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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - URBANISMO (U)
Sem memória (15)

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Metropolização, conurbação, verticalização. Os santistas passaram a segunda metade do século XX se acostumando com essas três palavras, que sintetizam um período de grandes transformações no modo de vida dos habitantes da Ilha de São Vicente e regiões próximas. A par dessas mudanças, uma nova mentalidade, de preservação do patrimônio histórico e arquitetônico, começou a surgir, como já se prenunciava neste artigo do jornalista Evêncio Martins da Quinta Filho, publicado no jornal santista A Tribuna, em 20 de fevereiro de 1990 (página 7):
 

A casa da Av. Ana Costa, um bom exemplo a ser seguido pelos interessados

Foto: Arnaldo Giaxa, publicada com a matéria

Conservando a cara da Cidade

Evêncio da Quinta

O gesto da Prefeitura, ao isentar do IPTU os imóveis que apresentam valor histórico ou arquitetônico, e estão tendo suas características originais conservadas pelos proprietários, merece, além dos elogios pelo ineditismo e oportunidade, algumas considerações.

Este é, na verdade, um primeiro passo, que é dado um tanto tardiamente, diga-se de passagem, para conservar aquilo que se convencionou chamar de "cara da cidade". Sabe-se que à medida que vão passando os anos as cidades adquirem uma feição própria, graças a um traçado urbanístico peculiar ou, principalmente, a determinados momentos de expressão da Arquitetura, que as torna distinguíveis umas das outras. É o caso, por exemplo de Paris, que tem seu epicentro simbólico fixado na Torre Eiffel, mas é recordada, sobretudo, pelos prédios cuja aparência ganhou, ao longo dos anos, o nome de "estilo francês" por lembrar as construções da capital francesa.

No Brasil, o exemplo maior está nas cidades históricas de Minas, especialmente Ouro Preto, que, por estar localizada no alto de um morro, conseguiu escapar de um surto imobiliário que a teria desfigurado completamente e dela tirado todo significado cultural, afora o fato de lá terem-se dado os episódios referentes ao martírio de Tiradentes. Outras cidades, por mergulharem momentaneamente no esquecimento, também conseguiram preservar um determinado instante de sua história arquitetônica e hoje apresentam uma "cara" especial e única aos visitantes.

Millor Fernandes disse, certa vez, que as autoridades deveriam pensar em tombar todo o Rio de Janeiro de uma só vez, para perpetuar para sempre a fisionomia que a cidade apresenta hoje, e que vai sendo desfigurada com o passar dos tempos, graças, como sempre, à especulação imobiliária. O mesmo poderia dar-se com Santos, que conserva muito pouca coisa do período colonial (duas ou três igrejas e os restos quase inidentificáveis do Engenho dos Erasmos), mas é rica em construções de um período próximo da História Econômica do País, o chamado ciclo áureo do café.

Especialmente nos anos 30/40, esta fase de opulência deixou suas marcas na Arquitetura da Cidade, e o próprio prédio do Paço Municipal é uma espécie de monumento desta época. O mesmo se pode dizer de inúmeros casarões ou simples sobrados espalhados por vários bairros "velhos" da Cidade, assim considerados todos os aglomerados situados entre a linha da Fepasa e o Monte Serrate.

A Vila Belmiro é um bom exemplo do que estou falando. Ela retrata, como nenhuma outra, a face urbana de Santos naquela época. Não há ali grandes palacetes, como na Avenida Paulista (que estão sendo pouco a pouco substituídos pelos indefectíveis espigões), mas há as casas da classe média, ou seja, daquela classe que verdadeiramente trabalhou, amealhou a riqueza e conseguiu construir algo sólido como sua moradia.

É um prazer verificar que a expansão imobiliária, traduzida na construção de feios edifícios de oito ou dez andares em bairros antes inteiramente ocupados por bangalôs e sobrados, chega muito lentamente à Vila Belmiro, de modo que ainda há tempo de salvá-la, mediante a adoção de medidas como as empregadas pela Prefeitura para beneficiar os proprietários que realmente se interessam pela História viva da Cidade.

De todo o primeiro lote distinguido com a isenção de impostos, uma casa chamou a atenção do colunista: a de nº 77 da Avenida Ana Costa. Não tem nada demais, salvo a de ser um belo exemplar daquilo que se poderia chamar de "pós art nouveau", isto é, um estilo eclético emergente da art nouveau propriamente dita, e mantendo a graça de suas linhas, em termos gerais. Aplausos para os atuais ocupantes da casa, que por sinal são uma empresa imobiliária, negando assim uma certa tendência que todos têm, de acreditar que os agentes imobiliários seriam capazes de demolir até o prédio da Bolsa, para em seu lugar construir um estacionamento ou supermercado, caso achassem que isto lhes traria algum lucro financeiro. No caso presente, o agente imobiliário não apenas conservou as linhas originais do imóvel, como ainda foi premiado com uma isenção de impostos.

São dois exemplos - a conservação do imóvel e a isenção do IPTU - que devem ser seguidos por todos aqueles que acham que Santos deve manter sua "cara" de cidade dos anos 30/40, de resto uma cara bem bonita.

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