Clique aqui para voltar à página inicialhttp://www.novomilenio.inf.br/santos/h0188l.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 10/31/05 16:08:13
Clique na imagem para voltar à página principal
HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - Igrejas
As irmandades religiosas (1)

Leva para a página anterior
Na data em que Santos festejou seu primeiro centenário como cidade, em 26 de janeiro de 1939, o jornal santista A Tribuna publicou uma edição especial comemorativa, em que foi incluído este artigo:
 

Trecho da página com a matéria

Santos e os sentimentos católicos de seu povo

Notas sintéticas sobre as irmandades religiosas que vêm concorrendo para a edificação espiritual dos fiéis católicos - como hóspede da Venerável Ordem Terceira de São Francisco da Penitência, esteve em Santos o sacerdote que mais tarde deveria ascender ao sólio pontifício com o nome de Pio IX

PEÇO A PALAVRA

Leão do Norte (*)

Falando há pouco pelo rádio à América do Norte, disse o ministro Oswaldo Aranha que "o Brasil é hoje a maior nação católica do mundo".

À primeira vista, parece haver exagero nessa afirmação do chanceler brasileiro. E com efeito, num país novo como o nosso, geograficamente quase igual à Europa e onde o analfabetismo (que se opõe à expansão do Evangelho) ainda campeia assustadoramente, apenas do combate sem tréguas que lhe tem movido o governo, nos últimos anos, não parece plausível a hipótese de que já tenha ele obtido a primazia religiosa entre as demais nações católicas do mundo.

Entretanto, é um fato incontestável o que afirmou o ministro das Relações Exteriores. O povo brasileiro é, na verdade, mais por tradição de família que por convicção pessoal, visceralmente católico. Nem podia deixar de ser assim, visto que Portugal, a pátria mãe da nossa, sempre foi, incondicionalmente, católica, apostólica, romana. Dir-se-ia que com o idioma e os costumes lusos nos trouxeram as caravelas de Cabral um espírito essencialmente cristão. Efetivamente, dentro desta área imensa de oito milhões e meio de quilômetros quadrados, não se encontra um vilarejo sequer em cujo centro não avulte uma igrejinha branca, erguida pela fé do povo.

***

Ao sacerdote chamou Jesus Cristo "sal da terra e luz do mundo" (Mat. V, 13). A comparação não poderia ser mais feliz, tendo-se em vista a missão sacerdotal. Quis dizer o Salvador que o padre é tão útil à sociedade, moralmente falando, como o são fisicamente a luz e o sal. Em outros termos: se a vida física seria intolerável sem esses dois elementos - a luz e o sal -, não o seriam menos a vida moral sem a religião, que é transmitida ao povo pelos ministros do culto.

Se é mesmo isso o que quis dizer o Homem Deus, quando comparou o padre ao sal e à luz, convenhamos em que os ministros da Igreja são também necessários à humanidade, como "dispensatores mysteriorum Dei".

Ainda quando esta tese não tivesse o apoio da Bíblia e do bom senso, a experiência só por si lhe daria foros de veracidade. De fato, a necessidade do padre, como a da religião, não se demonstra: sente-se. E o que se sente não há mister provas, porque é evidente.

Dizem que a voz do povo é a voz de Deus. Pois bem, é o povo, são as coletividades, que reclamam a presença do sacerdote, não uma ou outra vez, mas permanentemente.

Nos meios onde já penetrou a luz da civilização cristã, suporta-se, em geral, sem muita lamúria, a retirada de qualquer personalidade leiga de relevo, mesmo que se trate de alguém que, pelos seus dotes intelectuais e morais, haja conquistado o coração do povo. Banquetes, discursos sentimentais, presentes, abraços demorados com votos de muitas felicidades - eis em linhas gerais o programa com que de ordinário se procura assinalar a despedida de certas personagens que sempre deixam saudades ao partir.

Retire-se, porém, o vigário e o cenário será muito diferente. Nada de almoços e discursos, nada de presentes e abraços... O que se nota em todos os semblantes é o espírito de revolta contra a autoridade diocesana, a menos que esta se tenha comprometido substituir imediatamente o pastor que transferiu. E, se motivos independentes da vontade do prelado retardam o cumprimento da promessa, começam a chover telegramas, abaixo-assinados, comissões importunas e, não raro, desaforos anônimos. Nas dioceses onde há deficiência de clero, a remoção de párocos é um dos pontos mais delicados do munus episcopal.

Que se conclui daí? Apenas isto: Que o sacerdote é, realmente, "o sal da terra e a luz do mundo".

***

- Se discorrerdes pelo mundo, dizia Plutarco, podereis encontrar cidades indefesas etc., mas um povo sem Deus, sem orações, sem juramentos, sem ritos religiosos, sem sacrifícios, é coisa que jamais se viu. (Adv. Col. Epic.).

Dessas palavras do filósofo grego podemos formular, em abono da nossa tese, o silogismo seguinte:

Segundo Plutarco, não se encontra, na superfície da terra, uma cidade sem religião. Ora, os sacerdotes são os ministros da religião. Logo, onde brilhar o facho da fé, aí havemos de constatar, necessariamente, a existência de sacerdotes.

O argumento pode ser corroborado com a experiência cotidiana. E na verdade, quando, pela morte ou remoção de um vigário, vaga uma paróquia, não se passa um trimestre sem que a maioria da população reclame o substituto. Esse asserto pode-se demonstrar facilmente consultando o "Tombo" das sedes paroquiais. Aí se verão, através de uma série ininterrupta de párocos, os reclamos do povo e as providências do bispo, sempre que vaga qualquer setor da jurisdição eclesiástica.

Assim, fácil me fora enumerar aqui, por exemplo, um a um, todos os curas de Santos, dada a ordem e a harmonia com que eles se vêm sucedendo na direção espiritual deste mimoso rebanho que a Igreja confiou ao patrocínio de Nossa Senhora do Rosário.

Todavia, por me não alongar muito, ocupar-me-ei apenas de um nome, que não pode ficar esquecido neste momento em que o Município e a Igreja, aliados, comemoram, com solenidades inéditas, o primeiro centenário da cidade de Braz Cubas.

Quero referir-me ao padre José Antonio da Silva Barbosa, que, paroquiando Santos entre 1 de janeiro de 1812 e 18 de novembro de 1844, muito contribuiu para o seu engrandecimento social. E na verdade, a par de um paroquiato de 32 anos, aqui desenvolvido com zelo e dedicação, assistiu o pe. Barbosa ao desenrolar de acontecimentos políticos que sacudiram a Pátria do Norte a Sul e a que emprestou ele todo o seu prestígio de padre e de cidadão.

Assim, por exemplo, foi ele quem presidiu aos atos religiosos, levados a efeito na matriz, em regozijo pela Independência nacional; foi ele quem, com José Bonifácio e outros, assinaram, aqui, o projeto da Constituição do primeiro império; foi ele ainda quem, aos 26 de janeiro de 1839, cantou o Te Deum em ação de graças pela elevação de Santos à categoria de cidade!...

Dada a sua ligação com os Andradas [1], não há exagero em suspeitar-se tenha ele tomado parte ativa nas reuniões particulares promovidas pelo Patriarca e em que se concertara o plano da Independência.

Como se vê, esse homem pôde figurar com honra na galeria dos que mais têm propugnado pela grandeza de Santos e pela grandeza do Brasil.

É possível que os prefeitos de Santos anteriores ao dr. Cyro Carneiro desconhecessem o papel relevante que desempenhou entre nós esse venerando sacerdote, aliás já teríamos uma rua, praça ou avenida com o nome aureolado de Padre Barbosa.

***

Entre o Estado e a Igreja deve reinar uma união tão íntima como a que existe entre a alma e o corpo. A alma pode viver sem o corpo, mas este sem aquela se aniquila.

No caso vertente, o Estado estaria em lugar do corpo e a Igreja no da alma. Divorciado da Igreja, o Estado pereceria fatalmente.

Eis por que, nos capítulos mais notáveis da história de um povo civilizado, sempre se deparam nomes de representantes da Igreja...

A DIOCESE DE SANTOS

Um dos incontestes índices do progresso espiritual da nossa cidade centenária é, indiscutivelmente, a escolha da Santa Sé elevando-a a sede de um dos 13 Bispados da Província Eclesiástica de S. Paulo. Santos criado Bispado por Bula do Santo Padre Pio XI, gloriosamente reinante, de 4 de julho de 1924, tendo sido instalada a 12 de abril de 1925, pelo revmo. cônego Pericles Gomes Barbosa, por comissão do exmo. e revmo. sr. dom Duarte Leopoldo e Silva, o pranteado arcebispo de São Paulo.

Em 18 de abril do mesmo ano de 1925, tomava posse solenemente com seu primeiro bispo o saudoso dom José Maria Parreira Lara, que esteve à frente da Diocese até 2 de dezembro de 1934, quando foi transferido para a Diocese de Caratinga. Durante a sede vacante, coube ao exmo. monsenhor Luís Gonzaga Rizzo a direção do Bispado, tendo sido governador de 2 de dezembro de 1934 a 6 de janeiro de 1935 e dessa data até 15 de agosto do mesmo ano o corpo de conselheiros diocesanos o elegeu vigário capitular.

A 5 de junho de 1935 a Santa Sé escolhia para segundo bispo ao exmo. e revmo. sr. dom Paulo de Tarso Campos, que, fazendo-se sagrar aos 14 de julho de 1935 ao 15 de agosto, tomava solenemente posse da Diocese, onde a Providência de Deus há de guardar por muitos anos, para a glória de Deus e para o bem da Santa Igreja nesta cidade e em todo o bispado.

Quando Santos foi criado Bispado existiam em toda a cidade quatro paróquias: a da Catedral, Vila Mathias, Valongo e Embaré. Em 1927 foi criada a Paróquia da Pompéia e, em 1928, Vila Macuco. Em 1935 instalou-se a do Guarujá, em 1937 a de Cubatão e Nossa Senhora da Aparecida. Hoje, dentro da cidade, no perímetro urbano, são sete paróquias (N.E.: na época deste texto - 1939 -, lembre-se, Cubatão e Guarujá, bem como Bertioga, ainda eram partes do município de Santos).

O chefe supremo de uma Diocese é o bispo. Além dos poderes inefáveis que a sagração episcopal lhe confere, com a plenitude do sacerdócio, a posse de sua Diocese fá-lo, dentro do território do seu bispado, o homem que enfeixa em suas mãos a maior autoridade, que sobrepassa aos limites do material para atingir as raias do divino, do sobrenatural.

Entretanto, a legislação da S. Igreja, prevendo os encargos demasiados do bispo, concede-lhe a escolha de um cirineu e de um corpo de conselheiros.

A pessoa do vigário geral é bem a continuação da pessoa do bispo. Com algumas reservas, feitas pelo direito ou pelo próprio bispo, ele tem a mesma autoridade do bispo.

Durante a gestão do primeiro bispo de Santos, dom José Maria Parreira Lara, foi vigário geral da Diocese o atual vigário de Pompéia, padre dr. Genésio Nogueira Lopes, que nesse cargo acumulou o de vigário.

A 3 de setembro de 1937, o exmo. e revmo. sr. bispo, que até então não tinha vigário geral, escolheu para esse cargo o exmo. monsenhor Luís Gonzaga Rizzo, que desde 1927 vinha exercendo o munus de secretário do Bispado.

Corpo de Consultores Diocesanos - Nas dioceses em que não há Cabido de cônegos, suprem-no o corpo de consultores diocesanos, que atualmente é composto dos seguintes sacerdotes: revmos. padre Francisco Lino dos Passos, padre Paschoal Cassese, padre Agenor Maria Sant'Anna, padre Modesto Bestué e frei Salvador de Cavedine.

Secretaria do Bispado - O primeiro secretário do Bispado de Santos foi o revmo. cônego Angelo Resende, que ocupou esse cargo de 1925 a 1927.

Nessa época, tomou posse desse munus o revmo. padre Luís Gonzaga Rizzo. Com a sua elevação ao cargo de vigário geral, a 3 de setembro de 1937, foi nomeado interinamente o revmo. padre Alfredo Pereira Sampaio, que desde a sua ordenação, em abril de 1937, já ocupava o cargo de oficial da Cúria.

***

A cidade de Santos, até 1915, constituiu apenas uma paróquia, sob a invocação de Nossa Senhora do Rosário Aparecida. A primeira matriz esteve localizada mais ou menos onde hoje se ergue o prédio da Alfândega. Passou depois para a atual igreja do Rosário, da praça Rui Barbosa (antigamente Largo do Rosário), onde funcionou provisoriamente até a inauguração da nova matriz da Praça José Bonifácio.

Com a criação da diocese, em 4 de julho de 1924, essa matriz foi elevada à categoria de Sé Catedral, onde vem funcionando. Por ocasião da reforma da pavimentação, o exmo. sr. bispo houve por bem fechar, do dia 10 de novembro de 1938 a 25 de janeiro de 1939, ficando a igreja do Rosário como catedral provisória durante esse tempo.

Desde a elevação a Curato até hoje, ocuparam o cargo de cura da Catedral os revmos. padre Luís Gonzaga Rizzo, cônego Angelo Rezende, cônego João de Barros Uchôa, padre dr. Manoel Brito Franco, padre João Baptista de Carvalho, padre Agenor Maria de Sant'Anna e padre Francisco Lino dos Passos.

Atualmente, os limites do Curato da Catedral são os seguintes:

Com a paróquia do Valongo, partindo do estuário em direção à Rua Frei Gaspar, vão por esta rua até a Rua de S. Francisco e até a travessa da Santa Casa. Sobem o caminho do Morro Fontana para tomar a chamada "Estrada do Marinangeli" até encontrar do outro lado o sopé do morro.

Com a paróquia de Vila Mathias, acompanhando o sopé do morro desde o fim da estrada "do Marinangeli" até o começo da Avenida Ana Costa e daí até encontrar a Rua Rangel Pestana (Canal 1), que continua na Avenida Campos Salles até a Avenida Conselheiro Nébias.

Com a paróquia de Vila Macuco pela Avenida Campos Salles seguindo-se o Canal 1 até a Bacia do Macuco para tomar o estuário.

Dentro desse território estão situados o convento e a igreja de Nossa Senhora do Carmo, dos padres Carmelitas, a igreja da Ordem Terceira de N. Senhora do Carmo, na Praça Barão do Rio Branco, o Colégio de N. Senhora do Carmo, na Rua Augusto Severo, o Santuário do Sagrado Coração de Jesus, dos padres Jesuítas, à Rua da Constituição, a "Casa do Senhor", à Avenida Conselheiro Nébias, 226; a "Cruzada das Senhoras Católicas", à Avenida Conselheiro Nébias, 152; o Colégio do Coração de Maria, das Irmãs do Puríssimo Coração de Maria, à Rua da Constituição, 378, a sede do "Prato de Sopa Monsenhor Moreira", à Rua Henrique Porchat; a sede da Congregação Mariana de Santos, à Rua 7 de Setembro; a sede da Congregação Mariana dos Operários, o edifício da Cúria Diocesana.

***

Na Catedral, têm seus consistórios a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário Aparecida (padroeira), a Irmandade de Nossa Senhora do Amparo e a Confraria de Nossa Senhora de Fátima. Existem também as seguintes associações religiosas: de Nossa Senhora do Rosário Perpétuo, com missa e comunhão geral mensalmente; das Mães Cristãs, idem; da Corte de S. José, idem nos dias 19 de cada mês; Apostolado da Oração, seção masculina e feminina, ambas com missa e comunhão geral nas primeiras sextas-feiras; da Congregação da Imaculada Conceição, com missa e comunhão geral nos 8 de cada mês; Congregação Mariana, para moços e casados; Pia União das Filhas de Maria, Pia União das Rosaristas e Associação dos Santos Anjos com comunhão geral mensalmente. Reúnem-se ainda na Catedral as Conferências Vicentinas de Nossa Senhora do Rosário Aparecida e de São João Bosco, às terças e segundas-feiras, respectivamente.

É atualmente cura da Catedral o revmo. sr. padre Francisco Lino dos Passos, o qual foi transferido de S. Vicente, tomando posse no dia 2 de maio de 1937, e coadjutor o revmo. padre Alfredo Pereira Sampaio, ordenado a 18 de abril, tendo tomado posse de coadjutor a 9 de maio de 1937.

VENERÁVEL ORDEM TERCEIRA DE SÃO FRANCISCO DA PENITÊNCIA, ERETA EM SANTOS EM OUTUBRO DE 1641

Entre as antiguidades de Santos é justo que, ao comemorar-se o primeiro centenário da elevação de vila a cidade, tracemos apenas em resumo o que é a Ordem Terceira de S. Francisco da Penitência, pois para um trabalho com mais prolixidade seriam precisas grandes e muitas páginas de jornais, e muitos volumes se fossemos publicar seu arquivo histórico.

Logo no começo do convento de Santo Antonio, teve também início a Fraternidade da Ordem Terceira em Santos, em 20 de outubro de 1641, funcionando no mesmo convento até ao ano de 1689, quando foi construída sua capela com entrada pelo arco construído na igreja de Santo Antonio.

Foi o revmo. padre frei Francisco Coimbra quem fez as primeiras vestições de irmãos e irmãs terceiros na data supra citada. Passado um ano, como preceitua a Regra da Ordem Terceira, fizeram profissão os primeiros irmãos terceiros e logo em seguida foi constituído o primeiro Definitório, sendo seu primeiro ministro, em 1641, Manoel da Silva Vasconcellos. Desde então passou a Fraternidade a funcionar com toda a regularidade, porém o seu primeiro estatuto, obra que foi feita com muito capricho, à mão, foi confeccionado em 1646.

A capela da Ordem Terceira foi edificada em 1689, juntamente com o claustro e noviciado, e sua inauguração foi feita em 24 de março de 1691, sendo provincial frei Eusébio da Expectação e comissário frei Agostinho da Conceição, que benzeram e celebraram nela a primeira missa na data supra citada, sendo ministro Gaspar Rodrigues Vianna.

O primeiro Estatuto durou 100 anos, tendo sido reformado e feito acréscimo em outro, em 1750.

Em 1823, a Ordem teve como hóspede (que também o era do convento), o revmo. padre João Maria Mastal Ferretti, que ia em missão apostólica ao Chile, padre este que depois foi Papa, com o nome de Pio IX. Em 8 de dezembro desse mesmo ano, a Ordem Terceira fez sair à rua uma imponente procissão de Nossa Senhora da Conceição, saindo debaixo do pálio o citado padre Ferretti (Pio IX depois). Note-se que ainda não era dogma o culto da Imaculada e foi o citado Pio IX quem o promulgou em 1854, porém, nas Ordens Franciscanas, já se faziam as festas da Imaculada Conceição.

Em recordação deste fato, a Ordem Terceira de São Francisco da Penitência da cidade de Santos tem o privilégio de usar uma medalha de Nossa Senhora da Conceição, em prata, pendente em fita azul ao pescoço, conforme Breve da Nunciatura Apostólica, de 1861.

Em 1860, quando foi demolido o convento antigo para dar lugar à estação da estrada de ferro, a Ordem Terceira muito lutou para que não fosse demolida a igreja de Santo Antonio, e não o foi. Ela aí está atestando sua existência três vezes secular - 1640. Em 1861 veio um "Aviso" do Império, constituindo a Ordem Terceira depositária da igreja e que conservou até o ano de 1922, quando fez entrega da mesma para instalação dos Frades Menores e criação de uma paróquia no Valongo. Era arcebispo de São Paulo o saudoso d. Duarte Leopoldo e Silva.

***

Passaram pelo quadro de irmãos terceiros da Ordem os grandes vultos santistas que deixamos de mencioná-los para não ocupar muito espaço, e apenas citamos nos tempos mais modernos: visconde de Embaré, brigadeiro José Ferreira de Azevedo e logo na proclamação da República, em 1889, o então capitão do Porto, que foi depois o primeiro ministro da Marinha, almirante Wandenkolk.

Temos, assim, um pálido resumo histórico da Ordem Terceira, que se prepara para comemorar agora o seu terceiro centenário de existência, em 1941.

A atual Mesa Definitória é a seguinte: - ministro, Alexandre Chasseraux; vice, Antonio Freire de Oliva; secretário, Reynaldo Cruz; síndico, João Hermano Carneiro; procurador, Joaquim Ferreira Neves; mestre de noviços, João Luís Promessa; primeiro vigário do culto, Alfredo Greco; segundo vigário do culto, Luís Sessa Greco; definidores, dr. Manoel Hyppolito do Rego, Marciano Ballio, João Baptista de Azevedo e Alberto Xavier de Moraes.

A VENERÁVEL ORDEM TERCEIRA DO CARMO, DE SANTOS

Conforme consta do Compromisso respectivo, aprovado em 8 de janeiro de 1910, pelo saudoso primeiro arcebispo de S. Paulo, d. Duarte Leopoldo e Silva, não se pode precisar, com certeza histórica e cronológica, o dia do mês e ano da criação da Venerável Ordem Terceira do Carmo desta cidade de Santos, nem os nomes dos membros que a instituíram, assim como indicar o do religioso carmelita que lhes impôs o hábito, recebendo os votos e juramentos de sua profissão, pois não se encontra no arquivo da Ordem, nem tampouco no Convento, sequer uma réstia de luz que nos esclareça a respeito.

Mesmo sobre a solenidade da bênção da pedra fundamental da sua capela, hoje igreja, é muito resumido o que consta: apenas se diz que, a 4 de setembro de 1752, dia de Santa Rosa de Viterbo, lançou-se aquela pedra, com a epígrafe "Ad majorem dei gloriam", no ano segundo do Pontificado de Benedito XIV, tendo sido a mesma conduzida, até ao local onde lançada foi, pelo prior da mesma Venerável Ordem do Carmo, Miguel das Águias Cordeiro, pelos irmãos Manoel Jorge e Sebastião de Alvarenga Braga, e pelo ministro da Ordem de S. Francisco da Penitência, João José da Silva, capela que foi benta em 8 de abril de 1760 pelo visitador frei Bento de Sant'Anna, sendo prior da Ordem Terceira Antonio José de Carvalho, secretário do padre Leonardo João de Moura e comissário frei Miguel dos Anjos Macedo.

É bem provável que o livro em que fora escrita ou lavrada a ata de seu início, bem como o termo de sua fundação, tivesse sido devorado pelo fogo que destruíra o prédio de propriedade e residência do irmão prior Antonio José de Carvalho.

Todavia, o que não se pode contestar, ou por em dúvida, é que antes do ano de 1752, data da construção da capela, atual igreja, já tinha a Venerável Ordem Terceira do Carmo existência legal, com definitório constituído e funcionando na igreja dos religiosos carmelitas. Ainda mais: o Convento do Carmo desta cidade foi fundado em 1581 e, após sua fundação, aqueles religiosos criavam a Ordem Terceira.

Em 26 de abril de 1859, quando José Adorno e sua mulher, d. Catharina Monteiro, doaram aos religiosos carmelitas a capela da Graça, já existia aqui a Ordem Terceira do Carmo, porque, segundo consta do arquivo do Convento do Carmo desta cidade, frei Pedro Vianna, que tomou posse a 1º de setembro de 1859, era vigário, prior e comissário daquela Ordem Terceira.

Do mesmo arquivo consta igualmente a carta patente, de 28 de novembro de 1587, que concedia ao referido religioso carmelita faculdade para vir ao Brasil assumir a jurisdição dos outros carmelitas que aqui já se achavam, os que com ele vinham e os que viessem depois, bem assim fundar conventos nas partes - onde bem lhe parecesse conveniente ao culto divino ou ao serviço de Deus, e conceder o hábito do Carmo a quaisquer seculares que dele fossem dignos, carta patente essa que foi dada pelo Comissário Geral dos Carmelitas àquele tempo, frei Simão Coelho.

Pelo Compromisso aprovado pelo saudoso d. Duarte Leopoldo e Silva e devidamente registrado, e acordo com a lei, em 26 de dezembro de 1910, a Ordem Terceira do Carmo adquiriu personalidade jurídica; era então seu prior o irmão coronel Benedicto Ernesto Guimarães, a quem ela deve relevantes serviços, como seja, dentre outros, a reforma da sua igreja.

Esse Compromisso foi reformado depois, de acordo com a nova Regra que se expediu, e aprovado o novo por Provisão de d. José Maria Parreira Lara, saudoso primeiro bispo desta Diocese, aos 11 dias de fevereiro de 1928, cujo registro legal se fez em 26 de junho do dito ano, nos termos da lei n. 173, de 10 de setembro de 1893, e dos artigos 18 e 23 do Código Civil; esse Compromisso, que é o que se acha em vigor, foi aprovado em sessão da Mesa Geral realizada em 26 de dezembro de 1927.

ORDEM TERCEIRA DE SÃO FRANCISCO DA IGREJA DE SANTO ANTONIO DO EMBARÉ

Em 18 de abril de 1937, foi canonicamente ereta na Igreja de Santo Antonio do Embaré a Veneral Ordem Terceira de São Francisco.

Regendo-se pelas Regras gerais das Ordens Terceiras de São Francisco de Assis, em 24 de novembro de 1938, a autoridade diocesana aprovou os estatutos, concedendo licença para adquirir personalidade jurídica. Funciona na Igreja de Santo Antonio do Embaré.

A sua primeira Mesa Administrativa foi composta dos seguintes membros: diretor - frei Manuel de Serenhano, O. M. Cap.; ministro - Alexandre Negrini; ministra - Elsa Maria Lopes; vice-ministra - Zilda Tavares; secretária - Adriana Nazareth Martins; segunda secretária - Maria Amélia Pereira de Oliveira; tesoureiro - Fillippo Tomaselli; mestre de noviços - Antonio Rodrigues; mestra de noviças - Affonsina Proost de Sousa; conselheiro - Angelo Danelon; conselheiras - Beatriz Jardim Silveira e Adélia Carneiro Chaves.

IRMANDADE DO SANTÍSSIMO SACRAMENTO DA CATEDRAL DE SANTOS

A Irmandade do S.S. Sacramento é uma das antigas irmandades de Santos.

Em 1909, o exmo. e revmo. sr. dom Duarte Leopoldo e Silva, arcebispo metropolitano de São Paulo, por motivos que não nos cabe expor nem muito menos discutir, houve por bem suspender a referida Irmandade.

Em 1925, foi levantada essa suspensão pelo exmo. e revmo. sr. dom José Maria Parreira Lara. No dia 25 de dezembro desse ano, com prévio assentimento do exmo. sr. bispo, foi eleita a Mesa provisória, assim constituída: provedor - Álvaro Pinto da Silva Novaes; secretário - Anthero Rodrigues da Silva; tesoureiro - cap. Antonio Bento de Amorim.

Em 25 de dezembro de 1927, houve assembléia geral para a Restauração religiosa da Irmandade do S.S. Sacramento, tendo s. excia. revma. o sr. bispo diocesano, dom José Maria Parreira Lara, celebrado a missa.

A atual mesa administrativa está assim constituída: provedor - Benedicto Baccarat (benemérito); vice-provedor - Abel Gonçalves de Freitas (benemérito); secretário - Leon Doneux (benemérito); tesoureiro - cap. Antonio Bento de Amorim (benemérito); procurador - Achibaldo Martins Serra (benemérito). Mesários: Anthero Rodrigues da Silva (benemérito), cel. Sebastião Brasil de Castro Rios (benemérito), cel. Evaristo Machado Neto, José Pereira Nobrega, José de Oliveira Ferreira, Manoel Dias Júnior, Abílio Francisco de Carvalho, Genaro Dante.

CONFRARIA DE NOSSA SENHORA DA BOA MORTE

A Confraria de Nossa Senhora da Boa Morte é uma associação religiosa das mais antigas da cidade, pois foi fundada em tempos remotos, na igreja da Misericórdia, construída na atual Praça Mauá, no ano de 1652.

Diz a tradição que a Confraria foi fundada no ano de 1750 e esta afirmativa tem a sua razão de ser, porque, quando o convento do Carmo tratou de construir a torre da atual igreja, em 1752, consta do arquivo do Convento que a Confraria de Nossa Senhora da Boa Morte contribuiu avantajadamente para auxiliar a construção.

Tendo a igreja da Misericórdia ameaçado de ruína e havendo necessidade de demoli-la ou reconstruí-la, a Confraria viu-se na contingência de transferir a sua sede para outra igreja e certamente a vida espiritual da Confraria esteve intimamente ligada aos revmos. padres Carmelitas, tendo estes sacerdotes facilitado à Confraria a sua transferência para a igreja do Convento, onde atualmente se encontra.

Os fins principais da Confraria foram sempre e continuam sendo:

1º - Promover o culto e a veneração de Nossa Senhora da Boa Morte,

2º -  Manter entre os irmãos espírito de fé e confessar publicamente os princípios religiosos e os ensinamentos da Igreja Católica, professando o máximo respeito e obediência incondicional às autoridades eclesiásticas,

3º - Dar sepultura em seu jazigo aos irmãos falecidos e bem assim a seus filhos menores de 7 anos, sendo legítimos.

A Confraria sempre humilde e submissa à direção espiritual conta hoje com 550 irmãos ativos de ambos os sexos, todos excelentes católicos praticantes, e está fadada a ocupar um lugar de grande relevo entre as irmandades da cidade, porque se encontra em franco aproveitamento, tanto espiritual como material.

IRMANDADE DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO

A Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, que tem o seu consistório e sua sede na igreja da Praça Rui Barbosa, é uma das mais antigas de Santos.

Em documentos velhos ela surge a cada passo sob a designação de irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens de Cor. Numa passagem de um Livro de Tombo da Paróquia de 1746, em que o vigário descreve a Matriz, lê-se: "Defronte da referida Capela (do Santíssimo) para a parte da Epístola está o altar da Senhora do Rosário dos Pretos..."

A Igreja de Nossa Senhora do Rosário foi durante alguns anos a Matriz provisória e de 9 de novembro de 1938 a 25 de janeiro de 1939 tem a honra insigne de substituir a Sé Catedral da Diocese de Santos.

É capelão da Irmandade desde 1926 o exmo. monsenhor Luís Gonzaga Rizzo.

A Irmandade reconstruiu toda a igreja em 1930.

IRMANDADE DE NOSSA SENHORA DO TERÇO

Com seu consistório atualmente na Igreja Matriz de Nossa Senhora do Terço e São José de Vila Macuco, a Irmandade de Nossa Senhora do Terço é também das mais antigas da cidade de Santos. No documento a que acima nos reportamos, de 1746, já se encontram referências à sua oraga e à irmandade.

IRMANDADE DE S. BENEDICTO

Por fragmentos de livros encontramos os nomes das sras. Escolástica Maria, Rosa Luísa Cassemira, Anna Maria Marques Cruz e Rita de Jesus, que entraram para esta Irmandade no ano de 1818; e em outros fragmentos vários certificados que pela sua originalidade transcrevemos, tal qual se acham e que são: "Certifico e juro aos Santos Evangelhos, que disse duas Capellas de Missas, que esta Irmandade de S. Benedicto faz anoalmente selebrar, huma pelos irmaons vivos e difuntos e outra pelos irmaons falecidos e recebe a esmola de 400 réis por cada huma. O Referido hé verdade e por tanto passo o presente. Santos, 26 de Janeiro de 1845. (a) Joaquim Bento do Carmo".

"Certifico que no dia 28 de Dezembro do anno findo, se solemnisou nesta Matriz a festividade de S. Benedicto, com Missa cantada, sermão e procissão. E por ser verdade passei o presente de minha letra e firma. Cidade de Santos, 7 de Janeiro de 1846. (a) O vigario interino José Ignacio (o resto da assinatura é ilegível)".

Pelos dados acima, é para supor-se seja esta Irmandade uma das mais antigas desta Diocese.

IRMANDADE DE N. S. DO AMPARO

Foi esta irmandade fundada em 1746 e teve a sua sede na velha catedral, onde possuía sua capela, que administrava. Quando da demolição daquela catedral pra a reforma da Praça da República, foi esta irmandade indenizada do seu patrimônio pela Câmara Municipal de Santos, cuja importância a Mesa Administrativa daquela época desistiu de receber, em benefício da atual catedral, onde hoje tem esta irmandade o seu consistório e onde, devidamente autorizada pelas dd. autoridades eclesiásticas, mandou construir o altar onde se venera a imagem de Nossa Senhora do Amparo.

De acordo com as tradições da antiguidade, é dia consagrado a N. S. do Amparo o domingo de Pascoela, quando se realizam as solenidades em sua honra, as quais, de acordo com o compromisso da Irmandade, são sempre custeadas pela mesma.

Dentre os grandes vultos da sociedade santista que passaram pela sua administração, para só falarmos dos desta geração, destacamos os nomes dos falecidos srs. Antonio Ludgero dos Santos, reorganizador desta irmandade, e Antão Alves de Moura.

Presta ainda relevantes serviços, apesar da sua avançada idade, o companheiro inseparável daqueles falecidos senhores, o sr. Luís P. da Cunha Moreira, a quem esta irmandade muito deve, o qual tem passado por todos os cargos da sua Mesa Administrativa, sendo atualmente o seu provedor de honra.

Conta esta irmandade atualmente com 600 irmãos, possuindo no cemitério do Paquetá o seu jazigo, onde é dada sepultura aos seus irmãos falecidos.

Dirigem os destinos desta irmandade, atualmente, as seguintes pessoas: provedor de honra, Luís P. da Cunha Moreira (benemérito); provedor, Antolin Rocha Fernandes (benemérito); provedora, Orietta Ribas de Moura (benfeitora); secretário, Justino das Neves Ferreira (benemérito); tesoureiro, José Rodrigues Gatto (benemérito); procurador, José Domingues Duarte Junior. Mesários: Antonio Ferreira, Euclydes de Oliveira, Vicente de Santiago Peres, Gastão Rodrigues Gatto, Constâncio de Araújo Góes e Lúcio do Amparo (benemérito).

IRMANDADE DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO APARECIDA - PADROEIRA DA CIDADE E DA DIOCESE DE SANTOS

Entre as irmandades religiosas que, em Santos, tanto vêm pugnando em prol da propagação das doutrinas que exaltam a Igreja Católica, figura em plano marcante a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário Aparecida, padroeira da cidade e da diocese de Santos.

A história desse sodalício é das mais atraentes e sugestivas, estando pontilhada de exemplos sublimes de virtude.

Dirigem atualmente os destinos dessa Irmandade os seguintes cavalheiros: provedor, major Manoel Pedro dos Santos Silva; 1º secretário, Achibaldo Martins Serra; 2º secretário, Miguel Francisco Ferreira; tesoureiro, Bento Geraldo de Oliveira Salgueiro; procurador, cap. Antonio Bento de Amorim. Mesários: Antonio Rodrigues Fernandes, José Avelino Mendes, José Cortês Fereira, João Paula Martins, Júlio Francisco de Mello e Rodolpho Fereira.

(*) Leão do Norte - sacerdote e jornalista.


NOTA:

[1] Foi o padre Barbosa quem assistiu ao enlace matrimonial de Martim Francisco com uma sobrinha, filha do Patriarca, em novembro de 1818. Ao regressar Martim Francisco do exílio, em 1838, teve padre Barbosa a honra de registrar, no livro dos assentos de batizados, a José Bonifácio, o Moço, que nascera em Bordéus (França), em 1825, e que contava então 13 anos de idade. Estes e outros fatos de somenos importância dão a entender claramente que o então vigário de Santos mantinha estreitas relações com a família patriarcal.


A sagrada imagem de Nossa Senhora da Aparecida, padroeira da Cidade
Foto publicada com a matéria

Leva para a página seguinte da série