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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - CARNAVAL
Tempo de Carnaval (23-D)

A festa de Carnaval, em 1920
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Em 1920, o banho da Dorotéia ainda não havia surgido, e junto com o fox-trot nos salões, a folia era dominada pelos corsos, no Centro e começando a se expandir em direção ao Gonzaga, via Avenida Ana Costa. Assim foi registrada a folia carnavalesca daquele ano, pelo jornal santista A Tribuna (ortografia atualizada, mas mantidos os neologismos e gírias usados na época), na edição de quinta-feira, 19 de fevereiro de 1920 (dois dias após a Terça-feira Gorda):
 


Imagem: reprodução parcial da matéria original

CARNAVAL

Como terminaram os folguedos - O corso de terça-feira - Os grandes bailes - Grupos e cordões carnavalescos

Terminaram com extraordinária animação os folguedos carnavalescos, e hoje o Espião vem rabiscar esta poucas linhas para dar por terminada a sua árdua missão, felicitar os bons foliões desta terra e despedir-se até para o ano de 1921, se fôr vivo até lá.

Na terça-feira os folguedos atingiram as raias do delírio. A cidade, nas últimas horas do dia, estava apinhada de povo, sendo quase que impossível o trânsito pelas ruas centrais.

A banda do Corpo de Bombeiros abrilhantou os festejos carnavalescos, realizando um esplêndido concerto, no coreto armado no Largo do Rosário, das 19 às 21 horas.

À tarde foi organizado um imponente corso de automóveis, que percorreu as ruas centrais da cidade. Durante o trajeto, travaram-se renhidas batalhas de serpentinas e confetes, ficando as ruas, dentro em pouco, completamente atapetadas.

Vários carros, lindamente ornamentados, aderiram ao corso, salientando-se o do Derby Club, tripulado por gentis senhoritas da nossa sociedade e rapazes folgazões, que com a sua interessante verve emprestavam grande realce à imponente passeata; o dos Amarelhinhos, o das Tesouras, que deram uma nota brilhante, e muitos outros.

Os cordões carnavalescos estiveram magníficos, sendo muito apreciados os valentes Foliões Santistas, que, mais uma vez, conquistaram as glórias deste ano, recebendo como prêmio, por se terem destacado dos demais cordões, pelo bom gosto de suas fantasias e disciplina, a linda medalha oferecida pelo conceituado comerciante desta praça, sr. Antonio Alamberti, proprietário da conhecida "Casa Alamberti", e outros prêmios de valor.

A veterana e valorosa sociedade carnavalesca Foliões Santistas recebeu mais, como prêmio ao brilhante concurso que prestou às festas carnavalescas, os seguintes presentes: uma coroa de louros, do Automóvel Club; uma coroa de louros, do Café e Bar Luso-Santista; uma taça e uma medalha de ouro, oferta de uma comissão chefiada pelo sr. Antonio José de Almeida; uma medalha oferecida pelo sr. Antonio Turqui; uma dita (N.E.: isto é, uma medalha, conforme já dito no texto) de prata, oferecida pela "A Religiosa"; uma dita, oferecida pela Ourivesaria Portuguesa; uma dita de ouro, oferecida ao presidente, pela "Rainha da Moda"; uma dita de ouro, oferecida ao primeiro clarim pela "Rainha da Moda"; um clarim, oferecido pela "Casa Carlos Gomes" ao primeiro clarim; uma medalha de ouro, oferecida a uma figura da ala direita, pela família Benedicto Soares; uma medalha de ouro, oferecida pela senhorita Adelina Ferreira; uma corbeille de flores, oferecida pela "Ideal Pensão"; dois bouquets de flores, oferecidos pela "A Floricultura", do sr. Joaquim Taumaturgo; um bouquet de flores, oferecido pela "Rainha da Moda", e um dito, pela "Casa Charo".

Os Foliões Santos Dumont e Rio Branco também se apresentaram corretamente, recebendo alguns prêmios.

Dos grupos que tomaram parte nos folguedos destacaram-se: Sapeca Choro, que durante o tríduo carnavalesco deliciou o público com as suas magníficas tocatas. O Sapeca Choro fez um sucesso retumbante, recebendo os seguintes presentes: um artístico estandarte e uma medalha de ouro, do estimado comerciante sr. Innocencio Portugal, proprietário da "Casa Relampago"; uma linda corbeille de flores, do sr. Benjamim dos Santos, proprietário do Trust Santista, e uma artística medalha de ouro, do sr. Guerra Simões, proprietário da Galeria de Crystal.

Foi, pois, o Sapeca Choro um dos grupos que mais brilharam no carnaval de 1920.

O Sapeca Choro está assim organizado: João Alves Júnior, presidente; Augusto Belizário da Silva, maestro; Abelardo Saldanha da Cunha, trovador; Valdomiro de Souza, Raul Fonseca, Alberto Souza, João de Carvalho, músicos; Grupo do Zuza, composto de rapazes do comércio.

Este grupo conquistou as simpatias do público, durante a passeata que fez, tocando no caminhão Derby Club.

À noite, o Grupo do Zuza abrilhantou o grande baile do Cassino do Parque Balneário, para o que foi contratado Coco Nortista, que fez sucesso com as suas toadas lá do sertão.

Cassino do Parque - Neste apreciado centro de diversões realizaram-se quatro grandes bailes carnavalescos, que estiveram animadíssimos.

O de terça-feira teve uma concorrência colossal e as danças, no meio de verdadeira loucura, terminaram às 4 horas.

O salão de dança, caprichosamente ornamentado, oferecia um aspecto imponente.

União Portuguesa - Esta simpática sociedade, como nos anos anteriores, realizou grandes festejos em homenagem a Momo.

Na sua sede social realizaram-se grandiosos bailes à fantasia, que deixaram, em todos os que deles compartilharam, a mais grata impressão.

Centro Espanhol - Os folguedos carnavalescos realizados neste centro estiveram animadíssimos, conservando-se sempre repletos os seus salões.

A diretoria do centro não olhou a despesas nem mediu sacrifícios para proporcionar aos seus associados boas diversões e, por isso, todos os que ali compareceram passaram um carnaval divertido.

Colonial Portuguesa - A Sociedade Musical Colonial Portuguesa, despedindo-se de Momo, realizou, na terça-feira, um grande baile à fantasia, que foi abrilhantado por um grupo de músicos da mesma sociedade.

O baile de despedida esteve animadíssimo e a sua diretoria foi pródiga em gentilezas para com todos os seus convidados.

O policiamento da cidade - Digna de rasgados encômios se tornou, sem dúvida, a atitude mantida pela nossa polícia durante os festejos carnavalescos.

O policiamento da cidade foi dirigido pessoalmente pelo dr. Ibrahim Nobre, delegado regional, que se mostrou de grande prudência e infatigável solicitude no atender aos múltiplos reclamos da ordem pública.

Dest'arte, com satisfação o registramos, nem sequer uma só queixa relativa a desvarios praticados pelas praças foi apresentada durante o período de azáfama que se verifica nos festejos de Momo, e que torna quase impossível a calma dos que executam o policiamento.

É justo que se saliente, também, a cooperação eficaz da Polícia Municipal que, dirigida pelo inspetor geral sr. Antonio Pereira Franco, demonstrou o maior interesse e urbanidade na manutenção da ordem, já no decorrer dos corsos realizados, já nos vários pontos onde se fez mister a sua presença.

No Coliseu - O baile de terça-feira, no Coliseu, não foi coisa de que pudéssemos guardar gratas reminiscências. A tanto fomos levados pela insólita atitude dos encarregados da porta deste estabelecimento, vedando-nos a entrada e só no-la permitindo mediante o pagamento dos respectivos ingressos. Chamamos a atenção do zelador do Coliseu para o fato, limitou-se este senhor a afirmar, inspiradamente, que nada tinha com o baile, como se não bastassem duas palavras suas, aos porteiros, para atestar nossa qualidade... E como, naturalmente magoados com essa falta de consideração, ela nos suscitassem algumas justas observações, o referido zelador achou de bom aviso irritar-se, sendo imitado, no mesmo diapasão, por um gendarme qualquer, plantado à porta, que o secundou heroicamente nas advertências reles e boçais.

Decididamente, é missão ingrata essa de se andar dias incontáveis a encher carinhosamente de pérolas a quem, num só minuto, manifesta seu alto espírito de reconhecimento por grunhidos intoleráveis...

Uma carta - O Espião recebeu a seguinte carta:

"Para seu governo, avisamo-lo de que tendo percorrido ontem, em despedida, o centro da cidade, ficamos convictos de que realmente foi o suco do Carnaval deste ano o Grupo Sapeca Choro, ficando provadas desse modo as honrosas referências de que antecipadamente nos fizestes alvo nas colunas de vosso apreciado jornal.

Foram estes os troféus colhidos ontem em nossa última passeata: 1 medalha de ouro, oferecida pela Galeria de Crystal, dos srs. Guerra Simões e C.; 1 dita, oferecida pelo sr. Innocencio Portugal, da Casa Relampago; 1 grande e lindo ramilhete de flores naturais, oferecido pelo Trust Santista.

Deixaram-nos gratas impressões as honrosas recepções que tivemos na Associação A. Americana, Grupo do Coalhada, no Commercio de Santos, no vosso jornal A Tribuna, na Leoneza, no Bellezinha do Gonzaga (do Araújo), no grande depósito de doces, bolachas etc., do (Plácido), e na residência do sr. J. F. Cruz, na Avenida Campos Salles".

G.C. Azul e Branco - Empunhando o seu belo estandarte azul e branco, saíram anteontem os azulões em bela passeata pelas ruas da cidade, fazendo larga distribuição de lindas ventarolas "Brahma" (N.E.: já então marca de cerveja), de cuja deusa são os mais fervorosos adoradores e à qual devem as suas vitórias carnavalescas.

Real Centro Português - Para despedida do rei da folia, esta simpática agremiação realizou na terça-feira um grande baile à fantasia, que decorreu no meio da maior alegria e entusiasmo, até alta hora da madrugada.

Centro Republicano Português - Também este centro muito contribuiu para o brilhantismo das festas carnavalescas, realizando grandes bailes masqués em sua sede social, que estava resplendente, toda ornamentada com flores e folhagens, tendo iluminação profusa.

Os bailes do Centro Republicano Português estiveram animadíssimos.

Uma águia - No último dia de Carnaval apareceu pelas ruas da cidade uma grande águia sobre uma coluna que era sustentada por duas bicicletas, tendo sobre as costas, entre as asas, uma linda criança.

Era um trabalho bem feito, sendo muito apreciado.

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