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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - Raul Soares
O navio-prisão (7)

Uma das páginas negras da história santista

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O médico Thomas Maack foi homenageado pela Câmara Municipal de Santos, fato registrado pelo jornal santista A Tribuna, na edição de 9 de novembro de 2012, página A-4:

Exílio nos Estados Unidos lhe rendeu carreira de sucesso na Medicina

Foto: Irandy Ribas, publicada com a matéria

48 anos depois, Thomas Maack é homenageado

Médico, professor e cientista esteve no navio-prisão Raul Soares durante a ditadura

Da Redação

Era para ser uma sessão rotineira na Câmara. Porém, diferente de todas as quintas-feiras, a atenção dos presentes não estava voltada para os projetos de lei da pauta, mas para o grande homenageado da noite: o médico, professor e cientista Thomas Maack, de 77 anos.

Ele esteve confinado por quatro meses de 1964 no navio-prisão Raul Soares. Detido no dia 8 de junho daquele ano por agentes do Departamento da Ordem Pública Social (Dops) e militares à paisana, foi trazido para Santos e levado à embarcação sem que a família soubesse.

Este momento foi relembrado em seu discurso, na Câmara. "Quando fui transferido para o navio-prisão Raul Soares, recusaram-se a dizer para minha esposa onde eu estava. Em uma manhã, quando examinava um dos prisioneiros doentes, contei-lhe a necessidade que tinha de secretamente me comunicar com minha esposa. Meu companheiro prisioneiro disse que iria consultar a direção de coletivo sindicalista preso no navio para ver o que poderia ser feito. No mesmo dia, um membro da Polícia Marítima que nos guardava, mas simpatizava conosco, aparece na minha cela e diz que levaria o recado para minha esposa. E assim o fez, trazendo de volta o recado dela para mim".

Maack destacou-se entre os presos em uma situação inusitada. Quando um dos detidos tentou suicidar-se cortando os pulsos, ele prestou atendimento e aconselhou a remoção do ferido à Santa Casa. Desde então, passou a assistir os detentos que adoeciam.

O Raul Soares tinha cerca de 150 presos políticos. A maioria era do movimento sindical santista e de outras regiões do Estado. Havia ainda militares, jornalistas, estudantes e lideranças de várias áreas que se opunham ao Governo Militar. A ditadura havia deposto o então presidente da República, João Goulart, em março de 1964.

Maack é alemão e veio ao Brasil com poucos meses de vida. Tem em sua memória lembranças marcantes do navio-prisão. "As condições dos porões eram terríveis, as condições sanitárias, precárias. Isso me impressionou mais do que qualquer outra coisa. Assim como me impressionou, por outro lado, a solidariedade dos trabalhadores nestas condições".

Após ser solto, o médico fugiu do País e, junto com sua mulher, Isa Tavares Maack, buscou exílio em Nova Iorque, nos Estados Unidos, onde vive até hoje. Lá, tornou-se um dos principais especialistas em pesquisas médicas do mundo. Vem para o Brasil esporadicamente e, quando o faz, recebe homenagens, como a de ontem, por iniciativa do vereador Marcus de Rosis (PMDB).

Gozando de plena saúde e mostrando um enorme desejo de justiça, faz um apelo para a Comissão Nacional da Verdade (CNV), órgão que apura graves violações de Direitos Humanos, praticadas por agentes públicos, ocorridas entre 18 de setembro de 1946 e 5 de outubro de 1988.

"Acho que seria um erro crasso se a CNV não der ênfase aos anos iniciais da ditadura. Em dois anos (1964 a 1966), mais de 10 mil trabalhadores foram presos, perderam seus empregos. Inúmeros foram exilados do País e centenas torturados. O papel inicial da repressão ao sindicalismo foi exemplificado pela repressão ao sindicalismo santista, em nível mais alto do que em qualquer outro lugar do Brasil. E teve sua expressão maior nas infâmias cometidas pela ditadura no navio-prisão Raul Soares. Queremos saber a verdade. Quem mandou o Raul Soares para Santos? Qual foi a linha de comando? Se isso acontecer, ficarei muito feliz".

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