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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - VISITANTES
Príncipe Aimone de Savoia (Itália), 1920 (A)

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Logo após a Primeira Guerra Mundial, e apenas um mês antes da visita dos reis da Bélgica ao Brasil, quem esteve em Santos foi o príncipe Aimone, da casa de Savoia, que permaneceu cerca de uma semana nesta cidade, como registrou o jornal santista A Tribuna, que na edição de 12 de setembro de 1920, anunciava a sua chegada, em relato que ocupava toda a primeira página (ortografia atualizada nesta transcrição):

 


Imagem: reprodução da primeira página do jornal santista A Tribuna, em 12/9/1920

A fraternização de dois povos

Chega hoje a Santos, a bordo do couraçado Roma, s. a. o príncipe Aimone de Savoia-Aosta, duque de Spoleto - As imponentes festas de homenagem - As comissões de honra brasileira e italiana - A sua recepção fora da Barra

Pelo couraçado Roma, hoje esperado neste porto, chega s. a. o príncipe Aimone de Savoia.

É a vez do Estado de S. Paulo homenagear, na pessoa do jovem príncipe, a gloriosa nação italiana, nossa irmã pela raça e pelos ideais de civilização.

Já a Bahia e a capital da República cumpriram o seu dever, manifestando a Sua Alteza os testemunhos de sua simpatia e admiração.

Esses testemunhos, entretanto, devem recrudescer no nosso Estado, atingindo o auge do entusiasmo e da grandeza. É que aqui os laços que nos prendem à grande pátria italiana não se apresentam tecidos simplesmente pela cortesia e simpatia que se inspiram mutuamente povos orientados pelo mesmo fanal de progresso e de sentimentos de raça. Aqui, mais do que isso, a nação italiana vive pelo sangue dos seus filhos cruzado ao nosso em vastas proporções, prolonga-se na vida do Estado pelos gostos e costumes, influindo poderosamente nos surtos de todas as nossas manifestações de progresso, numa afinidade já agora indestrutível, de princípios e de ideais.

No Estado de S. Paulo o italiano fez muito mais do que vir dar braço forte ao nosso alevantamento material, recebendo, em conseqüência, o prêmio, também material, dos seus esforços. Ele, desde logo, identificou-se conosco. Recebeu de nós o que lhe pudemos dar e deu-nos, por seu turno, os ensinamentos de seu trabalho profícuo e de seu anseio de subir sempre na escala da prosperidade e do engrandecimento. Dessa benéfica permuta de valores surgimos ambos fortes, propulsionados por energias inesgotáveis, para o radioso futuro que entrevemos e que de há muito já colocou São Paulo na vanguarda da Confederação Brasileira.

Sua Alteza, o príncipe Aimone de Savoia, verá tudo isso e, certamente, o maravilhoso espetáculo desse harmônico ponto de vista e desse ritmo perfeito de sentimentos que encadeiam dois povos na mesma invejável senda de um ininterrupto progresso, será de justo e desvanecedor orgulho para o seu coração de patriota, pela nobreza e pelo sangue.

Quanto a nós, recebendo Sua Alteza com aplausos de fremente entusiasmo, não faremos mais que lhe significar quanto compreendemos a coadjuvação dos filhos da Itália no nosso trabalho pela felicidade de S. Paulo, e o colossal contingente de benefícios que ele nos há produzido.

A A Tribuna, pois, tem a honra e apresentar a Sua Alteza, o príncipe Aimone de Savoia, os seus votos de boas vindas.

Biografia de s. a. príncipe Aimone

Sua alteza o príncipe Aimone de Savoia (Roberto-Margherita-Maria, Giuseppe-Torino), duque de Spoleto, título esse conferido por decreto real de 22 de setembro de 1904, nasceu em Turim, a 9 de março de 1900.

É filho de ss. aa. rr. os príncipes Emanuel di Savoia-Aosta e irmão dos príncipes Amedeo, duque das Apulias; Vittorio, conde de Turim, e Luigi, duque de Abruzzos.

O duque foi, durante a guerra, comandante do terceiro exército italiano, e a ele se deve, em grande parte, a esplêndida vitória alcançada pelo seu país. A duquesa de Aosta, diretora geral da Cruz Vermelha Italiana, é um sublime exemplo de abnegação e de heroísmo pela grande causa dos aliados. Ela não poupou sacrifícios para mitigar os sofrimentos dos soldados que defendiam a pátria, e nos lugares mais perigosos e difíceis, estava sempre como um anjo de bondade. O seu heroísmo foi oficialmente reconhecido pelo governo, que lhe conferiu a medalha de prata ao valor.

O príncipe Aimone herdou de seus progenitores (N.E.: vício de linguagem da época: na verdade, eram genitores, pais, e não progenitores, avós) as mais elevadas qualidades físicas e morais. Alto, elegante, de uma gentileza infinita, de uma imensa bondade, o jovem príncipe, que conta apenas 21 anos, é uma verdadeira organização de marinheiro apaixonado até o extremo pela sua profissão de oficial de marinha.

Educado nos sãos e austeros princípios da casa de Savoia, o príncipe Aimone é uma figura que muito honra a Itália pela firmeza de seu caráter e ilustração de seu espírito.

Tem atualmente o posto de capitão-tenente, e, se bem que príncipe da casa real, faz a bordo todos os modestos misteres de simples oficial de marinha.

O início da vida militar de s. a. - Ao romper da tremenda catástrofe européia, esse príncipe da casa de Savoia, preso de um ardor inexprimível pela guerra, compreendeu logo, como um italiano digno de seu nome e imitando o exemplo do seu rei, o dever de soldado.

Foi assim que, em 1915, pedia para ser arrolado na lista dos patriotas, apenas saía da Academia com a idade de dezesseis anos. Cedeu aos desejos do seu nobre cunhado e iniciou-se na sua carreira militar, embarcando a bordo do Dante Alighieri. Neste vaso de guerra, o duque de Spoleto permaneceu até maio, exercitando-se na arma de artilharia, e, dando um exemplo eloqüente pela atividade que desenvolveu, quase em contraste com a sua elevada posição.

Pouco depois, por ordem do duque de Abruzzi, participava da perigosa aventura dos mares, tomando parte nas operações preparatórias de Durazzo.

Por mérito, o intrépido e jovem príncipe foi promovido a guarda-marinha, passando, então, para o Doria, onde permaneceu por um ano, navegando entre Taranto e Corfu, até que essa unidade, tendo de entrar para o dique, deu ensejo a que o duque pudesse usufruir uma longa licença. Não quis gozá-la, entretanto.

Comovido pela luta, que dia a dia era mais intensiva, o duque de Aosta obteve o comando de uma seção da 152ª companhia do 98º batalhão de infantaria de Marinha, destacado na ilha Morosini. De tal modo, pode ele tomar parte ativa nas operações coroadas com a conquista de Gorizia. Nessa ocasião foi ele promovido a oficial, e um mês depois embarcava, de novo, no caça-minas Orsini, que operava no Adriático no encontro naval dos fins de setembro.

A bordo do Orsini esteve o duque mais de dez meses. Posteriormente, para realizar um sonho que acariciava de longa data, obtém o príncipe a sua transferência da Marinha para a quarta arma. Aí, o duque de Spoleto manteve-se no firme propósito de não esmorecer um só momento pela vitória da causa da Justiça; e foi assim que iniciou o seu primeiro vôo em hidroplano, em Taranto, em 1917, demonstrando logo a sua eficiência de piloto e as suas ótimas qualidades e militar.

Recebeu o brevê em março de 1918 e foi destacado para a flotilha situada em Veneza, na base de Miralia. Nessa ilha maravilhosa, então abandonada e deserta para transformar-se, como por encanto, num dos mais modernos e potentes campos de aviação, o príncipe Aimone ficou sendo o ídolo dos seus companheiros, não pelo sangue azul que lhe corre nas veias, mas pela sua bondade afável e doce, pela sua cativante gentileza, pela sua constante e sóbria serenidade de juízo sobre os homens e sobre as coisas.

As suas inúmeras e perigosas empresas foram coroadas sempre de magníficos resultados.

No dia 20 de maio o duque voa sobre Pola e imediatamente depois assume o comando da 251ª esquadrilha de hidroplanos, sucedendo, assim, a dois heróis tombados na luta - os tenentes Garassini e Cencelli.

Quer agisse só, quer acompanhado da esquadrilha, o intrépido duque estava sempre perto de seu primeiro objetivo, continuando impávido e sereno a sua rota.

No período da ofensiva austríaca, em junho e julho de 1918, depois de atiradas as bombas sobre o campo inimigo, a 200 metros de altura, os aparelhos iniciaram cerrado ataque com as suas metralhadoras. Foi num destes bombardeamentos que todos os aparelhos da esquadrilha do príncipe foram atingidos pelas balas inimigas, e o avião que o duque pilotava alvo de onze pontos.

Outra vez, a 2 de julho do mesmo ano, voltando do campo de bombardeamento, levado a efeito na bateria de Santa Cruz, ao Norte de Cortellazzo, viu o príncipe que um dos aviões de sua esquadrilha havia caído ao mar, motivado por um ligeiro incidente no motor. O mar estava revolto e a manobra de salvamento era assaz perigosa. Que importa? O jovem Savoia não hesitou um só instante: desceu com o seu aparelho à flor das ondas marinhas e levou ao seu irmão d'armas o socorro preciso. Mas quando quis, de novo, levantar vôo, constatou, não sem preocupação, que não podia fazê-lo em virtude da invasão da água que sofrera a parte posterior do seu hidroavião e que rapidamente se alastrou pelo interior do bote. O aparelho, assim inundado, ameaçava submergir, e se não fosse uma torpedeira que se achava algures, em trânsito, talvez a sorte do príncipe que nos visita e de seu companheiro fosse deveras lamentável. Poucos minutos depois, o aparelho desaparecia da tona d'água para estabelecer contato com as furnas do oceano.

A lista de serviços do duque de Spoleto, durante a guerra, registra 107 vôos a Taranto, 85 a Veneza, 22 de explorações militares e 20 bombardeamentos, o que quer dizer que s. a. afrontou, por 234 vezes, serenamente a morte.

O que é de admirar na sua vida de soldado é a disciplina que sempre manteve, observando as ordens de seus superiores, tornando-se humilde com os seus comandados e fiel ao seu espírito patriótico. Jamais quis usufruir favores ou privilégios que poderia obter se quisesse. A sua bondade e lealdade fizeram-se sentir sem a mais leve sombra de restrição. Impediu, também, que lhe fosse dispensado um tratamento excepcional e não permitiu, nem uma vez sequer, que fosse relevado de qualquer incursão difícil ou perigosa no campo da aviação.

Isso demonstra, não simplesmente o seu franco espírito de elevada democracia, e perfeito conhecimento das coisas, mas faz ressaltar que a sua participação na guerra, da maneira por que se houve, encontrou alicerce na convicção e na fé inabalável de defender uma causa justa, pela qual se debatia a Humanidade.

Em maio do ano passado, esse príncipe, tão ilustre quanto audaz, fez parte de uma importante missão ao Oriente, na qual o comandante Magalhães de Almeida, adido naval à nossa embaixada na Itália, teve a felicidade de conquistar a sua simpatia.

Em longas conversas com o nosso patrício, sua alteza real manifestou sempre o desejo de visitar minuciosamente o Brasil, país que ele tanto ama e admira.

Com a realização desse desejo, sua alteza terá ocasião de verificar os sentimentos de admiração e e carinho que os brasileiros experimentam pela sua grande pátria, a gloriosa nação mediterrânea.

Salve, ainda uma vez, esse grande herói real, demonstração viva de energia e exemplo eloqüente de patriotismo.

O comandante do couraçado Roma - Comanda o couraçado Roma o ilustre capitão-de-mar-e-guerra Augusto Capon, que é um dos mais distintos oficiais da marinha italiana, pelos seus grandes conhecimentos profissionais e pela sua linha impecável de perfeito diplomata.

O comandante Capon nasceu em Veneza, em 3 de novembro de 1872. Matriculou-se na Escola Naval em outubro de 1886 e, depois de um brilhante curso, foi promovido a guarda-marinha em 2 de julho de 1891.

Foi promovido a 1º tenente em 2 de julho de 1893, e a capitão-tenente em 5 de julho de 1896.

Durante esse período de tempo, o comandante Capon desempenhou várias e importantes comissões em diversos navios de guerra, destacando-se as do Dogali, Vesuvio, Etna, Strale e Sicilia. Comandou, em seguida, vários torpedeiros, sendo em 1910 promovido a capitão-de-corveta.

Por ocasião da guerra ítalo-turca, o comandante Capon prestou relevantes serviços ao seu país, comandando o caça-torpedeiro Indomito. Em 27 de julho de 1913 foi promovido a capitão-de-fragata, servindo como imediato do Leonardo da Vinci e como comandante do explorador G. Pepe.

Promovido a capitão-de-mar-e-guerra em maio de 1917, foi nomeado para dirigir no estado-maior da armada a importante repartição de informações, e prestou durante a grande guerra assinalados serviços à Itália, o que bem atestam as altas condecorações que lhe foram conferidas por sua majestade Victorio Manuel III.

O comandante Capon é íntimo amigo de s. exa. o almirante Sechi, atual ministro da Marinha italiana, tendo servido junto, por muito tempo, no estado-maior da Armada, onde Sechi (então capitão-de-mar-e-guerra) era sub-chefe e prestou os mais relevantes serviços como grande organizador que é, serviços que muito contribuíram para a brilhante vitória da heróica marinha italiana. Desde que assumiu a direção da pasta da Marinha, o almirante Sechi manifestou vivo desejo de enviar um navio em visita aos portos brasileiros, como testemunho do afeto que nutre por nós o seu grande país, desejo que só agora se pôde transformar em realidade.

Decidida a viagem do couraçado Roma ao Brasil para retribuir a visita que fez à Itália, em maio do ano passado, a esquadra do ilustre almirante Pedro de Frontin, e decidido que viria a bordo do couraçado sua alteza real o príncipe Aimone di Savoia, a escolha do comandante do navio tornou-se assunto delicado, mas o ministro da Marinha não vacilou um momento, confiando tão honrosa missão ao capitão-de-mar-e-guerra Capon, cuja capacidade técnica e distintas qualidades de fino diplomata lhe eram bem reconhecidas.

O comandante Magalhães de Almeida - Na sua visita ao nosso país, o comandante Magalhães de Almeida veio acompanhando o príncipe Aimone, como oficial adido, por especial deferência do sr. presidente da República.

Na Itália, o comandante Magalhães de Almeida, graças aos seus altos dotes pessoais, conseguiu conquistar a mais invejável situação.

Fazendo largo prestígio nos círculos navais, amigo pessoal do ministro da Marinha italiana, foi, entre todos, o único adido naval a ser condecorado com a cruz de guerra italiana e medalha de campanha, condecorações só concedidas aos diretos e verdadeiros defensores do país na grande guerra.

Comandante do Caravelas na sua audaciosa viagem, demonstrou aquele oficial, a par de ardente tenacidade de ânimo, amplo conhecimento náutico. Serviu depois na casa militar do sr. presidente da República. Pelo longo espaço de cinco anos, esteve como ajudante de ordens do chefe da missão naval na Europa, quando se construiu a nossa esquadra.

Oficial desde 1903, possui a medalha militar brasileira, a cruz de guerra italiana, a cruz de S. Maurício e S. Lázaro, o oficialato da coroa da Itália, a cruz de Salvador da Grécia e o oficialato de Cristo, de Portugal.

O comandante Magalhães de Almeida, deixando o seu posto para acompanhar sua alteza real o príncipe Aimone di Savoia ao Brasil, recebeu do governo italiano e dos seus inúmeros amigos muitas demonstrações de alto apreço.

O comandante Magalhães de Almeida, antes da sua partida, foi recebido em audiência especial por sua majestade o rei da Itália, que manifestou grande carinho a este oficial, pela correção com que ele desempenhou as suas funções de adido naval em Roma.

Os oficiais do estado-maior do Roma - Esse estado-maior é composto da seguinte e brilhante oficialidade:

Imediato, capitão-de-fragata Ruggero Giordano; oficiais: capitães-tenentes Enrico Accorretti, Oscar Parolini, sua alteza real príncipe Aimone di Savoia, Rocco Simen, Giovanni Galati e Carlo Milo; 1ºs tenentes: Mario Pasetti, Gofredo Gionni, Alviso Emo-Capodilista, Giovanni Mazzucheti, Francesco Gamicia, Giorgio Foscari, Silvio Marmscalchi e Francesco Bora; guardas-marinhas: Umberto Brichetto, Uguccione Scrofa, Fabio Boldo, Francesco Gatteschi, Francesco De Erkzis, Gaspare Taneurello e Guido Zacchetti; capitão-de-corveta, maquinista Gio Eatta Fossati; capitão-tenente maquinista Enrico De-Zan; 1ºs tenentes maquinistas: Francesco d Felion, Sebastian Bianchini e Siro Gribaldo; 2ºs tenentes maquinistas: Vincenzo Russo, Mario Izzo e Aurelio Almasio; capitão-tenente engenheiro, Gian Guido Porroli; capitão-de-corveta médico Candido Baldovino; capitão-tenente médico Francesco Virgilio; capitão-tenente comissário Olisio Bruno; 1º tenente comissário, Carmelo Ersina, e 1º tenente artilheiro, Alfredo Cigliano.

Os característicos da possante belonave italiana - O couraçado Roma é do mesmo tipo que o Vittorio Emanuelle, o Regina Elena e o Napoli, dos quais ele é o mais moderno.

Na sua época, estes navios despertaram grande entusiasmo pela sua beleza de linhas e pelo seu poder ofensivo.

O almirante Julio de Noronha, organizando o nosso programa naval, tendo como auxiliares o saudoso deputado Laurindo Pitta, quis muito que os nossos couraçados fossem do tipo dos navios que acabamos de citar, o que não foi levado a efeito, porque o almirante Alexandrino de Alencar, então senador e pouco depois ministro da Marinha, com uma alta visão dos assuntos a marinha moderna, modificou o programa naval, ordenando a construção de dreadnoughts do mais moderno tipo e das outras unidades que hoje constituem a nossa esquadra.

O couraçado Roma foi lançado ao mar em abril de 1907, sendo os seus principais característicos os seguintes:

Deslocamento, 12.800 toneladas; comprimento, 435 pés; boca, 73 1/2 pés, e calado máximo, 28 1/4 pés.

Armamento: 2 canhões de 12 polegadas (40 calibres); 12 canhões de 8 polegadas (45 calibres); 24 pequenos canhões; 2 tubos lança-torpedos submersos (laterais).

Couraça: cinta couraçada de 10 polegadas; torres, 8 polegadas.

Máquinas: tríplice expansão. 10.000 cavalos de força; 1.000 toneladas de carvão.

Velocidade, 21 milhas.

Durante a grande guerra, o couraçado Roma prestou os mais relevantes serviços à marinha italiana, tendo servido no baixo Adriático, em Valona e em Brindisi, fazendo parte da divisão comandada pelos ilustres almirantes Cutinelli, Millo e Mortola.

- Para recepção condigna dos ilustres visitantes, foram organizadas nesta cidade as comissões seguintes:

Comitê de honra brasileiro - O comitê de honra brasileiro, do qual é presidente o sr. deputado A. S. Azevedo Júnior, é composto das seguintes corporações:

Pela Câmara Municipal de Santos, dr. José de Souza Dantas, vereador; pela Associação Comercial de Santos, Eduardo Monteiro Reis, diretor-tesoureiro; pela S. Humanitária dos Empregados no Comércio, João Guilherme Cruz, presidente; pelo Club XV, dr. J. B. Pereira das Neves, diretor; pelo Club Eden Santista, Flaminio Levy, presidente; pelo Jockey Club, dr. Antonio Álvaro Assumpção, presidente; pelo Parque Club, dr. Pérsio de Souza Queiroz, presidente; pela Sociedade União Operária, Jayme Diniz, presidente; pela Federação Paulista das Sociedades do Remo, Luiz Alves e Carvalho, presidente; pela Associação Santista de Sports Atléticos, Henrique Soler, presidente; pelo Santos F. Club, Heitor Belache, 1º secretário; pelo Tiro 11, Benedicto Rodrigues, vice-presidente; pelo Tiro Naval de Santos, Olegário Lisboa, presidente; pelo Tiro 598, Horácio de Lamare, presidente.

Comitê de honra italiano - O comitê de honra italiano, constituído sob a presidência do conde Ottavio Gloria, vice-cônsul da Itália nesta cidade, é composto dos seguintes estabelecimentos e firmas:

Banca Italiana Di Sconto, Banco Francez e Italiano para a América do Sul, Banco Italo-Belga, Banco de Napoles, F. Matarazzo e C., Sociedade Anônima Martinelli, Companhia Puglisi, Grandes Moinhos Gamba, Brasilta S. A., Nery e C., G. Tomaselli e C., e Companhia Mecânica e Importadora de S. Paulo.

Comitê executivo italiano - Compõe-se o comitê executivo dos seguintes cavalheiros: Augusto Marinangeli, presidente; Eduardo Barra, secretário; dr. Giuseppe Squizi, tesoureiro; Carmine Neri, dr. Henrique Ricci di Sant'Agostino, dr. Raul Mocchi, Hugo Carraresi, Francisco Scaravelli, Cesari Matti, Antonio de Maria, Pasquale Caruso, Giuseppe Ippolito, Michele Leonetti, Saverio Angrisani, Erico Fracearoli, Lido Frugoli, Carmine Campanella, Nino Paganeto, Biagio Barone, Francesco Cioffi e Roberto Refinetti.

O programa dos festejos - O programa organizado é o seguinte:

Domingo, 12 - Às 10 horas, chegada do couraçado Roma.

Às 16 horas, desembarque do príncipe, comandante e oficialidade, no Paquetá, em frente ao edifício da Companhia Docas.

Manifestação popular e recepção solene na sede da Sociedade Italiana de Beneficência, à Rua Eduardo Ferreira n. 79.

Às 20 horas, visita dos marinheiros à sede da Sociedade Italiana.

Segunda-feira, 13 - Às 15 horas, recepção solene de s. a. r. comandante e oficialidade, pela Câmara, no Paço Municipal.

Às 20 horas, banquete oferecido pela Municipalidade ao príncipe, comandante e oficialidade, no Parque Balneário Hotel, no qual tomarão parte todas as autoridades locais, pessoas gradas e imprensa.

Terça-feira, 14 - Às 14 horas, visita às escolas que funcionam na sede da Sociedade Italiana de Beneficência, estabelecimentos, armazéns de café etc.

Às 22 horas, baile nos salões do Parque Balneário Hotel, oferecido pela colônia italiana de Santos.

Quarta-feira, 15 - Às 12 horas, almoço no Hotel de la Plage, no Guarujá, oferecido pela colônia italiana.

Quinta-feira, 16 - Às 16 horas, chá dançante no Hotel de la Plage, no Guarujá, oferecido pela mesma.

- Nos salões do Parque Balneário Hotel, todas as noites, desde hoje até o dia 19, com exclusão do dia 14, se realizarão brilhantes sauteries em homenagem aos oficiais do couraçado Roma.

Recepção do couraçado Roma - lanchas especiais no cais da Guardamoria - Para a recepção da belonave italiana foi resolvido o seguinte:

A comissão executiva italiana seguirá em lancha especial da Companhia Guarujá, gentilmente cedida, até a Ponta da Praia, a fim de aguardar a chegada do couraçado.

Essa mesma lancha conduzirá, ainda, as comissões de festejos de Santos e S. Paulo, autoridades locais, pessoas gradas, representantes da imprensa e a banda de música do Corpo de Bombeiros.

Outra lancha levará a seu bordo todos os reservistas italianos.

Os restantes rebocadores e lanchas conduzirão convidados, exas. famílias e outras pessoas que forem ao encontro do vaso de guerra.

Gentilmente cederam embarcações para esse fim: Companhia Guarujá, 2 lanchas; Alfândega, 3; Companhia Docas, 1 rebocador; Inspetoria de Imigração, 1 lancha.

Todas essas embarcações estarão no cais da Guardamoria da Alfândega, depois das 9,30 horas, devendo partir às 10 horas em ponto para ir ao encontro do Roma.

A entrada dessa unidade da Marinha de Guerra italiana será anunciada com uma salva, que se dará no Monte Serrate.

O desembarque do príncipe - Às 16,30 horas, s. a. r. desembarcará no cais do Paquetá.

Aí será recebido pelos srs. presidente da Câmara, prefeito municipal e membros do comitê italiano.

Haverá grande manifestação popular a s. a., abrilhantada pela banda do Corpo de Bombeiros.

Após a troca de cumprimentos, o duque de Spoleto tomará a limusine da presidência da Câmara, em companhia dos chefes dos poderes municipais, formando-se um grande cortejo, que demandará a Sociedade Beneficente Italiana.

Na Sociedade Beneficente Italiana - O jovem príncipe será recebido à porta principal pela diretoria, autoridades locais, corpo consular, exmas. famílias e pessoas gradas, havendo lugar, a seguir, grande sessão solene em honra a s. a.

Finda essa cerimônia, o intrépido oficial da Armada italiana regressará a bordo do couraçado Roma.

Das 20 horas em diante, a Sociedade Italiana será franqueada à maruja para visitação.

- Durante a recepção solene, uma afinada orquestra, sob a regência do professor N. Barbieri, executará o seguinte programa:

1 - Hinos nacionais italiano e brasileiro

2 - Minueto em ré - Crescencio.

3 - Sinfonia - Barbeiro de Sevilha - Rossini.

4 - Fantasia - Mefistofele - A. Boito.

5 - Intermezzo - Marechiare - Tosti.

6 - Gioconda - Dança das Horas - Poncielli.

7 - Marcha - Berolina - Forni.

A chegada do cônsul geral da Itália em S. Paulo - Em trem especial, que chegará a esta cidade às 9,30 horas, virão da capital, a fim de tomar parte na recepção ao couraçado Roma, o sr. cav. uff. Hugo Tedeschi, cônsul geral da Itália em S. Paulo, professor dr. Arthuro Guarnieri, presidente da comissão de festejos em S. Paulo, e outras autoridades e pessoas gradas.

No mesmo trem chegará uma grande turma de reservistas italianos, exmas. famílias, representantes da imprensa e outras pessoas.

Os viajantes serão recebidos na gare da Inglesa por uma comissão do comitê executivo italiano, devendo seguir dali para o cais da Guardamoria, a fim de irem ao encontro do couraçado Roma.

Recepção na Câmara - Amanhã, às 10 horas, o comandante Capon e oficialidade do estado-maior irão à Câmara em visita de cumprimentos às autoridades municipais, sendo aí recebidos por todos os vereadores.

Às 13 horas, essa visita será retribuída, e as autoridades convidarão, então, os nossos hóspedes, para a recepção solene, na Municipalidade, às 15 horas.

O banquete oferecido pela Municipalidade - A Secretaria da Câmara está aberta hoje, das 9 às 13 horas, a fim de receber as comunicações das autoridades e pessoas gradas convidadas para tomar parte no banquete que a Municipalidade oferece, amanhã, no Parque Balneário Hotel, às 20 horas, relativamente à sua participação no referido banquete.

Nobre atitude em prol das vítimas do terremoto na Itália - Ontem, na Sociedade Beneficente Italiana, achavam-se reunidos os membros que compõem a comissão executiva italiana, a fim de deliberar sobre várias providências em referência à recepção do príncipe Aimone.

Numa feliz oportunidade, veio à baila uma discussão sobre o tremor de terra havido em Reggio Emilia, o qual causou muitas ruínas e produziu grande número de mortes, especialmente em Ospedaletto, Busana, Toano e Cavala.

Foi aventada então a idéia de se lançar um apelo à colônia italiana aqui domiciliada, para contribuir com o seu auxílio pecuniário em prol das vítimas daquela catástrofe.

Imediatamente foi aberta uma lista, na qual todos os membros ali reunidos deram o concurso de sua assinatura, elevando-se a subscrição, naquele momento, a cerca de vinte mil liras.

É um nobre gesto esse, que registramos, o qual vem demonstrar eloqüentemente que, a despeito das festividades em honra ao príncipe Aimone, cuja visita enche de alegria e júbilo os seus compatriotas, a honrada comissão da colônia italiana não descura da desdita de seus irmãos de além-mar, socorrendo-os generosamente.

Concessões da City e da Cine Teatral à equipagem do Roma - O sr. dr. Bernard F. Browne, gerente da Companhia Melhoramentos de Santos, por um requinte de gentileza, mandou iluminar feericamente, a lâmpadas polícromas, a fachada da Sociedade Beneficente Italiana, dando-lhe, assim, um aspecto deslumbrante.

O mesmo mandou fazer no Parque Balneário Hotel, permitindo essa iluminação, gratuitamente, durante o espaço de nove dias.

Concedeu, ainda, livre passagem nos bondes da City a todos os oficiais e marinheiros do couraçado Roma.

- O sr. M. Fins Freixo, empresário da Cine-Teatral, querendo manifestar a sua admiração pela marinha de guerra da grande nação, franqueou a entrada da oficialidade e maruja nos cinemas da empresa.

Esses gestos simpáticos são dignos de aplausos, e eles vêm, de modo muito expressivo, refletir a generosidade da terra santista, que prima pela hospitalidade aos seus visitantes.

Trajes para os festejos - Atendendo a várias consultas que nos têm sido feitas, relativamente aos trajes para as diferentes festas em homenagem aos ilustres hóspedes da marinha de guerra italiana, damos, a seguir, os usuais nessas cerimônias:

Para o banquete que a Municipalidade oferece, amanhã, no Parque Balneário Hotel, e para o grande baile promovido pela colônia italiana depois de amanhã - casaca.

Para as recepções na Municipalidade e na Sociedade Italiana de Beneficência - fraque; as senhoras irão de chapéu.

Para o almoço que a colônia italiana oferece, na quarta-feira, no Hotel de la Plage - fraque.

Para as demais festas, inclusive o chá-dançante, no mesmo hotel acima - traje comum, de preferência escuro, se bem que, para o chá-dançante, a rigor, deveria ser o smoking.

Os preparativos para a recepção do príncipe em S. Paulo - S. PAULO, 11 - Continuam os preparativos para a recepção do príncipe Aimone, comandante e oficiais do couraçado Roma, esperados brevemente nesta capital.

A laboriosa colônia italiana aqui domiciliada prepara para receber os distintos hóspedes grandes e pomposas festas, que não de ficar gravadas no espírito dos representantes da Casa Savoia.

O príncipe Aimone será recebido, nesta capital, no dia 19 do corrente, às 10 horas, por todas as autoridades, comissões e povo.

Os distintos hóspedes se dirigirão ao Teatro Municipal, onde lhes será oferecido um vermute de honra. Nessa ocasião falará o cônsul geral da Itália, cav. Tedeschi.

Nesse mesmo dia, às 14 horas, realizar-se-á uma grandiosa festa desportiva no campo do Palestra Italia, constando de um interessante jogo de futebol e outras diversões ao ar livre.

No dia 20, ás 8 horas, será festivamente recebida a 2ª turma de marinheiros do couraçado Roma, sendo-lhe proporcionadas várias festas. Às 9 horas realizar-se-á uma visita ao monumento erigido no Araçá em memória das vítimas da guerra, sendo ali depositada uma coroa.

Em seguida realizar-se-á uma visita ao Instituto Médio, sendo ali executado um belo programa escolar.

Às 16 horas, five-o-clock-tea, oferecido pelo cônsul geral, encerrando-se os festejos desse dia às 21 horas, com uma sessão solene no Teatro Municipal, havendo cânticos e discursos patrióticos e um atraente concerto coral e orquestral dirigido pelo prof. Francisco Murino.

No dia 21, às 11 horas, almoço campestre, oferecido aos marinheiros e oficiais no Parque Jabaquara; às 18 horas, regresso dos marinheiros à cidade, e às 20 horas banquete no Trianon.

No dia 22, às 8 horas, recepção da 3ª turma de marinheiros, visita ao Hospital Umberto I e aos grandes estabelecimentos industriais.

No dia 23, almoço campestre no Jardim da Aclimação, visitas, recepção oficial no Circolo Italiano e no dia 24 excursão ao Alto da Serra e almoço oferecido pelo comitê, visitas. No dia 25, recepção aos novos marinheiros, excursões e baile no Teatro Municipal.

No domingo, dia 26, haverá uma grande festa esportiva no Club Esperia.

A partida do couraçado Roma - RIO, 11 - Precisamente às 9,30 horas partiu, hoje, do nosso porto, o couraçado italiano Roma, que deverá chegar amanhã ao porto de Santos.

À sua saída foram trocados sinais com os navios da esquadra e com as fortalezas de Villegaigon e da barra, que responderam dando o sinal de "Boa viagem".

O ministro da Marinha pediu ao seu colega do Exterior que exprimisse ao governo italiano os votos do Brasil agradecendo a desvanecida participação dos marinheiros italianos na parada de 7 de setembro.


No medalhão, ao alto, s. a. o príncipe Aimone, em baixo à esquerda do leitor, o comandante Capon, e à direita o comandante Magalhães de Almeida

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