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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - CLIMA
De ressacas a tromba d'água (8-b)

Aquecimento do planeta afetará o clima e a hidrologia santistas
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O fenômeno do "aquecimento global" (aumento constante da temperatura média de todo o planeta) e suas possíveis consequências no litoral paulista foram o tema desta matéria publicada no jornal santista A Tribuna, na segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010, páginas A-1 e A-6:
 

FENÔMENO

Mar na região fica mais quente e intriga cientistas

Água está 2 graus acima da média em todo o Litoral Paulista. Já Ubatuba deve perder 45 t de mariscos, 50% da sua produção anual

Uma anomalia na temperatura do Atlântico Sul está deixando suas águas mais quentes. O reflexo desse aumento já se estendeu até a costa brasileira e, consequentemente, ao Litoral de São Paulo, onde a água está 2 graus acima da média. Na Baixada e no Litoral Norte, regiões em que a temperatura do mar neste período do ano deveria ser em torno de 24 graus, chegou a 26. Especialistas já estudam o fenômeno e buscam respostas.


Fenômeno pode ter várias causas: aquecimento global, maior atividade solar, ou, ainda, ser resultado da modificação do regime dos ventos
Foto: Carlos Nogueira, publicada com a matéria

CLIMA
Mar do litoral de SP está mais quente

Aquecimento do Atlântico Sul foi comprovado pelo CPTEC/Inpe, que está observando o fenômeno e suas consequências

Na Baixada Santista e no Litoral Norte a temperatura da água chegou a 26 graus, dois acima do esperado para este período do ano

Andrea Rifer
Da Redação

Num ponto os pesquisadores concordam: há uma anomalia na temperatura do Atlântico Sul, que está acima da média. O reflexo desse aumento já se estendeu até a costa brasileira e, consequentemente, ao litoral de São Paulo, onde a água está 2 graus mais quente.

Na Baixada Santista e no Litoral Norte, regiões em que a temperatura do mar neste período do ano deveria ser em torno de 24 graus, chegou a 26.

O que ainda não se tem certeza é até quando esse fenômeno, que teve início no Atlântico há cerca de três meses e chegou na costa em janeiro, deve durar. Outras dúvidas são quanto aos reais impactos dessa anomalia (principalmente na atmosfera e na fauna marinha) e o que justifica tanto calor armazenado.

Algumas dessas perguntas (pelo menos as que dizem respeito ao clima) podem começar a ser respondidas na próxima semana, quando acontece a reunião climática mensal do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC/Inpe), de Cachoeira Paulista, onde já há especialistas estudando os fatores.

Como há muita gente observando o fenômeno, a expectativa é que o tema domine parte das discussões. Além do CPTEC/Inpe, pesquisadores de outras entidades também tentam desvendar o mistério. Especulações não faltam. Pode ser um processo natural, reflexo do aquecimento global ou da maior atividade solar desde o início do ano passado, ou ainda resultado da modificação do regime dos ventos.

Segundo o pesquisador e professor Ricardo de Camargo, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG/USP), esse é um assunto que está sendo investigado de maneira insistente, uma espécie de "coqueluche científica".

No entanto, mesmo com a quantidade de dados disponíveis, ainda é difícil fazer afirmações. "A gente tem conhecimento sobre os fenômenos, mas ainda não sabe direito como eles se combinam", resume. "A natureza não lê os livros como a gente".

Bacharel em Física, mestre em Oceanografia e doutor de Meteorologia pela USP, Camargo não descarta a possibilidade de essa anomalia estar "nos mostrando algo novo".

Mesmo com tantas dúvidas, o fato é que as primeiras consequências da elevação da temperatura do mar já foram sentidas na costa e no continente. Entre elas, as frequentes tempestades em São Paulo, e o regime reduzido de chuvas na Baixada Santista entre o final de janeiro e o início de fevereiro (nos dois casos houve influência de outros fatores associados) e a morte de mariscos no Litoral Norte (ver matérias).

Impactos

Chuvas em excesso na capital paulista e morte dos mariscos no Litoral Norte podem ser os primeiros efeitos do aquecimento do oceano, segundo especialistas

 

Oceano x atmosfera - O oceanógrafo André Belém, que é especialista em clima, aposta na maior atividade solar desde o ano passado como causa do aquecimento do Atlântico.

Ao mesmo tempo, com a perda da capacidade de circulação de calor pelo oceano (efeito da mudança climática global), ele fica retido nas regiões intertropicais e, no verão, atua aumentando a umidade e dissipando esse calor na atmosfera, que se torna mais quente.

Logo, um dos motivos para dias tão escaldantes é também o fato de o mar estar retendo mais calor.


Produção de mariscos pode cair pela metade em Ubatuba, o que representaria um prejuízo de R$ 300 mil
Foto: Davi Ribeiro, publicada com a matéria

Mexilhões estão morrendo em Ubatuba

O número é alarmante. Ubatuba, no Litoral Norte, deve perder 50% de sua produção de mariscos este ano. A projeção é da Secretaria Municipal de Agricultura, Pesca e Abastecimento.

A cidade é o maior produtor de mexilhão do Estado. São 90 toneladas por ano, que representam cerca de R$ 500 mil para as 70 famílias que vivem do cultivo. No entanto, por causa da temperatura elevada do mar, os mexilhões estão morrendo.

Segundo a secretária de Agricultura, Pesa e Abastecimento de Ubatuba, Valéria Gelli, o mexilhão suporta uma ampla variação de temperatura. Mas quando a água se aproxima de 30 graus, "ele desova e fica muito sensível". O problema não se limita ao mar mais quente, mas também ao período longo de temperatura elevada.

Traduzido em cifras, o aquecimento do mar pode representar, ainda conforme Valéria, R$ 300 mil de prejuízo em 2010.

Sardinha - Para o pesquisador do Instituto de Pesca de Santos, Acácio Ribeiro Gomes Tomás, com o aquecimento das águas a tendência é que os recursos marinhos diminuam. Isso porque a temperatura mais elevada pode influenciar na alimentação das espécies.

Numa delas, Tomás já arrisca até um palpite. Para ele o estoque da sardinha, que em 2009 passou por processo de recuperação, deve cair novamente este ano.

 

50 por cento da produção de mexilhões é o prejuízo estimado pela Prefeitura de Ubatuba

 

Previsões - Segundo o professor doutor do Instituto Oceanográfico (IO/USP), Alexandre Turra, ainda não há comprovação do efeito desse aquecimento. Por enquanto o que existe é apenas previsão das consequências. "A curto prazo, o efeito mais direto é a morte de espécies pouco tolerantes ao calor", como os moluscos, por exemplo.

Mas ainda há outras possibilidades. O branqueamento dos corais, que tem relação direta com o aquecimento da água, é uma delas. Se o branqueamento for curto, o coral consegue viver, mas se for prolongado, morre".

Espécies que gostam de água mais gelada podem morrer em alguns locais e sobreviver em outros, observa Turra. A reprodução de alguns organismos também pode ser alterada.

Para a oceanógrafa e professora do curso de Oceanografia do Unimonte, Maria Fernanda Palanch Hans, um dos reflexos do excesso de calor acumulado no oceano pode ser o crescimento das algas.

O resultado dessa proliferação, seguida da morte e da decomposição das algas, diminui a quantidade de oxigênio no mar, o que implica na "perda da qualidade da água" e pode acabar desequilibrando a alimentação das espécies.

Apesar dessas possibilidades, por se tratar de verão, ela considera, pelo menos por enquanto, normal o que está ocorrendo.


DILATAÇÃO - O aumento do nível do mar hoje é de seis milímetros por ano. Até início de 2009, a velocidade de subida era 4 milímetros ao ano. O número maior é um dos resultados do aquecimento do oceano. Com a retenção de mais calor, a água fica dilatada
Foto publicada com a matéria

Temperatura elevada influencia chuvas

O regime de chuvas também pode ter sido afetado pelo aquecimento do mar. Somado ao El Niño, presente no Pacífico, provocou temporais diários, principalmente em São Paulo.

A lógica é até simples: se o mar está mais quente, há mais evaporação na atmosfera e, consequentemente, mais chuva.

"Muito da umidade de janeiro teve o componente da Amazônia (que influencia nas chuvas do sudeste), mas também teve influência do oceano por conta da água mais quente", define Ricardo de Camargo, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG/USP).

Mas o que explica tantas tempestades na capital paulista, distante apenas alguns quilômetros da Baixada Santista, e mais de dez dias seguidos sem chuvas (voltou a chover apenas na terça-feira) em Santos?

A combinação dos fatores (oceano e atmosfera mais quentes) acabou intensificando "o transporte do vapor continente adentro", pondera Camargo. Assim, "as cidades que estão bem perto da borda podem não estar sentindo a influência direta desse vapor".

O oceanógrafo André Belém também tem uma explicação para o fenômeno: "O processo de evaporação foi tão intenso que a umidade subiu a níveis muito altos, até começar a condensar na forma de núcleos. Consequentemente, São Paulo que é uma região de microclima sofreu com isso".

O resultado foi negativo na vida do paulistano que precisou enfrentar quase 50 dias seguidos de temporais e alagamentos.

O que dizem os especialistas

"Não há nenhuma comprovação do efeito dessa mudança (no mar). São só reflexões teóricas sobre o assunto"
Alexander Turra, professor-doutor do Instituto Oceanográfico da USP

"A gente tem conhecimento sobre os fenômenos, mas ainda não sabe como eles combinam"
Ricardo de Camargo, professor do Instituto de Ciências Atmosféricas da USP

"Há um aquecimento da camada superficial do oceano neste verão de até 2 graus. Isso contribui para a elevação do nível do mar"
André Belém, oceanógrafo

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