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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS
Os milagres de Frei Gregório

Chamou o boi bravio, o animal obedeceu; orou por uma criança, ela reviveu; disse aos pescadores que lançassem a rede, e ela veio enfim cheia de peixes

Um dos muitos livros raros corroídos pelos cupins que atacam fortemente as instalações do Santuário do Valongo é O Convento de Santo Antônio do Valongo, escrito pelo Frei Basílio Röwer OFM e publicado (dois mil exemplares) em fevereiro de 1955 pela L. Niccolini S.A. Indústria Gráfica, de São Paulo. Uma das histórias ali relatadas, a partir da página 54, é esta (com algumas palavras destruídas pelos cupins...):

O servo de Deus Frei Gregório da Conceição

Nas localidades em que os franciscanos fundaram [...] Conventos e por toda a parte onde os levava o seu [...] desde que iniciaram a sua expansão pelas costas do Brasil [...] sempre os queridos do povo. Não era só o hábito de [...] Cristo que atraía: era principalmente a vida de penitência e de zelo pelas almas. Além disso, não raro existiam entre eles religiosos cuja extraordinária santidade Deus testemunhava com dons especiais.

Também o Convento de Santo António do Valongo teve a felicidade de possuir na comunidade, desde a fundação e durante longos anos, uma dessas almas privilegiadas. É o servo de Deus Frei Gregório da Conceição. Referem-se a ele os alfarrábios do antigo arquivo da Província e Frei Apolinário da Conceição lhe dedica algumas páginas em seu Epítome e no seu livro Pequenos na Terra, Grandes no Céu.

Faltaria, pois, uma página neste esboço histórico do Convento de Santo António de Santos se deixássemos de dizer, embora sumariamente, qual foi a vida deste servo de Deus.

Português de nascença, Frei Gregório serviu como soldado tanto em sua terra natal como no Brasil, na restauração de Pernambuco. Da Bahia passou-se para o Rio de Janeiro, "deixando [a milícia] do rei da terra, para seguir a mais nobre milícia, qual [...] Rei do Céu, e se alistou debaixo das bandeiras do nosso [...patriarca], tomando o nosso santo estado no Convento de Santo António do Rio de Janeiro, aos 4 de agosto de 1640".

Depois de professo, foi transferido para Santos, que Deus lhe destinara para ser o teatro de suas heróicas virtudes e o candeeiro para nele deixar brilhar a sua luz diante dos homens.

Ocupava-se comumente na coleta das esmolas. Nas suas jornadas ia freqüentemente descalço de todo e não usava de chapéu por maior que fosse o rigor do sol. Nas casas que lhe ofereciam hospedagem, não rejeitava a cama mas deitava-se no chão ou sobre uma esteira. Quando chegava a alguma casa todo molhado e dava o hábito para enxugar, os seculares observavam-no pelo buraco da fechadura e viam, então, o seu corpo superior todo coberto de cilícios.

Retornando ao Convento, Frei Gregório passava horas a fio de joelhos em devota oração, corria a Via Sacra, ajudava o maior número possível de missas ou, conforme se fazia necessário, ajudava na portaria e na cozinha, no refeitório e na horta.

Freqüentemente vinham os seculares ao Convento para consultar o religioso sobre negócios ou viagens que pretendiam fazer e confessavam que, seguindo os seus conselhos, eram sempre bem sucedidos.

Não faltam tão pouco fatos extraordinários atribuídos a Frei Gregório. Um dia ofereceram-lhe de esmola um boi, [...] bravo que todos o temiam. O frade chamou-o em nome de Santo António e o animal veio mansamente, deixou que se lhe lançasse a corda e sem relutância seguiu até ao Convento.

Em outra ocasião, e foi também no distrito da cidade de São Paulo, foi chamado a uma casa onde os pais choravam a morte de seu filhinho. Frei Gregório passou toda a noite em oração e na manhã seguinte entregou a criança viva aos pais, dizendo que ela dormira.

Um caso interessante deu-se em Santos. Era véspera de São Francisco, dia de jejum. Frei Gregório saiu do Valongo em busca de peixe. Chegando ao lugar das pescarias, achou os pescadores aborrecidos e soube então que em todos os lanços que fizeram só colheram lixo nas redes. A pedidos, porém, do servo de Deus e pelo respeito que lhe tinham, lançaram de novo a rede e esta vez foram felizes, pois apanharam tantos peixes que encheram os dois cestos de Frei Gregório. Este disse então aos pescadores que primeiro tirassem para o seu jantar, o que, porém, não quiseram fazer, na esperança, naturalmente, de terem outro lanço abundante. Arrependeram-se logo, pois, lançando outra vez a rede, nada apanharam, e Frei Gregório já se achava em caminho para o Convento.

Frei Gregório morreu no Convento de Santos em 1704, com [...a] anos de idade e sessenta e quatro de Religião franciscana, reconfortado com todos os Sacramentos. Espalhando-se a notícia de seu falecimento, enorme multidão de povo, entre os [...] o Governador da Praça, compareceu no convento. Todos desejavam possuir qualquer coisa do servo de Deus ou tocar no corpo os objetos que traziam. Foi preciso vestir o corpo duas vezes e por isso o Guardião mandou fechar as portas e deu sepultura ao corpo.

Disto não gostou o povo e, como nada podia fazer, deu largas ao seu descontentamento, alcunhando o Guardião, trocando o seu nome de Frei Maurício para Frei Maligno. Compreende-se a atitude do povo, tão familiarizado com o humilde Irmão, que durante mais de 60 anos, perambulando pelas ruas da vila, lhe dera o exemplo de um discípulo fiel de São Francisco.

Refere ainda Frei Apolinário da Conceição que o cordão do santo frade, aplicado a pessoas em perigo de morte ou a senhoras em partos difíceis, operava prodígios.


Igreja e Convento do Valongo em 1840
Quadro pintado por Benedito Calixto

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