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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - HOSPITAIS - BIBLIOTECA
Hospital Anchieta (4-f18)

 

Clique na imagem para voltar ao índice do livroEste hospital santista foi o centro de um importante debate psiquiátrico, entre os que defendem a internação dos doentes mentais e os favoráveis à ressocialização dos mesmos, que travaram a chamada luta antimanicomial. Desse debate resultou uma intervenção pioneira no setor, acompanhada por especialistas de todo o mundo.

Um livro de 175 páginas contando essa história (com arte-final de Nicholas Vannuchi, e impresso na Cegraf Gráfica e Editora Ltda.-ME) foi lançado em 2004 pelo jornalista e historiador Paulo Matos, que em 13 de outubro de 2009 autorizou Novo Milênio a transcrevê-lo integralmente, a partir de seus originais digitados:

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Na Santos de Telma, a vitória dos mentaleiros

ANCHIETA, 15 ANOS (1989-2004)

A quarta revolução mundial da Psiquiatria

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"O ALIENISTA"  E  O ANCHIETA: de perto, ninguém é normal

 

O Anchieta era como a "Casa Verde" do livro "O alienista" (como antigamente se chamavam os psiquiatras), de Machado de Assis, quando  um médico inova na separação dos "loucos" dos "normais".

 

Ele, o Dr. Simão Bacamarte, pretendia separar o reino da loucura do reino do prefeito juízo, como se existisse e fosse possível esta separação. Mas a confusão entre estes reinos leva o doutor, na busca para saber o que é normalidade, a no começo internar a todos os que eram diferentes da maioria. Como havia sido feito, na realidade, aqui. O hospício é a casa do poder instituído e Assis sabia disso muito antes de Foucault e Basaglia, dos estudiosos e demolidores desta barbaridade da civilização que era o manicômio – que ainda existe.

 

No livro de Assis, o trabalho do Dr. Simão Bacamarte inicialmente é bem recebido pela população de Itaguaí, a cidade em que transcorre a estória, mas a aprovação cessa quando o médico passa a recolher na "Casa Verde" pessoas em cuja loucura a população não acreditava.

 

Então, o barbeiro Porfírio lidera uma rebelião contra o hospício, que é sufocada. Numa primeira etapa, são internados os que manifestem hábitos ou atitudes discutíveis, tolerados pela sociedade: os politicamente volúveis, os sem opiniões próprias, os mentirosos, os falastrões, os poetas de versos empolados, os vaidosos. Mas para pasmo geral da população de Itaguaí, o Dr. Simão Bacamarte um dia solta todos os recolhidos no hospício - e adota critérios inversos para a caracterização da loucura: os loucos agora são os justos, os leais, os honestos.

 

A terapêutica para estes casos de loucura consistia em fazer desaparecer de seus pacientes as "virtudes", o que o Dr. Simão consegue com certa facilidade. Declara curados todos os loucos, solta-os todos e, reconhecendo-se como único louco irremediável, o médico tranca-se na Casa Verde, onde morre meses depois.

 

Qualquer semelhança da ficção com a realidade não é mera coincidência: quem são os "normais"? Ao tempo da intervenção e da mobilização em torno da atitude local de libertação, se dizia "De perto, ninguém é normal".

 

Basta não se encaixar na "normalidade" ditada externamente para, não se enquadrando, ser "louco".  A nossa razão é a medida da loucura alheia, disseram – e por ela medimos "o outro". Desde que não tenhamos o poder de interná-lo, como o Dr. Bacamarte, tudo bem. A coisa só piora quando somos autorizados a prendê-lo, dar-lhe remédios e eletrochoques. Aí a coisa pega. O rompimento dessa autoridade, do princípio da autoridade, foi a aula do Anchieta.