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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - CLIMA
De ressacas a tromba d'água (5-a)

Cidade litorânea, Santos registra fenômenos meteorológicos curiosos
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Texto publicado no jornal santista A Tribuna, em 26 de maio de 2005:
 
Chuvas causam estragos, medo e mortes

O temporal da noite de terça e madrugada de ontem provocou destruição, medo e mortes em várias regiões do Estado. Em Santos, a Zona Noroeste sofreu com as enchentes. Duas crianças morreram em um deslizamento no Morro da Vila Baiana, em Guarujá. Na Capital, a maior chuva em 16 anos surpreendeu e prejudicou milhares de pessoas. Em Indaiatuba, um tornado fez a Prefeitura decretar estado de calamidade pública.


TRISTE ROTINA - A Avenida Nossa Senhora de Fátima, na Zona Noroeste,
voltou a sofrer com a enchente
Foto: Carlos Nogueira, publicada com a matéria

CHUVAS
Tormento

Santos sofreu com as 12 horas seguidas de chuva entre a noite de terça-feira e a madrugada de ontem. A ZN e a entrada da Cidade foram os locais mais afetados

Marcel Merguizo
Da Reportagem

A cabeleireira Ruthe Mulero Silva, de forma simples, resumiu como foi a noite de terça-feira: "Encheu tudo". Foi esse o resultado de 12 horas seguidas de um verdadeiro temporal, acumulando 135 milímetros de chuvas na Cidade. Em todo mês de maio, por exemplo, havia chovido apenas 66 milímetros.

Mas a Baixada Santista não foi a única privilegiada. Muito pelo contrário, pois a Capital - com congestionamento recorde (119 quilômetros às 8h30 de ontem), transbordamento dos rios Pinheiros e Tietê, falta de energia elétrica e mortes, além do alagamento da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp) - sofreu com a chuva, a segunda maior desde 1943.

"Foi uma condição atípica, em uma quantidade característica de verão e que deixou a Cidade (assim como a Capital) em estado de atenção", contou o chefe da Defesa Civil de Santos, Marcos Albino.

Com tal situação meteorológica, saber qual região da Cidade foi mais prejudicada, como diz a expressão popular, é chover no molhado. Mas novamente a Zona Noroeste sofreu com o mau tempo. "Quando vem a chuva as pessoas já começam a recolher eletrodomésticos e sabem que vão perder alguns móveis", lembrou a cabeleireira Ruthe, que mora na Vila São Jorge e tem boa parte da família residindo nas proximidades.

Ruthe está tão acostumada com as despesas trazidas pelas chuvas quanto com as ratazanas que saem de todos os cantos nessas situações. "Só vendo mesmo. O problema é antigo e o pior é que agora o canal (da Rua Jovino de Mello) está cheio de terra. Então, qualquer chuva vai alagar tudo de novo", concluiu.

O problema passa a ser de saúde pública. "Isso aqui vira um caos. Os canos (da rede de esgoto) ficam todos entupidos, até dentro de casa. É um tormento", reclama a cabeleireira. E, no final das chuvas, a mesma paisagem de sempre: "Todo mundo tirando água de dentro de casa com balde na mão".

Nos morros, segundo a Defesa Civil, não houve problemas graves. Alguns pontos da Ponta da Praia, Gonzaga e Macuco, porém, sofreram inundações. "Culpa, muitas vezes, das folhas que caem em virtude do outono e dificultam o escoamento das águas", explicou Albino. "Já na Zona Noroeste, além da chuva e da frente fria que chegou à região, houve o problema de uma maré alta de 1,30 metro pela madrugada", completou.

 

Secretaria de Obras promete ampliação de galeria

 

Na lama - Os problemas com as chuvas na Zona Noroeste tornaram-se tão comuns que até os funcionários da Policlínica do Chico de Paula acostumaram-se com as inundações. "Aqui dentro ficou uma lama só. Não adianta, choveu, alaga. E ninguém entra. Até os moradores já sabem que não vai ter atendimento quando chove assim", contou uma funcionária que não quis se identificar.

A situação era tão ruim que médicos - alguns, inclusive, que já tiveram os carros danificados pela chuva - não atenderam pela manhã. "Normalmente começamos a funcionar às 6 horas. Mas, hoje (ontem), só entramos na Policlínica às 9 horas e com lama no pé", relatou a funcionária.

Cartão de visitas - A entrada da Cidade, cartão de visitas de qualquer município, também sentiu a força da chuva. A Avenida Martins Fontes ficou alagada e veículos que passaram pela região tiveram que desviar o caminho passando por trás do conjunto Athié Jorge Coury.

De acordo com o secretário de Obras e Serviços Públicos, Antônio Carlos Silva Gonçalves, há uma galeria de 2,70 metros por 3,50 no local, mas ela precisa ser prolongada para suportar chuvas de tal intensidade.

"A galeria chega até o muro da Fepasa e vamos prolongá-la até o Rio Lenheiros. Mas, antes, precisamos do desassoreamento do rio, que depende do estudo de impacto ambiental. Daí resolvemos o problema de enchentes na entrada da Cidade", explicou o secretário.

Já nas obras de recuperação da orla na Ponta da Praia, próximo ao Aquário, não houve danos. A empresa Termaq continuou normalmente a construção do muro de contenção e começou, ontem, a refazer o calçamento no local destruído pelas ondas há exatamente um mês.

Mesmo sem haver prejuízos na madrugada de ontem, o secretário lembrou que "as dificuldades nas obras estão sendo maiores do que o previsto". No entanto, "ainda não trabalhamos com a possibilidade de um aditamento de valor das obras de recuperação".


O comerciante Amadis da Cruz acha que produtos ficarão mais caros
Foto: Carlos Nogueira, publicada com a matéria

Fechamento da Ceagesp afeta abastecimento

Aas águas da chuva trouxeram outro problema para a Baixada Santista: o abastecimento de frutas, verduras e legumes. Em virtude do fechamento do Ceagesp (maior entreposto comercial da América Latina) - inundado, ontem - cerca de 15 caminhões que deveriam abastecer Santos não conseguiram entrar na Capital e outros já interromperam a viagem na Serra.

"Nos avisaram por rádio, ainda de madrugada, e não subimos para abastecer", conta o proprietário de uma empresa de comércio atacadista de alimentos, Antônio Aguinaldo Tunis.

"Agora, todo o restante da semana já está afetado", alerta Amadin da Cruz, proprietário de uma revenda de frutas, verduras e legumes nas proximidades do Mercado Municipal. Para Cruz, que também não conseguiu abastecer seu caminhão ontem, o preço nas feiras-livres deve ser reajustado, em média, 30% nos próximos dias.

"É assim, como ninguém conseguiu trazer nada, quem tem alguma coisa em estoque vai querer vender mais caro", explicou o comerciante, que não possuía um grande estoque de alimentos. "Foi tudo muito rápido", emendou.

Laranja - Foram vários os problemas no Ceagesp - caminhões não conseguiam entrar para abastecer e outros, que já estavam lá, não saíram, e as mercadorias ficaram expostas à inundação. No entanto, o atacadista Almir Felix conseguiu contato com um revendedor que estava nas proximidades do Ceagesp, na Capital.

Por telefone, Felix conseguiu negociar a vinda de uma carreta de laranjas diretamente com esse revendedor. "Ele está do lado de fora, querendo descarregar, então pedi para ele descer para cá que compro todo carregamento", contou Felix.

O revendedor aceitou vir diretamente a Santos porque estavam surgindo boatos de saques nas estradas próximas à Capital. Então, como não queria ficar parado, mesmo porque não havia previsão de abertura da Ceagesp, as laranjas desceram a Serra. "Faz 15 anos que trabalho no ramo e nunca vi o Ceagesp fechar", finalizou Cruz, já calculando as despesas.


Motoristas enfrentaram alagamento da Nossa Senhora de Fátima
Foto: Carlos Nogueira, publicada com a matéria

Capital pára e provoca atraso nas viagens

A forte chuva não atingiu somente a Baixada Santista, mas todo Estado e, principalmente, a Capital. O reflexo, porém, chegou à Cidade pelas estradas.

Mesmo com o Sistema Anchieta-Imigrantes (SAI) apresentando boas condições de tráfego (apenas com uma pequena falta de iluminação nos túneis na parte da manhã), na véspera de Corpus Christi, chegar ou sair da região esteve difícil. A própria Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) da Capital orientou os motoristas a adiarem as viagens tanto para o Interior quanto ao Litoral. O motivo: a Capital parou.

Com o transbordamento dos rios Pinheiros e Tietê, as respectivas marginais ficaram interditadas e, assim, o trânsito na Capital ficou parado. Como as duas marginais servem de interligação para as principais rodovias do Estado, todas as viagens foram prejudicadas.

Na Estação Rodoviária de Santos, os funcionários ficavam nos guichês à espera dos ônibus. "Não temos notícias dos nossos motoristas. Só sabemos que eles não conseguiram sequer chegar a São Paulo", conta o encarregado Antônio Marassatto, que aguardava ônibus vindos de Presidente Prudente, Uberaba (MG) e Brasília (DF), e que já deveriam ter chegado.

"Os familiares já estão ligando para cá querendo saber qual a previsão de chegada. Mas não temos previsão", avisava a agenciadora Juliana Alves, de outra companhia de ônibus, no aguardo de um carro que havia deixado Ribeirão Preto às 5h30 - já era quase meio-dia.

Espera

""Não temos notícias dos motoristas. Só sabemos que eles não conseguiram sequer chegar a SP"

Antônio Marassatto
Encarregado na Rodoviária

Longínqua Sorocaba - No guichê de outra empresa, as passagens para o interior de São Paulo não estavam sendo vendidas. Tudo porque os ônibus não chegavam a Santos.

Um deles, vindo de Sorocaba, por volta das 10h30, já deveria ter chegado. Mas a viagem de 200 quilômetros entre as duas cidades parecia não ter fim. Em contato telefônico com o motorista Marcelo Pereira de Andrade, a reportagem descobriu onde o ônibus se encontrava por volta das 14 horas.

"Saí às 6 horas de Sorocaba e estou literalmente parado na Marginal Pinheiros", contou o motorista. "Quando andamos um pouco, em cinco horas, não foi mais do que quatro quilômetros. Faz 10 anos que sou motorista e nunca vi nada igual", concluiu Andrade.

Enfim, às 15h30 - exatamente nove horas e meia depois da saída - Andrade finalizava a viagem na Rodoviária de São Vicente. Quanto à volta para Sorocaba? "Agora, depois dessa, enfrento qualquer coisa. Só quero dormir em casa hoje (ontem)".

Um dos ônibus que arriscou deixar a Cidade na manhã de ontem tinha como destino Goiânia (GO). O motorista Orlando Miron Facundo, porém, sabia que enfrentaria dificuldades na viagem. "Só estou torcendo para que não chova mais ainda. A previsão de chegada a Goiânia é às 7h30 (de hoje), mas não sei nem que desvios vou pegar para atravessar São Paulo".


Rua tomada pela água no Saboó, um dos bairros mais atingidos
Foto: Carlos Nogueira, publicada com a matéria

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