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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - FESTAS JUNINAS
Uma festa junina, na década de 40

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Muito da história e das histórias recentes de Santos está na memória de seus cidadãos da chamada Melhor Idade, ou Terceira Idade. Fruto de um trabalho de resgate dessa memória coletiva, realizado pela Universidade Católica de Santos (Unisantos), é este depoimento publicado em 2003 em página Web desse trabalho, junto com as imagens cedidas pela pessoa que fez o depoimento, Alzira dos Santos Oliveira:
 

Participantes da festa junina, vestidos a caráter, na década de 40
Foto: acervo de Alzira dos Santos Oliveira

O passado e o presente das festas juninas

Alzira dos Santos Oliveira (*)

Festa junina do passado eram momentos ternos de união entre os vizinhos, ruas e até bairros, enquanto que atualmente é uma congregação de interesses comerciais a até beneficentes.

Nos anos 40, as festas eram programadas. Vizinhos se reuniam, dividindo as tarefas. Cada família participava com aquilo que podia. Escolhíamos o vizinho que tivesse o quintal maior para ser montado o arraial. Começava então a preparação da festa. Balões, bandeirinhas, lanternas eram confeccionadas em diversas noites de reuniões. Decidíamos então quem seria o noivo, a noiva, padrinhos, padre etc.

As guloseimas ficavam por conta das mães e moças casadoiras. O mastro de São João era feito pelos pais e jovens. Montavam também a fogueira com os galhos de árvores que recolhiam das matas. Na feira, comprava-se a batata-doce e os pinhões que iam ser assados na fogueira.

Quem tocasse violão, cavaquinho e sanfona participava do espetáculo, e as melhores vozes eram escolhidas para cantar: São João, Lua do Sertão, Cai cai balão, No meu pé de Serra. Era ensaiada a quadrilha, cada um escolhia a sua dama, até os pais participavam da dança.

Havia 3 grandes festas: Santo Antônio, São João e São Pedro. Todas elas comemoradas com muita alegria e quentão. Nas ruas, em cada portão de casa havia uma fogueira. O céu ficava coalhado de estrelas e balões.

Os meninos corriam com paus para pegar os balões que caíam. Isto era perigoso. Era a parte negativa da festança. As mães ficavam rezando para que seus filhos não se machucassem e que balões não caíssem em casas e dessem início a incêndios. Os bombeiros ficavam de plantão 24 horas para que não caíssem balões na Ilha Barnabé, aqui em Santos, o que seria um desastre muito grande. Graças a Deus, até hoje isto não aconteceu.

Passadas as festas juninas, já se pensava como seria a festa do próximo ano. Tudo era deixado em ordem, para que não houvesse reclamação do dono da casa. Faziam aquilo com enorme prazer.

As festas de hoje em dia já vêm com tudo pronto. Tudo empacotado e pronto para comer. Não há união, vizinho não conhece vizinho. Nas ruas não se pode mais fazer fogueira. Balões são proibidos de soltar. As festas são organizadas por clubes, escolas e entidades assistenciais. Faz-se shows de pagode, convidam-se grandes astros para incrementarem as festas e assim ganharem mais dinheiro. São festas comerciais. Não há mais inocência, romantismo, cooperação e fraternidade.

Como seria bom se pudéssemos voltar àquelas festas de antigamente. Foi numa festa de São João que casei com meu marido; eu era a noiva e ele insistiu em ser o noivo. Casamos na vida real 4 anos após aquela belíssima festa. A reportagem da festa foi noticiada no jornal O Diário de Santos. Até hoje relembro com saudade aquele dia.

(*) Alzira dos Santos Oliveira prestou este depoimento à Universidade da Terceira Idade, da Unisantos, dentro do programa Resgate da Memória da Baixada Santista na Perspectiva de seus Cidadãos da Terceira Idade, coordenado pela professora Teresa Cristina Tesser.

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