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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - VISITANTES
Presidente português Craveiro Lopes, em 1957

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Em visita às principais cidades brasileiras com significativas comunidades portuguesas, em 1957, o presidente Craveiro Lopes, de Portugal, também esteve em Santos, onde foi festivamente recebido. Na véspera de sua chegada, o jornal santista A Tribuna estampou edição especial sobre o visitante, em 16 de junho de 1957 (exemplar no acervo de António Mendes, de Praia Grande/SP - ortografia atualizada nesta transcrição):
 


Imagem: reprodução da capa de A Tribuna em 16/6/1957
(Acervo de António Mendes, de Praia Grande/SP)

Exaltação de Portugal e saudação ao presidente Craveiro Lopes

Num dia de glória para a cidade, num momento de júbilo inconfundível, numa clara expansão de seus sentimentos afetivos, na Saudação a Portugal que é em que tudo se resume - o Portugal donde nos veio a Descoberta, o Portugal que nos mandou o Fundador a esta ilha de São Vicente - Santos receberá amanhã a visita do general Craveiro Lopes, laço de união entre duas Pátrias banhadas pelas mesmas águas...

Das caravelas na esteira a "última flor do Lácio, inculta e bela" veio transmigrando num punhado de homens que para este continente trazia o alargamento daquele "jardim da Europa à beira-mar plantado", e aqui se multiplicaria no amálgama étnico das três raças, e aqui palmilharia a longa costa e mergulharia a sua audácia pelo sertão, fazendo recuar a letra dos Tratados com o passo firme das bandeiras.

Viria então um Santista para realizar a Obra ingente da conquista e da ocupação da Terra, e nesse instante do mundo foi o Estadista que marcou os delineamentos de nosso mapa, escritos pela Coragem e pela Aventura.

Saudamos, assim, no insigne visitante, o homem que representa aquela Pátria das caravelas descobridoras, impelidas para a aventura argonauta da Descoberta das novas terras, ou mesmo que fosse pelo singrar amargo das águas dos cabos perigosos, uns das tormentas, outros da esperança, mas sempre afirmando as virtudes de uma Raça, nos sonhos do Infante, olhos abertos para o futuro, dessa ponta desafiadora sobre o mar e a noite... Saudamos o velho Portugal das quinas, desse chão em que se acham ainda plantadas as cidades romanas, que brotaram num povo capaz de escrever com sacrifício de vida e de amor - dali nasceu a palavra Saudade - as epopéias inesquecíveis das naus que se foram por mares nunca dantes navegados.

Saudamos no soldado Craveiro Lopes, sem as insígnias transitórias do poder e do cargo, a palpitação humana de uma fé e de um ideal, que informaram os mesmos navegadores, os mesmos marinheiros, os mesmos desbravadores, os combatentes de Aljubarrota de um lado do Atlântico, os batalhadores de Guararapes do outro lado, e neste ponto regional da nova terra, saudamos no soldado-visitante a Pátria de Braz Cubas, o Fundador de Santos, a Pátria dos que primeiro venceram a selva da Serra do Mar, a intransponível, desafiando o esforço e a canseira, e chegaram ao Planalto e situaram ali os primeiros fogos da penetração... Dali partiriam as monções, a gente rude escreveria em terra, de novo, a predestinação desbravadora.

É por isto que se inscreve nos anais da cidade, como um dia de glória, o dia de amanhã, em que o povo santista vai receber com a sua manifestação de fraternidade luso-brasileira, a visita do insigne cidadão, presidente Craveiro Lopes.

É também em missão do povo irmão que nos chega o governante, destituída de limitação política como a vemos nesta tomada de contato, no empolgante momento em que um povo inteiro ratifica a nossa comunidade de sangue e de língua, comunidade de interesses profundos que para a História terá um dia a significação mais alta e mais profunda - foi Portugal que transportou para este lado do Atlântico a herança que recebeu no limite extremo do Oeste da Europa, da preservação da Latinidade. E aqui frondejaram essas sementes e aqui se ergueram pela concertação de fatores adversos e de inenarráveis dificuldades o país, a nação, o povo e o trabalho, que fariam no território a maior faixa de terra onde a Latinidade teria o seu lar mais numerosamente povoado, a garantia de seu império de paz e de fraternidade, de conjugação, enfim, das práticas de uma democracia das raças e do espírito, paragens libérrimas cuja afirmação mais e mais se revigora na feitura de uma civilização, no adestramento e na instrução, no labor ininterrupto, sempre em luta contra os fatores adversos, a ambição dos homens, visando a um horizonte luminosamente aberto, da Pátria maior.

Saudamos no presidente Craveiro Lopes a Pátria Portuguesa. Aqui, nestas ruas por onde desfilará a manifestação carinhosa de amanhã, foram portugueses os que construíram os primeiros ancoradouros das naus que vinham de fora, foram portugueses os que levantaram as primeiras moradias, os que traçaram os primeiros caminhos, para a marcha da penetração na terra prometida... Saudamos no presidente Craveiro Lopes aqueles bravos marinheiros e soldados e peões e missionários, que plantaram estas nossas cidades da orla marítima, e nesta Saudação colocamos o reconhecimento de uma Dívida contraída, jamais esquecida, e que só o tempo pagará, em afirmações como a que o país inteiro vem vivendo nestes dias, na cimentação das fundações da comunidade luso-brasileira, de que Craveiro Lopes é hoje o fiador entre Brasil e Portugal.

Seja bem vindo à nossa cidade, como cidadão dela, senhor presidente!

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