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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS
O moinho do senhor Puglisi

Ele não poderia imaginar em 1905 no que a empresa se transformaria

No dia 30 de setembro de 1905, um grupo de empreendedores se reuniu no sobrado nº 2 da Rua 11 de Junho, em Santos, e firmou um documento: "A Assembléia Geral de constituição da Socyedade Anonyma Moinho Santista reuniu-se sob a presidência de Thomas Alberto Alves Saraiva (...)." Foi então aprovado o estatuto da nova companhia, composto um capital de mil contos de réis, fixado um prazo de 20 anos (prorrogáveis) para o empreendimento, eleita e empossada a  primeira diretoria. A nova sociedade teria três finalidades: a compra e moagem de trigo e outros cereais; a compra e venda de farinha e farelos; a fabricação de massas e congêneres.

O cavalheiro José Puglisi Carboni, eleito primeiro presidente por ser o principal acionista, era um homem de comércio e de propriedades, e confiou em seu tino para negócios ao acolher a sugestão de um jovem italiano de nome João Ugliengo, entendido nas artes moageiras, para que investisse na instalação do moinho. Conta a própria empresa, em revista comemorativa de seus 80 anos, editada em 1985 que o moinho santista "era indústria de porte para aqueles tempos, encravada no cenário do porto, exibindo uma capacidade de moagem de 80 toneladas/dia e oferecendo à praça, por opção e sabedoria negocial, uma farinha com qualidade líder".


Quem chegava de navio ao porto de Santos, em 1932, logo via os silos do moinho,
destacando-se na paisagem
Foto: Revista Santista nº 8, de dezembro de 1985

O moinho de Santos seria o embrião de um complexo industrial alimentício que, quando a empresa completou seu 80º aniversário, já compreendia moinhos também em Ponta Grossa (PR), Porto Alegre (RS) e Joinville (SC), somando nos quatro moinhos a capacidade para moagem de 600 mil toneladas de trigo por ano. "Agregadas ao moinho de Santos existem fábricas de misturas preparadas, sobremesas e fermentos, com capacidade para colocar no mercado, por mês, 1.500 toneladas de produtos. E o setor alimentício completa-se com duas unidades de rações balanceadas, uma em Porto Alegre (RS), outra em Joinville (SC), nas quais, aproveitando subprodutos da moagem de trigo, a Santista fabrica cerca de 80 mil toneladas/ano de rações que alimentam rebanhos sulinos".


O moinho de Santos no início das atividades: embrião de um complexo industrial
Foto: Revista Santista nº 8, de dezembro de 1985

Nas décadas de 1920/30 o grupo iniciou a expansão industrial, com o refino de óleo comestível. Em 1929, começou a funcionar na capital paulista a primeira fábrica têxtil Santista, construída pela empresa "para fornecer ao moinho a sacaria de que necessitava e produzir fios para terceiros": a Fábrica de Tecidos Tatuapé S.A., primeira de um complexo de sete fábricas que já em 1985 processavam cerca de 60 mil toneladas de matérias-primas/ano, entre algodão, lã, fibras artificiais e sintéticas, para a produção de tecidos para roupas, lençóis e fronhas, toalhas, casimiras e fios para malharia, tricô e crochê, abastecendo tanto o mercado interno como inúmeros outros países.


Moinho Santos
Foto: folheto de divulgação do Grupo Santista, em 1985

O grupo também enveredou pelo setor minero-químico, a partir da década de 1940, formando um parque industrial em Jacupiranga (Vale do Ribeira, no Sul do estado de São Paulo), "onde diariamente 15 mil toneladas de rocha são extraídas de uma imensa jazida de carbonatito e depois decompostas, para delas se isolar a apatita, que contém o fósforo, separando-a dos carbonatos nos quais ocorre o calcário.

"Os dois minérios abastecem, como matérias-primas, os dois grandes complexos industriais: a Fábrica de Cimento Serrana (criada em 1938), na qual o calcário é utilizado na fabricação de vários tipos de cimento; e o Complexo Fosfórico da Quimbrasil (criado em 1936), onde a apatita concentrada libera o fósforo em seguida transformado em ácido fosfórico, matéria-prima básica para vários ramos industriais, e em matérias-primas intermediárias para fertilizantes, estas encaminhadas às fábricas de fertilizantes fosfatados (sólidos e líquidos) que a Quimbrasil tem em Santo André (SP), Ponta Grossa (PR) e Uberaba (MG)".


Anúncio publicado no jornal semanal santista Sem Censura, edição de 1 a 7 de maio de 1993

Mais recentemente, o setor investiu na busca de alternativas energéticas e em bioquímica, além de passar a produzir pigmentos orgânicos e inorgânicos, para a indústria de tintas e outras aplicações - cuja fabricação está confiada à empresa associada Syntechrom.


O grupo empresarial e sua logomarca, em 1985

Somando mais de 17 mil funcionários em 1985, o grupo também entrou na área de seguros com a Vera Cruz Seguradora S.A., fundada em 1955 para atender às necessidades próprias da organização e depois ampliando o leque de atividades e clientes. Já a Santista Trading Exportação e Importação foi formada em 1984 para atender às atividades de comércio exterior. A divisão de agenciamento marítimo Fertimport também ganhou maior autonomia para representar armadoras e atender clientes fora do grupo.

Além de construir o Centro Empresarial de São Paulo, onde se instalou, o grupo empresarial investiu em laboratórios, centros de culinária, ateliers de moda e muitas outras atividades. Em 1955, aliás, criou a Fundação Moinho Santista, para estimular o desenvolvimento das ciências, letras e artes no País.

Em setembro de 2000, o grupo começou a mudar sua identidade visual na área de alimentos, para refletir a união das empresas Ceval e Santista, incorporando as marcas do grupo multinacional Bunge (corporação fundada na Holanda em 1818).

Como informa a própria corporação, "com sede em White Plains, nos Estados Unidos, a Bunge possui indústrias no Brasil, Argentina, Estados Unidos, Canadá, França, Itália, Espanha, Alemanha, Áustria, Itália, Ucrânia, Hungria, Holanda, Polônia e Romênia. Ela emprega diretamente mais de 24 mil pessoas em todo o mundo, está em mais de 450 localidades dos quatro continentes, movimenta mais de 85 milhões de toneladas de grãos e produtos por ano e tem um faturamento anual superior a US$ 16 bilhões.

"Através da Bunge Brasil, que em 2001 consolidou um faturamento de R$ 9,6 bilhões, controla a Bunge Alimentos (R$ 6,2 bilhões de faturamento em 2001, a maior empresa do seu segmento no país e a maior exportadora no agribusiness) e a Bunge Fertilizantes (R$ 3,4 bilhões de faturamento em 2001 e com as marcas Serrana, Manah, IAP e Ouro Verde), além da empresa de logística Fertimport. Ainda no Brasil, mantém a Fundação Bunge (novo nome da Fundação Moinho Santista) voltada ao incentivo das ciências, letras, artes e educação no país".


Nova marca, na página Web do grupo

Em 6 de outubro de 2016, o site São Paulo Antiga publicou notícia sobre o grupo Bunge, incluindo algumas imagens raras do início do Moinho Santista em Santos:

NOTÍCIAS
Centro de Memória Bunge celebra 22 anos com raridades históricas da Baixada Santista
DOUGLAS NASCIMENTO - 06/10/2016

Foi em 30 de setembro de 1905, na rua 11 de junho, sobrado de número 2, que a S.A. Moinho Santista foi constituída, com o capital inicial de mil contos de réis. A finalidade do estabelecimento era a moagem de trigo, comércio de farinha e farelos e a fabricação de massas e congêneres.


Foto: Acervo Centro de Memória Bunge

 

Em 1907, a primeira unidade moageira, Moinho Santos, é erguida em frente ao armazém 9 do Porto de Santos, na rua Xavier da Silveira, nº 106. O estabelecimento possuía um edifício e nove silos.

O trigo armazenado nos silos, naquela época, vinha do cais por meio de carroças. Posteriormente, o transporte da matéria-prima foi aperfeiçoada, quando construiu-se uma passagem subterrânea por baixo da rua Xavier da Silveira, ligando diretamente o cais com o Moinho. Uma correia instalada no túnel fazia o transporte, à capacidade de 60 toneladas/hora.



Área interna do Moinho Santos, destacando grupo formado por 6 homens à esquerda e fileira de plansifters à direita, 1930. (Detalhe para luminárias em todo o salão.)

Foto: Acervo Centro de Memória Bunge

 

O projeto era ambicioso e, no ano seguinte, em 30 de maio de 1908, o diretor-presidente do Moinho Santos, José Puglisi Carbone, anunciou a conclusão da montagem do Moinho B, que aumentava a capacidade da produção do estabelecimento em mais 100 toneladas/dia.

 


Vista interna do moinho e seus funcionários

Foto: Acervo Centro de Memória Bunge


Desde então a história do moinho foi marcada por constantes melhorias tecnológicas, principalmente em relação a geração de energia elétrica do local: Ainda em 1908, o Moinho Santos passa a dispor de energia elétrica, através de um dínamo gerador importado da Itália, de 120A. No entanto, foram necessários mais de 20 anos de espera para que os benefícios da iluminação elétrica chegassem a Santos.

 


Livros Copiadores de Cartas do Fundador do Moinho Santos, primeiro agente Moageiro, João Ugliengo. (1917, 1929 e 1934). O livro está classificado como "obra rara", não podendo ser manuseado devido à fragilidade de suas páginas, em papel vegetal e escrito à mão.

Foto: Acervo Centro de Memória Bunge

Sobre a Fundação Bunge:

Criada em 1955, a Fundação Bunge, entidade social da Bunge Brasil, atua em diferentes frentes, sempre com o compromisso de valorizar pessoas.

Essas ações são colocadas em prática por meio do incentivo à leitura (Semear Leitores), à preservação da memória empresarial (Centro de Memória Bunge), ao voluntariado corporativo (Comunidade Educativa), a projetos de desenvolvimento local (Comunidade Integrada) e às ciências, letras e artes (Prêmio Fundação Bunge).

Douglas Nascimento - Jornalista, fotógrafo e pesquisador independente, edita o site São Paulo Antiga e é membro do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo (IHGSP). Também edita o blog Human Street View, focado em comparações fotográficas entre a atualidade e o passado.

Novo Milênio agradece ao jornalista Allan Nóbrega pela indicação da página acima

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