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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - CLIMA
Vento e granizo (11-C)

População sabe, pela direção de onde sopram, o clima do dia seguinte
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Com ventos de 90 km/hora e tempestade com granizo, Santos registrou destruições diversas (armazéns, casas, veículos, arborização), num dos maiores fenômenos do gênero observados na região. O assunto voltou a ser destacado na edição seguinte do jornal santista A Tribuna, na sexta-feira, 16 de janeiro de 2009 (páginas A-1, A-6 a A-8):

RESCALDO

Tempestade derrubou 300 árvores em Santos

Mais de 100 casas destelhadas, 300 árvores caídas e dois feridos que seguem internados na Santa Casa de Misericórdia de Santos. Ontem, moradores e autoridades da Cidade puderam avaliar os estragos da tempestade que atingiu a Baixada Santista na tarde de quarta-feira.

Na Rua Pérsio de Queiroz Filho, na Encruzilhada, duas árvores caíram e travaram a passagem de veículos. Trabalhos de remoção seguem hoje

Foto: Carlos Nogueira, publicada com a matéria

TEMPESTADE TROPICAL

Cidade contabiliza prejuízos

Órgãos públicos se mobilizam para liberação de vias, retirada de entulhos e recuperação de postes

Tatiana Lopes

Da Redação

Desempregada, mãe de cinco filhos pequenos e sem um lar, Marcela Cristina de Oliveira não sabe nem por onde recomeçar. As telhas do barraco onde mora com a família, no Morro Santa Maria, em Santos, foram arrancadas durante o temporal que atingiu cidades da Baixada Santista na tarde de quarta-feira. A Defesa Civil recebeu 11 comunicados de casas destelhadas - entre as cerca de 300, no total -, mas estima que mais de 100 tenham sido atingidas pelos ventos, principalmente nos morros e nos bairros da Zona Noroeste.

No momento do ocorrido, Marcela estava na policlínica do bairro. "Tinha levado minha filha mais nova, de dois meses, a uma consulta médica. Quando cheguei em casa, não tinha mais telhado", disse ela, ainda bastante abalada.

O marido, Davilson Luiz Marques Tavares, também desempregado, havia ficado em casa com as outras crianças. "As telhas começaram a voar e as crianças, apavoradas, só choravam".

Marcela contou que uma das telhas quase caiu em cima do filho de 1 ano e meio, que estava dormindo no quarto, na hora da chuva. "Se não fosse o mais velho a tirá-lo de lá, ele poderia estar morto agora".

Sem abrigo e sem dinheiro, a família teve que dormir na casa de um vizinho. "Mas esta noite (ontem) não sei para onde vamos, pois ele vai abrigar outras pessoas. A única parte da casa que ficou com telha foi o banheiro. Se alguém puder doar as telhas...", pediu a dona-de-casa.

Para piorar a situação, o barraco ficou sem água. Segundo a Sabesp, a estação de bombeamento do Reservatório Cruzeiro foi danificada pelas chuvas e ventos, interrompendo o abastecimento nos morros Nova Cintra, Saboó, Pacheco, Santa Maria, Bufo, Penha e São Bento. Ainda de acordo com a estatal, no final da tarde de ontem o fornecimento de água já estava normalizado.

Ajuda

Estamos cuidando das questões públicas e coletivas. As individuais terão que ser analisadas caso a caso"

Márcio Lara, secretário de Governo, ao ser questionado sobre se a Prefeitura ajudaria as famílias que tiveram suas casas destelhadas 

Carros destruídos - Na Rua Espírito Santo, ontem pela manhã, o guincho da seguradora fazia a remoção do veículo do projetista Miguel Blanco, atingido por uma árvore durante o temporal. "Trabalho no Centro, mas vim pegar um documento em casa, na hora do almoço. Estacionei o carro na minha rua e, assim que entrei, começou a chover".

O projetista decidiu esperar um pouco, até que a chuva parasse. "Quando percebi que caía granizo, sai para tirar o carro de lá e estacioná-lo na garagem. Não queria que riscasse a pintura. Cheguei tarde. Ele já estava debaixo de uma árvore".

Blanco disse que os vizinhos já haviam acionado a Ouvidoria Municipal por três vezes para remover aquela árvore. "Tudo aconteceu muito rápido. Eu podia estar lá dentro", disse o projetista, ainda sem ter certeza se o seguro cobriria os prejuízos em seu Celta.

Inconformado, Djalma Franco, dono de uma confecção de uniforme, que foi atingida por uma árvore e um poste, ainda não sabia qual seria seu prejuízo.

Ele contou que encaminhou um ofício à Prefeitura, em 1998, alertando a Administração Municipal sobre o risco de queda daquela mesma árvore, mas nunca recebeu uma resposta. "Na hora da ventania, escutamos um barulho muito forte. A casa até tremeu quando a árvore tombou, levando junto o poste. Todo mundo se assustou. Por sorte, ninguém foi atingido", disse o proprietário da fábrica, que passou a noite no local com medo de que a calha do telhado quebrasse e derrubasse água no interior do imóvel, danificando o maquinário e os computadores da confecção.

Em um estacionamento na Rua João Pessoa, em frente ao Poupatempo, no centro, dois carros foram atingidos por parte do muro do estabelecimento. "Temos seguro, mas ele não cobre esse tipo de avaria", disse Anderson Santana de Oliveira, manobrista do local. Ele e outros funcionários passaram a noite de quarta limpando o estacionamento e retirando telhas.

Marcela Cristina, com os filhos, teve o barraco em que mora, no Morro Santa Maria, destelhado

Foto: Carlos Nogueira, publicada com a matéria

Defesa Civil registra dois deslizamentos

De acordo com o coordenador da Defesa Civil de Santos, Émerson Marçal, foram registrados dois deslizamentos, nos morros Penha e Caneleira.

Durante todo o dia de ontem, três equipes do órgão percorreram os morros para verificar ocorrências. "Muito barro caiu, mas sem conseqüências graves. Nenhuma casa foi interditada e ninguém ficou ferido nos morros".

Segundo Marçal, estavam previstas pancadas de chuva para a tarde de quarta-feira, mas a Defesa Civil não tinha recebido nenhum aviso ou previsão sobre as rajadas de vento que chegaram a 90 quilômetros por hora. "Nessa época do ano são comuns as chuvas de verão no final do dia. Mas houve uma convergência de duas massas de ar frio que se concentraram na Baixada Santista e provocaram chuva de granizo. Só que os ventos não estavam previstos, por isso não pudemos alertar a população".

O coordenador da Defesa Civil informou que comunicou à Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) sobre a possibilidade de chuva, a fim de alertar o órgão para se preparar para possíveis danos em semáforos e problemas no trânsito.

Na quarta-feira, a Defesa Civil registrou 56 milímetros de chuva em Santos. "Esse, geralmente, é o volume de toda uma semana. Em meia hora foram 52 milímetros".

Recuperação - Conforme o secretário municipal de Governo, Márcio Lara, 220 funcionários da Prefeitura e da CET trabalharam na recuperação dos estragos.

Seis estruturas, sendo duas torres de comunicação, além de seis placas e painéis, também foram danificadas pelas chuvas, de acordo com Lara.

No Valongo, todo o material das partes das ruínas do antigo Casarão que desabaram foi acondicionado no próprio terreno, pois serão restauradas durante a construção do futuro Museu Pelé.

Os trabalhos em toda a Cidade prosseguem hoje.

Número

15

cruzamentos estavam ontem com problemas nos semáforos

  

Ventania derrubou 300 árvores

Suzana Fonseca

Da Redação

Cerca de 300 árvores caíram sobre a rede de energia elétrica de Santos durante o temporal ocorrido na tarde de quarta-feira. Quinze postes foram atingidos e cerca de cinco quilômetros de fios tiveram de ser substituídos, deixando cerca de 100 mil pessoas sem luz nos bairros e morros. De acordo com a CPFL Piratininga, a energia elétrica foi totalmente restabelecida às 2 horas de ontem.

Os ventos de até 90 quilômetros por hora também danificaram semáforos e placas de sinalização. Conforme a engenheira agrônoma do Departamento de Parques e Áreas Verdes da Secretaria de Meio-Ambiente (Semam), Gisela Aparecida Rodrigues Álvares, foram registradas 123 ocorrências envolvendo quedas de árvores e galhos. A chuva e os fortes ventos atingiram as zonas Leste e Noroeste e a Região Central.

Na Zona Leste, os principais bairros atingidos foram Campo Grande, Marapé, Encruzilhada, Vila Mathias e Centro. Na Zona Noroeste, segundo Gisela, foram mais atingidos os bairros Areia Branca, Chico de Paula, Saboó, Jardim Santa Maria e Jardim Bom Retiro.

"A Secretaria de Meio-Ambiente está trabalhando na desobstrução das vias e na retirada de galhos e de troncos caídos sobre muros e telhados", informou Gisela.

Trânsito - Até a tarde de ontem, conforme a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), em 15 cruzamentos de Santos os semáforos estavam com problemas e, por conta disso, agentes da CET coordenavam o trânsito - na quarta-feira, após o temporal, 51 equipamentos ficaram danificados.

Quarenta operadores da CET e 19 pessoas da equipe de sinalização trabalharam, durante todo o dia, nas ruas e avenidas, a fim de solucionar os danos causados pela chuva e os fortes ventos da tarde de quarta-feira. Os trabalhos seguiriam até que todos os problemas fossem resolvidos.

De acordo com a CET, cinco pontos da Cidade estavam com as vias obstruídas devido à queda de árvores - Gonçalves Ledo com João Carvalhal; Napoleão Laureano com Canal 1; Manoel Tourinho com Xavier Pinheiro; Rua B, próximo à caixa d'água, no Morro São Bento; Barão de Ramalho com José André Sacramento.

Cenas marcaram moradores

Por toda a Cidade, na manhã de ontem, moradores ainda relembravam as cenas presenciadas durante e após o temporal da tarde de quarta-feira.

"O vento passou muito forte. Parecia um mini-tufão", relatou Lincoln Castro Jeremias, morador do Campo Grande. "Minha mãe, que mora aqui perto, ficou sem luz até as 22 horas".

"Cinco horas da tarde, fechei a loja", contou o comerciante José Shinzato. "Não tinha luz, ninguém na rua e estava tudo escuro".

"Nasci aqui em Santos, há 60 anos, e nunca vi isso", assegurou Julilda Cunha, ainda impressionada com o vendaval e com a árvore que caíra em frente à loja na qual trabalha. "Uma moça que estava passando entrou aqui tremendo".

Sem opção

"Cinco horas da tarde, fechei a loja. Não tinha luz, ninguém na rua e estava tudo escuro"

José Shinzato,

comerciante

Moto-serra - Em alguns bairros, os moradores passaram a manhã ouvindo o barulho da moto-serra. Na Rua Espírito Santo, no Campo Grande, enquanto assistia ao trabalho de uma das equipes da Prefeitura, Elcana da Silva Bueno reclamava de uma árvore em frente à sua casa, na altura do nº 75. "Já pedi para arrancarem. A Prefeitura devia cuidar dessa parte".

Na calçada, Aníbal Joaquim Vedor, morador de um prédio no nº 76 da Espírito Santo, criticava a Secretaria de Meio-Ambiente. "Pedimos várias vezes para arrancarem essa árvore. Há uns três anos estamos pedindo e já abrimos cinco processos", falava, apontando o ingazeiro que caíra sobre um Fiesta. "Eles podaram todas (as árvores da rua), menos essa. A sorte deles é que não machucou ninguém".

No Marapé, quatro árvores em seqüência caíram na Avenida Pinheiro Machado (Canal 1), na altura da Rua João Carvalhal Filho. Uma delas, de acordo com um morador, tombou na manhã de ontem.

Com o carro atravessado na rua e preso entre dois ingazeiros que caíram na Pérsio de Queiroz Filho, na Encruzilhada, Regiane Giannini não sabia o que fazer. Por pouco o veículo não fora destruído.

"Liguei na CET para saber quando eles iam tirar as árvores. A moça disse que não tinha previsão, que a prioridade são as vias de acesso. E que se meu carro estiver estacionado irregularmente, quando eles vierem, eu vou ser multada", contou. "Não tenho como tirar o carro daí".



Waldemar foi resgatado pelos bombeiros e levado para a Santa Casa, onde permanece internado

Foto: Irandy Ribas, em 14/1/2009, publicada com a matéria

DESABAFO

Sobreviventes falam sobre desmoronamento

Sorveteiro pensou que não conseguiria sobreviver

Samuel Rodrigues

Da Redação

"Hoje, apesar dos meus 66 anos, sinto que tenho um dia de idade. É o primeiro dia da minha vida". Este é o desabafo emocionado de quem encarou a morte de frente. O autor é o sorveteiro Waldemar José do Nascimento, sobrevivente do desmoronamento de parte do Armazém XII (12 externo), onde funciona o Terminal Pérola, do Grupo Rodrimar, no Porto de Santos. Alguém que tem um sobrenome adequado para o momento que vive.

Com afundamento no crânio e fratura na perna esquerda, Waldemar está sob os cuidados da equipe médica da Santa Casa da Misericórdia de Santos, em um quarto na ala 2B. Ele é uma das duas vítimas que permanecem internadas após o pior dos acidentes provocados pelos ventos de até 90 quilômetros por hora que atingiram a região na quarta-feira.

A outra é o auxiliar de serviços gerais Ismael Silverino dos Ramos, que está na enfermaria da Santa Casa, na ala 2G. Waldemar e Ismael estão conscientes e com quadro estável.

Waldemar tem sete enteados e é casado há 20 anos com Sônia Batista Saraiva. Ambos moram no Jardim Praia Grande, em Mongaguá. "Eu estou até agora alterada. Sou hipertensa e a minha pressão subiu quando me ligaram contando o que tinha acontecido", disse Sônia, que visitava o marido na manhã de ontem, junto com o filho Sidney.

Lúcido e falante, apesar dos ferimentos e das dores, Waldemar relatou todo o ocorrido, desde o momento em que os ventos começaram.

Desespero

"Achei que se demorasse mais dez minutos para o socorro chegar eu não ia sobreviver"

Waldemar José do Nascimento

Desabamento - "Eu estava vendendo sorvete onde sempre fico, ao lado do Pérola. Saí para comprar gelo e voltei. A chuva e o vento já estavam fortes, então eu encostei o carrinho na parede do armazém, pensando em ficar ali até a chuva passar. Havia um caminhãozinho bem em frente e o vento não chegava tão forte. Nunca pensei que a parede fosse desabar. Caiu devagarinho, mas eu tentei sair dali e não consegui. Ela foi me empurrando e me deixou com uma perna presa e a cabeça prensada no caminhão".

Desespero - "Quando percebi que estava embaixo de tudo aquilo, pensei que não conseguiria mais sair dali. Achei que se demorasse mais dez minutos para o socorro chegar eu não ia sobreviver. Continuava com a cabeça e a perna presas e o pior é que eu não via ninguém".

"Comecei a bater com um tijolo no tanque de diesel do caminhão para fazer barulho e consegui atrair alguém. Eles vieram e começaram a tirar as pedras. O resgate chegou logo".

Ismael - O auxiliar de serviços gerais Ismael Silverino dos Ramos, a outra vítima, está com dificuldades para falar. Sua mulher, Rosemeire Jacinto dos Santos, e sua mãe, Antonia, acompanham o tratamento. Ele é pai de quatro filhos, com idades entre 1 e 8 anos, e mora em Santos, no São Manoel.

"Ele trabalha para uma empresa que presta serviço no cais. Estava só de passagem e foi atingido. Ficamos muito assustadas quando soubemos", disse Rosemeire. Ismael tem ferimentos espalhados pelo corpo, inclusive na cabeça. Seu quadro é estável, mas, por enquanto, não há previsão de alta médica.

Apoio - O diretor de Operações do Terminal Pérola, Nelson de Andrade, explicou que a empresa está dando todo o apoio às duas vítimas que permanecem sob cuidados médicos na Santa Casa e suas famílias. "Estamos arcando com todo sos custos, com tratamento particular, se possível. A ordem dada ao hospital é para colocar os dois pacientes em quartos".

No entanto, no final da tarde de ontem, o serviço de atendimento da Santa Casa relatou, por telefone, que Ismael permanece internado com outros três pacientes, pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

O Pérola informou a A Tribuna os nomes das outras três pessoas atendidas e liberadas na última quarta-feira. São eles: Marcelo da Silva Guimarães, Francisco José de Oliveira (entrevistado pela Reportagem na edição de ontem) e Antonio César de Carvalho.

Ontem, houve um desencontro de informações a respeito do total de atendidos. Enquanto a Santa Casa, o Pérola e a Prefeitura de Santos apontavam cinco pessoas, o Corpo de Bombeiros informou que seis foram retiradas dos escombros. No entanto, o nome dessa possível sexta vítima não foi apresentado.


Moradores passaram o dia tentando recuperar pertences deixados nos casebres danificados pelo vendaval

Foto: Nirley Sena, publicada com a matéria

Prainha vive um dia de desolação

Marcelo Luís e Anderson Firmino

Da Redação

Vigas caídas sobre a maré, barracos destelhados e semblantes de medo e tristeza. No núcleo Prainha, em Vicente de Carvalho, Guarujá, moradores passaram o dia de ontem contando os prejuízos e tentando salvar móveis e objetos que foram danificados ou perdidos por causa do temporal. Uma espécie de mutirão foi formado pela comunidade para ajudar as pessoas prejudicadas com a ventania.

No local, sete barracos sofreram perda total, dez foram danificados parcialmente e 30 pessoas ficaram alojadas em casas de familiares ou amigos. O pintor José Fernando Pinheiro, que mora há sete meses no bairro, perdeu tudo. Ele teve o barraco onde morava com a esposa destruído. "Tudo o que tinha eu investi aqui. O vento acabou com tudo. Parecia um furacão".

José Fernando contou que conseguiu salvar apenas o botijão de gás e a geladeira. "Estava trabalhando quando me avisaram que o meu barraco tinha desabado. Agora, vamos começar do zero", disse ele, enquanto recolhia objetos do meio dos destroços.

A dona-de-casa Érika Rosana Juliana dos Santos não conteve a emoção e chorou ao ver a sua moradia parcialmente destruída. O barraco onde ela morava foi destelhado e corre o risco de desabar. "Eu ainda estou pagando os móveis que perdi. Um técnico da Defesa Civil disse que não há condições de ficar aqui. Eu dormi na casa da minha mãe". Segundo a moradora, ela gastou nos últimos anos cerca de R$ 7 mil em melhorias na moradia. "Tudo o que eu tinha estava aqui", disse Érika, entre lágrimas.

Já a auxiliar de limpeza Tânia Alves disse que por pouco não foi atingida pelas telhas que desabaram. "Foi muito rápido. Não deu chance nem de correr". A dona-de-casa Elisângela da Conceição machucou a perna esquerda na hora do desespero. "As telhas da casa do vizinho caíram em cima do meu barraco. Saí correndo com os meus filhos, mas a tábua arrebentou e fiquei com a perna presa. As pessoas tiveram de cortar a madeira para me ajudar".

A prefeita Maria Antonieta de Brito comentou a situação da Prainha. "Estamos nos esforçando para melhor atender essa comunidade. Graças a Deus foram ocorrências sem mortes. Crianças e adultos foram prontamente acolhidos pela Defesa Social, regionais e Assistência Social. Estamos estudando uma ação de retomada da construção das moradias, porque essas pessoas não podem ficar desamparadas".

Desaparecido - O banhista que caiu no mar quando tentava fugir do temporal na última quarta-feira, em Guarujá, não havia sido localizado e nem mesmo identificado até a noite de ontem. Na ocasião, ele estava no Morro do Maluf e escorregou nas pedras. As equipes de resgate fizeram busca na área, com ajuda de um helicóptero da Polícia Militar, porém sem sucesso.


Érika não conteve o choro ao ver que o barraco corre risco de desabar
Foto: Nirley Sena, publicada com a matéria

Defesa Civil registrou 16 ocorrências em SV

Os ventos de 90 quilômetros por hora também causaram problemas em São Vicente. De acordo com balanço oficial divulgado na tarde de ontem pela Prefeitura, a Defesa Civil registrou 16 ocorrências na tarde de quarta-feira.

O órgão atendeu a 15 chamados de árvores caídas. O trecho mais crítico foi a Linha Vermelha, onde uma árvore chegou a atingir o canal de drenagem. Além disso, uma casa foi destelhada e um veículo danificado. A quantidade de avarias, porém, deve ser maior, já que muitas pessoas podem não ter mantido contato com a Defesa Civil.

Ontem, equipes da Prefeitura deram seqüência aos trabalhos de corte e remoção das árvores.

Número

15

chamados foram sobre árvores caídas, segundo dados oficiais

  

Moradora da Vila Melo, a dona-de-casa Janete Ferreira dos Santos ficou bastante assustada com a força dos ventos. "Eu nunca vi algo assim. Parecia que tudo ia desabar".

As equipes da Defesa Civil continuam acompanhando os boletins meteorológicos e monitorando as áreas de risco existentes na Cidade.


Galhos de árvores caíram no canal de drenagem da Linha Vermelha
Foto: Paulo Freitas, publicada com a matéria


TEMPESTADE TROPICAL

O temporal e as suas conseqüências nos registros fotográficos dos leitores

O fenômeno, considerado atípico em função da ocorrência de granizo, deixou marcas em toda a região

O violento temporal ocorrido na última quarta-feira deixou um rastro de destruição em Santos e em toda a Baixada Santista. Foram pouco mais de 15 minutos de chuva intensa e ventos que sopraram a 90 km por hora, deixando a população assustada.

Residências destelhadas; barracos destruídos; famílias ilhadas; árvores tombadas sobre carros bloqueando ruas e avenidas; placas de trânsito e de propaganda lançadas à distância; alagamentos por toda a parte; semáforos apagados; trânsito caótico.

Essas cenas de destruição, estampadas nas páginas de A Tribuna de ontem e de hoje, também foram registradas por internautas de vários pontos de Santos.

As fotos que ilustram esta página foram enviadas para o fotoleitor@atribunajornal.com.br. Elas mostram um pouco dos estragos causados pelo temporal durante poucos minutos de uma tarde em que a Cidade e região foram vítimas da fúria da natureza.


A Avenida Pinheiro Machado (Canal 1) perdeu árvores de grande porte, derrubadas pelo vento

Foto: Franz Edmund, publicada com a matéria

 


A paisagem da tarde ensolarada foi rapidamente modificada pela névoa originada da forte chuva

Foto: Carlos Gama, publicada com a matéria

 


O proprietário do Ford Ka teve sorte, pois o carro não foi atingido pela árvore, na Rua Tolentino Filgueiras

Foto: Fernando Montanha, publicada com a matéria

 


A esquina da Avenida Washington Luiz com a Rua Almeida de Moraes ficou alagada, afetando o trânsito

Foto: Sérvulo da rocha Silva, publicada com a matéria

 


Atingido por um galho de árvore, o carro estacionado na Rua Tomé de Souza ficou bastante avariado

Foto: Gilberto Moraes Júnior, publicada com a matéria

 


A queda de árvores bloqueou a Rua Pérsio de Queiroz Filho, provocando transtornos aos motoristas

Foto: Sérgio Arikawa, publicada com a matéria

 


A força dos ventos fez cair a cobertura metálica no pátio da Transportadora Cortês

Foto: Alexandre Simões, publicada com a matéria

 


A torre de telefonia celular foi derrubada, assustando os moradores de um prédio na Rua Guedes Coelho

Foto: Adriana Cruz, publicada com a matéria

 
Na edição de sábado, 17 de janeiro de 2009, o mesmo jornal A Tribuna prosseguia o relato, na página A-5:
 

Na Rua Espírito Santo, uma árvore arrancada do chão desde a raiz permanece no aguardo da remoção

Foto: Davi Ribeiro, publicada com a matéria

TEMPESTADE TROPICAL

Prejuízos ainda são contabilizados

Prefeitura prosseguia também na remoção dos galhos e troncos de árvores das vias

Tatiana Lopes e Suzana Fonseca

Da Redação

Dois dias após o terminal que atingiu a Baixada Santista, derrubando árvores e postes e prejudicando o fornecimento de água e luz, moradores de Santos ainda contabilizam prejuízos. Ontem pela manhã, agentes da Prefeitura cortavam e retiravam galhos e troncos em algumas vias e funcionários da CPFL Piratininga faziam reparos na rede elétrica.

Desde quarta-feira, quando uma rajada de vento derrubou um ingazeiro no muro de sua casa no número 55 da Rua Pará, levando junto um poste metálico de energia elétrica, a aposentada Maria Cleide Gonzalez Lopes está sem luz em sua residência.

"Os fios estavam soltos. Qualquer faísca poderia provocar um incêndio", disse a aposentada. "Sou diabética. Dependo de insulina para controlar minha doença, que precisa ficar armazenada na geladeira. Precisei pedir para guardar na casa de um vizinho".

Número

50

árvores foram removidas das ruas de Santos só entre quinta e ontem

  

Reclamações - Segundo o coordenador da Defesa Civil de Santos, Emerson Marçal, no dia seguinte ao temporal o órgão recebeu várias ligações de moradores preocupados com árvores que ficaram inclinadas ou parcialmente danificadas pelo temporal. O secretário de Governo da Prefeitura, Márcio Lara, garantiu que os troncos e galhos seriam retirados das ruas até hoje.

De acordo com a engenheira agrônoma do Departamento de Parques e Áreas Verdes da Secretaria Municipal de Meio-Ambiente, Gisela Aparecida Rodrigues Álvares, em 2008, foram feitas 9.96 podas de árvores, o que representa quase um terço das 30 mil espécies plantadas na Cidade. "O evento de quarta-feira foi totalmente adverso. A prioridade é desobstruir ruas, tirar as árvores caídas sobre os carros. Estamos trabalhando ininterruptamente".

Gisela detalhou que noventa por cento das árvores que caíram são ingazeiros. "Elas sempre foram uma espécie problemática na Cidade", explicou a engenheira agrônoma da Semam, lembrando que essas árvores representam 70% da vegetação de Santos.

"A Prefeitura não planta ingá há 20 anos. Essa árvore desenvolve uma copa muito grande, mas a raiz não vai para baixo", prosseguiu Gisela. "Essas árvores que caíram vão ser substituídas por outras espécies, como ipês, quaresmeiras ou manacás".

Trânsito -  De acordo com o balanço oficial divulgado pela Secretaria Municipal de Comunicação (Secom) no início da noite de ontem, não há mais semáforos inativos nos cruzamentos da Cidade.

As vias que estavam obstruídas com troncos, galhos e até árvores inteiras já estão liberadas para o trânsito. Os trabalhos de remoção iniciados após a tempestade priorizaram a liberação de ruas e avenidas, mas continuam hoje para a retirada de árvores em calçadas e demais pontos.

Entre os trechos em que os esforços estarão concentrados hoje estão a Avenida Pinheiro Machado (Canal 1), no Marapé, e a Rua Gervásio Bonavides, no Macuco.

Conforme levantamento do Departamento de Parques e Áreas Verdes, as equipes reconheceram 148 árvores da Cidade, incluindo as que tombaram inteiras e as que foram parcialmente danificadas. Apenas entre ontem e quinta-feira, foram 50 vegetais removidos das ruas santistas.

Cobertura - Os motoristas que tiveram os carros amassados por árvores durante o temporal podem respirar aliviados. Segundo o corretor de seguros Marcelo Marques, a maioria das companhias e seguradoras dá cobertura para acidentes provocados por ventanias e tempestades.

"Se o carro der perda total (não tiver mais conserto), o segurado não precisará pagar franquia. Agora, se tiver como arrumar, terá que pagar uma franquia como nos casos de colisões entre dois veículos".

Ontem à tarde, a Special Motors Pintura, oficina e funilaria credenciada por seguradoras, recebeu um carro atingido por uma árvore no dia do vendaval. O teto do veículo ficou totalmente amassado e a pintura foi riscada pelos galhos. O prejuízo será arcado pela companhia de seguros.

Previsões

>>As fortes chuvas e as rajadas de vento de até 90 km/h que atingiram a região esta semana ocorreram em conseqüência do encontro de uma massa de ar de baixa pressão continental, oriunda da região do Paraguai, com a brisa marítima intensa que se encontrava no litoral paulista.

>>Segundo previsão do Instituto Nacional de Meteorologia, hoje, o tempo estará nublado com períodos de abertura em São Paulo. Em todas as regiões do estado podem ocorrer pancadas de chuva intensas e acompanhadas de rajadas de vento. O tempo instável deve permanecer pelo menos até segunda-feira.

>>O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) informou que toda a Baixada Santista está sujeita a tempestades semelhantes até o fim do verão, mas que não é possível prever com que força elas atingirão a região.

  

Estado das duas vítimas permanece estável

Samuel Rodrigues

Da Redação

É estável o quadro de saúde das duas vítimas do desabamento do Armazém XII (12 externo) que permanecem internadas. Ambas estão na Santa Casa da Misericórdia, sem previsão de alta. O sorveteiro Waldemar José do Nascimento deve ser operado até a próxima semana, como informou seu enteado, Sidney Saraiva da Cruz. Ele sofreu uma fratura na perna esquerda, que ficou presa no muro do galpão que desmoronou.

Sobre o fato de a outra vítima, Ismael Silverino dos Ramos, permanecer na enfermaria, e não em um quarto, o diretor de Operações do Terminal Pérola (que operava no Armazém XII), Nelson de Andrade, explicou que trata-se de uma decisão da direção da Santa Casa da Misericórdia de Santos. "Não vamos economizar com tratamento. Já deixamos tudo pago. Vou reforçar o pedido para que ele vá para o quarto".

A Santa Casa foi questionada sobre o motivo de os dois pacientes estarem sendo mantidos em condições diferentes, embora a empresa alegue que determinou tratamento particular para ambos. A assessoria de imprensa do hospital não enviou resposta até o fechamento dessa edição.

COMENTÁRIO

Por que as árvores caem com o vento?

de Oswaldo Casasco [*]

Os ventos breves e fortes de quarta-feira fizeram-nos lembrar do vento Noroeste, que nas décadas anteriores tanto fustigavam Santos e toda a Baixada Santista. Nossa arborização urbana não era como hoje e poucos estragos sentíamos.

A partir da década de 70, houve a preocupação de se arborizar a Cidade e, dentre outras espécies eleitas, foram plantados centenas de ingás (Inga uruguensis). Experimentamos um breve período de paz, com as árvores então jovens não mostrando ainda seus reais portes. Porém, com o passar do tempo, esses vegetais se desenvolveram rapidamente e começaram a estorvar a fiação e destruir grandes trechos de calçadas. Era preciso, então, podá-las, operação feita, na maioria das vezes, sem qualquer técnica.

Na época e em diversas oportunidades alertamos os dirigentes da Cidade, em entrevistas n'A Tribuna, para os transtornos e despesas que deveríamos ter no futuro, com podas constantes e transporte do material resultante naquelas árvores. Pelas suas características intrínsecas não era vegetal adequado às ruas, e sim para avenidas e áreas verdes.

Sugerimos, inclusive, que se fizesse um plano diretor de arborização, adequado às necessidades da cidade. Infelizmente, nada foi feito e aí estão, cada vez mais freqüentes, as quedas de árvores inteiras, ou galhos oriundos de outras, apodrecidas que estão devido às podas nelas praticadas sem os mais elementares critérios técnicos propugnados em qualquer bom livro de jardinagem.

Mas por que as árvores estão caindo com qualquer vento ou às vezes até sem ele?

Há um perfeito equilíbrio fisiológico entre a parte aérea e subterrânea nos vegetais. As raízes têm duas funções importantes: fixar a árvore no solo, garantindo assim suporte para todo conjunto de galhos e folhas; e absorver a maior parte de água e minerais nela presentes, enviando-a para hidratar e alimentar todo o conjunto.

As folhas ficam com a tarefa de retirar o CO2 da atmosfera e, com a ação da luz solar, transformam-no em açúcar e amido, distribuindo-o a toda a planta, inclusive às raízes. Como subproduto dessa operação, elas liberam para a atmosfera o oxigênio resultante da fotossíntese. Se não intervirmos no processo, o equilíbrio fisiológico é perfeito.

Grande parte de nossas árvores ali está, em pé, praticamente devido a seu peso. Assim, debilitada e sem poder se defender, grande parte do que foi um forte, saudável e perfeito sistema radicular apodreceu, deixando todo o conjunto à mercê de insetos e parasitas, os quais na busca de celulose minam toda sua resistência.

Sabendo-se que a água é responsável por cerca de 70% do peso de uma árvore, fica fácil imaginar as conseqüências de sua queda sobre o solo.

Hoje (quinta-feira), passamos por trechos onde várias árvores estão inclinadas ou mesmo apoiadas em fios e muros, por força do vento de quarta-feira. Por segurança terão que ser removidas. Com isso, atiramos fora anos de expectativa, aguardando por aquilo que deveria ser a arborização de nossa cidade, que no verão nos brinda com muito sol e calor.

Fica difícil imaginar que a administração pública, com excelentes profissionais nessa área, até hoje não tenha tomado uma atitude técnica com nossa arborização. Lembramos que outrora previmos a necessidade de diversificar as espécies escolhidas, já antevendo esses problemas.

Hoje voltamos a alertar quanto a um problema bem mais sério, que é o possível acidente fatal com a queda de mais árvores, a grande maioria sem suas importantes raízes, mortas à míngua.

[*] Oswaldo Casasco é paisagista.

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