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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - CLIMA
Vento e granizo (11-B)

População sabe, pela direção de onde sopram, o clima do dia seguinte
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Com ventos de 90 km/hora e tempestade com granizo, Santos registrou destruições diversas (armazéns, casas, veículos, arborização), num dos maiores fenômenos do gênero observados na região. Os fatos foram assim registrados pelo jornal santista A Tribuna, na quinta-feira, 15 de janeiro de 2009 (páginas A-1, A-3 a A-8):


Desabamento de parte do galpão atingiu quatro caminhões que estavam estacionados na lateral do imóvel, na Avenida Eduardo Guinle
Foto: Irandy Ribas publicada com a matéria

 

TEMPESTADE TROPICAL

Ventos arrasam armazém

Pelo menos cinco trabalhadores foram atingidos pelo desmoronamento da instalação portuária

Cerca de um terço do Armazém 12 externo, arrendado à Pérola Terminais de Granéis, desabou na tarde de ontem

Da Redação

Os ventos de 90 km/h que atingiram a Cidade ontem à tarde, por volta das 14 horas, provocaram o desmoronamento de cerca de um terço do Armazém XII (12 externo) do Porto de Santos, arrendado à Pérola Terminais de Granéis, do Grupo Rodrimar. Pelo menos cinco trabalhadores foram soterrados com o desabamento das paredes e do telhado do imóvel. Até o fechamento desta edição, dois deles permaneceriam internados, em observação.

Os bombeiros retiraram as primeiras vítimas do entulho com o auxílio de macas. Elas foram atendidas emergencialmente pelas equipes de enfermagem dos terminais vizinhos. "Estamos fazendo o possível. Este (um dos feridos) está em estado de choque", disse uma das enfermeiras. Ela se referiu ao trabalhador que era embarcado na ambulância naquele momento, pouco antes das 15 horas. Tratava-se de um homem de aproximadamente 30 anos preso à maca, que tremia bastante. O bombeiro fez perguntas simples a ele, para mantê-lo consciente, enquanto posicionava o balão de oxigênio no nariz do trabalhador. A viatura partiu logo em seguida.

As equipes do Corpo de Bombeiros levaram três das cinco vítimas para o Pronto-Socorro Central, da Prefeitura de Santos. Duas foram medicadas e liberadas, enquanto uma permaneceu internada, em observação. O pronto-socorro da Santa Casa da Misericórdia de Santos recebeu os outros dois trabalhadores. Só um ficou internado.

2 vítimas

 permaneciam internadas até a noite de ontem

  

Caminhoneiros - O desabamento de parte do armazém também atingiu quatro caminhões que estavam estacionados na lateral do galpão, na Avenida Eduardo Guinle, aguardando para operar em terminais próximos. O motorista que estava na boléia de um dos veículos de carga, chegando a ser ferido, contou como tudo aconteceu. "Estacionei e estava dentro (da cabine). De repente, ouvi um barulho e levei uma pancada aqui", disse o caminhoneiro autônomo Francisco de Oliveira, de 63 anos, apontando para um ferimento na cabeça.

Com a cabeça e o tórax sangrando, o sobrevivente relatou que aguardava para carregar em um terminal próximo, do outro lado da Avenida Eduardo Guinle. Oliveira saiu sozinho de dentro do caminhão e foi até o local onde eram realizados os atendimentos. Seu veículo foi totalmente destruído. Ele sentia dores só na cabeça.

O motorista Carlos Alberto, de 34 anos, também presenciou o incidente. "Eu estava na barraca ao lado quando nós percebemos que tudo ia cair. Nós ajudamos a tirar um de dentro do caminhão, mas acho que ainda tem gente aí".

"Toda as ações estão sendo desenvolvidas no sentido de remover os escombros, com o apoio das máquinas, e tentar chegar nessas possíveis vítimas", disse o major Eduardo Noceti, subcomandante do 6º Grupamento do Corpo de Bombeiros de Santos, no final da tarde.

Até o fechamento da edição, nenhuma outra vítima foi localizada sob as paredes e o telhado do armazém.

Os trabalhos de remoção envolveram 35 bombeiros e 70 funcionários de terminais graneleiros. Foram utilizadas oito viaturas dos bombeiros, quatro escavadeiras, dois guinchos e veículos de apoio da Guarda Portuária.

  

"Eu estava na barraca ao lado quando nós percebemos que tudo ia cair. Nós ajudamos a tirar um (motorista) de dentro do caminhão"

Carlos Alberto,

motorista  

Reconstrução - O presidente do Grupo Rodrimar, Celso Grecco, informou que já planeja a reconstrução do armazém destruído. Ele garantiu que dará todo o apoio às vítimas do acidente.

Grecco disse que, ainda ontem, a construtora Latina, responsável pela reforma e adaptação do complexo Pérola, foi acionada para avaliar os motivos do acidente. Segundo ele, o galpão estava "Praticamente vazio, porque não é época de importação de fertilizantes" e, por isso, os prejuízos não foram maiores. AInda não há uma soma dos danos causados pelo acidente.

A princípio, segundo avaliou o empresário, o desmoronamento de parte do armazém foi causado pelo forte vento, que acabou destelhando parte da estrutura do terminal. "A gente acredita que o vento entrou e, como não tinha por onde sair, arrastou as paredes, desmoronando tudo".

O desabamento de parte do Armazém XII:

1 - Ventos de até 90 km/h atingiram a cidade de Santos por volta das 14 horas

 

2 - Pelo menos um terço do Armazém XII (12 externo) no Porto de Santos, arrendado à Pérola, ruiu com a força das rajadas de vento

 

3 - Quatro caminhões e pelo menos cinco pessoas foram soterradas. Uma pista da Avenida Eduardo Guinle, onde fica o galpão, foi interditada

 

4 - Equipes de resgate removeram entulhos à procura de mais vítimas. Escavadeiras auxiliaram na retirada de pedras
Infográfico publicado com a matéria

Cargueiro fica à deriva no porto

O navio conteineiro Holsatia Express, que estava atracado no ponto 4 do Cais do Saboó, teve as amarras rompidas durante a tempestade que atingiu a região na tarde de ontem. A embarcação se soltou do berço, em frente ao Terminal para Contêineres da Margem Direita (Tecondi), e ficou à deriva no Canal do Estuário.

De acordo com o Tecondi, a maré e os ventos intensos causaram o incidente.

Segundo apurou A Tribuna, quando se soltou, o navio se distanciou do cais, movendo-se por dezenas de metros em direção ao centro do canal de navegação.

Em nota, o Tecondi informou que acionou as autoridades portuárias assim que constatou o problema. As operações no terminal foram paralisadas por cerca de 20 minutos e, após este período, restabelecidas, inclusive no interior do cargueiro Holsatia Express.

Mais estragos - Uma pilha de cinco contêineres desabou no pátio do terminal retroportuário da Marimex, na Avenida Eduardo Guinle, no Porto de Santos. Informações obtidas no final da tarde de ontem dão conta de que ninguém se feriu no incidente.

A assessoria de imprensa da Codesp informou que uma árvore desabou, também na Eduardo Guinle, na direção da Rua General Câmara, e atingiu uma viatura da Guarda Portuária e outro veículo.

Trânsito - O mau tempo provocou a paralisação momentânea do trânsito nas avenidas do porto, no Cais do Saboó. Uma fila de caminhões se formou no local, após o incidente no Tecondi. Segundo o diretor de Infraestrutura e Serviços da Codesp, Paulino Moreira Vicente, a situação foi normalizada no final da tarde.

Em relação à área interditada pelos escombros do armazém da Pérola, a empresa informou que desocuparia a via o mais rápido possível para permitir a fluidez de caminhões.


Com o rompimento de suas amarras, o cargueiro Holsatia Express ficou à deriva no Canal do Estuário
Foto: Irandy Ribas publicada com a matéria


TEMPESTADE TROPICAL

ZN tem 15 residências destelhadas

Moradores da Zona Noroeste ficaram assustados e com medo antes mesmo de terem noção dos prejuízos

Os bairros da Caneleira, Areia Branca e Chico de Paula e a região dos morros foram duramente castigados pelo violento temporal

Da Redação

A tempestade também provocou prejuízos, sustos e medo na Zona Noroeste, em Santos, sobretudo no trecho da Rua Alberto Eduardo Levi, Caneleira, onde pelo menos 15 casas foram destelhadas. Trechos da Avenida Nossa Senhora de Fátima ficaram alagados. No Chico de Paula, várias ruas ficaram inundadas.

Depois do temporal, os moradores começaram a contabilizar os prejuízos. Na casa da balconista Cristiane dos Santos, 32 anos, os quartos ficaram alagados. "Molhou tudo, dos cobertores às nossas roupas. É meu aniversário e ganho um presente desses", disse ela, desolada. "Estava na praia, quando me ligaram, voltei correndo. Agora o jeito vai ser dormir na sala até consertar tudo".

40 turistas

que passam as férias em Guarujá precisaram ser retirados às pressas de uma plataforma na Praia da Enseada

  

Guarujá - Em Guarujá, a tempestade começou por volta das 16 horas e pegou de surpresa muitos turistas que ainda estavam na praia. O vento forte carregou cadeiras, guarda-sóis e objetos pessoais, que ficaram espalhados pela faixa de areia.

Na Enseada, um homem que tentava fugir do temporal, caminhando pela encosta do Morro do Maluf, escorregou de uma pedra e desapareceu no mar, por volta das 16h20. Um helicóptero-águia da Polícia Militar chegou a fazer buscas no local, mas sem sucesso. Ainda na Enseada, um grupo de cerca de 40 turistas teve que ser retirado às presas de uma plataforma da empresa de alimentos Kraft, que estava ancorada a cerca de 70 metros da orla.

No local, estavam sendo oferecidos brindes, entre outros atrativos para o público. Todas as pessoas foram resgatadas por uma embarcação.

Também ocorreram estragos na Prainha, em Vicente de Carvalho, onde dezenas de barracos foram atingidos pelo vendaval. Pelo menos um deles foi levado pela maré. Outros três tiveram a estrutura comprometida com a inclinação das palafitas e seus ocupantes precisaram ser removidos.

Um poste de madeira caiu e duas residências foram atingidas por árvores derrubadas. Em uma delas, a dona-de-casa Sonia Maria dos Santos ficou ilhada, já que a árvore bloqueou a sua residência.

Em pior situação ficou a catadora de latinhas Eva Neuci Picoli, que perdeu o barraco que havia comprado há um ano por R$ 600,00 para viver com a filha de 13 anos.

São Vicente - O vendaval também provocou estragos em São Vicente. Segundo a Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros houve queda de dezenas de árvores em ruas e avenidas da Cidade, atingindo casas, veículos, canais e rede elétrica.

Houve queda de árvores na Avenida Antônio Emmerick, na Rua Espírito Santo, na Armando Salles de Oliveira, na Quintino Bocaiuva (Linha Amarela), na Avenida Minas Gerais (Linha Vermelha) e na Rua Uberaba.


Queda de árvores bloqueou a Rua Augusto Gomes Pereira, na Zona Noroeste, que, como em outras regiões da cidade, teve vários bairros alagados e residências semi-destruídas

Foto: Patrícia Cruz, publicada com a matéria

 


Ruas e avenidas alagadas e imóveis destelhados em vários bairros foram cenas comuns provocadas pela tempestade que atingiu a região

Fotos: Patrícia Cruz, publicadas com a matéria

Professor explica o fenômeno

A interferência do homem no meio-ambiente aos poucos vem resultando em desarmonias climáticas inesperadas. Exemplo disso foi a tempestade tropical de grandes proporções que atingiu a região, ontem, durante a tarde. A teoria é do professor de Física e Astronomia, Rodolfo Bonafim. Segundo ele, que é estudioso de Climatologia, a probabilidade de o fenômeno voltar a ocorrer ainda este mês é grande.

Bonafim explica que a tempestade de ontem foi conseqüência do encontro de uma massa de ar de baixa pressão continental, oriunda da região do Paraguai, com a brisa marítima intensa que se encontrava no litoral paulista. "Essa espécie de choque provocou a ventania e chuva intensas".

O especialista adverte que o fenômeno é atípico, não só pela intensidade da chuva e dos ventos, mas até pela ocorrência de granizos. "É algo raro nesta época. O granizo se forma nessa condição em que o ar congela muito rapidamente".

Mas, a "estranheza" do fenômeno tem precedentes, diz Bonafim. Ele lembra que, no último dia 3, um ciclone foi registrado na região Norte do Rio Grande do Sul, o que configuraria dois fatos pouco usuais. "Normalmente, ciclones ocorrem na passagem do verão para o o outono (final de março) e na região Sul do Estado".

Outro aspecto que está diferenciando este verão dos anteriores é a temperatura. "Desde dezembro tivemos um clima ameno na região, com pouco sol e muita umidade, o que não é normal. Somente nos últimos dias a temperatura aumentou".

 

"Fenômeno é atípico não só pela intensidade da chuva e do vento, como pela ocorrência de granizo"

Rodolfo Bonafim

professor de Física e Astronomia

Interferência - O professor aponta dois fatores que podem estar contribuindo para a desregulação do clima, não apenas no Brasil.

O primeiro seria o aquecimento global, que provoca a alta na temperatura da superfície do mar (a área que fica em contato direto com a atmosfera). o segundo, o desmatamento da Região Amazônica. Bonafim cita como exemplo as chamadas chuvas de verão. Segundo ele, há cerca de dez anos as massas de ar equatoriais continentais vindas da Amazônia eram muito comuns e, ao se chocarem com a brisa do mar, provocavam as trovoadas.

Com o desmatamento, essas massas não chegam mais com tanta facilidade à região, diminuindo a ocorrência das pancadas de chuva.

Região - O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) informou que toda a Baixada Santista está sujeita a tempestades semelhantes até o fim do verão, mas que não é possível prever com que força elas atingirão a região.


O barraco situado na localidade de Prainha, em Guarujá, foi totalmente destruído pela força do vento

Foto: Alexander Ferraz, publicada com a matéria


TEMPESTADE TROPICAL

Fúria da natureza

População foi pega de surpresa e até as 22h10 algumas ruas do Bairro Encruzilhada permaneciam sem luz

O vendaval de curto tempo de duração deixou um rastro de prejuízos, tanto público quanto privado. Hoje o dia ainda será para contabilizar perdas


VALONGO - Vento destruiu parte das ruínas da primeira Câmara de Santos. Local lembra cena de bombardeio

Foto: Alberto Marques, publicada com a matéria

 


ENCRUZILHADA - Na Rua Pérsio de Queiroz Filho duas árvores caíram e impediram o trânsito. O mesmo aconteceu em vários pontos de Santos, São Vicente e Guarujá

Foto: Davi Ribeiro, publicada com a matéria

 


CAMPO GRANDE - Na Rua Espírito Santo, árvores caíram sobre veículos. Cena se repetiu em outros pontos de Santos

Foto: Davi Ribeiro, publicada com a matéria

 


PRAINHA - Na favela do Guarujá o vento destruiu parte de uma casa e deixou dezenas destelhadas

Foto: Alexander Ferraz, publicada com a matéria

 


CENTRO - Às 15h19 a Prefeitura de Santos não tinha luz. Por causa da falta de energia os servidores foram dispensados no meio da tarde

Foto: Nirley Sena, publicada com a matéria

 


ENSEADA - As ruas de um dos bairros mais importantes de Guarujá ficaram alagadas com o temporal que começou por volta das 14h10

Foto: Edison Baraçal, publicada com a matéria

 

119 árvores

tombaram ontem devido à força do vento, segundo informações da Prefeitura de Santos

  


O congestionamento de caminhões no Porto de Santos chegou a um quilômetro de extensão

Foto publicada com a matéria

Litoral

 

Em São Vicente, segundo a Defesa Civil, houve queda de dezenas de árvores, que danificaram casas, veículos e a rede elétrica.

 

Em Guarujá, um banhista que tentava fugir do temporal na Praia da Enseada escorregou de uma pedra e caiu no mar, não sendo mais localizado

A COBERTURA

Produção: Cláudio Amaral e Christiane Gomes Lourenço.

Edição: Fabiana Honorato, Joaquim Ordonez, Leopoldo Figueiredo, Paulo Alves, Reynaldo Salgado (textos) e Silvio Luiz (fotos).

Textos: Alcione Herzog, Aléssio Venturelli, Andrea Rifer, Bruno Rios, Diogo Caixote, Fernanda Lopes, Flávio Leal, Luiz Fernando Yamashiro, Rosana Rife, Samuel Rodrigues, Valéria Malzone e Vinícius Holanda.

Diagramação: André Dias, Fernando Cláudio Peel, Luiz Sérgio Moura e Márcio Fernandes.

Arte: Alex Silva e Padron.

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