a nado". Contam que certa vez um remador que não sabia nadar desafiou um companheiro em terra. No pega-pega, este lançou-se ao mar, e aquele, emocionado pela brincadeira, também. Nadou muito, até lembrar-se de que não sabia fazê-lo. Aí, quase morreu, gritou por socorro e foi salvo por companheiros.

Outra que contam é aquela do diretor do Saldanha: para saber se os remadores haviam lavado os barcos com água doce depois de saírem do mar, passava a língua em todas as embarcações. Constatada a irregularidade, punia o contraventor.

As brincadeiras aconteciam também no decorrer das competições. Havia certa prova para a qual os clubes inscreviam dois barcos: um visando a vitória e outro a atrapalhar os adversários. Os barcos dos vencidos eram virados e seus remadores precisavam nadar até a terra.

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