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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - ASSISTÊNCIA
A "toca" de Assis


Matéria publicada no jornal santista A Tribuna em um domingo, 18 de dezembro de 2011, páginas A-1 e A-5:

Franciscanas promovem almoço para moradores de rua

Foto: Bruno Miani, publicada com a matéria, na página A-1

 

Franciscanas e sua santa vocação

Irmãs da Toca de Assis promovem almoço para moradores de rua

Manuel Alves Fernandes

Da Redação

Quem não sentiu ainda aquela vontade que o espírito de Natal provoca, de sair pelas ruas nesta época do ano dando roupas, alimentos e um pouco de amor aos mais necessitados? Pois há quem faça isso, revivendo o sonho que um certo Francisco tornou realidade em Assis (entre 1182 e 1226), só que em pleno século 21, na cidade de Santos; as irmãs da "Toca de Assis".

Elas pertencem ao Instituto Filhas da Pobreza do Santíssimo Sacramento. Vestem-se com hábitos que fazem lembrar a figura de São Francisco, o santo da simplicidade e da mendicância que viveu na Renascença italiana. E, tal como ele, renunciaram aos prazeres da sociedade de consumo.

Elas se mostram felizes ajudando moradores de rua. Com uma diferença: fazem isso 365 dias por ano, com a ajuda de voluntários, a maioria ligados à Igreja Católica na diocese santista. Ou de doadores anônimos, comerciantes do mercado que viram a vida mudar depois de descobrir alguns segredos nos ensinamentos de Francisco de Assis: "Renunciar é ter mais: perder para ganhar. Quanto mais eu perco, mais eu ganho; quanto mais dou, mais possuo; quanto menos tenho, mais rico sou; se mais divido, mais se multiplica".


Por volta de meio dia, mais de 100 moradores de rua já estavam participando da confraternização

Foto: Bruno Miani, publicada com a matéria

Almoço de Natal - As irmãs do Instituto a Toca de Assis em Santos promoveram ontem o tradicional almoço de Natal para a população e rua, como fazem há dez anos. Na sua maioria homens (havia apenas duas mulheres), cerca de 50 pessoas começaram a chegar à Casa João Paulo, na Rua Sete de Setembro, 47, Centro, desde as 8 horas. Tomavam café da manhã e, aqueles que desejassem, banho com ajuda de voluntários, e corte de cabelo, feito pelas irmãs e noviças.

Ao meio dia, mais de 100 moradores de rua já estavam participando da confraternização natalina. Almoçaram arroz, feijão, frango - fruto de doação de voluntários católicos. Alguns desses voluntários, que pedem anonimato, ajudaram a cozinhar as refeições em casa ou na cozinha da instituição cedida pela diocese para o trabalho das irmãzinhas de São Francisco de Assis. E, depois, na sobremesa comeram frutas nacionais e estrangeiras, doadas por um comerciante do Mercado Municipal.

Doações

"Precisamos de roupas, alimentos, voluntários que se disponham a pagar as contas. A gente vive da Providência de Deus, que é toda pessoa que nos ajuda. O amor de Deus é manifestado por meio de cada doação. Sua doação é muito importante para nós"

Irmã Maria, vice-coordenadora da Ordem

Vocação - Irmãs e noviças se vestem com o hábito marrom de São Francisco, crucifixo ao peito e se distinguem apenas pela cor do véu: marrom também para as irmãs, branco para as noviças que não fizeram ainda os votos finais. E esses votos são "pobreza, castidade e obediência".

Passam a sensação de que são muito felizes em optar pelo trabalho de minimizar o sofrimento dos moradores de rua. A irmã Maria, vice-coordenadora da ordem (cuja superiora, a irmã Israel, se recuperava ontem de uma cirurgia), chamava-se Catiana Leite dos Santos até 2010, quando morava em São Gonçalo, no Rio de Janeiro. Foi ali que diz ter atendido ao "chamado de Deus para uma vida consagrada", aos 31 anos.

Filha de pais católicos que se dedicavam à prática da caridade na pastoral vicentina, ingressou no instituto religioso que lida com moradores de rua, e é oficialmente chamado de "Filhos da Pobreza do Santíssimo Sacramento".

Como a atividade é de missionária, foi inicialmente para Campinas (onde a ordem fraterna nasceu) e passou por vários lugares até chegar a Santos. A ordem local é formada por cinco irmãs professas e 11 noviças e um grande número de irmãos e irmãs voluntárias sem professar os hábitos religiosos. O instituto aceita qualquer tipo de ajuda, que pode ser proposta pelos telefones 3301-5363 e 3323-0535.

"Precisamos de roupas, alimentos, voluntários que se disponham a pagar as contas. A gente vive da Providência de Deus, que é toda pessoa que nos ajuda. O amor de Deus é manifestado por meio de cada doação. Sua doação é muito importante para nós, pois nada possuímos de nosso".


Waldir Felix mudou sua vida depois que começou a ajudar as irmãs

Foto: Bruno Miani, publicada com a matéria

Fraternidade nasceu em 1994

A "Toca de Assis" foi criada como uma fraternidade de aliança católica, em maio de 1994, pelo padre Roberto José Lettieri, quando ainda era seminarista em Campinas, com base nos exemplos deixados por São Francisco. O santo italiano que nasceu filho de família rica e optou por uma vida simples pedia esmolas para ajudar os pobres na Idade Média. Chamava casas de tocas.

Desde sua fundação, a "Toca", como é conhecida, expandiu-se, tendo 45 casas no Brasil e duas no Equador. É formada pelos institutos de vida consagrada: os Filhos e Filhas da Pobreza do Santíssimo Sacramento. E, também, por leigos, sacerdotes e pelos pobres em situação de rua, que são parte fundamental dessa família. Irmãs e irmãos da toca dedicam-se ao acolhimento de pobres de rua, à adoração a Jesus, com votos de pobreza e castidade e renúncia aos bens terrenos.

Jogador de futebol - Essa condição explica o sorriso e a alegria das noviças ao se depararem com todo tipo de pessoa que vive na rua. Os que chegaram pela manhã, como o gaúcho Paulo Henrique, que mora no Albergue Noturno de Santos, foram até lá voluntariamente. Ele conta que saiu do Rio Grande do Sul e foi subindo o Brasil depois de um casamento desfeito. Vive do trabalho como auxiliar na construção civil. Tomou banho, ganhou roupa, tomou café e conversava animadamente, à espera do almoço.

Outros, como o José, único nome que foi possível entender na confusa e fabulosa história que contou, foram trazidos pela Guarda Municipal. Negro, carapinha branca e imensa, com a característica da maioria - falta de dentes e banho -, disse que já foi jogador de futebol na Itália e no Japão. Fez a alegria das noviças, que se empenhavam em lhe cortar o cabelo depois do banho. A alegria das noviças, sempre sorridentes, só encontrava paralelo na emoção de Waldir Felix.

Comerciante de uma barraca no Mercado Municipal, ele descobriu uma vida nova depois que passou a doar frutas para a "Toca". "Eu era um jogador inveterado. Saía do mercado e ia jogar, perdia tudo, era um vício. Mudei depois que conheci estas irmãzinhas. Foi uma bênção em minha vida. Estou melhor depois que aprendi a doar".


Paulo Henrique foi morar nas ruas depois de um casamento desfeito

Foto: Bruno Miani, publicada com a matéria