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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - GREVE! - LIVROS
Uma saga em um porto do Atlântico (11)

Em 1994, durante a gestão do prefeito David Capistrano, do Partido dosClique nesta imagem para ir ao índice da obra Trabalhadores, diversas publicações foram produzidas pela Prefeitura Municipal, resgatando a história de Santos e especialmente a sua atividade sindical. Uma dessas obras é o livro Caixeiro, Conferente, Tally Clerk - Uma saga em um porto do Atlântico, dos jornalistas Paulo Matos e Carlos Mauri Alexandrino, aqui reproduzido integralmente a partir de sua edição única, de março de 1996.

Com 144 páginas e ilustrações (registros CDD - 331.879816 - M433c), o livro inclui ainda textos de Marcos Augusto Ferreira e fotos de Carlos Nogueira, dos arquivos do Sindicato dos Conferentes de Santos e do Departamento de Comunicação da Prefeitura. Esta primeira edição digital, por Novo Milênio, foi autorizada em 19/2/2010 por Paulo Matos. Veja:

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Caixeiro - Conferente - Tally Clerk

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 Uma saga em um porto do Atlântico


A voz das ruas voltou a ser ouvida a partir de meados da década de 80, sem os traumas e repressões do período anterior, uma mudança bem-vinda. Os trabalhadores avulsos de Santos fizeram das praças seus espaços de protesto contra as ameaças. Na foto, a manifestação de fevereiro de 93, na Praça Mauá, na ocasião em que se votava o PL8 no Congresso. Uma luta inacabada

Foto publicada com o texto

 

Os desafios impostos pela democracia e o pesado jogo das pressões

O longo reaprendizado da ordem democrática que, por si só, não significa uma garantia de justiça social. Ela garante o direito de lutar

Democracia dá certo. Demonstrar, na prática, essa assertiva arduamente defendida durante duas décadas por todos os democratas, foi uma tarefa inglória nos novos tempos. Tarefa ainda inconclusa, na verdade. O fato é que se a democracia tem defeitos, ainda não se inventou nenhum sistema melhor para a convivência política.

Os resultados a nível municipal - e até porque restrito geográfica e socialmente - foram muito melhores que aqueles alcançados a nível nacional Dois mandatos e meio de prefeitos eleitos devolveram à Cidade um vigor que se julgava perdido definitivamente.

Desde 1984, quando os santistas voltaram a decidir nas urnas quem governaria Santos, os ganhos têm sido expressivos e inegáveis. A própria vinculação desses governantes com os cidadãs avançou muito em relação ao que ocorria sob os governos nomeados da segurança nacional.

Para o País as coisas não têm sido fáceis. São marchas, contra-marchas, oscilações que mais lembram pêndulos de velhos relógios. Sarney, Collor e seu impeachment, Itamar, Fernando Henrique, um caminho longo e tortuoso, embalado a planos e choques que alteraram por seis vezes a moeda nacional, derrubaram a renda dos brasileiros aos mais baixos níveis de nossa história. Diga-se em defesa da democracia, que ela paga, através de governos eleitos, os desmandos de um longo período de silencioso desmonte.

Foi um período também de intensas paixões, de esperanças, fundadas ou não, de lutas vigorosas das quais o impeachment de um presidente da República inepto, sob acusações de corrupção em escala nunca vista - ou, pelo menos, nunca dita - é um emblema histórico. Vivemos, naquele período, um momento raro, não apenas na política brasileira, mas nos registros mundiais. A democracia, entre nós, passou vitoriosa pelo seu primeiro e mais duro teste: a substituição pacífica de um presidente.

Santos e seus trabalhadores - mais que tudo, trabalhadores de um porto - viveram muitas e longas histórias e, de certo modo, sabem que tudo é efêmero. Por mais que a urgência da vida pareça decisiva, os fatos passam, a realidade muda. Mais de cem anos nos separam do início de atividades do porto organizado como o conhecemos hoje e, certamente, estaremos aqui mesmo nos próximos cem.

O jornal O Conferente, tradicional voz do Sindicato, numa nova fase, busca debater os problemas derivados do largo período de transição que a categoria e a própria atividade portuária atravessam. Os jornais, temáticos, vão além da fronteira dos interesses imediatos

Imagens: reproduções, publicadas com o texto

Nem sempre, ao longo dessa história dos que construíram o maior terminal marítimo brasileiro, estiveram unidas as diversas categorias.

Mas os episódios fundamentais, aqueles momentos de encruzilhada histórica, demonstraram e têm demonstrado, pela unidade nas lutas, que a longa saga produziu uma maturidade rara.

As mudanças nos portos, encaminhadas de modo angustiante na maior parte das vezes, não se constituirão em fim de nada. Apenas mudam maneiras, situações, modos de fazer o que tem de ser feito e continuará sendo enquanto navegarem navios e tiverem de circular mercadorias e riquezas.

Após a redemocratização do país, em 84, surgiram muitos conflitos graves. Mais que em outros tempos, tornaram-se claras as intenções dos diversos setores envolvidos na questão portuária. E essa clareza, ao contrário do que fazem parecer os sobressaltos da vida cotidiana, é uma vantagem. Conhecendo-se as intenções, melhor se luta contra elas, se isso for necessário.

Nestes novos tempos que atravessamos, as demandas dos trabalhadores do porto tornam-se também demandas da Cidade e seu povo, indissoluvelmente ligados pelo efeito econômico de alterações súbitas. O que ficou para trás, com o fim do autoritarismo, entre outras coisas, foi a possibilidade de alterar, sem avisos ou recursos, a vida de cada um de nós.

Isso não elimina a necessidade de manter a luta acesa. Para Santos, a maior demonstração disso foi o episódio de fevereiro de 1991, quando a mobilização geral da Cidade produziu efeitos históricos. Mas é certo que, à exceção de fatos de tal gravidade, o debate político, social e econômico mudou.

Mudamos também com esses novos tempos e temos de prosseguir no esforço de nos prepararmos para tomar parte em um diálogo diferente daquele que se tinha anteriormente. Globalização, produtividade, equilíbrio tecnológico, automação, blocos econômicos, são conceitos com os quais teremos de ter tanta afinidade quanto aquela que os trabalhadores da década de trina souberam construir em relação à mecanização do trabalho. Não é uma transição fácil, mas é necessária.

O soco no estômago do governo Collor

A demissão de mais de 5.300 trabalhadores do porto em 1991 foi o estopim de uma greve geral que paralisou a Cidade de Santos em fevereiro e levou a uma vitória sem precedentes no dia 28 daquele mês.

O governo recuou de sua posição e os trabalhadores retornaram a seus postos.

A demonstração de unidade de todas as forças da Cidade pegou de surpresa os donos do poder. O apoio ostensivo do governo municipal ao movimento produz outra das muitas novidades daquele momento histórico. Ficava claro que não poderia haver a paz dos cemitérios sobre questões que influíam na vida de milhares de pessoas e no próprio desenvolvimento de Santos. É um episódio marcante e definitivo dos novos tempos.


Fotos publicadas com o texto