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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - INCLINADOS...
Prédios inclinam mais que Pisa... e caem! (3)

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Devido às características do subsolo santista e à imprevidência de alguns construtores, muitos edifícios sofreram fortes recalques, ao ponto de inclinarem mais que a famosa torre italiana da cidade de Pisa. Os procedimentos para a recuperação desses prédios inclinados, aliás, foram estudados pelos técnicos italianos encarregados de recuperar aquela torre medieval européia. Outros prédios nem chegaram a se inclinar: desabaram durante a construção.

Os prédios inclinados da praia santista foram também objeto de ampla matéria do jornal-laboratório Entrevista, da Faculdade de Comunicação Social de Santos (Facos, da Sociedade São Leopoldo/Universidade Católica de Santos - Unisantos), em julho de 1992:

Prédios tortos podem cair

O solo de Santos é o segundo pior do mundo. Esse é um dos motivos que faz com que os prédios da orla da praia sofram as inclinações com o passar dos anos e que surjam teorias de que eles podem cair como dominós.

O secretário de Obras de Santos, Cláudio Abdala, não se conforma com essa desculpa e afirma que os responsáveis pelas obras devem preparar melhor o solo antes de começar qualquer construção. Um exemplo gritante dessa falta de preparo do solo é do Edifício Excelsior, que abriga o bar Torto. Sua inclinação já era prevista desde sua construção, mas nada impediu que sua obra terminasse. O resultado foi uma interdição em 1977, após sete anos do término de sua construção.

Toda essa situação levou os imóveis a sofrerem desvalorização. Apesar disso, algumas pessoas ainda se aventuram a continuar residindo nesses apartamentos, mesmo levando uma vida de certa maneira torta.

Ivana Montemurro

O solo de Santos é o segundo pior do mundo, inferior apenas ao da Cidade do México. A afirmação é do engenheiro Sílvio Miranda, da Engos Engenharia e Projeto Ltda., em Santos.

Miranda explica que o solo da cidade é formado de oito a 12 metros de camada de areia medianamente compacta, seguida de 20 a 40 metros de uma camada de argila marinha, podendo depois ter outra faixa de areia ou não, e por último uma camada dura (formada por rochas) que varia de 40 a 50 metros.

Para saber a resistência do solo é feito um relatório de sondagem. Retira-se uma amostra de cada camada, que é levada para um laboratório, onde se detecta o tipo de fundação a ser feita. Há dois tipos de fundações: rasa (em que se utilizam sapatas), quando se tem um solo que suporta a carga dos pilares, e profunda (onde geralmente se utilizam estacas) quando o solo é menos resistente.

O custo de uma fundação profunda é três vezes maior do que o de uma rasa, mas às vezes esse recurso é inevitável. É em função disso que muitos economizam quando não devem, como explica o inspetor do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura de Santos (CREA), Orlando Carlos Batista Damin. "A maioria dos prédios da orla da praia necessita de fundação profunda e se está torto, foi por pura economia, já que este tipo de técnica, necessária, é de alto custo".

Já para o engenheiro Sílvio Miranda, o motivo principal que faz com que um prédio possa vir a recalcar é o solo. Porém, ele acrescenta que o recalque também pode ser conseqüência da altura do prédio, de construção irregular e sobrecargas desiguais. "Prédios de 12 a 17 andares afetam a estaca que atinge a camada de argila marinha, que é mais fraca, provocando assim o recalque", afirma Miranda. Um exemplo de um prédio com estas características é o Edifício Excelsior, mais conhecido como "Torto".

Altura não influencia - O especialista em mecânica de solos, Milton Vargas, há décadas já afirmava que a Cidade deveria ter prédios com apenas sete andares. Contudo, o presidente da Assecob e proprietário da construtora Phoenix, Omar Laino, diz que em nada influencia a altura de um prédio. "Fazendo o tipo de fundação correta, adequada ao solo, a altura em nada vai interferir. Como exemplo cito as construções no Japão, onde os prédios têm mais de 100 andares", acrescenta Laino.

E segundo Damin também não há problema algum com a altura dos edifícios. O engenheiro explica que se o solo é inadequado para levantar um prédio de 10 andares, por exemplo, onde deve ser feita a fundação profunda, e não se pode gastar muito, que se construa então um prédio mais baixo, utilizando-se a fundação rasa, onde o custo é menor.

Quando um prédio é construído fora dos padrões exigidos, e ergue-se um edifício vizinho, este por sua vez acaba influenciando ao ponto de forçar o outro a entortar. É que os chamados bulbos de pressão, que se formam em cada prédio, juntam-se aumentando a carga, e a tendência é a aproximação destes edifícios.

Entretanto, hoje existem técnicas das mais diversas para se recuperar os danos causados nessas construções, como ocorreu no Edifício Excelsior. "Antigamente, de tão inclinado, o elevador deste prédio parava no oitavo ou nono andar, não subindo até o fim", conta Damin. Esse problema foi sanado e a inclinação do prédio hoje está estabilizada.

Prédios podem cair - Damin explica que o recalque por ano é mínimo, porém não descarta a possibilidade de que prédios tortos em Santos caiam. "Mas isso duraria muito mais de 50 anos para acontecer", afirma o engenheiro.

Milton Vargas apresentou uma teoria há anos que provoca bastante polêmica entre os especialistas da área da construção. Ele afirmou que os prédios da orla da praia, em Santos, são como cartas de baralho em pé. Se cair uma, caem todas.

Para o engenheiro Sílvio Miranda e para o presidente da Assecob, Omar Laino, esta teoria é absurda. Mas o inspetor do CREA e engenheiro civil, Orlando Carlos Batista Damin, concorda com o especialista. "Isso pode acontecer, prédios cairiam como dominós".

Punição - A legislação prevê punição ao engenheiro que cometer erro de projeto e estrutura, mesmo se o prédio apenas apresentar rachaduras que irão causar danificações. Segundo Damin, para que ocorra a cassação do CREA é preciso que o engenheiro tenha sido condenado numa ação cível e numa ação criminal.

Dicionário

Sapata: peça que fica sobre um pilar para reforçar ou equilibrar a trave que assenta nela; pequena biguas, com furo no meio, e em forma de sapato.

Recalque: inclinação do prédio. O recalque é mínimo por ano. E com o passar do tempo vai diminuindo.

Bulbos de pressão: parte arredondada que se forma embaixo dos prédios onde faz pressão no solo e possui carga.

Teoria não convence secretário de obras

Renata Lacerda

São tantas as informações sobre os prédios tortos em Santos que o assunto gera polêmica entre os especialistas. Os levantamentos realizados trazem à tona vários itens que vão dando margem a todo tipo de interpretação. O secretário de Obras de Santos, Cláudio Abdala, é um dos que divergem da maioria.

O secretário discorda inteiramente das "teorias" que atribuem ao tipo de solo da Cidade a responsabilidade sobre a inclinação dos edifícios. "O solo é realmente ruim, mas o que faz os prédios entortarem é a solução de engenharia inadequada. Os engenheiros devem se adequar ao terreno e não o terreno se adequar a eles", diz.

Abdala afirma que o Código de Edificações do Município, datado de 1968, não fazia menção a qualquer rigor na construção de edifícios. Dessa forma, vários prédios foram construídos sem nenhum tipo de controle. A maioria das construtoras usava fundações rasas, que custavam menos, mas não eram adequadas ao tipo de solo.

Em 1968, o Código sofreu alteração e a nova legislação começou a exigir que fossem feitas fundações profundas em construções com mais de 11 andares. "No dia 15 deste mês conseguimos novamente modificar o Código. Agora, no artigo 18, parágrafo 2, em seus quatro itens, obriga-se ao construtor apresentar o projeto de fundações constando cópia da sondagem de reconhecimento do solo, do terreno, para edifícios com mais de cinco pavimentos, afirma o secretário.

Para Abdala, o novo texto tenta privilegiar o conhecimento de maneira a inibir o recalque diferenciado, que é justamente a inclinação de cada prédio. "Antigamente se construía edifícios vinculando a altura ao tipo de fundação. Essa relação está errada porque na verdade deve-se observar a carga", completa.

Segundo o secretário, a Prefeitura pouco pode fazer para melhorar o estado dos prédios que já estão tortos. "Nossa função é providenciar laudos técnicos aos órgãos competentes para verificar o recalque diferenciado", afirma. A partir do resultado, a administração faz um controle do local, podendo até decretar interdição, como foi o caso do Excelsior.

"Esses laudos começaram a ser feitos na década de 70, quando se sentiu a periculosidade de certos edifícios", diz o secretário. Ele afirma que hoje em dia o único edifício que ainda passa por um certo controle é o Excelsior. E dá ainda uma informação importante: "Não há nenhuma construção com perigo de cair na cidade".


Gráfico publicado com a matéria

Situação favorece bar

Vanessa Faro

No meio de tantos problemas, há um local cujos proprietários souberam aproveitar a situação para obter sucesso. É o caso do Bar Torto, instalado no Prédio Excelsior. A história do bar teve início em 84, quando um dos donos, Julinho Bittencourt, tinha uma banda e resolveu montar um lugar para se apresentar.

Depois de perguntarem para diversas pessoas que nome deveriam colocar no bar, alguém falou em Torto. Só que os proprietários não levaram a sério e continuaram à procura do nome. "Até que a gente resolveu deixar Torto mesmo, pois toda vez que íamos dar o endereço para alguém dizíamos que era no prédio torto. Porém, há gente no prédio que não gosta do nome porque acha que desvaloriza os apartamentos", afirma Julinho.

O proprietário diz que o bar já teve passagens bastante interessantes. Quando foi feita a reforma no local, o pedreiro "quase ficou maluco". Pois não conseguia acertar o fio de prumo, tendo que ser feita a medição no "olhômetro". Outro fato foi quando colocaram a cortina de ponta a ponta e deu diferença de 10 centímetros de um lado em relação ao outro.

Fatos engraçados envolvem moradores

Vanessa Faro

Duas características chamam a atenção dos turistas em Santos: os jardins da praia e os famosos prédios tortos. Não há quem passe na orla marítima sem perceber a inclinação de muitos edifícios. A maioria se encontra na Avenida Bartolomeu de Gusmão (entre a Avenida Conselheiro Nébias e o canal 6). São eles os edifícios Nuncio Malzone, 14; Excelsior, 22; Marazul, 53, Íris, 60 e Maembi, 65.

Mas há quem brinque com a situação. O zelador do prédio Malzone, Manoel Lourenço, sugere ironicamente a cobrança de ingressos para ver os prédios, lembrando a Torre Di Pisa que faz tanto sucesso na Itália. Manoel diz que os moradores acabam se acostumando com isso. "Faz 12 anos que moro aqui. No começo eu estranhava, pois não podia encher a xícara de café até a borda senão o líquido acabava derramando. Agora eu não percebo mais".

Porém, há aqueles que se acostumam rapidamente, como é o caso do zelador do Edifício Íris, Olívio Barreto. Ele mora [há] seis meses no último andar e comenta alguns fatos engraçados. Entre eles, de bolinhas de gude que saem correndo para o lado da inclinação e o de pessoas que não estão acostumadas e quando vão ao corredor acabam andando inclinadas. Os moradores do prédio Maembi solucionaram esses problemas nivelando os pisos dos apartamentos. "Assim os móveis não correm", afirma José da Cunha, auxiliar de zelador.

Há aqueles que não gostam ou não "podem" falar sobre o assunto. É o caso da faxineira do Prédio Excelsior, que não quis se identificar. Ela diz que o zelador várias vezes a repreendeu por comentar esses fatos com outras pessoas. Mesmo assim, ela conta: "Fazer faxina é um horror, pois a água vai toda para o mesmo lado, até no andar térreo". O zelador do Excelsior, Fernando Pereira, desmente: "Tudo está normal".

O proprietário da Academia de Ginástica Progressão, Tácito Pessoa, que funciona no Excelsior, mas na área voltada para a Avenida Siqueira Campos, diz estar no local onde há menos inclinação. Ele afirma que foi preciso nivelar o piso, mas, mesmo assim, há um canto da sala em que o peso de fazer exercícios, às vezes, sai rolando.

Inclinações previstas na construção do Torto

Adriana Vieira

Em 23 de junho de 1977, o Edifício Excelsior, localizado na esquina das avenidas Bartolomeu de Gusmão e Siqueira Campos, mais conhecido como Torto, foi embargado por determinação do prefeito da época, Antônio Manoel de Carvalho. De acordo com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado, o edifício apresentava um recalque de 1m20 nas suas fundações.

O prédio teve o início de suas obras no final dos anos 60, mas a acomodação já aparecia quando estava sendo construída a décima laje. Inicialmente a planta do prédio foi aprovada com 12 andares, mas em 1970 ele já tinha 17. E, apesar de já haver um recalque de 70 cm, a Prefeitura deu o habite-se.

Em 1977, detectou-se no edifício uma rachadura que começava no térreo e subia até o décimo-sétimo andar, do lado voltado para a Avenida Siqueira Campos. Esse foi o fato fundamental para sua interdição. O prédio possui 100 apartamentos e na época todos estavam ocupados. Tiveram que ser desocupados tanto os apartamentos como as lojas que ficam na parte de baixo do prédio.

A Metromar, empresa responsável pela construção do Excelsior, tinha como diretor na época o empresário Cláudio Doneux. Em 1963, Doneux disse ter sido contratado pela Nobel S/A, incorporadora do edifício, para vender as unidades. Após ter vendido 60%, a Nobel desistiu da construção. Desse modo, Doneux resolveu continuar com o projeto.

Em 1977, o prédio estava sendo recuperado através do método de estacas-raiz, também chamado de paradice. O objetivo do uso desse método era a transferência parcial da carga que estava atuando na camada de argila, para o solo mais resistente. Assim, com o tempo, haveria um recalque natural do lado oposto do que já havia. Isto fez com que o prédio ficasse nivelado. Porém, de acordo com o IPT, os recalques continuaram acontecendo, mas em proporções menores na região que estava afundando, compensando assim o outro lado.

Hoje em dia, o secretário de Obras, Cláudio Abdala, afirma que o edifício não corre perigo de cair.


Prédios são comparados à Torre Di Pisa
Foto: Vanessa Faro, publicada com a matéria

Imóveis desvalorizam

Alexander Going

Segundo o corretor de imóveis Caetano Villela, da Lopes Imóveis, localizada à Rua Osvaldo Cruz nº 551, a desvalorização de apartamentos em prédios inclinados chega a 60% do valor do imóvel. "Temos um apartamento no Edifício Núncio Malzoni que colocamos à venda por 90 milhões. Seu preço seria de 150 milhões se estivesse num prédio normal".

Para Francisco Assis Ribeiro, corretor de imóveis da Arena e estudante de Engenharia Civil, o maior problema não é o fato de o prédio estar com o perfil inclinado, mas quando a inclinação passa do ponto de equilíbrio" mas sim suas colunas. Como exemplo, Ribeiro mencionou um prédio localizado na Rua Alexandre Martins, que por suas colunas comprometidas teve de ser evacuado.

Ribeiro também explica a necessidade de se fazer uma fundação adequada no terreno onde vai ser construído o prédio. Para o corretor, antigamente não se fazia estudos sérios sobre as condições do terreno onde seria construído o edifício. Ele afirma que, em Santos, os pontos mais críticos estão localizados entre os canais 3 e 5. Portanto, os compradores devem verificar a localização de prédios onde pretendem adquirir seus imóveis. Ribeiro lembra a necessidade de verificar se o apartamento já está nivelado, pois muitas vezes os prédios são tortos mas os antigos donos dos imóveis já nivelaram seus apartamentos

Ele alerta que os compradores devem verificar as condições dos prédios localizados na Ponta da Praia, bairro onde há prédios antigos mas todos em perfeitas condições. Para explicar isso, o corretor afirma que naquele bairro o trabalho de fundação foi perfeito.

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