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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - FESTAS JUNINAS
Tradição que vai sendo perdida

Características originais estão sumindo, e elementos estranhos são incluídos
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Uma das festividades mais tradicionais de Santos perdeu parte de sua força quando as ameaças de incêndios determinaram a realização de campanhas proibindo a soltura de balões. A mudança na configuração urbana, com o desaparecimento das casas com quintais, também contribuiu para a descaracterização das festas juninas, que vem sendo completada pela invasão da música do interior estadunidense, a chamada country music, em substituição às cantigas dos sertanejos brasileiros, como relata a matéria publicada no semanário santista Jornal da Orla, edição de 28 e 29 de maio de 2005:
 
FESTAS JUNINAS
Da quadrilha ao country

Nara de Paula

Fogueira, correio elegante, quadrilha e cadeia não estão mais presentes nas quermesses, deram lugar a parques de diversões, shows musicais e restaurantes. As festas juninas vêm perdendo suas características originais, tornando-se eventos praticamente idênticos a outros que acontecem nas demais épocas do ano.

Originalmente, a "festa junina, criada em Portugal, era uma homenagem a São João ou João Batista, nascido em 24 de junho" - daí serem chamadas de "festas joaninas", explica a coordenadora do curso de História e do Centro de Estudos Folclóricos da Unisantos, Yza Fava de Oliveira. Com o tempo, passou-se a homenagear também Santo Antonio, no dia 13, e São Pedro, no dia 29, e a festa passou a ser chamada de junina, em referência ao mês.

Assim como as roupas tradicionais, a festividade foi feita também de retalhos, em um processo de aculturação, no qual cada região adapta a festa a seus costumes, acrescentando novos elementos culturais.

A tradição de reunir-se em volta da fogueira, por exemplo, veio do interior do país, onde, no século passado, agricultores comemoravam a boa colheita em volta da fogueira pedindo proteção aos deuses, comendo, bebendo e dançando.

Outro exemplo incorporado nesta festa típica é o mastro. De acordo com a estudiosa, quando Santa Isabel, prima de Maria, estava grávida, ela salientou que se João Batista nascesse de manhã, ela avisaria hasteando uma bandeira branca em um mastro. Caso nascesse à noite, seria acesa uma fogueira. "No entanto, a criança nasceu no crepúsculo do dia, e Santa Isabel então resolveu tomar as duas providências", revela.

Até a quadrilha, um dos costumes que ainda resistem em algumas quermesses, foi originada de uma dança francesa, tipicamente aristocrática, muito popular na corte de Luís XIV. Ela foi trazida ao Brasil e incorporada pelo povo, que a adaptou á sua realidade.

No entanto, a quadrilha, atualmente difundida, exibe um grande erro que, de acordo com Yza, deve ser corrigido o quanto antes. "A roupa caipira usada na época não era remendada. Eram pessoas humildes, do campo, mas que se vestiam da melhor forma possível para a festa. A cidade assimilou a pobreza do campo às vestimentas, equivocando-se", explica a historiadora, referindo-se ao estereótipo de Chico Bento (personagem de histórias em quadrinhos do Maurício de Souza), implantado nas atuais quadrilhas de festa junina.


Foto: Leandro Amaral, publicada com a matéria

Mudanças no nome e nas características

Santos sempre manteve o costume de promover quermesses nessa época do ano. Uma das mais antigas e tradicionais, que a princípio funcionava na Praia do Gonzaga, levava o nome de Cidade Junina, onde podiam ser encontradas brincadeiras típicas, como cadeia, perna-de-pau e pau-de-sebo. Os anos se passaram e essas brincadeiras foram sumindo e, depois de tanta transformação, o evento passou a se chamar Inverno Quente, perdendo toda ligação que tinha com as festas juninas. Em 2004, o nome mudou novamente, passando a se chamar Inverno Santos, desvirtuando de vez a idéia inicial do projeto e tornando-se definitivamente um evento assistencial.

Segundo a professora, os exemplos mostram que as tradições e os costumes mudam, transformam-se, e, para não perdê-los, é preciso preservá-los. "A grande esperança está nas escolas. Devemos incentivar as festas juninas nas escolas, motivando os professores e alunos a pesquisar sobre as tradições juninas, para que isso não se perca no tempo", acredita Yza, acrescentando que toda cultura é dinâmica e, por isso, ainda serão incorporados novos elementos aos festejos juninos. "A música country é um bom exemplo. Hoje em dia, ela ainda é estranha nas festas, embora já comum nas quermesses escolares. Quem sabe daqui a alguns anos ela seja assimilada aos costumes juninos".

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