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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - TRANSPORTES
Travessia do estuário, de Santos a Guarujá

Com a criação do balneário de Guarujá, no início do século XX, começou a necessidade de um serviço regular para a travessia do Estuário, entre as ilhas de São Vicente (onde ficam Santos e São Vicente) e Santo Amaro (onde se situa Guarujá). Em 5 de julho de 2002, o jornal santista A Tribuna publicou:


Em 1904, uma embarcação a vapor cruzava várias vezes por dia o canal, levando e trazendo carros e pedestres de Santos para Guarujá
Foto publicada com a matéria

TRANSPORTE
Cem anos de travessia

Há mais de um século, atravessa-se o estuário rumo a Guarujá por meio de balsas a vapor ou a diesel, um sistema que já está saturado

Da Reportagem

São 22 mil carros, cerca de 10 mil bicicletas e três mil motos. O movimento diário de ida e volta na travessia entre Santos e Guarujá é intenso, mas poucos usuários sabem que usam um transporte centenário, que começou a operar com embarcações a vapor e de madeira. O sistema sofreu mudanças para acompanhar o desenvolvimento das duas cidades, mas agora está à beira da saturação e registra momentaneamente o aumento do número de motos e bicicletas.

No final do século 19, os passageiros de trem vindos de São Paulo, com destino à Estância Balneária do Guarujá, embarcavam em lanchas a vapor, no Valongo, onde funcionava a antiga estação ferroviária.

"Só que a viagem era cansativa. O passageiro andava de barca por todo o canal do estuário, chegando ao Guarujá para pegar um outro trem em direção à praia. Foi então que decidiram encurtar o caminho", recorda o assistente da gerência da Dersa, Vitorino Genaro dos Santos, 62 anos, 44 deles dedicados ao trabalho na travessia.

A mudança acabou dando certo e aliviou o tempo de viagem. Por volta de 1910, as barcas a vapor construídas na Holanda começaram a partir da Praça da República, no Centro da Cidade, em direção a Vicente de Carvalho, de onde as pessoas seguiam para Guarujá.

Foi assim que surgiu o embarque na Praça da República que existe até hoje. Com pouquíssimos carros em circulação, as barcas viajavam repletas de passageiros num sistema operado pela iniciativa privada.

SUCATA

"As embarcações 5, 6, 7 e 8 foram feitas de aço de sucatas de guerra, cada uma para 20 carros"

Vitorino Genaro dos Santos
Assistente de Gerência da Dersa

Ferry-boat - Por volta de 1930, surgiu o ferry-boat, na Ponta da Praia. A FB-1 foi a primeira embarcação a atravessar os 400 metros do estuário que separam a Ponta da Praia da Vila Lígia. Feita de madeira, com espaço para seis a oito carros, transportava a grande massa de pessoas que ainda utilizava predominantemente o trem.

O desenvolvimento de Santos e da Estância do Guarujá acontecia rapidamente. Pouco tempo depois surgiram mais três embarcações, as FBs 2, 3 e 4, sendo as duas primeiras para sete carros e a terceira para 16. Em seguida vieram as embarcações 5, 6, 7 e 8, cada uma para 20 veículos.

Em 1946, o Estado assumiu o comando da travessia. Um ano depois, a construção da Pista Norte da Via Anchieta chegava ao fim e a estância era elevada à condição de Município.

A estrada diminuiu a distância entre Santos e Guarujá, e o desenvolvimento da indústria automobilística provocou um boom de carros na Cidade. Guarujá projetou-se para o Estado e começou a atrair um público cada vez maior. "As novas embarcações, 5, 6, 7 e 8, foram feitas de aço, com sucatas de guerra", lembrou o funcionário.

Chega 1958 e Vitorino dos Santos começa a trabalhar na Dersa, como encarregado de usinagem, aos 18 anos. Bastante jovem, acabou participando da reforma da primeira embarcação da travessia, a FB-1, que hoje já não opera mais.

Por volta de 1962, surgiram as FBs 9, 10 e 11, maiores e com novos sistemas de propulsão. Na mesma época, os bairros do Guarujá expandiam-se rapidamente e a travessia de passageiros tornou-se intensa. Os conflitos entre carros e pedestres começaram a surgir. "As pessoas atrapalhavam e já não havia mais espaço para veículos e passageiros".

Em 1971, a Capitania dos Portos proibiu o transporte de pedestres nas balsas, mas a utilização das embarcações continuou, de forma indevida, até 1973, quando uma lancha exclusiva para passageiros, a Itapema, passou a operar gratuitamente o percurso entre a Ponta da Praia e Guarujá.

Rotina - Em 1979 surgiu mais uma embarcação para a travessia, que até hoje está em operação. É a mais nova balsa em funcionamento, sendo que as FBs 10 e 11, de 40 anos, também continuam a realizar o trajeto.

"Mas todas passam por uma rotina rigorosa de manutenção anual". A cada cinco anos, cada uma recebe uma reforma de grande porte, na qual 50% da estrutura são substituídos.


Atualmente, mais de 35 mil veículos usam diariamente o transporte,
entre carros, bicicletas e motos
Foto: Carlos Nogueira, publicada com a matéria

Sistema hoje é terceirizado e mais seguro

A década de 80 marcou de vez o sistema de operação das balsas. As embarcações amarradas por cordas para a atracação ganharam sistemas de atracadouros frontais, dando mais segurança às travessias. A ampliação do estaleiro e a construção da carreira de docagem também representaram avanços significativos para o transporte.

Naquela época, a travessia ainda era operada pelo Departamento Hidroviário (DH), ligado à Secretaria de Estado dos Transportes. No início da década de 90, entra no comando a Dersa, pertencente ao mesmo órgão. Em 1996, a estatal terceirizou as operações.

Estava consolidado o êxito da travessia centenária, que hoje conta com oito embarcações para veículos, com quantidade média de 45 vagas, três mistas (para carros, passageiros e bicicletas) e outras três embarcações para passageiros e ciclistas na travessia entre Santos e Vicente de Carvalho. 

45 VAGAS

estão ao dispor dos usuários nas embarcações que a Dersa possui para veículos

  

Em 2000, a Capitania dos Portos, em função das deficiências das travessias nas regiões Norte e Nordeste do País, criou normas para o transporte que tiveram que ser adotadas em todo o Brasil.

As cinco faixas que dividiam as embarcações foram reduzidas para quatro e a distância entre os carros passou a ser de, no mínimo, um metro. As medidas diminuíram de 54 para 45 o número médio de vagas de cada balsa.


Vitorino Genaro dos Santos acompanhou boa parte das mudanças
Foto: Carlos Nogueira, publicada com a matéria

Crise que afeta o País diminui quantidade de usuários

Um dos mais tradicionais sistemas de transporte não escapou da crise econômica. A travessia das balsas entre Santos e Guarujá registra redução de carros desde janeiro deste ano e, em junho, a queda foi de 6,68% no movimento de ida e volta em comparação a junho de 2001. Em compensação, a opção pela bicicleta por quem quer economizar fez subir em 8,78% o número de ciclistas no mesmo mês. Em maio, a elevação chegou a 28,37%.

O primeiro mês do ano apresentou queda de 7,59% no número de carros, em relação a janeiro de 2001. Fevereiro teve redução de 5,57% e março, 3,16%. Em abril, a diminuição voltou a se acentuar, 7,54%, caindo para 0,48% em maio, em relação a maio de 2001.

Já o número de bicicletas subiu 16,61% em janeiro deste ano, em comparação ao mesmo mês de 2001, e 16,96% em fevereiro. Em abril, a elevação chegou a 22,99%, mas em maio subiu mais ainda, para 28,37%. O movimento de motos também vem crescendo mês a mês. O maior índice foi verificado em maio, quando subiu 22,36% em comparação a maio de 2001.

O jornalista e arquivista da Prefeitura de Guarujá, Marcílio de Araújo, de 48 anos, é um dos usuários que contribuíram para a redução do número de veículos. Morador da Aparecida, ele desistiu de ir trabalhar de carro. "O pedágio, o combustível e o tempo que eu perco me fizeram mudar os hábitos. A travessia é imprevisível e, às vezes, demora mais do que ir de ônibus".

Já a empresária Márcia Campos, que mora em Guarujá, disse que precisa fazer a travessia de carro, diariamente, e que ainda não se arriscou a colocar as despesas na ponta do lápis. "Mas a travessia é maravilhosa e não sabia que é centenária".

  

Cresceu o número de bicicletas e motos carregadas

  

Reflexo - O diretor de Travessias da Dersa, Ricardo Goulart, explicou que a queda do número de carros é momentânea e que tem sido verificada também nos feriados, como reflexo da crise.

Entretanto, disse que a duplicação da Imigrantes, em dezembro, aumentará em 10% a procura pela travessia, a médio prazo. "Pontes e túneis são as opções mais modernas para ferry-boat. Enquanto isso não acontece aqui, ampliar as balsas para Vicente de Carvalho é a melhor saída".

Memória
A travessia entre Santos e Guarujá foi cenário de alguns acidentes. O mais grave aconteceu em 22 de dezembro de 1997, quando um carro-forte caiu da FB-17, às 12h30, com quatro funcionários da empresa Prossegur Brasil. O veículo, que não estava com o freio acionado, deslizou pela embarcação e afundou. Os corpos das vítimas foram retirados no mesmo dia. Em setembro e outubro do mesmo ano, dois carros de passeio caíram na água, por imprudência. Há cerca de 30 anos, um funcionário do Iate Clube de Santos caiu da embarcação, de madrugada. Há 15 anos, um casal, que discutia no carro, também deslizou e caiu no mar.


Travessia do estuário, nas balsas da Dersa
Foto: Walter Mello, publicada no jornal A Tribuna em 18 de maio de 2006