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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - CARNAVAL
Tempo de Carnaval (15)

Lembrando os antigos desfiles na avenida
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Em 22 de fevereiro de 2004, domingo de Carnaval, o jornal santista A Tribuna publicou este artigo, primeiro de uma série de dois:
 

Praça da Independência em 1953. 
Foliões no Banho da Dona Dorotéia, outra tradição santista perdida
Foto: reprodução, publicada com a matéria

CARNAVAL
Saudade da avenida

Tradição de mais de 60 anos, o desfile das escolas de samba santistas não será, mais uma vez, realizado. Resta aos sambistas lembrar as glórias do passado e tentar planejar o futuro

Fabiana Honorato
Da Reportagem

"...Ao lembrar que aqui passaram sambas imortais/Que aqui sangraram pelos nossos pés/Que aqui sambaram nossos ancestrais". O trecho do famoso samba Vai Passar, de autoria de Francis Hime e Chico Buarque, composto em 1984, traduz com perfeição o sentimento de saudade dos foliões santistas, que amargam mais um ano sem a realização do desfile das escolas de samba de Santos, uma tradição de 60 anos.

Ao contrário do clima de euforia e descontração típico dos dias que antecediam os festejos de momo, a Cidade, que já foi palco do segundo melhor Carnaval do País, assistiu a evasão do público de outrora e, principalmente, de seus melhores sambistas.

Totalizando cinco anos sem o desfile das agremiações (1999, 2001, 2002, 2003 e 2004), esta ausência não é motivo de desânimo apenas para os protagonistas e condutores deste misto de espetáculo e tradição. Muitos dos clubes que arrebatavam multidões para os concorridos bailes carnavalescos não promoverão sequer matinês.

Assim como o comércio, principalmente as lojas de tecidos e armarinhos, este vazio no calendário santista enfraqueceu também o mercado informal e o turismo. No entanto, a perda mais considerável decorrente desta lacuna ofusca, sobretudo, o aspecto cultural e histórico em que a Cidade está inserida, como um dos "destaques" do Carnaval brasileiro.

A receita para que o brilho e a magia da maior manifestação popular do País sejam resgatados em Santos não é fácil, segundo analisam estudiosos, dirigentes de escolas de samba e de clubes, representantes do comércio e de demais segmentos.

Embora ainda haja divergências quanto ao melhor caminho para ressuscitar o espírito carnavalesco no Município, os entrevistados são unânimes ao afirmar: a retomada só será possível com a profissionalização e união do segmento.

Leia a seguir o que pensam as pessoas ligadas diretamente ou indiretamente a esta festa.

Razões

"Falta vontade política em realizar este evento, mas a retomada também depende dos dirigentes das escolas de samba"

José Muniz Júnior
Pesquisador do Carnaval santista

Decadência - Jornalista, autor de enredos, ritmista, passista, mestre-sala... Muito mais do que profundo pesquisador do samba e do Carnaval, José Muniz Júnior, ou como prefere, J. Muniz Jr., 70 anos, é parte integrante da existência deste festejo na Cidade.

Natural de Penedo, Alagoas, o Marechal do Samba chegou a Santos em 1939 e participou, no ano seguinte, do surgimento das primeiras escolas de samba santistas.

Rodeado por fotos, diplomas, troféus e outras recordações de um passado glorioso, o pesquisador apontou a desunião entre os sambistas e o desinteresse político como as "causas mortis" do desfile das agremiações.

"Falta vontade política em realizar este evento, mas a retomada também depende dos dirigentes das escolas de samba. Tudo tem seu apogeu e sua decadência, mas a Cidade não merece isto".

Falando com propriedade sobre o assunto, Muniz Jr. defende a realização de concursos locais, em cada cidade da Baixada Santista, e acredita que a manutenção desta tradição não deve depender apenas do subsídio do poder público.

Xisnoveano, ele não abandona a Cidade nos dias da folia de momo, embora a defina como "fantasma", e enumere a violência como agravante para a ausência dos desfiles.

"O Carnaval tinha um clima único, músicas que só tocavam naquela época. Hoje o repertório destes dias é o mesmo do resto do ano. Não há composições novas e a imoralidade é outro fator negativo".

Lamentando o marasmo que presencia nas ruas, ele apontou o comércio e o turismo como setores prejudicados pelo enfraquecimento do Carnaval na Cidade. No entanto, ele ainda mantém viva a esperança de ver este cenário se transformar.

"Santos tem a sua tradição carnavalesca, que é o desfile das escolas. Esperamos que o próximo prefeito tenha mais consideração com os sambistas, e que esta tradição não acabe".

J. Muniz Jr. aponta falta de vontade política como um dos problemas
Foto: Paulo Freitas, publicada com a matéria

Dirigentes das escolas pregam união e profissionalismo

Carnaval sem desfile das escolas de samba não tem o mesmo encanto. Pelo menos na opinião dos dirigentes das agremiações santistas. Entristecidos, eles reconhecem que o segmento precisa de mais profissionalismo e união.

Pioneira na Cidade, a X-9 acumula 27 títulos ao longo dos 60 anos de existência, mas pela primeira vez não desfilará nem mesmo nas ruas do Macuco. "Estamos numa situação muito difícil. Com a ausência do desfile não pudemos manter parte da quadra, que era alugada", lamenta o presidente da agremiação, Benedito de Andrade Fernandes, o Ditinho, de 39 anos.

Membro da escola há 32 anos, ele se recorda de quando a Cidade respirava Carnaval. "Vivíamos o ano todo em função destes dias, de ver o trabalho concluído".

Crítico, não atribui a ausência dos desfiles somente à Administração, que repassava um cachê para as escolas, mas principalmente aos dirigentes das 11 agremiações santistas. "Faltou profissionalismo aos presidentes das escolas. Não dá para depender apenas da Prefeitura. Temos de buscar ajuda de empresários mostrando a importância cultural desta festa".

Apontando a indefinição de um local para este evento como outro entrave, Ditinho citou o enfraquecimento dos bailes de Carnaval e a queda na presença de turistas como conseqüências do fim dos desfiles.

Desanimado, o sambista pretende brigar pela retomada desta manifestação social, que na sua opinião é positiva para todos os segmentos da Cidade. "Os desfiles movimentavam a economia local e eram um atrativo turístico".

 

X-9 não desfila sequer nas ruas do Macuco

 

Diálogo - "Não quero falar a respeito. É muito triste". Desta forma o presidente da União Imperial, Heldir Lopes Penha, o Aldinho, de 46 anos, se manifesta sobre o fim de uma tradição.

Na tentativa de manter vivo o espírito carnavalesco, o sambista contou que, além da banda que desfilou na sexta-feira pelas ruas do Marapé, os membros da bateria farão apresentações em outras cidades. "Sobrevivemos graças a outros projetos, como as escolinhas para crianças e atividades que suprem a ausência do desfile".

Reclamando da falta de diálogo entre poder público e representantes das escolas, Aldinho acredita que o segmento precisa de incentivo. "Vimos muitos sambistas irem para São Paulo e cidades vizinhas que têm desfile. Será difícil recomeçar do zero".

Patrocínio - Organização, profissionalismo e união. Estes são os ingredientes necessários para que o Carnaval na Cidade volte a ser uma atração de destaque, na opinião do presidente da Padre Paulo, Robson Rete, o Robinho.

Além da necessidade da obtenção de patrocínio de diversas fontes, o dirigente também vê como fator motivador a instituição do concurso entre as agremiações, que seriam divididas em dois grupos.

"O nivelamento não é bom, não estimula as escolas. Se não houver o risco de rebaixamento, o pessoal não investe".

Ditinho: importância cultural
Foto: Raimundo Rosa, publicada com a matéria

No lugar do baile, Vasco tem retiro evangélico

No lugar dos camarotes e mesas, colchonetes e travesseiros. Ao invés de marchinhas entoadas por estrondosas bandas, hinos religiosos. É com um retiro espiritual da Igreja do Evangelho Quadrangular que o Clube de Regatas Vasco da Gama lotará seu salão de foliões, ou melhor, fiéis.

Sem condições financeiras de promover os famosos bailes de Carnaval, os dirigentes da entidade encontraram uma forma de otimizar o espaço de hoje até terça-feira.

Segundo o auxiliar de secretaria do clube, Alexandre Alves, o salão social será ocupado por centenas de fiéis de toda a Baixada Santista. "Estamos locando por uma taxa mínima. Serão promovidas palestras gratuitas e uma programação intensa voltada aos fiéis".

Sobrevivendo com sérias dificuldades, o Vasco não realiza bailes de Carnaval há três anos e matinês há dois. E não é o único.

"Vamos fazer só a matinê para não deixar passar em branco", afirmou o presidente interventor do Clube de Regatas Saldanha da Gama, Ayrton Rogner Coelho. De acordo com ele, o pouco que sobrou de atividade carnavalesca no clube ainda acontece porque os sócios pedem a manutenção das matinês. "Aqui na Ponta da Praia, nesta época, era um agito só. A ausência dos desfiles também espantou as pessoas dos clubes".

Entre os projetos que visam garantir a existência do Saldanha, Coelho pretende retomar um dos eventos mais tradicionais do Carnaval santista: o desfile Dona Dorotéia, vamos furar aquela onda? "Vamos resistir a este desânimo".

Bailes - É com tristeza que o vice-presidente social e administrativo da Associação Atlética dos Portuários de Santos, João Geraldo das Mercês Neto, o Jarrão, relembra do tempo em que mais de 10 mil foliões lotavam os tradicionais bailes carnavalescos do clube.

Há cinco anos, segundo ele, este evento não é realizado pela entidade, que só terá a matinê. "Já tivemos o título de melhor Carnaval de Santos, de 1986 a 1990. Esgotávamos os convites dias antes dos bailes".

Também amante dos desfiles das escolas de samba santistas, Jarrão alegou que o fim desta atividade, que movimentava a Cidade, resultou na perda do público que freqüentava os salões.

Preocupado com o futuro de uma manifestação popular que era promovida desde a fundação do clube, em 1926, ele espera ver este cenário mudar. "Antes eu falava que meu ano só começava depois do Carnaval. Agora sou obrigado a ficar na frente da televisão vendo a programação carnavalesca de outras cidades".

 

Atividades nas quadras devem retornar em 2005

 

Desfile pode ser filão turístico, diz Barboza

O desfile das escolas de samba santista pode se tornar um filão turístico, a exemplo do que ocorre no Rio de Janeiro e em São Paulo. A afirmação é do secretário municipal de Comunicação, Tom Barboza, que é contundente ao dizer que os dirigentes das agremiações devem encarar a festa com um olhar mais profissional.

Embora reconheça a importância desta tradição, Barboza afirma que "Carnaval não é só o concurso oficial das escolas de samba". Ele analisa que, para voltar a desfilar, as agremiações devem promover atividades durante todo o ano, a fim de captar recursos que viabilizem o evento. "A Prefeitura não poderia arcar com os R$ 2,5 milhões calculados para o desfile, incluindo o cachê e todo o gasto".

O secretário lembrou que outro empecilho para a realização dos desfiles foi a falta de entendimento entre os dirigentes e a própria Administração, que não podia oferecer a verba desejada pelos sambistas.

Enfático, Barboza citou que a ausência desta festa não enfraqueceu o Carnaval santista. Segundo ele, esta manifestação cultural passou por mudanças e hoje tem uma característica diferenciada.

"Tivemos 36 bandas inscritas que desfilaram nos bairros. O Carnabonde atraiu mais de 5 mil pessoas. A tendência é o crescimento destes eventos".

Retomada - O som das baterias das escolas de samba poderá voltar a animar os foliões santistas já no próximo ano. A meta de retomar esta atividade nas quadras das agremiações foi divulgada pelo presidente da Liga Independente Cultural das Escolas de Samba de Santos, Edison Tricanico.

"Depois queremos implantar uma programação anual que garanta os desfiles", afirma Tricanico. Também vice-presidente da Unidos dos Morros, ele explicou que este cronograma evitaria a má utilização do cachê repassado pela Prefeitura. "O subsídio seria repassado em parcelas e não poderia ser usado de uma vez".

Com esta medida, como frisa Tricanico, o segmento teria mais credibilidade para buscar na iniciativa privada o complemento para custear a produção. O sambista sugeriu também a parceria com as faculdades, que poderiam ajudar na administração das escolas.

Personagem

Foto publicada com a matéria

Valdir dos Santos Ferreira

Garantindo ser o mestre-sala em atividade há mais tempo em Santos, 30 anos, o sambista de 37 anos já defendeu o pavilhão de várias agremiações e lamenta a ausência do desfile santista.

"Machuca demais não ter este evento por mais um ano, é como se eu tivesse perdido alguém da minha família".

Além de realizar um trabalho de formação de mestres-salas e portas-bandeiras junto às crianças, na quadra da União Imperial, Ferreira também se mantém em atividade durante o Carnaval. "Fui convidado pela Independência do Casqueiro, de Cubatão, e Última Hora, de São Vicente, para desfilar neste ano. Assim como eu, muitos sambistas são contratados por outras agremiações, principalmente de São Paulo".

Na mesma edição, o registro:

O Esquadrão de Momo animou as pessoas que seguiam a banda 
ou trabalhavam nas lojas do Centro
Foto: Carlos Nogueira, publicada com a matéria

DESFILE
Banda anima as ruas do Centro

Da Reportagem

A Banda Carnavalesca Esquadrão do Momo animou ontem as ruas do Centro. A concentração ocorreu por volta de meio-dia, na Rua São Francisco, ao lado do Palácio da Polícia.

A banda, que foi acompanhada por carros da PM e da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), percorreu as ruas Martim Afonso e General Câmara, até a Praça Rui Barbosa, retornando pela Rua Amador Bueno.

A banda alterou a rotina dos funcionários que trabalhavam ontem nas lojas do Centro. Alguns deles não resistiram e acabaram caindo na folia. "Não dá para ouvir um sambinha e ficar parada. Já que o chefe liberou vou aproveitar um pouco", disse a vendedora Carla Regina Silva, que deixou o trabalho para seguir a banda por alguns minutos.

Na seção Tribuna do Leitor desse mesmo dia, duas cartas analisavam a festa:

Carnaval em declínio

O Carnaval de Santos, outrora um dos melhores do Estado, virou algo asséptico e amorfo, muito longe do que se entende por Carnaval.

As bandas, produto tipo exportação, de nossa melhor tradição, são agora arremedos do que eram, circulando às escondidas e sem a empolgação de antes; os clubes, que ferviam em noites e matinês memoráveis, hoje estão vazios; o desfile das escolas de samba findou-se melancólico, depois de polarizar e eletrizar a cidade com disputas entre a X-9, União Imperial, Padre Paulo, Brasil e tantas outras; a finada Dorotéia, prenúncio do Carnaval, tão esperada por todos, terminou por falta de organização e não por violência como muitos querem impor.

Tudo isso acabou e o que ficou foi um grande baile da saudade. O Carnabonde, apesar de simpático, peca pela falta de espontaneidade. Trata-se mais de um espetáculo teatral produzido e conduzido por atores fantasiados, que se aproveitam do saudosismo do povo.

Brinquei nesta terra um Carnaval original e espontâneo, vindo da alma. Meus filhos não verão nenhum para lembrar. É triste!

Pedro Macedo de Sá Filho.

Dengosas do Marapé

Folia, sim, este era o nome da fantasia. Entre guizos, luvas, saias coloridas, seus participantes cantavam: "Até disseram que este ano o nosso bloco não saía!"

O bloco saiu, a Dengosas do Marapé saiu para desfilar e com ele o folião Sabiá. Ainda muito criança ia aos ensaios e presenciei sua alegria na hora do desfile principal, exibindo com orgulho sua fantasia.

Sabiá saía pelas ruas do Marapé cantando, orgulhoso por pertencer às Dengosas. Agora, no Carnabonde, a sua tão querida Dengosas do Marapé foi homenageada.

Parabenizo as autoridades por reviverem antigos carnavais, onde a intenção principal era somente cantar, brincar, pular.

Janet Freitas de Oliveira.