Clique aqui para voltar à página inicialhttp://www.novomilenio.inf.br/santos/h0184z50.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 06/10/08 22:09:24
Clique na imagem para voltar à página principal
HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - OS ANDRADAS - BIBLIOTECAClique na imagem para ir à página principal desta série
Império (6)

A história do Patriarca da Independência e sua família

Esta é a transcrição da obra Os Andradas, publicada em 1922 por Alberto Sousa (Typographia Piratininga, São Paulo/SP) - acervo do historiador Waldir Rueda -, volume II, com ortografia atualizada (páginas 830 a 856): 
Leva para a página anterior

SEGUNDA PARTE - INDEPENDÊNCIA OU MORTE!

Capítulo III - Fundação do império (final)

[...]

Retiro, enfermidade e morte de José Bonifácio

Desde a sua arbitrária destituição de tutor, ato que tão vivamente magoara seu delicado coração paternalmente rendido aos cuidados com a educação de seus imperiais pupilos, José Bonifácio não mais saíra da sua chácara de Paquetá. O amor da família era o suave reclinatório onde repousava ele, no anoitecer de sua longa e trabalhosa vida, aquela nobre cabeça, fatigada da elaboração constante dos mais generosos sentimentos e dos pensamentos mais altos.

Já então não tinha para arrimá-lo o conforto moral de sua dedicada esposa, que falecera a bordo quando voltavam do exílio, sendo enterrada a 27 de julho de 1829, na Igreja do Carmo, do Rio de Janeiro. Tais eram as condições de pobreza em que o Patriarca regressara à Pátria, que as despesas do funeral de sua mulher e o importe das passagens da França para cá foram supridos por Luís de Menezes Vasconcellos de Drummond, a quem, até 9 de setembro de 1934, não pudera ainda pagar, conforme se lê no testamento do honrado cidadão, peça que transcreveremos adiante.

Depois do seu processo e julgamento, que muito agravaram os padecimentos físicos, foi ele acometido de uma congestão cerebral que lhe trouxe como funesta conseqüência uma paralisia parcial. Dizia-se, então, que as suas potentes faculdades mentais, ressentidas com o inopinado fluxo congestivo, mostravam-se bastante debilitadas, mas sua neta, a viscondessa de Sepetiba, assevera que jamais lhe notou desacerto algum [1].

Sentindo-se piorar em seu estado, fez-se transportar para Niterói, onde os socorros médicos e outros eram mais fáceis de se obter. Aí, depois de doze dias em que esteve recolhido ao leito, veio a falecer numa casa da Rua do Ingá, pelas 3 horas da tarde de 5 de abril de 1838, contando pouco mais de 74 anos de idade.

Seu corpo foi embalsamado pelos doutores Octaviano, Joaquim Cândido Soares de Meirelles, Christóvão e José Maurício Faivre; e os intestinos foram enterrados na Igreja de S. Domingos, de Niterói, segundo um cronista meticuloso [2], ou na Capela de Nossa Senhora da Conceição, da mesma cidade, onde o padre Jerônymo Máximo Rodrigues disse uma missa de corpo presente, da esmola de quatro mil réis, a pedido de Martim Francisco, segundo uma notícia da Revista Popular, nº XII, de 1861 [3].

Enterro. Homenagens. Trasladação do corpo para Santos

O sepultamento, porém, foi transferido para o dia 8, às seis horas da tarde, segundo consta de uma comunicação assinada por António Carlos e publicada na imprensa. O corpo saiu de Niterói, à hora marcada, na galeota imperial, chegando ao Largo do Paço às 7 horas da noite. Grande massa popular e o elemento oficial o aguardavam respeitosamente. Os navios de guerra e mercantes, quer nacionais como estrangeiros, cruzaram as vergas e içaram as bandeiras a meio-pau.

Na rampa do Largo do Paço, onde atracou a embarcação, pegaram nas alças do féretro os senadores marquês de Paranaguá, Luís José de Oliveira, João Evangelista de Faria Sayão Lobato e António Francisco de Paula Hollanda Cavalcânti de Albuquerque. Em meio do Largo foram substituídos por membros da Academia Imperial de Medicina, da qual o ilustre sábio era sócio titular desde 1832. Uma banda de música marchava à testa do préstito, executando peças fúnebres. À porta da Igreja da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo, entregaram as argolas do caixão ao regente interino Pedro de Araújo Lima, aos ministros d'Estado e ao bispo de Anemúria, que o depositaram sobre a eça.

Do cais Pharoux ao templo, a Guarda Nacional estendia-se em alas, por entre as quais passou o caixão, que ia aberto, deixando ver o corpo revestido da insígnia de Cavalheiro da Ordem de Cristo, que recebera de d. João, quando regente. De uma das janelas do Paço, d. Pedro 2º, trajando rigoroso luto, assistia, na inconsciência de seus treze anos, ao desfilar do fúnebre cortejo.

Um piquete da Cavalaria de Minas acompanhou os despojos, e, na orla do cais, por ordem do marquês de Itanhaém, foram colocados vários criados, de galão de ouro, da Casa Imperial, um coche mortuário e uma carruagem de honra. Postou-se, ainda por ordem do tutor, uma guarda de archeiros, desde o átrio da Igreja até a Capela-Mor.

Depois de encomendado o corpo pelos cônegos da Capela Imperial, a artilharia e a infantaria deram três descargas com suas peças e mosquetes, e os membros da Academia de Medicina conduziram o caixão até as catacumbas da igreja.

Pronunciaram, então, sentidos discursos o doutor Silveira da Mota, em nome da Assembléia Legislativa da Província do Rio de Janeiro, e outros oradores de destaque, representantes de diversas corporações a que pertencia o ilustre brasileiro. As exéquias terminaram por volta das 9 horas da noite [4]. Tanta gente compareceu, que muitos convidados não puderam penetrar no interior do templo.

O corpo do insigne patriota ficou depositado na Igreja do Carmo até o dia 25 do mês do seu falecimento, data em que sua dedicada filha dona Gabriela o fez trasladar para sua terra natal, onde foi sepultado na Capela-Mor da Igreja do Convento do Carmo, segundo sua expressa recomendação testamentária, e ali se manteve longos anos, esquecido de seus parentes, de seus amigos, de seus conterrâneos, de seus concidadãos e de seu pupilo, o imperador d. Pedro 2º. Dois anos depois - a 17 de setembro de 1840 -, o promotor interino dos Resíduos de Niterói, dr. Alexandre Moreira de Sousa Requião, mandou que o testamenteiro provasse que a disposição do testador, nesse particular, fora cumprida fielmente, mas dos autos nada consta a respeito.

Seu testamento, datado de 9 de setembro de 1834, feito pelo padre Luís da Veiga Cabral, e não pelo tabelião que o  aprovou, segundo erroneamente afirma J. J. RIBEIRO [5], foi aprovado no mesmo dia por Francisco Manuel de Mello, tabelião e escrivão do Juízo de Paz do Distrito e Freguesia do Senhor Bom Jesus do Monte da Ilha de Paquetá. Assinaram-no como testemunhas José Martins Vianna de Castro, José Narciso de Cerqueira, João Pereira de Carvalho e Silva, Joaquim António de Almeida, João Francisco Graça e João Marcellino Rodrigues.

Apresentado pelo seu testamenteiro, o desembargador Francisco de França Miranda, ao escrivão interino da Provedoria de Niterói, Silvestre dos Reis Nunes, mandou registrá-lo e cumpri-lo o juiz municipal interino, Manuel de Frias e Vasconcellos [6].

Várias homenagens foram prestadas à memória do maior dos estadistas brasileiros de todas as épocas: a Assembléia Provincial do Rio de Janeiro tomou luto por 8 dias [7]; no Grande Oriente Maçônico do Brasil, seu irredutível adversário doutros tempos, José Clemente Pereira, pronunciou eloqüente discurso, em honra do "filósofo distinto, que honrou o Brasil dentro do País e no Estrangeiro; o ministro ardente, sábio e patriota, que soube granjear-se o invejado título de Pai da Pátria, o amigo por excelência do sr. d. Pedro 1º e como imortal Fundador do Império!" [8].

Pedra sobre o túmulo de José Bonifácio (N.E.: até 1922)

Imagem publicada com o texto

O seu túmulo. Lápide do artista A. C. Carmo. Monumento de Bernardelli. O Pantheon dos Andradas

Passando certa ocasião por Santos o artista eqüestre António Carlos do Carmo, natural de Franca, neste Estado, admirou-se de que sobre o túmulo de tão eminente repúblico ainda não houvesse ao menos uma singela campa, e mandou fazê-la à sua custa, a 7 de setembro de 1869, com os seguintes dizeres inscritos no mármore: - "Aqui jaz o Patriarca da Independência do Brasil, grande e desinteressado patriota, distinto cidadão, José Bonifácio de Andrada e Silva. Tributo à virtude, honra ao mérito pelo artista A. C. do Carmo. Santos, 7 de setembro de 1869, 47 anos".

Tão certo, porém, é que os feitos do grande patrício tinham caído no mais injusto oblívio, que só três anos depois é que a pedra, cuja reprodução gráfica damos aqui, foi sobreposta ao seu túmulo a 23 de agosto, segundo MOREIRA DE AZEVEDO [9], ou a 7 de setembro, segundo ESTÊVÃO LEÃO BOURROUL [10].

A 7 de setembro de 1872 inaugurou-se na Corte, no Largo de S. Francisco de Paula, a sua estátua em bronze; e em S. Paulo, a idéia de se erigir um condigno monumento sobre seu túmulo partiu, em 1885, do então presidente da Província, dr. José Luís de Almeida Couto [11]; mas somente no ano seguinte, já sob a presidência do conselheiro João Alfredo Correia de Oliveira [12], é que o deputado, coronel Joaquim Benedicto de Queirós Telles, depois barão do Japy [13], apresentou à Assembléia Provincial, na sessão de 18 de fevereiro, um projeto de lei, autorizando o governo a gastar até a quantia de seis contos de réis com aquele fim.

Ao  entrar em 3ª discussão o projeto, o deputado dr. António Cândido Rodrigues, representante do 6º distrito eleitoral, de que Santos fazia parte, ofereceu-lhe uma emenda, que foi aprovada, elevando a 10 contos a verba proposta. Convertido em lei, foi esta sancionada a 9 de março de 1886. Achando-se que ainda era insuficiente a dotação votada, abriram-se, em várias localidades da província, subscrições populares que renderam 2.216$000.

Contratado o projeto e execução do monumento com o ilustre escultor Rodolpho Bernardelli, executou-o ele na Itália; e é, incontestavelmente, uma das obras-primas de seu magnífico cinzel. Chegados de Gênova, a bordo do vapor italiano Carlo Re, 19 caixões, contendo as diferentes peças da imponente obra, jazeram por largo tempo abandonados num dos armazéns da Alfândega, por falta de pagamento dos respectivos direitos de entrada.

Um belo dia, os editais da imprensa anunciaram o leilão oficial do monumento; o coração do povo santista pulsou de indignação e revolta diante de tamanha indiferença por parte do Governo Imperial, e o alto comércio local, escutando o clamor da pública opinião, não consentiu que passassem a mãos particulares, para fins industriais, aquelas notáveis peças de bronze e mármore, nas quais o gênio do artista insigne se enlaçara com o gênio do estadista incomparável, na construção de uma obra, que honra a cultura estética de nossa geração; e a Sociedade Humanitária dos Empregados no Comércio, por indicação do sr. Ernesto Cândido Gomes, teve a iniciativa de impedir o atentado, com que mais uma vez o Governo Imperial desrespeitava a sagrada memória do Fundador de nossa nacionalidade.

Formou-se, pois, uma comissão, composta do referido sr. Ernesto Cândido Gomes e mais os srs. António de Lacerda Franco, Affonso de Vergueiro, Francisco Emílio de Sá, Ignácio Penteado e António Carlos da Silva Telles - dos quais existem atualmente apenas o segundo e o último - e a 9 de agosto de 1889 arrematava ela, pela quantia de 3 contos, o monumento posto em licitação pública, a quem mais oferecesse, pela alta administração política do País [14].

Havendo necessidade, para assentamento do mausoléu, de transferir-se da igreja para o claustro do Convento do Carmo, os despojos mortais do Patriarca, a Comissão, depois de obtida vênia do cônego Luís Alves da Silva, nosso contemporâneo, hoje falecido, e então procurador do Irmão Visitador da Ordem [15], procedeu à respectiva exumação, a 7 de dezembro de 1889, já sob o regime republicano, inaugurado não havia um mês.

Achavam-se presentes os drs. Martim Francisco Filho e Martim Francisco Sobrinho (ora falecido) e José Bonifácio de Andrada e Silva Filho, netos do grande varão. Levantada a modesta lápide mandada colocar pelo artista eqüestre António Carlos, que na frase de José do Patrocínio, "furando arcos de papel atravessou as páginas da História, ligando o seu modesto nome ao do grande brasileiro", retirou-se da sepultura um caixão de chumbo, muito deteriorado, "mostrando vestígios de um outro de madeira que o cobria", segundo reza a ata que na ocasião se lavrou.

Encerrados numa caixa os restos encontrados, foram em seguida depostos no mausoléu, observando-se durante o ato todas as cerimônias prescritas pelo ritual católico, das quais se encarregou o mencionado cônego Luís Alves da Silva. Assinaram a ata, além dos membros da Comissão e dos netos de José Bonifácio, os srs. José Elias do Amaral Rocha, José S. Vergueiro (já falecidos) e dr. Frederico Vergueiro Steidel, lavrando o termo de encerramento o cônego celebrante.

O monumento representa José Bonifácio exatamente como foi conduzido da rampa do Paço para a eça mortuária da Igreja do Carmo; revestido das insígnias de Cavaleiro de Cristo dentro do caixão aberto. Mas a Comissão de 1889, interpretando mal o pensamento do artista, entendeu que por estar o morto no seu féretro, devia ser de novo enterrado; e colocou o monumento dentro da sepultura, o que é um absurdo, porque ninguém desce à cova em caixão aberto. O monumento é para ser posto sobre um pedestal simbolizando uma eça, em exposição constante à veneração da Pátria, e esse pedestal deve ser erguido sobre a sepultura onde repousam os restos do varão preclaro.

Agora que, graças aos esforços da nova Comissão santista, encarregada de render aos Andradas as homenagens da terra de seu berço, conjugados com os da Câmara local, os do Governo do Estado e os do Governo Federal, está-se construindo n claustro do Convento do Carmo o Pantheon destinado a perpetuar os serviços e a memória da trindade ilustre - é oportuno que se não reincida no erro anterior.

Por ocasião de celebrar-se o primeiro centenário de nossa emancipação política, inaugurou-se em Santos, na Praça Marechal Deodoro, com a presença do mundo oficial e muito povo, um monumento erguido aos três vultos, em nome de sua terra agradecida, pela Câmara Municipal, auxiliada pelos governos do Estado e da União.

A Comissão Executiva que levou a cargo essa tarefa compunha-se dos srs. António de Freitas Guimarães Sobrinho (presidente), Carlos Luís d'Affonseca (vice-presidente), João Manuel Alfaya Rodrigues (tesoureiro), coronel Joaquim Montenegro (1º secretário), Benedicto Pinheiro (2º secretário), dr. Domingos José Nogueira Jaguaribe, Benedicto Calixto e dr. Eugénio Egas.

A Municipalidade que concluiu e inaugurou o monumento, obra do escultor A. Sartori, era constituída dos srs. dr. Benedicto de Moura Ribeiro, presidente; João Manuel Alfaya Rodrigues, vice-presidente; coronel Joaquim Montenegro, prefeito; Arnaldo Aguiar, vice-prefeito; Benedicto Pinheiro, dr. José de Sousa Dantas, dr. Heitor de Moraes, Alberto Leal, coronel Manuel de Azevedo Sodré, Belmiro Ribeiro de Moraes e Silva, Alfredo Freire e João Gonçalves Moreira.

A iniciativa da construção do Pantheon cabe ao comendador João Alfaya, que a apresentou à Câmara Municipal de que fazia parte, ainda no tempo do Império - em 1888 -, e que, como vice-presidente da Câmara atual, teve o prazer de ver a sua idéia convertida em realidade.

Testamento de José Bonifácio

O Pantheon está sendo construído no próprio Convento do Carmo, e não noutro local mais vasto e mais acessível à visitação do público, em respeito a uma disposição testamentária do Patriarca, que declarou querer que seus despojos fossem enterrados na Igreja daquele Convento [16].

Primitivamente se achavam na capela-mor da dita igreja, mas para que pudessem receber o monumento de Bernardelli, foram transferidos em 1889 para o centro do claustro do Mosteiro.

***

Analogias entre José Bonifácio e Benjamim Constant

Singulares as analogias que na sua carreira pública, tão cheia de fecundos serviços ao País, nos apresentam José Bonifácio - o Fundador do Império - e Benjamim Constant - o Fundador da República! Não menos singulares nem menos curiosas as similitudes que se observam entre alguns acontecimentos da época da Independência e outros dos primeiros tempos da transformação do regime.

Ambos os Patriarcas viveram até a velhice, estranhos completamente às lutas cívicas que abalaram a Nação, absorvidos inteiramente nos seus estudos científicos, nas suas elucubrações filosóficas ou nos deveres de seu magistério. Esse alheamento só foi interrompido uma única vez, na mocidade de cada um deles, e por motivo de ordem militar: - José Bonifácio pegou em armas para combater intrepidamente na Metrópole a invasão napoleônica; Benjamim Constant, quando invadido o Brasil por forças paraguaias, marchou contra o inimigo em defesa de nossa Bandeira. Depois disso, continuaram ambos entregues às suas exclusivas preocupações teoréticas.

Aos 59 anos, porém, entra José Bonifácio para a vida política; é quando, solicitado pela grave situação em que se encontrava o Brasil, desamparado pela ausência de d. João VI, que regressara para Lisboa, convenceu-se de que tal situação só admitia um enérgico remédio - a independência, a organização autonômica de uma nova Pátria.

Aos 51 anos, Benjamim Constant, impressionado também com os  destinos futuros do País, em vésperas de uma mudança de reinado, que a elite da Nação em peso repelia, entra resolutamente para a vida política, levado pela serena convicção de que somente a transformação radical do regime, a fundação da República, evitaria os males que nos aguardavam.

José Bonifácio viu no príncipe d. Pedro, abespinhado com o governo da Metrópole, pelas desconsiderações com que publicamente o achincalhava a cada passo, o admirável instrumento de que se serviria para conseguir seus patrióticos objetivos.

Benjamim Constant vislumbrou, na alma ardente do velho e impetuoso general Deodoro da Fonseca, que o governo brasileiro irritava com suas desconfianças afrontosas e duras perseguições, o braço forte que deveria auxiliá-lo para a consecução de seu alevantado ideal.

D. Pedro, até a data em que proclamou a independência, hesitava se devia operar uma separação política absoluta entre os dois reinos, ou apenas organizar autonomicamente o Reino Brasileiro, mantendo à testa de ambos seu amado pai. Foi preciso, no momento azado, que a palavra de José Bonifácio, nos campos do Ipiranga, lhe apagasse do espírito todas as dúvidas e o propelisse a adotar francamente o primeiro alvitre.

O marechal Deodoro também hesitava, quando comandou as forças revolucionárias em 15 de novembro, se devia restringir-se a solicitar do imperador a formação de um novo gabinete, em cujos homens confiasse a Nação e confiasse o Exército, continuando Sua Majestade a reinar constitucionalmente; ou se, atendendo aos apelos dos chefes republicanos, seus companheiros de jornada, às vozes da mocidade e aos clamores da opinião, devia ir mais longe nos seus propósitos, derribando a Monarquia centralizadora e substituindo-a pela República federativa. Foi um discurso eloqüente de Benjamim Constant, nas vésperas da vitória, que o dissuadiu de seus escrúpulos e o levou até a proclamação do novo regime [17].

D. Pedro não queria faltar à lealdade respeitosa que devia a seu pai, arrebatando-lhe o seu mais rico tesouro; a Deodoro repugnava privar do trono o velho imperador de quem era devotado amigo. Por uma falsa apreciação, ambos colocavam os sentimentos pessoais acima dos sentimentos gerais; a dedicação individual mais alto que o devotamento cívico.

Feita a independência, mas ainda não consolidada, os áulicos, os intrigantes, os ambiciosos de poder, os pretensores às posições de comando, atiraram d. Pedro contra seu ministro, e este, ferido na sua dignidade, demitiu-se do Governo, sendo pouco depois reintegrado. Idênticos elementos cavaram entre o chefe do Governo Provisório e o seu ilustre ministro uma situação igual: Benjamim resignou às suas funções, mas Deodoro, passados os momentâneos ímpetos da ira insopitável, manteve-o no seu cargo.

D. Pedro foi mais longe nas suas ingratas manifestações contra o velho Andrada, porque, mais tarde, numa nova e insuperável crise, concedeu-lhe a demissão outra vez solicitada.

O primeiro imperador dissolveu arbitrariamente a Assembléia Legislativa, só porque movia ao seu governo uma viva oposição parlamentar; o primeiro presidente da República dissolveu à força o Congresso Nacional porque nele os espíritos realmente republicanos estavam alerta contra os desmandos do poder e suas constantes violações do Pacto Constitucional.

Não foram os promotores da Independência, nem os propagandistas da República, mas os aderentes de uma e outra causa, que levaram à prática daquele duplo atentado o jovem imperante e o velho presidente.

José Bonifácio, embora instado pelo imperador e pelos amigos reconhecidos a seus grandes serviços, nada quis receber em recompensa deles, recusando todos os títulos que lhe foram ofertados. Benjamim Constant, surpreendido com a manifestação coletiva, militar e civil, que guindou Deodoro a Generalíssimo do Exército (por sinal que d. Pedro se intitulou a si mesmo Generalíssimo do Império...) e promoveu ilegalmente vários oficiais, só não recusou sua elevação revolucionária a general, para não melindrar o orgulho do chefe do Governo, mas sempre declarou aos seus amigos que aqueles bordados lhe queimavam os pulsos; e recomendou que queria baixar ao túmulo com sua farda de coronel, no que foi atendido religiosamente por sua digna família.

Ambos puseram sempre o amor da Pátria acima das ambições do Poder; as recompensas quaisquer valiam para eles menos que a satisfação do dever cumprido, que os esforços empregados em favor de seus concidadãos e a bem de seu País.

Em duas coisas, porém, foram dessemelhantes esses grandes patriotas: a primeira, é que ao Fundador da República faltava aquela vasta preparação literária, científica e filosófica que tornou José Bonifácio uma figura até agora não reproduzida no decurso de nossa evolução.

Quanto à segunda, basta lembrarmos que o Patriarca da Independência, com a grandeza de seu gênio iluminado pelo saber, compreendeu,a bordou, estudou e resolveu simpaticamente todos os aspectos fundamentais do complexo problema de nossa nacionalidade, como já vimos em diversas passagens desta obra, e só não deu execução prática às acertadas soluções a que chegou, porque se viu logo afastado das esferas governamentais; ao passo que Benjamim Constant, surgido numa época mais esclarecida e agindo num meio social e político mais amplo e melhor preparado, não teve a mesma aguda e certeira visão do estado mental e moral de nossa Pátria ao tempo da proclamação da República.

Dispondo de grande e merecido prestígio, pelos seus talentos reais e virtudes notórias, junto às classes armadas e à opinião civil, hesitou, entretanto, em promover certas e urgentes reformas, principalmente as que se referiam à plenitude da liberdade espiritual, realizou outras de maneira incompleta e nalguns pontos contrárias à realidade de nossa evolução histórica e aos mesmos princípios doutrinais em que se inspiravam suas convicções políticas.

Ambos, porém, moveram-se impulsionados sempre pelo sentimento do bem público, procurando servir a sua terra, melhorar a cultura de seus filhos e elevar o nome brasileiro no conceito da Civilização; e por isso acolheu-os a Glória no regaço da Imortalidade.

***

Ação parlamentar de António Carlos e Martim Francisco

A legislatura de 1830-33 não correra trabalhosa para Martim Francisco unicamente quanto ao seu aspecto político. Os notáveis, os primorosos discursos que fez, principalmente em defesa de José Bonifácio, muito avivam o intenso fulgor de sua glória parlamentar. Mas não lhe são de forma alguma inferiores os que pronunciou a respeito de questões financeiras e econômicas, criticando orçamentos, lembrando medidas, propondo reformas.

A 7 de junho de 1833 proferiu uma oração realmente admirável pela substância e pela forma, fundamentando o projeto de criação do novo Banco do Brasil, pois que o primitivo fora extinto pela lei de 23 de setembro de 1829. Esse projeto, que dispunha, em 11 capítulos e 81 artigos, sobre a constituição do capital do banco, a natureza das operações, o saneamento do meio circulante pela queima de papel moeda até certo limite, e a faculdade emissora conferida ao instituto planejado, não foi tomado na devida consideração, nem pela Administração, nem pela Assembléia.

Outros discursos fez, em defesa de sua gestão financeira no Ministério da Independência, defesa que é cabal, brilhante e irrespondível; em oposição a um projeto, que afinal caiu, permitindo às municipalidades contraírem empréstimos, cujo produto fosse destinado a obras de utilidade pública; sobre o juro convencional, e outros assuntos de natureza semelhante.

Encerrada a legislatura, recolheu-se ele à amada e jamais esquecida terra de seu berço, indo residir na velha casa histórica da Rua Direita, em companhia de sua irmã dona Maria Flora. António Carlos já lá morava, em prédio de sua propriedade, à Rua de Santo António.

Enquanto as solicitações da política geral não os chamavam de novo para longe de seus penates, trabalhavam pelo adiantamento local, cooperando para a fundação da Sociedade Filantrópica e para a reconstituição da Irmandade da Misericórdia e seu respectivo hospital.

Em 1833 Martim foi eleito juiz de paz do 2º Distrito, segundo se lê de uma comunicação que a 29 de dezembro enviou à Câmara Municipal, escusando-se por motivos de doença [18]. Efetivamente, por essa época, aos 58 anos apenas de idade, a sua fortaleza orgânica de outrora estava sendo implacavelmente solapada por graves enfermidades que lhe causavam sofrimentos horríveis.

Sendo, pela sua robustez estrutural, o mais sadio, aparentemente, dos três irmãos, morreu mais moço que eles. Sofria, por essa época, de uma asma que, com o correr dos tempos, se lhe foi tornando contínua, agravada com uma hérnia umbilical, sujeita a estrangular-se, o que já lhe tinha acontecido por duas vezes, provocando no enfermo certas manifestações valvulares que o obrigavam a expelir as fezes pela boca, e pondo em grave risco sua existência. E para que "qualquer destas incuráveis moléstias" não comprometesse mais sua vida, era-lhe necessário manter-se em rigoroso regime dietético e higiênico e não interromper a profilaxia especial a que o tinham submetido o dr. Cláudio Luís da Costa e o cirurgião Manuel José Soares, que lhe tinham interditado expressamente a ocupação de qualquer cargo público [19].

Não obstante os seus crônicos padecimentos e a terminante proibição dos esculápios locais, chegou a tomar assento como suplente, de uma cadeira de deputado por S. Paulo, nos dois últimos anos do quatriênio de 1834-1837. António Carlos, eleito juntamente com seu irmão para a legislatura seguinte (1838-1841) - ambos como efetivos - por S. Paulo, seguiu na época legal a empossar-se de seu cargo; e foram também eleitos para a Assembléia Legislativa de sua província nos dois biênios de 1838-39 e 1840-41.

A situação geral do País não tinha melhorado. A luta republicana no Rio Grande do Sul continuava, e o governo revelava-se incapaz de pôr-lhe um termo; no Maranhão irrompe uma temerosa revolução, na qual tomaram parte contra o Poder constituído mais de três mil escravos armados, revolução que, começada em 13 de dezembro de 1838, só foi dominada pelo coronel Luís Alves de Lima e Silva a 4 de fevereiro de 1840.

Na própria Corte não amainara a inquietação dos espíritos; e a Regência lutava contra as manifestações de um povo insubmisso e a atitude de uma Assembléia insubordinada. Era realmente de grande sacrifício, exigindo excepcional devotamento, o posto primacial da Governação. Ao começar a legislatura de 1838, crescia a impopularidade do Governo, contra o qual tomou a luta parlamentar, no decorrer dos trabalhos, as mais vastas proporções. Os liberais, uns por convicção, outros por quererem derrubar do Poder o Partido Conservador, substituindo-o, mantiveram-se, principalmente na Câmara temporária, em nutrido fogo contra a Regência e contra seus ministros, analisando e combatendo todos os seus atos.

Campanha da maioridade

A má direção dada à guerra no Sul e a teimosia em se não demitir o comandante das Armas do Rio Grande, medida que a opinião pública reclamava e o bom senso aconselhava aos governantes, foram os temas prediletos de que se utilizou a oposição parlamentar, na qual se distinguiram António Carlos e Martim Francisco, o primeiro, sobretudo, que sobrelevou a todos os oradores pela flâmea eloqüência de seu verbo, pela energia singular de seus ataques e pela arrojada in-[N.E.: linha empastelada na composição original do texto] do Partido Conservador, que representava, teve a insensatez de interpretar certas disposições do Ato Adicional, como, por exemplo, a descentralização das províncias, de modo a contrariar o justo espírito liberal que as tinha elaborado; e daí a maior intensidade das lutas com que a Assembléia Legislativa e a imprensa jornalística a hostilizavam infatigavelmente.

Apelavam os oposicionistas, naquela indescritível confusão de bandeiras, para as soluções empíricas, por se lhes não deparar no momento medicação alguma positiva e eficaz. Desde 1835, pensava-se em decretar a maioridade do segundo imperador, como seguro meio de se debelar a longa crise, que ameaçava tornar-se permanente, e o deputado Luís Cavalcânti apresentara à Câmara um projeto em tal sentido, mas não foi julgado objeto de deliberação.

Compreende-se que a abdicação do primeiro imperador tenha sido uma solução feliz, porque o povo, na ânsia de nacionalizar-se de fato, não se julgava inteiramente emancipado enquanto à testa do País estivesse o monarca português que, rodeado, na sua privança, de elementos portugueses, mantinha a preponderância da respectiva colônia nos destinos internos da nova nacionalidade.

Mas a declaração da maioridade de seu filho não tinha a mesma racionalidade, porquanto, incapaz de deliberar por si mesmo, em virtude de seus verdes anos inexperientes, teria de entregar-se confiadamente a determinados conselheiros, o que, no fundo, não alteraria a índole do Governo. Seria a mesma Regência sob forma nova, e não valia a pena ofender o dispositivo da Constituição para introduzir no Governo modificações que não poderiam mudar a marcha dos acontecimentos.

Entretanto, a idéia foi fazendo prosélitos e conquistando votos, dentro e fora do Parlamento. Em 20 de maio de 1837, o deputado Vieira Souto apresentou um projeto, que foi rejeitado, declarando maior o imperador. Em sessão de 19 de agosto de 1839, o deputado Gê Acayaba de Montezuma declarou-se, em discurso, a favor da idéia.

A 13 de maio de 1840, o senador António Francisco de Paula Hollanda Cavalcânti de Albuquerque leu e fundamentou na Câmara Alta um projeto de lei em tal sentido, assinado também por José Martiniano de Alencar, Francisco de Paula Cavalcânti de Albuquerque, José Bento Leite Ferreira de Mello, António Pedro da Costa Ferreira e Manuel Ignácio de Mello e Sousa. Na Assembléia Provincial do Rio de Janeiro foi logo apresentado um projeto de congratulações com aquele senador, pela sua iniciativa.

O governo resolveu reagir contra semelhantes manifestações e o deputado Carneiro Leão, representante das idéias ministeriais, apresentou à Câmara, na sessão de 18, um projeto para que, na próxima legislatura, fossem os deputados munidos de poderes especiais para reformar o artigo 121 da Constituição que declarava a maioridade do imperador aos 18 anos, expressamente.

O projeto de Hollanda Cavalcânti, embora calorosamente defendido pelo marquês de Paranaguá, caiu no Senado a 20, por 18 votos contra 16 - fraca maioria. Na Câmara dos Deputados travaram-se longos e ásperos debates, a propósito da constitucionalidade ou não da medida proposta, até que, na sessão de 20 de julho, o deputado Limpo de Abreu apresentou uma indicação para que se nomeasse uma comissão especial incumbida de estudar com urgência a providência que lhe parecesse mais acertada em modo a resolver-se o caso satisfatoriamente.

Em seguida, e na mesma sessão, Martim Francisco submeteu à apreciação da Câmara um novo projeto, declarando maior "desde já o sr. d. Pedro II", e uma indicação para que os dois ramos do Poder Legislativo se fundissem em sessão conjunta para tratar do assunto de seu projeto. Imediatamente, o deputado Galvão requereu à Mesa, por escrito, que por aclamação se decretasse desde logo a maioridade do imperador. Correu agitadíssima a sessão, em cujos debates interveio, ora aplaudindo, ora reprovando, o povo, que se aglomerava nas galerias.

A indicação de Limpo de Abreu foi aprovada e nomeou-se para a comissão proposta os deputados Ramiro Gonçalves Martins e Nunes Machado. Na sessão imediata, de 21, António Carlos remeteu à Mesa outro projeto, formulado num "Artigo Único - S. M. I. o sr. D. Pedro II é desde já declarado maior".

Quando Álvares Machado requeria urgência para ser discutido esse projeto, a comissão especial entrava com um parecer, opinando que, dada a relevância do objeto, se convidasse o Senado para nomear uma comissão que a respeito se entendesse com a da Câmara.

António Carlos, consultado, consentiu que entrasse em primeiro lugar em discussão o parecer, sobre o qual se empenhou um debate que parecia não ter fim. Requereu, então, Theóphilo Ottoni, que se restabelecesse a urgência por ele pedida para o projeto de António Carlos.

Na sessão de 22, prosseguiram os debates, quando chegam à Mesa dois decretos do regente: um, nomeando Bernardo Pereira de Vasconcellos para ministro do Império e outro, adiando, nos termos da Constituição, os trabalhos da Assembléia para 20 de novembro.

A leitura desses documentos produziu profunda indignação entre os partidários da maioridade; ouviram-se protestos, ataques ao Governo, vivas, no recinto e nas galerias, ao imperador. António Carlos, possesso, exclamou em altas vozes: "É um traidor, um infame o atual Ministério... quero que estas palavras fiquem gravadas como protesto". E em seguida, erguendo-se impetuosamente e dirigindo-se para fora da sala de sessões: "Quem é patriota e brasileiro siga comigo para o Senado. Abandonemos esta Câmara prostituída". E assim o fizeram, em sua companhia, vários deputados.

O imperador, consultado se receberia uma deputação de parlamentares que com ele queriam conferenciar sobre o assunto, respondeu afirmativamente. Reunidos no Paço do Senado muitos membros de uma e outra Câmara, entre os quais o bispo d. Manuel, futuro conde de Irajá, revestido solenemente das vestes pontificais, assinaram a seguinte representação, redigida por António Carlos, e entregue a S. Majestade por uma deputação de que fazia parte o mesmo relator: "Nós abaixo-assinados, senadores e deputados do Império do Brasil, crendo que o adiamento das Câmaras no momento em que se tratava de declarar a maioridade de V. M. Imperial é um insulto feito à sagrada pessoa de V. M. Imperial, é uma traição ao país cometida por um regente, que na nossa opinião não o é de direito desde o dia 11 de março do corrente ano; e reconhecendo os graves que de semelhante adiamento se podem seguir, já à tranqüilidade da Capital, como à das províncias, onde os inimigos da paz e tranqüilidade pública se podem acobertar com este acontecimento para com ele dilacerarem as entranhas da Mãe-Pátria, vimos reverentes aos pés de V. M. Imperial a rogar a V. M. Imperial, para salvar-nos e ao trono, tome desde já o exercício de suas altas atribuições. Rio de Janeiro, 22 de julho de 1840. - António Carlos Ribeiro de Andrada Machado e Silva. - conde de Lajes. - Nicolau Pereira de Campos Vergueiro. - José Martiniano de Alencar. - Martim Francisco Ribeiro de Andrada - Francisco Gê Acayaba de Montezuma - Francisco de Paula Cavalcânti de Albuquerque. - António Francisco de Paula Hollanda Cavalcânti".

D. Pedro II é declarado maior

D. Pedro respondeu-lhes, de um modo lato, que estava disposto a fazer o que as circunstâncias do País exigissem, não sendo verdadeira a frase que lhe atribui a História: - "Quero já". Diante dessa resposta, o regente revogou o decreto de adiamento da Assembléia e novamente a convocou para o dia 23, e na sessão desse mesmo dia foi proclamada a maioridade de d. Pedro II pelo presidente do Senado, marquês de Paranaguá.

Às 3 e 1/2 horas da tarde o novo imperador prestava o juramento constitucional perante o Senado. A Assembléia dirigiu ao povo uma proclamação da autoria de António Carlos e seguiram-se ruidosas festas oficiais e populares em regozijo pelo fausto acontecimento [20].

No dia 24 organizou d. Pedro o seu primeiro Ministério, do qual fizeram parte António Carlos, na Pasta do Império, e Martim Francisco, na da Fazenda. Limpo de Abreu entrou para a Justiça, Aureliano Coutinho para os Estrangeiros, Cavalcânti de Albuquerque para a Guerra e Hollanda Cavalcânti para a Marinha. Em virtude de divergências havidas entre os Andradas e outros ministros, houve crise no ano seguinte por causa da guerra civil no Rio  Grande, além de outras razões, e organizou-se a 22 de março novo Ministério, no qual só entrou um membro do anterior - Aureliano Coutinho.

Depois desses acontecimentos, nos quais tomaram parte decisiva, sustentando galhardamente vigorosos debates parlamentares, foram os dois ex-ministros reeleitos para a legislatura de 1842, tendo Martim Francisco presidido as sessões preparatórias, mas a Câmara dos Deputados foi dissolvida por decreto de 1º de maio, antes de começar seus trabalhos.

Voltaram então para sua terra natal, mas não se entregaram ao repouso a que faziam jus pelos esforços de tantos anos em favor da Pátria, pelos seus achaques e pela sua idade. Eleitos para a Assembléia Provincial de S. Paulo, na legislatura bienal de 1842-1843, intervieram nas discussões políticas que no seio da mesma corporação se travaram naquela agitadíssima legislatura.

A criação do Conselho d'Estado e a lei reformando o Código do Processo Criminal tinham sido mal recebidas em várias províncias. A Assembléia Legislativa de S. Paulo resolveu representar ao imperador contra essas medidas. A representação, redigida em linguagem violenta por António Carlos, foi levada à presença do monarca, por uma comissão composta do brigadeiro Bernardo José Pinto Gavião Peixoto, coronel Francisco António de Sousa Queirós e senador Nicolau Vergueiro, que lh'a entregaram em cópia para que se dignasse mais tarde recebê-la Sua Majestade em original.

O ministro da Justiça, Araújo Vianna, por aviso de 5 de fevereiro, declarou que o imperador não receberia nem a comissão, nem a representação. Em maio rebentou a revolução chefiada pelo brigadeiro Tobias e sustentada pelo padre Diogo António Feijó. Para a legislatura provincial de 1844-1845 os dois irmãos só conseguiram eleger-se como suplentes.

Morte de Martim Francisco e António Carlos

Recolheu-se Martim Francisco, exausto, desalentado e enfermo, à sua terra, para aí viver os poucos e dolorosos anos que ainda lhe restavam. E aí morreu a 23 de fevereiro de 1844, contando perto de 69 anos de idade. Sepultado na Igreja do Convento do Carmo, sobre o seu túmulo mandou o atual dr. Martim Francisco - seu neto - colocar, a 18 de julho de 1893, uma lápide de mármore, com o seguinte epitáfio: "Martim Francisco Ribeiro de Andrada - coronel de Engenheiros - 1775-1844 - Santos - Pátria - Liberdade - Família".

António Carlos, eleito por S. Paulo, para a Câmara dos Deputados Gerais, na legislatura de 1845-1847, pouco tempo se demorou nessa casa, por ter a Província de Pernambuco sufragado o seu nome para senador, em lembrança e reconhecimento dos grandes feitos heróicos com que honrou aquela província durante a gloriosa revolução republicana de 1817. Concomitantemente, fora eleito deputado à Assembléia Provincial de S. Paulo, para a 7ª legislatura (1846-1847). Também pouco se demorou na Câmara vitalícia, e não chegou a tomar assento na Assembléia Paulista, pois a 5 de dezembro de 1845, ano em que fora escolhido pelo imperador, e tomara posse, faleceu, de uma congestão cerebral, no Rio de Janeiro, onde foi sepultado no Mosteiro de São Bento.

Apesar de todas as diligências feitas até agora pela Prefeitura Municipal de Santos, não foi possível descobrir-se o local, naquele mosteiro, em que jazem seus ossos, que têm de ser trasladados para o Pantheon dos Andradas, ora em construção. Nos próprios livros de assentamento do Mosteiro não se encontrou indicação ou referência alguma a tal respeito [21].

Conclusão

Os dois assuntos de que tratamos neste trabalho - a história de Santos e a vida e obra dos três Andradas, para terem o completo desenvolvimento que se fazia mister, exigiam o desdobramento destes volumes noutros tantos. A escassez de tempo não nos permitiu, entretanto, dar à nossa pesada tarefa as proporções amplas reclamadas pelo interesse da matéria estudada; além de que, os excessivos gastos tipográficos que, nesta época, roçam pelo absurdo, ultrapassariam por certo em muitas dezenas de contos de réis a verba destinada pela Câmara de Santos à confecção desta cívica homenagem, na qual pusemos todo os amor de nossa alma pela terra em que nascemos e todo o ardor de nossa admiração pelos maiores filhos que ela produziu jamais.

Contudo, o material que nos arquivos e diversas publicações colhemos sobre Santos daria para um volume tão alentado como o primeiro, no qual, aliás, sob a fatalidade das circunstâncias expostas, a história local foi sumariada apenas em cerca de duzentas páginas - insuficiente resumo, sem dúvida, mas ainda assim superior, em riqueza de informes e abundância de comentários - a tudo quanto até hoje se tem escrito a respeito.

Esperamos ampliar mais tarde essa parte, aumentando-a da biografia de cada santista ilustre do passado, cujos perfis se esbatem de relance naquelas páginas e não puderam ser gravados em toda sua grandeza para que não recrescesse, como dissemos, o vulto deste trabalho, o que redundaria em maior atraso quanto à data prefixada de sua distribuição, e noutros inconvenientes de ordem material.

Relativamente aos Andradas, e pelos mesmos motivos, só acompanhamos em todos os pormenores sua ação política e social até sua deportação em 1823. De sua volta do exílio à sua morte, apenas a largos traços nos ocupamos de sua carreira pública. É certo que eles atingiram o apogeu da celebridade e da glória na Independência e conseqüente fundação do Império; mas seus gestos, suas opiniões e sua conduta, após tal feito, são, por assim dizer, atos complementares de sua brilhante ação anterior.

A necessidade de dar maior desenvolvimento ao papel fundamental de José Bonifácio, em nossa História, obrigou-nos a estreitar as apreciações relativas aos seus dois irmãos e companheiros de lutas e ideais. Através de nossas pesquisas e elucubrações, impressionou-nos e interessou-nos fundamente a figura, a tantos aspectos singular, e eminentemente simpática, de Martim Francisco - que, ainda hoje, escritores, historiógrafos e críticos de pulso teimam em considerar inferior aos outros membros da trindade ilustre.

Nada, porém, mais injusto. Se é verdade que ele e António Carlos não tinham o portentoso equilíbrio mental que distinguiu José Bonifácio como o primeiro dentre os portugueses e brasileiros de sua geração - não é menos verdade que o financeiro da Independência e o tribuno da Constituinte se equivaliam pelos predicados intelectuais e pelo saber, realçados em Martim pela firmeza de sua têmpera moral inamolgável.

O que os diferencia é a diversidade das tendências e dos processos de agir. Um, é a palavra que entusiasma, arrebata e inflama; outro, é o raciocínio que convence, é a argumentação, é a lógica, é a razão implacável e serena; um, suspende as multidões nas lutas incandescentes da tribuna parlamentar; outro, organiza placidamente as finanças e a economia da Nação no calmo retiro de seu gabinete de estudos.

Mas a potencialidade mental de ambos é idêntica, se não for maior em Martim Francisco, que, quando a situação da Pátria o reclama, deixa os labores pacíficos do gabinete e vem para a tribuna da Assembléia participar dos agitados debates políticos, proferindo discursos que, por sua eloqüência invulgar, causam profunda impressão no espírito público; e isto prova a capacidade de sua mente para se adaptar com sucesso, quando preciso, a quaisquer gêneros ou modalidades de caráter intelectivo.

A história crítica de sua dupla e notável gestão da Pasta da Fazenda, no Ministério da Independência e no da Maioridade, ainda está por fazer; mas comporta, entretanto, numerosas páginas de comentários e de comparações estatísticas valiosíssimas que tivemos de por inteiramente à margem, apear das maiores proporções dadas a este segundo volume.

O próprio papel da Constituinte de 1823, nos seus poucos mas gloriosos meses de digna existência, ainda não encontrou seu historiador, como devia. É assunto que dá para extenso e proveitoso estudo daquela quadra de lutas e de heroísmos, mas que tivemos também de abandonar entre as inúmeras notas que a pressão das circunstâncias não nos permitiu utilizar convenientemente nesta obra, cuja realização, para ser integral e completa, exigiria, no mínimo, seis volumes de porte do primeiro.

Nos nossos possíveis lazeres e vagares, completaremos em primeiro lugar a história de Santos; coordenaremos os apontamentos relativos a Martim Francisco, especialmente como economista e financeiro, e estudaremos a função da malograda Constituinte de 1823, na qual tanto se destacaram os Andradas - sobretudo os dois últimos - pela parte ativa que civicamente tomaram nos seus debates e resoluções.

Tivemos diante de nós o limitado período de três anos para proceder a buscas, pesquisas e averiguações nos diversos arquivos, cartórios e bibliotecas; para achar, examinar, selecionar, copiar, coligir, coordenar e estudar cuidadosamente os documentos que nos fossem indispensáveis ao êxito de nossa trabalhosíssima tarefa; para reler e meditar toda a obra mental dos três Andradas; para enfronhar-nos em toda a numerosa literatura que sobre nossa vida colonial e nossa independência aí anda espalhada em centenares de revistas, de opúsculos e de periódicos de diferentes épocas; para compulsar, vagarosa, honesta e refletidamente, as eruditas páginas de todos os historiadores que condensaram em valiosos e ponderados volumes os frutos de seu inteligente labor.

Reunido todo esse vasto material, tivemos que nos aplicar à meticulosa escolha do que mais aceitável e mais proveitoso se nos deparasse nele, relativamente a informes e dados documentais; e analisar escrupulosamente as opiniões de cada autor, confrontando-as umas com as outras, para incorporá-las ou não à nossa obra, comentá-las, interpretá-las, criticá-las ou rebatê-las, quando necessário.

Só depois dessa esfadigante e complexa operação preliminar, é que pudemos dar começo à composição de escrita deste trabalho; e já então não nos sobrava tempo para dar-lhe a amplitude que ele merecia e que a matéria recolhida comportava.

Os que sabem do assunto é que se acham habilitados a avaliar as dificuldades que tivemos de transpor para alcançar o resultado que objetivávamos, mormente se se tiver em conta que era esta a primeira vez que, em nossa longa carreira literária, nos abalançávamos a um empreendimento de tão grande vulto. Mas a opinião unânime com que os julgadores competentes saudaram o aparecimento do primeiro volume é prova de que, apesar das falhas e imperfeições inevitáveis num trabalho desta natureza e responsabilidade, o nosso esforço correspondeu quanto lhe foi possível à confiança com que nos honrou a digna Municipalidade de nossa terra. Sirva-nos isso de compensação e consolo às longas horas de apreensões que atravessamos durante o período de elaboração d'Os Andradas.

Fim do segundo volume


NOTAS:

[1] Manuscrito citado no vol. 1º desta obra.

[2] DR. MOREIRA DE AZEVEDO - Notícias e Curiosidades Históricas Brasileiras, pág. 49.

[3] J. J. RIBEIRO - Chronologia Paulista, vol. 1º, pág. 642, col. 2ª.

[4] DR. MOREIRA DE AZEVEDO - Obr. cit., págs. 49 a 51. J. J. RIBEIRO (obr. cit., vol. cit., pág. 641, col. 1ª) data de 6 de abril, por engano, o dia da morte.

[5] Obr. cit., vol. 1º, pág. 642, col. 2ª.

[6][7] Idem, ibidem, pág. e col. citadas.

[8] LELLIS VIEIRA - José Bonifácio, págs. 49 a 50.

[9] Obra citada, pág. 53.

[10] LELLIS VIEIRA - Obr. cit., pág. 110.

[11] Administrou a Província, de 4 de setembro de 1884 a 17 de maio de 1885.

[12] Administrou a Província, de 18 de outubro de 1885 a 25 de abril de 1886.

[13] Filho legítimo dos barões de Jundiaí, nasceu a 10 de junho de 1819 e faleceu a 25 de julho de 1888.

[14] O Almanaque-Annuário do Diário de Santos, dos anos de 1902-1903 (páginas 90 a 92), numa longa biografia de José Bonifácio, aliás cheia de inexatidões, informa que a iniciativa deste gesto cívico partiu de alguns "estudantes da Escola Politécnica do Rio, de passagem aqui, em turma de estudos práticos".

[15] O DR. ALFREDO MOREIRA PINTO, em seu Diccionário Geográphico, diz que a licença para a abertura do túmulo, trasladação dos ossos e inumação no claustro foi dada pelo cônego dr. Eduardo Duarte da Silva, erro perfilhado pelo DR. ESTÊVÃO LEÃO BOURROUL em sua Biographia de José Bonifácio (o velho) e pelo sr. REMIGIO DE BELLIDO na Bibliographia Andradina. Com relação à placa posta no frontal da casa dos Andradas, à Rua Direita, MOREIRA PINTO, por erro de cópia certamente, onde se lê - morou - escreve - morreu -, e assim tem sido republicado noutras obras.

[16] Eis o seu testamento: "Em nome de Deus, Amém! Eu, José Bonifácio de Andrada e Silva, estando em perfeito juízo e não sabendo o termo de minha existência, fiz este testamento como minha última vontade, e é da maneira seguinte: Sou natural da Província de S. Paulo, deste Império do Brasil, nascido e batizado na Vila de Santos, filho legítimo do coronel Bonifácio José Ribeiro de Andrada com d. Maria Bárbara da Silva, ambos ao fazer deste já falecidos. Fui casado com d. Narcisa Emília Oleary de Andrada, já falecida, de quem tive duas filhas, a saber: d. Carlota Emília de Andrada, casada com Alexandre António Vandelli. E d. Gabriela Frederica Ribeiro de Andrada, casada com o conselheiro Martim Francisco Ribeiro de Andrada. Declaro mais que tenho outra filha natural, chamada d. Narcisa Cândida de Andrada, a quem sempre reconheci e criei como minha verdadeira filha; e se acha legalmente legitimada.

"No meio, por meu testamenteiro: em primeiro lugar ao desembargador Francisco da França Miranda. Em segundo lugar a meu irmão Martim Francisco Ribeiro de Andrada. Em terceiro lugar ao reverendo Luís da Veiga Cabral, aos quais hei por abonados independentes de prestação de fiança alguma. Nomeio para tutor e curador de minha filha d. Narcisa Cândida de Andrada a meu prezado irmão Martim Francisco Ribeiro de Andrada, a quem peço que, enquanto esta minha filha não tomar estado, a não separe da companhia de sua tia d. Maria Amália Nébias, em atenção ao amor de mãe com que a tem tratado, serviços que lhe tem prestado, e confiança que nela faço.

"O meu corpo será, sem pompa, sepultado na igreja aonde ultimamente me tiver dado a rol, e o respectivo pároco dirá uma missa de corpo presente por minha alma.

"Declaro que tenho na Província de S. Paulo, distrito de Parnaíba, uma fazenda de terras para criação de gado, a qual se chama Monserrate. Tenho mais na dita Província, distrito de Santos, uma porção de terras chamadas Outeirinhos. Tenho mais na dita Província, distrito de Piracicaba, uma parte num engenho de açúcar, com suas terras e benfeitorias, do qual meu irmão Martim Francisco Ribeiro de Andrada é diretor e administrador.

"Tenho mais no distrito do Rio de Janeiro, na ilha de Paquetá, uma pequena chácara, com casas e mais benfeitorias, em cuja casa se acha depositada a minha numerosa livraria (pouco mais ou menos seis mil volumes) afora os meus manuscritos.

"Tenho encaixotada uma considerável coleção mineralógica em casa do tenente-coronel José Joaquim dos Santos, assistente na Rua do Lavradio, e tanto nesta como em livros empreguei quase toda a minha tal ou qual fortuna. Tenho em guarda de António Luís Fernandes Pinto quatro apólices do Governo que vencem cinco por cento, a saber: três destas ações são de um conto de réis cada uma, e a quarta somente de quatrocentos mil réis. Também se acha ao fazer deste em sua guarda uma porção de dinheiro, que ao presente dele vou gastando; o que tudo melhor constará da conta que ele apresentar, pois é negociante honrado nesta praça e homem de bem.

"Ficaram de minha falecida mulher as jóias seguintes: dois fios de pérolas, a saber: um mais fino, outro mais graúdo. Uma pluma. Brincos e alfinetes de peito também ornados de pérolas. Quatro memórias de ouro com suas pedras de pouco valor. Um cordão de ouro de quatro palmos de comprido. E duas caixas de ouro para uso de rapé, a saber: uma esmaltada e outra lisa. Tenho ao fazer deste alguma prata para uso de mesa e luzes que não declaro por poder desencaminhar-se alguma peça em minha vida e será a que se achar por meu falecimento.

"Declaro que tive contas em vida do falecido António Rodrigues da Silva, natural do Rio de Janeiro, e a meu ver as julgo saldadas a meu favor, entrando nelas duzentos mil réis que dei à sua enteada para o enterro daquele, do que existe recibo. Também me são devedoras algumas pessoas, cujos nomes e créditos se acham, parte, em meu poder, e parte em mão de António Luís Fernandes Pinto, já mencionado, que ao todo andará pouco mais ou menos por um conto e seiscentos mil réis.

"Declaro que até a data de hoje, por conta que me foi remetida, devo ao sr. Luís de Menezes Vasconcellos de Drummond a quantia de quatro contos e duzentos e dezoito mil e novecentos réis, de prestações que me têm feito, entrando nelas o importe de minha passagem da França para o Brasil, e todas as despesas do funeral de minha falecida mulher.

"Declaro que tenho despendido vários dinheiros em benefício de minha filha d. Carlota Emília de Andrada e seu marido, em prejuízo dos mais herdeiros, e para desencargo de minha consciência deverá entrar em colação com as despesas que ultimamente fiz com ela e seu marido, a saber: um conto cento e setenta mil réis de sua passagem de Portugal para o Brasil. Cento e oitenta mil réis, de sua passagem para Santos. Cento e cinqüenta mil réis, dinheiro adiantado, que por ela recebeu nesta ocasião seu marido para a dita viagem. E duzentos e oitenta mil réis por uma letra de câmbio, passada em Lisboa, à ordem de João Ribeiro de Carvalho, o que tudo soma um conto setecentos e oitenta mil réis.

"Deixo à minha afilhada Carlota Emília Machado, que ao presente se acha em minha companhia, cem mil réis. Deixo a meu irmão Martim Francisco Ribeiro de Andrada todos os meus manuscritos que se acharem desencadernados. Declaro que deixo por universal herdeira de minha terça a minha filha, d. Narcisa Cândida de Andrada, em cuja terça é minha vontade entrem em colação as quatro apólices do Governo, acima mencionadas, igualmente uma criança cabrinha chamada Constança, e um preto de nação chamado Pedro.

"Deixo igualmente os meus serviços (se sua Majestade Imperial os julgar dignos de alguma remuneração) a José Maximiano Baptista Machado, na condição de se verificar o casamento com a dita minha filha d. Narcisa Cândida de Andrada, por este m'a ter pedido para sua esposa e eu o julgar muito capaz; porém, no caso que por algum incidente se não verifique com ele o dito casamento, passarão à pessoa que com ela casar com aprovação do tutor. E por esta forma dou por concluído este meu testamento, que quero que se cumpra, por ser esta a minha última vontade, e para este fim imploro a proteção das Leis; e pedi ao dito reverendo Luís da Veiga Cabral, que este por mim fizesse, o qual vai por mim assinado. Rio de Janeiro, na Ilha de Paquetá, 9 de setembro de 1834. - José Bonifácio de Andrada e Silva. - Padre Luís da Veiga Cabral.".

[17] TEIXEIRA MENDES - Biographia de Benjamim Constant, vol. 1º, págs. 341 a 348.

[18] Ofício existente no Arquivo da Câmara Municipal de Santos.

[19] Atestados de 28 de dezembro de 1833, existentes no Arquivo Municipal de Santos.

[20] DR. MOREIRA DE AZEVEDO - Declaração da Maioridade do Imperador em 1840, págs. 9 a 31.

[21] Não foram encontrados os atestados de óbitos dos dois ilustres irmãos. Na Cúria Metropolitana de S. Paulo não existem, por se terem extraviado do Arquivo da Matriz de Santos, como já dissemos no primeiro volume, o livro de óbitos do ano em que morreu Martim. Quanto a António Carlos nada se achou no Arquivo do Mosteiro de S. Bento, do Rio, até esta data.

Leva para a página seguinte da série