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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - URBANISMO (Q)
Em direção ao continente (6)

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Metropolização, conurbação, verticalização. Os santistas passaram a segunda metade do século XX se acostumando com essas três palavras, que sintetizam um período de grandes transformações no modo de vida dos habitantes da Ilha de São Vicente e regiões próximas. Enquanto isso, a área continental de Santos continuou existindo como um universo à parte, com todos os seus problemas infra-estruturais, como registrou o jornal santista A Tribuna, em 25 de dezembro de 2006:
 


Moradores da Ilha Diana se queixam da precariedade do atracadouro,
construído há seis anos, que nunca recebeu manutenção
Foto: Walter Mello, publicada com a matéria

ÁREA CONTINENTAL
Carências e promessas

População da região enfrenta problemas em vários setores, reclama do descaso das autoridades e exige melhorias que vão desde saneamento básico e energia elétrica a um posto policial

Tatiana Lopes
Da Reportagem

Afastada da parte insular de Santos, a Área Continental sofre com a falta de investimentos públicos. As carências estão em quase todos os setores: saúde, educação, segurança, saneamento básico e transporte. Por falta de opções, muitas vezes os moradores precisam recorrer aos serviços dos vizinhos Vicente de Carvalho, em Guarujá, e Bertioga.

Apesar de ter 231,6 quilômetros de extensão (do total de 271 de Santos), apenas 29,31 km2 da Área Continental compreendem a área urbana. O restante é considerado Área de Proteção Ambiental.

Além dos bairros habitados - Caruara, Monte Cabrão, Iriri e Barnabé (à qual pertence a Ilha Diana) -, também fazem parte da região os bairros Quilombo, Nossa Senhora das Neves, Guarapá, Trindade e Cabuçu-Caetê. "Acredito que os recursos gerados na Área Continental ultrapassem os R$ 30 milhões, só com o ISS de parte da Cosipa, da Ilha Barnabé, da Terracom, da Pedreira, do Pedágio e do Porto da Ultrafértil, que estão instalados na região, além do IPTU pago pelos moradores. Mas só ficamos com as migalhas", reclama o morador do Caruara, Robson Alonso da Silva.

8 reais

 é a taxa de luz paga à estatal,
mas comunidade sofre com queda de voltagem

 

Caruara - No Caruara, bairro mais distante e populoso da Área Continental, o principal problema, segundo os moradores, é a falta de saneamento básico. O aumento da criminalidade preocupa a comunidade, que reivindica um posto policial ou uma base comunitária. "O Caruara também faz parte de Santos, mas nos sentimos esquecidos. Quando o bairro vai começar a ser olhado com carinho?", desabafa a presidente do Centro Comunitário, Rita Maria dos Santos.

De acordo com os munícipes, é necessário implantar programas para capacitar os jovens e inseri-los no mercado de trabalho, além de disponibilizar um espaço para o lazer dos jovens. "Eles ficam o dia todo brincando no canal. Não têm o que fazer por aqui", lamenta a líder comunitária.

Os moradores do Caruara também lutam pela regularização fundiária. Por volta de 1950, as 142 chácaras do Caruara, como eram chamadas, começaram a ser divididas, informalmente, em lotes. "Pagamos o imposto territorial para os proprietários das chácaras. Mas não temos direito à escritura", explica Rita Maria.

O corretor de imóveis Robson Alonso da Silva critica também o atendimento na policlínica do bairro. "A unidade de saúde é só de fachada, o atendimento é precário. Mas o Odílio (Rodrigues Filho, secretário de Saúde) vem aqui, tira foto com uma ambulância UTI e depois leva o veículo embora".

Outra queixa do morador é referente à educação. Segundo ele, a direção da Escola Municipal Ricardo Sampaio, a única do bairro, não consegue controlar os alunos. "Os estudantes dominaram as salas de aula. Eles agridem os professores verbalmente e até fisicamente. Já fizemos várias reuniões, mas ninguém consegue resolver o problema. Por isso tirei minha filha do colégio e matriculei-a em uma unidade particular de Bertioga".

Por conta do descaso da Administração Pública com a Área Continental, a sociedade de melhoramentos do bairro, juntamente com o centro comunitário, os moradores e comerciantes, pretende redigir uma carta-aberta apontando todos os problemas da região e fazer um protesto na Rodovia Manoel Hypólito do Rêgo. A intenção é colocar em prática uma operação tartaruga, durante um feriado, atrasando os motoristas na estrada.

"Vamos primeiro tentar resolver na conversa. Mas se não tivermos resultados, iremos radicalizar", diz o presidente da sociedade de melhoramentos do bairro, Alfredo Gonçalves Pinto.


Pereira utiliza duas baterias, uma exclusiva para ver tevê
Foto: Walter Mello, publicada com a matéria

Ilha Diana sofre com constantes apagões

Na isolada comunidade da Ilha Diana, há algumas décadas, 53 famílias convivem com constantes apagões. A ilha é abastecida pela Codesp com a energia gerada na Usina de Itatinga. Mas, como a eletricidade enviada ao bairro não é suficiente para atender a todas as residências, constantemente são registradas quedas de voltagem, o que faz com que os moradores tenham seus eletrodomésticos danificados.

"Pagamos uma taxa de R$ 8,00 de luz à estatal. Mas o que economizamos nas contas de energia elétrica gastamos em eletrodomésticos, que são queimados com os picos de energia. Há três anos, perdi um refrigerador duplex e há 8 meses, um televisor de 14 polegadas", diz o marítimo Reginaldo Atanázio.

"Sempre falam que vão trocar a fiação em janeiro e que o fornecimento de energia irá melhorar. Mas isso já faz uns 10 anos e esse janeiro nunca chega. Estamos cansados de pedir e só ouvir promessas", desabafa o marinheiro e vice-presidente da associação dos moradores do bairro, Vanderlei Gomes, de 35 anos, que nasceu no ilha.

As obras de construção de um cais no local também foram prometidas há 20 anos. "Começaram os serviços há oito meses, mas pararam em agosto. Disseram que por falta de cimento. No início deste mês, retomaram os serviços, mas já pararam outra vez. Quem sabe daqui a cinco anos terminem uns 10 metros", ironiza Gomes.

Outra queixa é referente ao pier onde é feita a atracação da barca que transporta os moradores da ilha à parte insular da Cidade. Construído há seis anos, o atracadouro nunca recebeu nenhum tipo de manutenção. "Está em péssimo estado. Temos medo pelas crianças e pelos idosos. Já pedimos à Prefeitura uma providência, mas não tivemos resposta", desabafa o morador.

De acordo com Gomes, a associação sempre protocola os pedidos no Conselho Municipal das Entidades de Bairro (Comeb), que encaminha aos setores competentes da Administração Municipal. Ele diz que há três meses foi entregue um documento ao secretário de Governo, Márcio Lara, com todas as reivindicações da comunidade, mas que até hoje não viu nenhuma solução.

"Não sei como na festa (de Bom Jesus da Ilha Diana, que acontece em agosto) a ponte não foi abaixo. O dia em que acontecer um acidente não adianta dizer que não tínhamos avisado", diz Elisa da Silva Alves, de 28 anos, também nascida no local.

 

Dezenas de famílias residem em áreas de risco

 

No Iriri, 30 famílias à espera da eletricidade

No Iriri - vilarejo situado às margens da Rio-Santos, na altura do Km 236, vivem cerca de 30 famílias, ainda sem energia elétrica. "Nossa prioridade é a luz. Gastei R$ 450,00 só para consertar um gerador. Tenho geladeira, microondas, freezer e cafeteira. Tudo desligado. O meu refrigerador uso para guardar mantimentos", conta o cosipano aposentado Antônio Pereira.

Morando no bairro há cerca de dois anos, Pereira tem duas baterias que usa para gerar energia - uma é para as lâmpadas da casa e outra exclusiva para a TV de 14 polegadas. "Televisão por aqui é uma raridade. Para não gastar a bateria, só ligamos o aparelho à noite, durante o horário das novelas. Mas no intervalo, a gente desliga", explica o aposentado.

"Mas a falta de luz não é o nosso único problema. Não temos nada por aqui. O Iriri é um lugar totalmente isolado do resto da Cidade. Não temos saneamento básico, escolas ou um posto de saúde", diz Pereira.

À espera da luz - Há cinco anos, Mauricí Reis construiu uma bela casa com piscina no Iriri. Sua intenção inicial era morar com a mulher e os filhos no imóvel. "Só estou esperando a luz chegar. Achei que isso ia ser rápido, mas até agora nada", diz Reis, que vive em Vicente de Carvalho, mas passa férias e finais de semana no bairro da Área Continental.

"Os técnicos da empresa de energia elétrica já vieram aqui, mediram tudo, colocaram os pontos de luz, mas até agora não ligaram a luz. São só três quilômetros. Não sei por que demora tanto", critica o morador.


Perfil da Área Continental
Imagem publicada com a matéria

Monte Cabrão convive com a precariedade

No Monte Cabrão, onde vivem cerca de 800 pessoas, o principal problema está na parte ribeirinha do bairro. Junto à margem do Canal de Bertioga, dezenas de famílias residem em áreas de risco. "Antigamente, o caminho de terra que liga à parte central do bairro (conhecido como Ferretti) tinha cerca de três metros de largura. Hoje, está com menos de um", reclama o presidente da sociedade de melhoramentos do bairro, Nívio Gonçalves Carvalho.

De acordo com o líder comunitário, quando a maré fica alta as marolas batem na terra causando erosão. "Se nada for feito, não teremos mais por onde passar. Esse trajeto terá que ser feito de barco", alerta o presidente.

Segundo Carvalho, há dois anos a comunidade apresentou um projeto à Secretaria Municipal de Meio-Ambiente pedindo autorização para construir um muro de contenção no local. "Disseram que mandariam um engenheiro para fazer o levantamento da área, mas até agora nada".

A área de saúde também é alvo de críticas de quem vive no Monte Cabrão. "As instalações da policlínica, que funciona há dez anos em uma casa de madeira cedida pela Companhia Docas, são precárias. O local precisa de uma reforma urgente".

Outro problema dos moradores é a falta de manutenção na Rua Principal e na estrada de acesso à Rio-Santos. As vias estão esburacadas e são muito perigosas - só este ano já ocorreram dois acidentes com veículos pesados nas pistas. A comunidade também reivindica um acesso fora da rodovia, para que os motoristas possam fazer o contorno com mais rapidez.

Um dos moradores mais antigos do Monte Cabrão, Wilson dos Santos Silva, há 53 anos no bairro, reclama da falta de transporte público. "Só temos uma linha intermunicipal (Caruara/Ferry Boat) que passa de hora em hora. Em horários de pico, as pessoas chegam a esperar duas horas no ponto".

A comunidade pede ainda um espaço para sediar a sociedade de melhoramentos de bairro e a pastoral da criança e do adolescente.

Perfil da Área Continental
População(*): 2.236

Bairro Área m²**
Caruara
1.371.000
Monte Cabrão
631.500
Iriri
1.280.700
Cabuçu Caeté
5.812.200
Trindade
5.585.600
Guarapá
6.908.500
Barnabé (Ilha Diana)
2.841.200
Nossa Senhora das Neves
2.721.800
Quilombo
2.164.400
Fontes:
* Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)/Censo 2000. Não há dados por bairros.
** Secretaria Municipal de Planejamento (Seplan)
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