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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - ENSINO
A educação... e as antigas escolas (4b-2)

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Tradicionais colégios, que muito santista recorda com saudade, independentemente de serem públicos ou particulares, marcados por professores que se destacaram na Cidade, e por eventos que também fizeram história. Nesta matéria do jornal santista A Tribuna, na página 10 da edição de 3 de agosto de 1952, é registrado o jubileu do Liceu Feminino Santista (ortografia atualizada nesta transcrição):
 


Imagem: reprodução da matéria original

Jubileu de ouro do Liceu Feminino Santista

Mantido pela Associação Feminina Santista, esse estabelecimento presta assinalados serviços à mulher e à criança - Um pouco de sua história, onde aparecem vultos de destaque - Solenidades programadas - O Liceu foi o pioneiro do ensino superior feminino em nossa cidade

Texto de Hamleto Rosato

Fotos e reproduções de Rafael Dias Herrera

Santos, em todos os setores de atividade, sempre se colocou como uma das cidades pioneiras do Brasil. Impondo-se desde os primeiros instantes, quer no terreno político, social, econômico ou cívico, Santos ocupa, hoje, no conceito das demais cidades brasileiras, um lugar de destacado relevo, graças ao trabalho, diligência e abnegação de seus filhos e de todos quantos fizeram desta terra a sua cidade de adoção.

Diante da história pátria, nos grandes movimentos da nacionalidade, vamos encontrar santistas ilustres. Os primeiros gritos que eclodiram a favor da abolição da escravatura reboaram pelas montanhas que circundam a cidade. Calaram, igualmente, no espírito brasílico de nossa gente, os inflamantes discursos em prol da Independência e da República.

A qualquer movimento, pois, de grandioso para o Brasil, em benefício de seu povo, a gente santista participou com dedicação, com amor e civismo, dando, sempre, afirmativas categóricas de seu acendrado patriotismo.

Não podia, pois, deixar a nossa cidade de ser uma das primeiras no país a cuidar da emancipação educacional e cultural da mulher brasileira. E mais uma vez a nossa cidade se colocou à frente de um outro grande movimento: o da instrução da mulher.

E foi num desses movimentos, os primeiros com certeza que se processaram não somente no Brasil mas em toda a América do Sul, que se fundou o

Liceu Feminino Santista

no dia 5 de agosto de 1902. Objetivando a redenção espiritual da mulher, um grupo de senhoras e senhorinhas da nossa sociedade, tendo à frente a educadora Eunice de Caldas, se propôs fundar, para moças, um estabelecimento de ensino secundário.

Como toda a semente boa, lançada em terra propícia, não se fizeram esperar os frutos. E assim Santos, no longínquo 1902, passou a ter o Liceu Feminino Santista. Nomes de prestígio nos meios sociais e educacionais de nossa cidade, observando o trabalho daquele pugilo de pioneiras, cerram fileira. E pouco depois, na sua primeira diretoria, como verdadeiros pioneiros do ensino secundário para a mulher santista, surgiram esses nomes que Santos reverencia: Eunice de Caldas, dr. Soter de Araujo, Adelaide de Brito, Vitalina Caiaffa, dr. Adolfo Porchat de Assis, dr. Moura Ribeiro, dr. Olinto Dantas, dr. Tabyra, dr. Vitor de Lamare, Oscar Ferreira, maestro Patrício Soares, dr. Antenor de Campos Moura e Magalhães.

Batalhadores incansáveis, eles não encontraram pequenas dificuldades. O ensino era gratuito. Renda não havia. Urgia, porém, ministrar ensinamentos do curso secundário à moça de Santos. Sem esmorecimento, não obstante as dificuldades encontradas, foram os professores ministrando aulas. Os dias foram transcorrendo.

Dado, todavia, o número crescente de alunas, fazia-se mister ampliar as aulas. E para tanto, pouco depois de um ano, aventou-se a idéia de se formar uma agremiação que, com sócios mensais, poderia ocorrer às despesas. Nasceu, então, a Associação Feminina Santista.

No seu regulamento, logo no seu artigo 1º, rezava: "O Liceu Feminino Santista, fundado em 5 de agosto de 1902, será mantido pela Associação Feminina Santista. Art. 2º - O seu fim é: 1º) ministrar o ensino das matérias que compõem o curso da Escola Normal de São Paulo; 2º) preparar professoras em curso Complementar para as escolas maternais da associação. § único - É lecionado por sócias ou benfeitores em condições que aceitarem a indicação de seus nomes para as diferentes cadeiras. Art. 3º - Está subordinado a uma diretora geral membro da diretoria da Associação, tendo por auxiliares uma secretária, uma bibliotecária e uma congregação composta de professores. Art. 4º - À diretora geral compete representar o Liceu nos atos públicos. Art. 5º - É da competência da Congregação: 1º) conferir diplomas de professoras; 2º) conferir títulos dos cursos anexos ao superior".

Diretoria em 1903 - Em 1903, a Associação Feminina Santista, mantenedora do Liceu, estava assim constituída: Eunice de Caldas, diretora geral; Elisa S. de Affonseca, presidente; Robertina C. Simonsen, vice-presidente; Iracema Presgrave, 1ª tesoureira; Adelaide de Brito, 1ª secretária; Irene P. Moretz Solon de Castro, 2ª secretária.

Nessa época, eram quatro os cursos do Liceu: a) Curso superior de professora de escolas preliminares ou diretora de escolas maternais; b) Curso complementar de professora de escolas maternais; c) Curso de Economia Doméstica; d) Curso preliminar de preparatorianas para os outros cursos.

No artigo 9º do regulamento acima citado, constava: a) O Curso de Economia Doméstica destina-se a preparar a mulher educanda para a missão de mãe de família. Compreende exercícios práticos de pintura, tecelagem, costura, cozinha etc., com idéias gerais e teóricas de administração, finanças, ornamentação, estilos etc. Haverá para isso uma oficina de costura e um laboratório culinário. E seguiam-se mais os seguintes itens: 8 cadeiras com aulas práticas: 1º literatura e ilustrações sobre economia doméstica; 2º) administração, finanças e escrituração; 3º) química culinária; 4º) higiene doméstica; 5º) pintura; 6º) tecelagem; 7º) moral prática; 8º) métodos de educação infantil.

Como se observa, com a criação da Associação Feminina Santista, dilataram-se os ensinamentos às moças de nossa cidade. Outra finalidade não tinham aquelas pioneiras senão a de proporcionar conhecimentos úteis e práticos à mulher santista. Poucas cidades então existiriam em todo o país ou mesmo na América do Sul, que contassem com uma agremiação onde se cuidava tão bem do preparo da mulher como em Santos.

E se à dona Eunice de Caldas se deve o entusiasmo da fundação daquela agremiação, a outras mulheres de nossa cidade se deve o prosseguimento dessa obra que representa, sem dúvida, um autêntico patrimônio da cidade de Santos. Não faltavam a d. Eunice de Caldas boas colaboradoras. E entre as suas primeiras companheiras, uma outra figura se destacou: d. Robertina Simonsen, que foi a sucessora de d. Eunice de Caldas.

As primeiras aulas - As primeiras aulas do Liceu Feminino Santista foram dadas no Grupo Escolar Cesário Bastos, cujo prédio foi inaugurado em 1902. Passou depois o Liceu Feminino a lecionar no Grupo Auxiliadora da Instrução, para, posteriormente, ocupar algumas salas da Sociedade União Operária.

Entretanto, as diretoras da Associação Feminina Santista vinham, há muito, alimentando um velho sonho: o da construção do prédio próprio. Mercê de esforços, de lutas e sacrifícios, encontrando boa colaboração da gente santista, viram as primeiras diretoras da Associação Feminina concretizado o sonho. Em 1905, já em prédio próprio, diplomava o Liceu a sua primeira turma de professorandas, em número de quatro. São elas: dd. Afonsina Proost de Sousa, Alice de Breyne, Loreta Nogueira e Oneida Gwyer.

Com o rolar dos anos, o Liceu Feminino Santista prosseguiu o seu programa. E muitas outras turmas foram se sucedendo, havendo hoje, no magistério municipal, mais de cem professoras liceístas e um número elevado das que já cumpriram amplamente a sua missão, ministrando conhecimentos às moças de Santos.

Diretorias - No relatório de 1903, da Associação Feminina Santista, consta: "A Associação Feminina iniciou a sua administração tendo como auxiliares as sras. Eunice de Caldas, presidente; vice-presidente, d. Elisa Affonseca; 1ª secretária, d. Adelaide de Brito; tesoureira, d. Ermelinda Carvalho; 2ª secretária, d. Vitalina Caiaffa; 2ª tesoureira, d. Francisca L. de Castro; 1ª auxiliar, d. Carlota Marques; 2ª auxiliar, d. Aglay P. Assis".

Em maio de 1910 possuía a Associação a seguinte diretoria: presidente, d. Robertina C. Simonsen (reeleita); vice-presidente, d. Elisa Sodré Affonseca (reeleita); 1ª secretária, d. Francisca Faria (reeleita); 2ª secretária, d. Maria Campos Moura (reeleita); 1ª tesoureira, d. Serafina Millon; 2ª tesoureira, d. Alice de Breyne Silveira. Eram conselheiras: d. Diva Porchat de Assis (reeleita), Maria C. Azevedo Marques, Maria L. V. Catunda, Paulina Azambuja Araujo, Ester Stockler (reeleita), Lucília Gay, Maria Gusmão, Angelina Sales Braga, Luiza Fortunato, Adelaide G. Andrade, Gertrudes Whitaker e Deolinda Pinheiro. Estava assim constituída a Assembléia Geral: presidente, d. Clotilde Moura Ribeiro; vice-presidente, d. Conceição De Lamare; 1ª secretária, d. Carmem Affonseca Faria; 2ª secretária, d. Maria Cândida Sodré. Comissão de contas: as firmas benfeitoras: Almeida Melo e Cia., Ernesto Whitaker e Cia. e Krische e Cia.

Nessa mesma ocasião haviam os seguintes benfeitores... honorários, 23; com ...., 1. Donativos de ... [trechos ilegíveis no original por falha de impressão] em toda a história do Liceu Feminino Santista, foram feitos à Associação que o mantinha. Nesse mesmo ano, constava do relatório um donativo do sr. Elisiário Castanho, que dava à Associação alguns metros de terrenos nos fundos do prédio social, já à Rua da Constituição, no mesmo local onde se ergue o novo edifício.

Como homenagem a todos os professores que lecionaram no Liceu, vamos assinalar os que, em 1910, ministraram ensinamentos: d. Luiza Saldanha, d. Alzira Pereira, d. Glória Bouças, d. Marta Cohen, d. Emília Maia, d. Adi Proost de Sousa, d. Isaura de Araujo, d. Eugênia Saldanha, dr. Carvalhal Filho, d. Maria Isabel Moretz-Sohn, d. Maria Pia Moretz-Sohn, d. Matilde Martins, d. Maria da Piedade Araujo, dr. Saldanha Sobrinho, sr. João Bernils, d. Loreto Mesquita Nogueira, sr. Carlos de Bézer, dr. Pereira dos ... ... Tomaz Catunda, dr. .... Grimsditch,  [trechos ilegíveis no original por falha de impressão] sr. Rodolfo Noronha, sr. Arlindo Silva e sr. Aristóteles Menezes.

Os anos foram transcorrendo, crescendo sempre o número de alunas no Liceu. Figuras de destaque na nossa sociedade ocuparam diferentes cargos nas sucessivas diretorias, algumas delas presididas por d. Diva De Lamare Porchat de Assis, d. Beatriz Bourrol, d. Iracema Presgrave, d. Gertrudes Schmidt Whitaker, d. Elisa Sodré de Affonseca, d. Zeny de Sá Goulart, d. Maria Gay de Mendonça e muitas outras, entre as quais a sra. Olga Melchert, uma das mais eficientes presidentes que o Liceu tem conhecido.

Corpo docente - Pelas diversas cátedras do Liceu Feminino Santista passaram vultos de destacado relevo em Santos, como Adolfo Porchat de Assis, [...] Catunda, Benedito [...]  [trechos ilegíveis no original por falha de impressão] Rodrigues, João Carvalhal Filho, Roberto Simonsen, Antenor de Campos Moura, Aristóteles Menezes e tantos outros, cidadãos ilustres, que prestaram, igualmente, relevantes serviços à cidade, nos seus mais diferentes setores de atividade.

Jogos florais - Ficaram célebres em nossa cidade os Jogos Florais, realizados sob o patrocínio da Associação Feminina Santista. Desses Jogos foram feitas poliantéias onde se verificam nomes de destacado relevo nas letras pátrias, como Paulo Setúbal, Menotti Del Picchia, Martins Fontes, Ribeiro Couto, Paulo Gonçalves, Alvaro Augusto Lopes, Afonso Schmidt, Fábio Montenegro, Alegretti Filho, Euclides de Andrade, Carlos Sotto-maior, Porchat de Assis, Armando Alcântara e muitos outros.

Outras atividades - A ação da Associação Feminina Santista, a quem se deve o Liceu, não se restringiu somente ao campo da instrução. Sempre tomou parte relevante em todas as campanhas cívicas e de benemerência. É irmã da Santa Casa de Santos, título que recebeu pela contribuição de roupas e agasalhos para os tuberculosos pobres de Campos do Jordão. Aliás, todos os anos, a Gota de Leite também recebe roupinhas para os seus internados, confeccionadas na sede da própria Associação.

Em 1932, durante a Revolução Constitucionalista, contribuiu de forma brilhante, fazendo funcionar em seu prédio uma grande oficina de costura de roupas para os soldados paulistas.

Graças às contribuições e algumas subvenções, vem o Liceu Feminino Santista cumprindo cabalmente o programa a que se propôs. Para tanto, não faltam os esforços e a dedicação das diretoras da Associação Feminina Santista.

Até 1930 funcionou o Liceu em regime de inteira gratuidade, contando com as subvenções municipais e um auxílio do governo federal, na forma de uma pequena porcentagem do imposto sobre o álcool. Com a supressão desse auxílio, a diretoria se viu na emergência de cobrar mensalidades das suas alunas, pois as alterações do custo de vida já não permitiam aos professores trabalharem sem remuneração, e as despesas cresciam, dia a dia.

Estipulou-se, então, a pequena quantia de Cr$ 20,00 como mensalidade. Esta vem sendo alterada com o tempo, vagarosamente, de tal modo que hoje pagam as alunas, na sua mais alta cota, na 4ª série ginasial, Cr$ 120,00. Mesmo assim, das 520 alunas que o Liceu tem, 35 recebem instrução absolutamente gratuita; 63 têm redução, pagando apenas Cr$ 5000 por mês.

Mantém o Liceu cursos de jardim de infância, curso primário e curso ginasial.

Liceístas diplomadas - Desde a sua fundação, o Liceu Feminino Santista diplomou 427 liceístas, 246 ginasianas, 35 auxiliares de comércio e 11 secretárias.


D. Eunice de Caldas, fundadora e primeira presidente da Associação Feminina Santista
Foto e legenda publicadas com a matéria

A atual diretoria - À frente da atual diretoria da Associação Feminina Santista encontra-se a sra. Marília Amado Barletta. Não desmerecendo as suas antecessoras, d. Marília Amado Barletta vem conduzindo com firmeza e segurança a entidade que preside. Incansável, relegando a segundo plano o conforto, a operosa presidente da Associação Feminina Santista é bem um exemplo da mulher santista. Dinâmica, não se descuida de qualquer detalhe. Cercada por colaboradoras experientes, d. Marília Amado Barletta, de maneira eficiente, está conduzindo com grande tirocínio a Associação Feminina Santista, que é, hoje em dia, sem favor, um justo orgulho para a gente santista.

A atual diretoria da Associação Feminina Santista está assim constituída: presidente, dd. Marília Amado Barletta; vice-presidente, Olga Melchert; 1ª secretária, Ziná de Castro Bicudo; 2ª secretária, Virgínia Rocha Buongermino; 1ª tesoureira, Inês Corrêa Vilela; 2ª tesoureira, Maria de Sousa Dias.

Conselho: dd. Amélia Coelho de Matos, Cecília Daemon, Clarice Leal, Diva Fialho Duarte, Edith Giannattazio, Jardilina Teixeira, Julieta Leal, Leonilda Malzoni, Lúcia Caiaffa, Manoelita Clemente, Margarida Limongi França, Maria Benedita Muniz, Mena Melchert Teixeira, Odila Bitencourt e Ondina Ribeiro Nogueira.

Mesa das Assembléias: presidente, dd. Oraida Mendes; vice-presidente, M. Luiza Barbosa; 1ª secretária, Déa Vilela Pecholt; 2ª secretária, Zulmira Lambert.


D. Marília Amado Barletta, atual presidente da entidade que há cinqüenta anos vem contribuindo para a redenção cultural da mulher santista
Foto e legenda publicadas com a matéria

Programa de festejos - Comemorando o jubileu de ouro do Liceu Feminino Santista, a Associação Feminina Santista organizou excelente programa, que terá início hoje, dia 3, e término dia 5.

Às 9 horas de hoje, iniciando esse programa, será celebrada missa em intenção dos associados, professores e alunos falecidos. Após a missa, no Cemitério do Paquetá, será prestada uma homenagem a todos os professores falecidos, junto ao túmulo do inesquecível mestre, dr. Adolfo Porchat de Assis. Às 13 horas, no Restaurante Lutécia, almoço de confraternização das liceístas.

Dia 4, no Teatro Coliseu, às 20,30 horas, será apresentada a revista "Rosa, Rosa de Amor", de autoria do sr. Cherubim Corrêa, especialmente escrita para o jubileu de ouro do Liceu Feminino Santista. Nos principais papéis de "Rosa, Rosa de Amor.." figuram Iracema Gomes, Norma Arias, Sílvia de Almeida, Cisa Arias, Nair Diego, Rosita Consuelo d'Avila, Corrêa Júnior, José Gomes, Nestor Pires, Vieira da Cunha e muitos outros, que emprestam a sua colaboração à entidade da Rua da Constituição.

Na parte vocal, far-se-ão ouvir os alunos da Escola de Música São José, dirigida pelo compositor santista Azevedo Marques, atuando como solistas as sopranos Nice Lassalvia e Anice Leal Burgos, o tenor Jorge de Sousa e a pianista Stela Malvar, que interpretará, em primeira audição para o público de Santos, o "Maxixe de Concerto", do maestro Azevedo Marques.

A parte coreográfica da revista está a cargo de alunas da professora Cecília Terral, tais como Lucia Bacarat, Rosana Garcez, Paula Leandro, Dora Peel, Neusa Aparecida Barbosa, Liliana Rodrigues, Stela Teixeira, Neusa da Costa, Ivone Toledo, Mára Fava de Freitas e o corpo de baile.

As músicas dessa peça são de autoria do talentoso e jovem maestro santista José Jesus de Azevedo Marques, que as escreveu especialmente. Vários números de grande efeito serão apresentados, havendo uma homenagem a A Tribuna, que a Associação presta a esta folha.

Os números coreográficos estão a cargo das alunas da professora Cecília Terral, devendo a renda desse magnífico espetáculo reverter em benefício das obras que se estão processando no edifício da Associação Feminina Santista. os ensaios da peça foram dirigidos pelo sr. Domingos C. da Silveira. Os cenários estão a cargo do competente artista Ângelo Diléo.

Dia 5 - Missa solene de ação de graças, no Santuário do Sagrado Coração de Jesus, às 9 horas. Haverá, após esse ato religioso, recepção às autoridades, imprensa e convidados, na sede social.

Às 20,30 horas, na sede do Centro Português, sessão solene de encerramento dos festejos, tendo como orador oficial o dr. Cleóbulo Amazonas Duarte.

Convite - A diretoria da Associação Feminina Santista convida as autoridades e povo para assistir as solenidades que serão realizadas em comemoração ao jubileu de ouro do Liceu Feminino Santista, e cujo programa ficou acima.

Hino às Mães - Como homenagem à mulher santista, que encontrou, há cinqüenta anos, no Liceu Feminino Santista, um estabelecimento de ensino superior, que lhe facultasse aprimorar os seus dotes, e, ainda, às abnegadas diretoras da Associação Feminina Santista, entre as quais dd. Marília Amado Barletta, Inês Villela, Olga Melchert, Zina De Castro Bicudo, Cecília Daemon, Margarida Limongi França, Odila Bitencourt e Maria de Sousa Dias, reproduziremos, aqui, o Hino às Mães, hino oficial do Liceu, com letra do poeta santista Vicente de Carvalho e música de Oscar Ferreira.

É a seguinte a letra de Hino às Mães:

Salve Mães! Sede benditas

Como sois amadas!

Nós amamos e bendizemos

Como aprendemos de vós!

 

Nossa ternura infinita,

Vossa infinita afeição,

Caíram em nossas almas

Como a semente no chão!

 

Mães! Que as nossas tensas almas

Da vida ao primeiro alvor,

Abristes e borrifastes

Das orvalhadas do Amor!


O antigo edifício da Associação Feminina Santista, mantenedora do Liceu Feminino, que foi o primeiro estabelecimento de ensino secundário em nossa cidade; (...)


(...) à direita, diretores e professores da Associação e do Liceu, vendo-se, na primeira fila, o dr. Soter de Araújo, d. Adelaide de Brito (1ª secretária), d. Eunice de Caldas, presidente; d. Vitalina Caiaffa e dr. Adolfo Porchat de Assis; na segunda fila, dr. Moura Ribeiro, dr. Olinto Dantas, dr. Tabyra, dr. Vitor de Lamare e sr. Oscar Ferreira (autor da Valsa Clube XV); na 3ª  fila, maestro Patrício Soares, dr. Antenor de Campos Moura e sr. Magalhães; (...)


(...) em baixo, o moderno edifício do Liceu Feminino Santista, no mesmo local, isto é, à Rua da Constituição, 321, (...)


(...) e, à direita, diretoras e professores da Associação e do Liceu
Fotos e legenda publicadas com a matéria

 
Matéria publicada pelo mesmo jornal A Tribuna cerca de um ano depois, na página 5 da edição de 7 de junho de 1953 (ortografia atualizada nesta transcrição):
 

Associação Feminina Santista

Sua origem, sua vida e suas glórias

Durwal Ferreira

Cinqüenta anos faz, hoje, que se consolidou uma insigne obra criada e sustentada pelo trabalho incansável, quão inestimável, da mulher santista - Associação Feminina Santista.

E é nessas efemérides, principalmente de jubileu, que voltamos os olhos para o passado e carinhosamente reconstituímos a trajetória de lutas e glórias por que caminharam figuras convictas do seu ideal.

Na História de Santos, pois, há a se destacar nos setores social, educacional e instrutivo o nascimento e a existência da Associação Feminina Santista que, sob a sua finalidade e estrutura, foi a segunda fundada em nosso país desde que esta constituía uma dependência da primeira instalada em São Paulo sob o nome de Associação Feminina Beneficente e Instrutiva.

Dizemos, então, que historicamente, porque o arquivo da Associação através dos livros de atas e outros documentos, assim como a imprensa, notadamente A Tribuna, o demonstram, a Associação Feminina Santista passou por três fases.

Primeira fase - Inspiração - Nesta fase se destaca o vulto admirável de uma senhora professora votada à prática do amparo espiritual e instrutivo das crianças humildes, cujo nome está perpetuado, também, nesta cidade denominando uma via pública e um asilo - "Anália Franco".

Foi no decorrer dos primeiros meses do ano de 1902 que ela fundou, em São Paulo, a Associação Feminina Beneficente e Instrutiva, coadjuvada por distintas professoras.

Na redação dos seus estatutos a idealizadora de tão grande empreendimento revelou a pureza da alma feminina no mister do bem alheio, refletindo-se no artigo trinta e cinco: "distribuir o pão que mata a fome, como o pão dos bons exemplos, da educação e do amor a Deus e ao próximo, o que forma boas mães de família, o que faz o cidadão honrado e o operário laborioso, sem, contudo, filiar-se a credo algum, a fim de abranger todas as classes sociais".

Antes, porém, no artigo cinco, estabelece a norma de ação de cada associada: "Os intuitos devem ser que unidas trabalhem para que a instituição possa largamente suavizar os sofrimentos dos deserdados da sorte e prestar todo o seu concurso na educação da infância, porque nada há mais nobre na vida que concorrer para minorar as dores dos nossos semelhantes e guiar as criancinhas ao bem pela educação".

Sob esses princípios criara e mantinha em pleno funcionamento um Liceu, uma escola noturna e duas maternais. "Esta associação tem igualmente a seu cargo os jardins da infância e prepara, em liceus noturnos, diretoras para as próprias escolas da associação", diz o estatuto, e neste encontra-se a propagação da obra: "Como o fim da associação é levar aos pontos mais obscuros do Estado a sua ação benéfica e regeneradora, haverá escolas em toda parte onde o número de sócias permita estabelecê-las, o que será fácil".

A cidade de Santos, que figura na história pátria como idealizadora e realizadora de grandes iniciativas, foi lembrada e a fez lembrada uma figura impressionante pela sua nobreza de caráter, pelas suas atitudes decisivas, pelo seu destemor à luta, pela sua incontestável capacidade, pela sua fulgurante inteligência, pelo imperativo de seus gestos e pela coragem de expor seus pensamentos  - Eunice (Peregrina de) Caldas, professora normalista e então diretora do Grupo Escolar Dr. Cesário Bastos.

Esta moça entusiasmou-se tão fortemente com os princípios da Associação Feminina Beneficente e Instrutiva, que d. Anália Franco escreveu, dentre outras coisas, na A Tribuna, desta cidade, a 20 de maio de 1902: "É com a mais íntima satisfação que sei existir em Santos uma evangelizadora do ensino caritativo, a qual, atendendo ao apelo que desta capital lhe foi dirigido, alistou-se em nossas fileiras para defender a sorte de tantos pequeninos seres condenados à ignorância. Da. Eunice Caldas, digna e inteligente diretora do Grupo Escolar de Santos é quem propõe a devotar-se resolutamente, a fim de agremiar em Santos distintas e dedicadas senhoras, que trabalhem no intuito de descobrir, à medida de suas forças, para o engrandecimento de nossa pátria. Da. Eunice de Caldas, com toda a boa vontade de um coração verdadeiramente patriótico, dispõe-se a proporcionar os meios ao seu alcance para que a Associação Feminina Beneficente e Instrutiva de São Paulo realize um dos seus mais ardentes desejos, que é a fundação de um Liceu Feminino Noturno e escolas maternais filiadas à sede, na invicta cidade que serviu de berço ao Patriarca da Independência, José Bonifácio de Andrada e Silva".

Mas, três dias antes da publicação do escrito da da. Anália Franco, a seção de Santos da Associação Feminina Beneficente e Instrutiva já se achava fundada, como se pode verificar do primeiro livro de atas: "Aos dezessete dias do mês de maio de mil novecentos e dois nesta cidade de Santos, na sala do Centro Espanhol, cedida para esse fim, às três horas da tarde, reunidas as sócias abaixo assinadas, tomou a palavra da. Eunice de Caldas, que expôs o fim da reunião e pelas mesmas sócias foi eleita uma diretoria provisória que deverá dirigir os destinos da Associação Feminina Beneficente e Instrutiva, constituída da seguinte forma: presidente, da. Eunice Peregrina de Caldas; vice, da. Elisa Afonseca; 1ª secretária, da. Adelaide de Brito; 2ª secretária, da. Vitalina Caiaffa; 1ª tesoureira, da. Ermelinda Carvalho; 2ª tesoureira, da. Francisca Isolina de Castro; 1ª auxiliar, da. Carlota Marques; 2ª auxiliar, da. Aglay Assia. Membros do Conselho: 1ª, Guiomar Pereira; 2ª, Regina Xavier; 3ª, da. Leonor Rato; 4ª, da. Zarita da Silva; 5ª, da. Maria do Carmo; 6ª, da. Cândida Marcondes; 7ª, da. Maria Alice Proost; 8ª, da. Oneyda Guayer; 9ª, da. Alice de Breyne; 10ª, da. Leonor Montenegro; 11ª, da. Angela Rato; 12ª, da. Júlia Doneuz. A presidente fez lavrar a presente ata que vai assinada pela diretoria e as sócias precentes. Sala do Centro Espanhol, 17 de maio de 1902. (Seguem-se as assinaturas das sras. diretoras acima referidas e a seguir as sócias presentes: Maria Luiza de Afonseca, Maria Rosa Caiaffa, Natalgisa Guimarães, Laurentina Montenegro, Maria L. Esteves, Amélia Bueno, Wanda Bueno e Maria C. Mendonça".

Assim constituída, a Associação iniciou sua jornada e do registro "Primeiras Sócias e Benfeitores da Cidade de Santos" deparam-se inscritas 139 Sócias Efetivas, 37 Sócios Benfeitores (classificação esta que significava o simples contribuinte, porque nenhum direito cabia a não ser o de participar das discussões de assuntos em assembléias gerais) e 32 Sócias Candidatas (alunas matriculadas no Liceu).

Estabelecido o alicerce, foi criado o Liceu Feminino, constituído de dois cursos: "Curso das Professoras - alunas que se destinam a professoras das escolas maternais, e Curso das Industriais - alunas que se destinam a operárias da Associação Feminina". Este segundo curso não foi instituído por falta de candidatas. Outros cursos existiam, tais como: Música, Desenho e Costura. As Escolas Maternais fundadas eram as denominadas "Anália Franco", "Júlio Conceição", "Almeida Moraes" e "União Operária".

O setor da Instrução seguia a sua marcha natural, porém uma ocorrência importante se daria na parte social quando da assembléia geral do dia 8 de dezembro de 1902, cujo resumo figura no primeiro relatório da Associação, em vista de não existir o respectivo livro de atas.

Diz esse resumo: "Em todas as sessões foram discutidos assuntos de interesse da Sociedade, reinando sempre a melhor ordem, sendo que numa delas foram discutidos alguns pontos dos Estatutos ultimamente organizados, não aceito pela diretoria que nesta cidade dirige os destinos da mesma e lavrado um protesto firmado por todas as sras. sócias presentes. Na mesma ocasião foi proposta a desligação desta Associação da da Capital, sendo unanimemente aprovada dita proposta".

Disse-me um venerando cidadão que a causa principal, não especificada no relatório acima referido, foi esta: a diretoria central (de São Paulo) arrecadava a contribuição dos associados de Santos e à seção desta cidade não distribuía a ajuda indispensável. A diretoria da seção de Santos queria, e com muita razão, que a sua renda aqui ficasse e fosse aplicada de acordo com a necessidade.

Segunda fase - Realização - Emancipou-se a seção de Santos, que passou a chamar-se Associação Feminina. Da. Eunice Caldas e suas companheiras prosseguiram sob os mesmos auspícios, e para demonstrar a lisura de tão séria decisão ficou deliberado realizar uma assembléia geral no dia 14 daquele mesmo mês e ano com o objetivo de ser eleita uma nova diretoria.

Já disse que o livro das atas das assembléias gerais mencionadas não existe. Mas estou certo de que foi realizada a assembléia convocada para a eleição de uma nova diretoria, porque das atas seguintes encontramos as assinaturas de das. Eunice Caldas, como presidente, Adelaide de Brito e Iracema Presgrave, como 1ª e 2ª secretárias, respectivamente.

Nesta fase a luta foi imensa, bastante áspera, porque a cisão dos associados se verificou e mesmo estranhos à Associação se arvoraram em advogados de uma causa injusta, e com isso surgiram descontentamentos, melindres, despeitos, intrigas e o decréscimo do quadro social.

Embora da. Eunice Caldas fosse portadora de grandes atributos, faltou-lhe, como sói acontecer aos idealistas extremados, o senso prático do setor social a ser aplicado em situação embaraçosa.

Santos, por esse tempo, não ia além da Vila Nova e Duas Pedras, numa extensão que hoje localizamos na Rua 7 de Setembro. É bem de ver, pois, como repercutiu essa separação e os seus danosos efeitos.

Da. Eunice Caldas enfrentou os obstáculos e prosseguiu em plena atividade; no entanto, as circunstâncias chegaram a tal ponto que da. Eunice Caldas retirou-se de Santos, desgostosa, após três meses de luta incessante. A A Tribuna, de 21 de abril de 1903, publicava, com certeza informada pela própria Associação, a seguinte nota: "ASSOCIAÇÃO FEMININA - Atendendo ao péssimo estado financeiro da Associação Feminina, à indiferença dos que estão recebendo os benefícios dessa mesma instituição e ao mau estado de saúde da presidente e diretora do Liceu Feminino, foi deliberada a interrupção da suas aulas pelo prazo de um mês. A meados de maio haverá a reabertura das aulas do Liceu e escolas maternais, sendo previamente avisadas as alunas dessas escolas".

Ausente da. Eunice Caldas, as demais diretoras pesaram a situação criada, idealizaram o reinício das atividades de uma grande obra da mulher. Se bem pensaram, melhor executaram, quando aquela abnegada educadora, de regresso a Santos, preside uma assembléia geral da Associação Feminina, secretariada por das. Adelaide de Brito e Iracema Presgrave, 1ª e 2ª secretárias, respectivamente, cuja finalidade constituiu designar uma comissão de sócios benfeitores para elaborar um novo estatuto, ou seja, um estatuto próprio.

Essa comissão ficou constituída dos drs. Adolfo Porchat de Assis, Vicente de Carvalho, Luiz Moretz-shon, Miguel Presgrave e srs. Adolfo Milon e João Vicente Marcondes. Essa assembléia geral realizou-se a 13 de maio de 1903.

Encerrou-se, honrosamente, a segunda fase. A personalidade e a ação de da. Eunice Caldas permaneceram acima das intrigas e dos despeitos.

Terceira fase - Consolidação - No dia 7 de junho de 1903 realizou-se uma assembléia geral para a apresentação e discussão do novo estatuto, o qual foi unanimemente aprovado, e eleição de uma nova diretoria.

Destaca-se do novo estatuto aprovado: "Art. 1º - A Associação Feminina Santista, com sede na cidade de Santos, onde foi fundada a 7 de junho de 1903, tem por fim a educação gratuita da Criança e da Mulher e especialmente desta. Art. 2º - A Associação manterá: 1º) - Um Liceu Feminino para maiores de 12 anos, sejam ou não sócias; 2º) - Escolas Maternais para menores de ambos os sexos, até a idade de 7 anos; 3º) - Uma Biblioteca para uso das sócias, professoras e alunas do Liceu".

A diretoria eleita foi a seguinte: presidente, Elisa Afonseca; vice-presidente, Robertina Simonsen; 1ª secretária, Adelaide de Brito; 2ª secretária, Irene Moretz-shon; 1ª tesoureira, Iracema Presgrave; 2ª tesoureira, Serafina Milon; diretora geral da instrução, Eunice Caldas. Conselho: Judith Caldas, Sebastiana Patusca, Mariana Conceição, Candida Inglez de Sousa, Maria C. Belegarde, Ermelinda de Carvalho, Diva Porchat de Assis, Maria C. Sodré, Francisca de Faria, Cyomara Nogueira, Julia Martins e Carolina M. Ribeiro. A cerimônia de posse foi realizada a 14 de junho de 1903.

Resolutamente iniciou as suas atividades a nova diretoria da Associação Feminina, conseguindo um numeroso quadro social. Sócias efetivas e sócios benfeitores, destes há que se destacar o comércio, em geral, até hoje contribuindo para a manutenção dessa grande iniciativa.

Graças ao tirocínio e ao devotamento dessa primeira diretoria, a situação de intrigas, descontentamentos, melindres e despeitos desapareceu e com isto se deu o que chamo de consolidação da Associação Feminina.

Grandes e árduas campanhas seriam encetadas, sem dúvida, e dentre as que mais empolgaram foi a construção da sede própria e instalação do Liceu e Escolas Maternais; a equiparação do Liceu Feminino à Escola Normal. As canseiras foram muitas, os obstáculos foram inúmeros, mas a vontade decisiva do ideal sobrepujou a tudo. Justiça se faça, sem reservas, à primeira presidente, d. Elisa Afonseca, que desenvolvendo uma atividade ímpar realizou tão magnífica consolidação.

Cursos - Com o início da fase consolidadora, as aulas do Liceu prosseguiram. As Escolas Maternais restringiram-se a duas, denominadas "Anália Franco" e "Julio Conceição", segundo o relatório da diretoria geral da instrução, d. Eunice Caldas: "A primeira denominação será dada em honra ao grande mérito revelado pela autora das bases fundamentais dessa Associação por nós hoje aceita, ainda que modelada e modificada; a segunda em sinal de reconhecimento e admiração pelo benfeitor que concorrendo pecuniariamente para o apoio da nossa associação prontifica-se ainda a ofertá-la com a instalação completa de uma Escola Maternal, tendo feito para isso encomenda no estrangeiro".

No decorrer de cinqüenta anos, outros cursos se sucederam, como Ginasial, Auxiliares de Comércio, Secretárias, Pré-primário, Preparatório, Propedêutico, Primário, Normal, Comercial e Perito-Contador.

Sempre orientados na educação e instrução da mulher, foram criados cursos livres, dentre eles: Alfabetização, Datilografia, Estenografia, Pintura, Piano, Música, Arte Culinária, Artes Aplicadas, Corte e Costura, Enfermagem de Emergência, Sociologia, Califasia, Literatura e Religião.

Estudantina e Orfeão - Duas iniciativas que marcaram época, dentre outras. A muitos parecerá esquisito este nome - Estudantina -, mas explica-se que era um conjunto de alunas e diplomandas do Liceu, cada qual tocando um instrumento, sob a batuta sábia de Patrício Soares, que por diversas vezes se apresentou em público, em solenidade do Liceu, conquistando entusiásticos aplausos.

Emblema - O primeiro emblema que teve a Associação Feminina Santista, foi sugestão de d. Eunice Caldas, conforme consta do livro de atas de assembléia geral, realizada a 30 de junho de 1903: "Pela sra. diretora geral foi proposto o emblema para esta sociedade, que deve ser uma figura de mulher com livro aberto, a fim de representar o feminismo e a instrução. Aceito o projeto, foi a diretora geral autorizada a mandar fazê-lo em São Paulo".

Dois anos depois, vamos encontrar na ata de reunião de diretoria, de 22 de junho, esta proposta da então 2ª secretária, d. Diva Porchat de Assis: "A abaixo assinada propôs que, para emblema social, servindo ao mesmo tempo para modelo de escudo, se adote o seguinte desenho: um livro aberto sobreposto de uma pena dourada, de baixo para cima, quase ao centro, no sentido diagonal. Na página da esquerda os seguintes dizeres - Associação Feminina Santista - 1902; e na página direita a cópia do emblema adotado no nosso estandarte. - Foi aprovada".

O emblema atual ainda é o mesmo, como é de fácil verificação, apenas com o ano alterado - de 1902 para 1903, cuja alteração não encontrei em nenhum dos livros conservados no arquivo. E este emblema foi magnificamente plasmado em argila pelo escultor Máximo de Azevedo Marques.

Bandeira - Foi Benedito Calixto, o soberbo artista e historiógrafo, e professor do Liceu Feminino, por muitos anos, o autor do projeto apresentado sob os princípios que estabelecem esse símbolo. Entretanto, discutido em assembléia geral, foi o projeto simplificado como está: uma cruz amarelo-ouro em pano branco, simbolizando este a Pureza e aquela a Instrução.

Filantropia - A filantropia é virtude inata na alma da mulher, e as senhoras da Associação deram sempre o máximo da sua dedicação em obras desta natureza, pondo à prova o requinte da alma feminina.

Em maio de 1932, foi criada sob a denominação de "Costura para pobres", cujo trabalho seria das associadas e distribuição na sede aos pobres por ocasião do Natal.

Em fevereiro do ano seguinte, é realizada a "Cruzada da Caridade", tendo como finalidade distribuir, nas instituições pias, roupas e artigos de maior necessidade. Em abril, como consta do livro de atas, é organizada "uma Cruzada para os tuberculosos da Santa Casa que se encontram em precária situação devido à crise por que está passando aquela casa de caridade. Esta cruzada constará da colocação de um cofre para recolher o TOSTÃO DO TUBERCULOSO".

Um ambulatório para tuberculosos foi criado, e diz a ata: "Haverá um cofre onde serão depositados os donativos. As sócias concorrerão com donativo em dinheiro ou fazendas, auxiliando, assim, essa iniciativa da Associação. As costuras serão feitas na sede da Associação ou as pessoas interessadas poderão mandar buscá-las para fazê-las em suas casas. Os donativos serão feitos em 1º lugar à Santa Casa de Santos, em seguida aos Sanatórios de S. José dos Campos e Campos do Jordão".

Na mesma ata, lê-se: "A presidente lançou a idéia de colocar nos Grupos Municipais e Estaduais da cidade cofres onde os alunos depositarão semanalmente UM TOSTÃO e cujo total será destinado às crianças enfermas da Santa Casa. Isto será patrocinado pela Associação e nestes cofres haverá os seguintes dizeres: O TOSTÃO DA CRIANÇA PARA A CRIANÇA".

Arte, literatura e cultura - Seguindo os seus fundamentos, foram sempre proporcionadas às associadas, como recreação e aprimoramento, horas de arte, literatura e cultura.

Iniciando esse movimento, fizeram-se ouvir d. Eunice Caldas, numa conferência intitulada "A educação da mulher e fins da Associação"; d. Brites de Azevedo Marques, em uma conferência denominada "Olhos"; o sr. André Freire dissertou sobre "A escola e a guerra"; d. Beatriz Bourroul, desenvolvendo o tema "A Mulher".

Declamadoras aplaudidas também se fizeram ouvir, dentre elas: dd. Renira Catunda, Maria Luiza Rocha e Silva e Maria Francisca Caldeira. Em números de piano apresentaram-se: dd. Fileta Presgrave do Amaral, senhorinha Boturão, Beatriz Guimarães e outras mais.

Em uma dessas oportunidades, sob estrondosos aplausos, apresentaram-se Martins Fontes declamando "Arlequinada" e juntamente com o dr. Arquimedes Bava recitaram poesias do livro inédito do magnífico poeta Mariano Gomes - "Suavium".

Ardor patriótico - Movida pelo mesmo sentimento patriótico, numa causa cuja ação passou para a História, a Revolução Constitucionalista de 1932, que outro objetivo não era senão aquele de dar ao país a sua Carta Magna, encontrou na Associação Feminina uma acolhida entusiástica. Numa atividade inenarrável, senhoras, senhorinhas e crianças se dedicaram à confecção de roupas e agasalhos para os Soldados da Lei, terminando a sua tarefa com o encerramento da Revolução.

Sem intuito regionalista portou-se a Associação, pois, quando as tropas brasileiras regressaram da Segunda Grande Guerra, em 1945, ela patrocinou um festival em benefício do Expedicionário Brasileiro, que teve carinhosa acolhida.

Visitas ilustres - A Associação Feminina Santista sente-se honrada com poucos, mas muito ilustres visitantes, desejosos de conhecerem de perto uma organização onde o ideal está a serviço da mulher no que diz à sua educação e instrução.

D. Duarte Leopoldo e Silva, arcebispo de São Paulo, ilustre pela sua cultura e pelas suas virtudes; dr. José Carvalho de Almeida, secretário do Interior do Estado de São Paulo, figura destacável na política e na cultura; dr. Altino Arantes, então presidente do Estado de São Paulo, personalidade de alta envergadura moral e intelectual; estudantes da Universidade de Coimbra, componentes da Tuna Acadêmica, vindos especialmente ao Brasil chegaram até Santos, em setembro de 1925.

A sua recepção foi apoteótica, na Associação, e os oradores universitários e professores revelaram o encantamento que lhes foi proporcionado e a existência de tão admirável associação. O acadêmico Angelo Cesar, um dos oradores, deixou escrito no livro de visitas os seguintes versos:

Portugal lembra um menino

Dormindo à beira do mar,

Num bercinho pequenino

Que as ondas vêm embalar.

 

O Brasil é Portugal

Com outro céu e outra luz.

Como a hóstia no Sacrário

É do sangue de Jesus..."

Presidentas - Destacar-se nomes seria uma injustiça, porque todas as presidentas desempenharam seus cargos de maneira brilhante, lutando sempre pelo mesmo ideal. Todas elas deram o máximo do seu esforço, porque os problemas foram sempre os mesmos, os de proporcionar conforto aos que usufruem os proveitos salutares da Instrução e Educação ministrados sob a égide da Associação Feminina.

Como homenagem nesta data festiva, recorda-se o nome de todas as presidentes: das. Eunice Caldas, Elisa Afonseca, Iracema Presgrave, Diva de Lamare Porchat de Assis, Robertina Cócrane Simonsen, Gertrudes Schmidt Whitaker, Maria Zelinda Glicerio Torres, Maria Gay de Mendonça, Zeni de Sá Goulart, Beatriz da Cunha Bourroul, Mercedes Mendonça, Amélia C. Penteado, Alice de Breyne Silveira, Olga Melchert e Marília Amado Barleta.

Atual diretoria - A atual diretoria, honrando o passado da Associação, vem desenvolvendo esforços inauditos para manutenção das finalidades a que se propusera a Associação. Digno, portanto, seja ela mencionada neste dia de gala:

Diretoria: - dd. Marília Amado Barleta, presidente; Olga Melchert, vice-presidente; Zina de Castro Bicudo, 1ª secretária; Edite Gianattazio, 2ª secretária; Inês Correa Vilela, 1ª tesoureira, e Maria de Sousa Dias, 2ª tesoureira.

Conselho: - dd. Amélia Coelho de Matos, Cecília Daemon, Clarice Leal, Dalva Nogueira, Diva Fialho Duarte, Elisa Ortiz, Jardelina Teixeira, Lúcia Caiaffa, Lucinda Oliveira Pinto, Margarida Limongi França, Maria Benedita Muniz, Manoelita Clemente, Nena Melchert Teixeira, Odila Bitencourt e Wanda Karam.

Assembléia geral - dd. Oraida Mendes Ribeiro, presidente; Maria Luiza Barbosa da Rocha e Silva, vice-presidente; Dea Vilela Peckolt, 1ª secretária, e Zulmira Lamberte, 2ª secretária.

Dr. Adolfo Porchat de Assis - Na comemoração deste cinqüentenário, e neste relato sintético da Associação Feminina, é de justiça evocar-se a figura do dr. Adolfo Porchat de Assis, uma das forças vivas daquela existência na terceira fase, e repito o que já disse: uma figura simpática, dedicada ao extremo, destacada pelo seu amor à instrução e à existência da Associação Feminina Santista e do Liceu onde sempre lecionou. Figura que será sempre lembrada com especial veneração por todos quantos saibam do seu trabalho desinteressado em favor daquela Associação e suas dependências.


Imagem: reprodução parcial da matéria original

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