Clique aqui para voltar à página inicialhttp://www.novomilenio.inf.br/santos/h0156u3.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 09/01/12 15:38:09
Clique na imagem para voltar à página principal
HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - GREVE!
As primeiras greves santistas (1908)

Leva para a página anterior

Os movimentos trabalhistas em Santos marcaram época, em diversas oportunidades, tanto pelo pioneirismo como pela intensidade e frequência, pelas metas inovadoras e pelo alcance popular. Essas ações foram registradas pela imprensa em diversas oportunidades, como em 22 de setembro de 1908, quando o jornal paulistano O Estado de São Paulo registrou, em sua página 2 (Acervo Digital Estadão - ortografia atualizada nas transcrições nesta página):


Imagem: reprodução parcial da pág. 2 de O Estado de São Paulo de 22/9/1908 (Acervo Estadão)

Telegramas

Serviço especial d'O Estado de S. Paulo

A greve nas Docas - Greve geral - As providências da polícia - Nos armazéns da S. Paulo Railway - Outras informações

Santos, 21 - Há dois dias que um jornal local assegurara que hoje seria declarada a greve geral, mostrando assim a classe operária a sua adesão às reclamações apresentadas pelos grevistas.

Patrulhas de cavalaria percorriam as ruas a passo e rondas de infantaria de polícia, de armas a tiracolo, estacionavam nas esquinas. Em diversos botequins e esquinas, nos bairros da Vila Mathias, Macuco e Penha, estacionavam pequenos grupos de operários e carroceiros.

Era realmente a greve geral.

Os carroceiros não saíram à rua, para carregar o café destinado a embarque; as outras classes operárias também se deixaram ficar em casa.

Logo às primeiras horas do dia fui à estação da S. Paulo Railway, notando que os armazéns estavam com os operários nas portas e que nenhuma carroça retirava café.

Procurei saber qual o motivo dessa paralisação, e fui informado de que todos os carroceiros se haviam declarado em greve, acompanhando seus colegas trabalhadores da Companhia Docas.

A estação da S. Paulo Railway desde muito cedo está guardada por uma força estadual sob o comando de um alferes, tendo à frente um corneta de piquete.

O sr. Soares, em companhia de um oficial da força policial e algumas praças de infantaria, percorreu os armazéns da Ingleza, não encontrando nenhuma perturbação da ordem, verificando somente não ter comparecido nenhum carro às portas.

Da S. Paulo Railway dirigiram-se para os armazéns da Companhia Docas, notando que o movimento estava completamente paralisado, não havendo, porém, perturbação da ordem.

O cais, em toda sua extensão, estava guardado por força de infantaria e cavalaria, que não consentia agrupamentos nas imediações dos armazéns.

O sr. coronel Pedro Arbues, comandante da força policial, percorreu as Docas, a Ingleza e diversas ruas centrais da cidade, notando não haver nenhuma perturbação da ordem.

Logo pela manhã, nos diversos armazéns da Companhia Docas, era pequeno o movimento, notando-se a descarga de alguns navios para os armazéns pelo pessoal da Companhia.

O vapor Jupiter, entrado ontem, trouxe do Rio mais 50 trabalhadores, que foram divididos por diversas turmas, entrando hoje em serviço.

- O Les Alpes, que entrou ontem da Europa e tem cerca de 800 toneladas de carga destinada a este porto, tendo urgência em sair, o comandante daquele vapor ofereceu aos imigrantes que se achavam a bordo 10 francos para fazer a descarga do navio; estes, que na sua maioria são espanhóis, recusaram-se a aceitar tal proposta, pois que, sabendo da greve, recearam trabalhar.

- Constava às 9 horas que os trabalhadores do matadouro fariam também greve, caso até as 11 horas da manhã as Docas não cedessem as 8 horas aos seus trabalhadores.

Vários condutores e cocheiros de bondes têm sido intimados por carroceiros a fazer greve até ao meio dia.

Os srs. Frota, Irmãos & Comp. distribuíram as seguintes circulares:

"Comunicamos que tendo a generalidade do comércio de café, nesta cidade, pedido a suspensão de embarques no interior, protestamos em tempo contra semelhante resolução lesiva aos nossos direitos e interesses, avisando à diretoria de estradas de ferro estar pronta a receber e pagar diariamente o café que nos for consignado, sem a mínima interrupção no nosso trabalho comercial, a despeito da greve que afeta as negociações desta praça. Levando o fato ao conhecimento de v. s. para que não interrompa as remessas, conseguindo, assim, evitar o pagamento do novo imposto de mais dois francos".

- O sr. vice-cônsul de Portugal nesta cidade recebeu do cônsul da mesma nação em São Paulo o seguinte telegrama: "Acabo de conferenciar com s. exa. o sr. secretário de segurança pública, que me autorizou a dizer a v. exa. que telegrafou, dando todas as providências".

Esse telegrama foi em resposta a uma representação enviada ao vice-consulado e por este remetida para São Paulo.

- Logo pela manhã, o dr. Bias Bueno, a fim de tentar o restabelecimento do serviço de carroças, mandou convidar diversos proprietários de veículos a comparecer à delegacia, a fim de ouvi-los sobre a greve e lhes propor uma medida para que o serviço fosse iniciado.

Comparecendo alguns proprietários de carroças, propôs-lhes o sr. delegado que fizesse sair para a rua suas carroças, pondo s.s. à sua disposição soldados à paisana para guiá-los, cocheiros do corpo de bombeiros e cerca de 40 cocheiros. Os proprietários de carroças aceitaram.

Às 10 horas, o delegado mandou telefonar para o corpo de bombeiros e quartel de polícia, pedindo todos os cocheiros que pudessem ser dispensados e que os remetessem com urgência à polícia.

Às 10 horas e meia, chegaram à polícia 80 cocheiros da polícia, bem como dois carros de transportes do Corpo de Bombeiros [...(N. E.: trecho ilegível ou dilacerado no original)] uma vitória do Serviço Sanitário, que o inspetor chefe daquela repartição, dr. Guilherme Álvaro, pôs à disposição da polícia. Nos dois últimos eram conduzidos diversos proprietários de carroças; logo atraas seguiam dois carros de transporte do corpo de bombeiros, conduzindo o primeiro os cocheiros da polícia e os trinta soldados de polícia, que iam garantir a saída das referidas carroças, pelas diversas cocheiras em que o dr. delegado pretendia arranjar carroças, pô-las na rua e por esta forma dar início ao serviço de transporte.

- O carro do corpo de bombeiros que conduzia os cocheiros, partindo da polícia em grande velocidade, ao fazer a volta da Rua Amador Bueno ao lado do teatro Guarany, foi de encontro ao canto da calçada, deslocando um lampião da City que se acha naquela esquina e machucando levemente um cabo de polícia que guiava o carro.

- Voltei novamente à São Paulo Railway às 11 horas e meia, e fui informado por empregados de categoria daquela companhia de que todos os operários se apresentaram ao serviço na hora regulamentar.

Efetuaram alguns embarques de mercadorias nos armazéns de importação, assim como foram descarregados na ordem 234 vagões com café.

No pátio da Ingleza, conversei com alguns carroceiros, interpelando-os sobre a greve, ao que responderam não estarem absolutamente declarados em greve: "não trabalhamos porque fomos prevenidos pelos grevistas de que expúnhamos nossas vidas, se o fizessem".

Outrossim disseram que estão satisfeitos com seus ordenados e serviços, e que portanto, não há motivo para ficarem solidários com os grevistas, que insensatamente mandaram avisá-los para não pegarem no serviço, senão eles tirariam vingança após o trabalho.

O sr. Antonio Fidelis, chefe do tráfego da Ingleza, passou no escritório desta companhia o dia inteiro, dando ordens aos seus subalternos, a fim de que não houvesse nenhum incidente desagradável.

Uma das suas primeiras providências foi pedir ao oficial da força policial, ali de serviço, que não consentisse ajuntamentos nos pátios e portas da estação.

Ao meio dia a força policial, na Ingleza, estava mais aumentada do que de manhã.

- Anteontem, pela manhã, os exportadores estavam resolvidos a fazer embarques de café, a fim de aproveitar e adiantar serviço; verificando-se, porém, que havia nesse dia maior número de embarques, que o trabalho corria com maior presteza e que, de certo modo, o pessoal de carroceiros estava fatigado, concordaram os mesmos exportadores em não fazer embarques.

Levadas a resolução e contrarresolução ao conhecimento da diretoria da Associação Comercial, esta, que havia providenciado para os embarques, enviou ofícios em contrário, entre os quais o seguinte à Companhia Docas:

"De ordem da diretoria, acuso seu ofício de hoje (19), prontificando-se a facilitar os embarques do café amanhã. Sucede, porém, que os exportadores, tendo em consideração que o 'serviço de embarques, hoje, está sendo feito com maior regularidade e presteza', julgam dispensável o embarque amanhã, pelo que retiram o pedido feito. Nestas condições, apresso-me a prevenir a v. s. dessa contrarresolução para os devidos efeitos".

- Às 2 horas apresentaram-se algumas carroças em um armazém da Rua de Santo Antonio, para carregar café para embarque, e os empregados do armazém declararam que não tinham ordem dos patrões. O mesmo aconteceu em outro armazém do Largo da Estação.

As carroças do sr. Telesphoro dos Santos não saíram por estar ausente o seu proprietário, e os empregados diziam que não tinham ordem para sair.

- Foi presa uma turma de grevistas que estava por detrás do novo quartel de polícia, espiando o movimento.

- Perto de 15 carretões de propriedade do sr. José Novita e outros saíram à rua, indo estacionar próximo à estação da Ingleza, de onde pretendiam retirar café, não dando início ao serviço até 2 horas da tarde. Cada carretão tinha na boleia uma praça de arma embalada garantindo o cocheiro.

- Às 3 horas da tarde, o sr. dr. Bias Bueno chegava à delegacia de polícia, de volta a sua visita às diversas cocheiras.

S. s. conseguiu cerca de 40 carroças e à medida que eram atreladas foram seguindo para os diversos armazéns de café onde deviam fazer embarques; todos os condutores dos carros eram na sua maioria praças de polícia e corpo de bombeiros, e que segundo já falamos acima, não eram carregados nos referidos armazéns por falta de ordem dos srs. exportadores.

A greve nas Docas - Tiroteio entre grevistas e a polícia - Muitos feridos - Chamada para pagamento

Santos, 21 - Cerca de quatro horas da tarde, na Rua de S. Leopoldo, em frente ao jardim da Praça dos Andradas, houve forte tiroteio entre os grevistas e a cavalaria, sendo disparados muitos tiros de revólver.

Numerosas pessoas ficaram feridas, algumas gravemente. A maior parte dos feridos era de pessoas estranhas à greve e que passavam na ocasião ou que acorreram, atraídas pelos tiros.

Fecharam-se todos os estabelecimentos das proximidades, sendo efetuadas numerosas prisões.

- A Companhia Docas convida os trabalhadores que desde o dia 9 não trabalham a ir receber, de depois de amanhã em diante, às 3 horas da tarde, os seus salários do mês de agosto e dos 8 dias do mês corrente, ficando os mesmos trabalhadores avisados de que, caso não recebam no escritório de transportes os seus salários, serão os mesmos depositados em juízo.

Associação Comercial - As remessas de café

Santos, 21 - A assembleia geral da Associação Comercial, reunida hoje em sessão extraordinária, confirmou o desejo de que continuem suspensas as remessas de café do interior, conforme resolução precedente.

Na edição de 23 de setembro de 1908, O Estado de São Paulo noticiou, em sua página 4 (Acervo Digital Estadão):


Imagem: reprodução parcial da pág. 4 de O Estado de São Paulo de 23/9/1908 (Acervo Estadão)

A greve em Santos

Como estava anunciada, realizou-se ontem à noite, na sede da Federação Operária, a reunião dos operários desta capital, para tomar conhecimento da greve dos trabalhadores de Santos e ao mesmo tempo deliberar a atitude que devem assumir.

Depois de discutida a ordem do dia, ficou resolvido dirigir um apelo ao operariado de S. Paulo, incitando-o a uma greve geral, que será declarada amanhã em sinal de protesto pelos fatos de Santos.

Em 30 de setembro de 1908, o mesmo O Estado de São Paulo noticiou, em sua página 6 (Acervo Digital Estadão):


Imagem: reprodução parcial da pág. 6 de O Estado de São Paulo de 30/9/1908 (Acervo Estadão)

A greve em Santos

Sob o terror

Os telegramas de hoje dão-nos notícia de um outro ataque ao alojamento de Paquetá, onde se abriga uma grande parte do pessoal das Docas/ e é necessário acentuar, desde logo, que esses operários atacados porque trabalham, que esses operários assassinados, que esses operários cercados de uma atmosfera de pânico e de terror, pelas balas e pela dinamite, é que servem de pretexto para que os exploradores do movimento apelem para a solidariedade do sentimento dos próprios operários!

Um dos alvos desta greve - porque se fala em outros, que se entendem com hostilidades a sobretaxa de café e até com condições impostas para o novo empréstimo complementar das operações de valorização - um dos alvos dessa greve era, positivamente, passar para as empresas de transporte o serviço de embarque de café, pouco se importando os promotores do movimento com a sorte dos trabalhadores das Doas, que assim ficariam privados dos salários que tiram do seu trabalho. E cada vez que esses trabalhadores, arrostando os perigos de que os cercam, exercem um esforço que pode indicar a normalização do serviço, os anarquizadores redobram de violência, vão até ao crime, para estabelecer de novo a anarquia, favorável aos seus desígnios inconfessáveis.

Pôde-se provar isto de um modo irrecusável, com a singela linguagem dos algarismos, recorrendo à história desta greve - e infelizmente já tem história este movimento que deveria ter sido estancado em horas, por absoluta carência de fundamento, se a energia posta em prática, para garantir a liberdade de trabalho conra os amotinadores, tivesse tido desde o primeiro momento o indispensável rigor. Mas o movimento criou asas e continua; e enquanto os trabalhadores morrem assassinados, enquanto periclita no lar de cada um a subsistência a que só o seu trabalho pode ocorrer, os promotores desse movimento manejam os fios do seu plano sinistro, continuando no conforto das suas casas a desenvolver a obra de anarquia.

Vejamos essa história. Como se sabe, o movimento foi iniciado pelo ataque, à mão armada, contra o pessoal das Docas, que, desprevenido, teve de abandonar o serviço. No dia 14, segunda-feira, pôde ser feito o embarque de café, que atingiu a 5.527 sacas, trabalhando 568 homens. Na terça-feira, o número de trabalhadores subiu a 642, e o número de sacas embarcadas, a 17.963. Na quarta-feira, o pessoal foi o mesmo, e os embarques foram [...(N. E.: trecho dilacerado e ilegível no original)] quinta-feira 717 homens, mais 149 do que na segunda-feira, sendo embarcadas 17.518 sacas.

Nota-se que o número de trabalhadores é sempre ascendente: a companhia não poupava esforços para o desempenho dos serviços de que está encarregada, bem ao contrário do que em regra se dá em muitas greves, nas quais o primeiro cuidado das empresas é pedir à força pública que lhes vá fazer os serviços. Na hipótese atual, a única coisa pedida era a segurança para o trabalho dos que queriam trabalhar, e foi nesse sentido a ação do governo federal e do governo do Estado. É uma diferença tão característica e tão significativa, que não pode deixar de calar nos espíritos, mesmo os mais eivados de parcialidade, quanto mais no sereno juízo do público e no bom senso dos próprios trabalhadores, para cuja solidariedade se apela. Mas continuemos a história.

Quinta-feira, 17 e sexta-feira, 18, o serviço de embarques teve um grande impulso. O pessoal que na segunda-feira fora de 568 homens, que na quarta-feira (N. E.: na verdade, quinta-feira, como citado antes no texto) era de 717 homens, subiu a 947 na sexta e sábado. Os trabalhadores, confiantes na energia desenvolvida pela autoridade pública, afluíam de novo ao searviço. Os embarques de café, que haviam sido segunda-feira de 5.527 sacas e quinta-feira de 17.518 sacas, foram de 41.000 sacas na sexta-feira, e 54.583 sacas no sábado!

Apesar disto, continuavam os telegramas anunciando que o pessoal das Docas estava em greve, curiosa insistência, contra a qual protestam esses números que aí ficam, contra a qual protesta a própria Associação comercial de Santos, desistindo do pedido que havia feito para um serviço extraordinário, no domingo, em vista do serviço de sexta e sábado, que indicavam uma franca normalização.

Essa normalização, porém, não convinha aos interesses dos exploradores. Foi feito apelo aos operários paulistas e foram dadas novas instruções para violências. Na segunda e terça-feira imediatas, dias 21 e 22, houve grandes chuvas que prejudicaram o serviço, caindo os embarques a 1.067 e 1.392 sacas; terça-feira estava restaurado o regime do terror e os embarques eram apenas de 750 sacas, caindo no dia seguinte a 711 sacas. Nesse dia, tomando perante a Associação Comercial, por alguns proprietários de carroças, comissários e exportadores, o compromisso de cooperarem em ação conjunta para a normalização do serviço, já no sábado os embarques subiam a 13.588 sacas, desde que algumas carroças recomeçaram a trabalhar.

O fato positivo e evidente é este: nunca faltou pessoal das Docas para o serviço das Docas: e na própria semana a que acabamos de nos referir, segunda-feira estiveram a postos 951 homens contra 947 no sábado anterior; terça-feira compareceram 999 homens; quarta-feira, 1.107; quinta-feira, 1.200; sexta-feira, 1.255. O último telegrama, referente ao serviço de sábado, dá ainda o seguinte movimento: café embarcado, 7.121 sacas, volumes descarregados 22.905, entregues 19.204 e gêneros a granel, 233.000 quilos.

Portanto, a conclusão evidentíssima a tirar é que o embarque de café só não tem sido feito,não por falta de pessoal das Docas, mas por falta de carroças, sendo que, como foi já publicado, alguns carroceiros declararam que não trabalham por ordem de seus patrões! Onde é que há, pois, sequer a sombra de um motivo para que num movimento assim se faça apelo para os sentimentos da solidariedade de trabalhadores, não só da cidade de Santos, como da capital de S. Paulo, como desta própria capital? Solidariedade com o quê? Com o bando criminoso que pela primeira vez no Brasil usa do recurso covarde da dinamite? Com os que assassinam à bala os trabalhadores inermes? Com os que impedem pela violência e pela força o trabalho de quem quer trabalhar?

Referimo-nos ao embarque de café, porque tem sido o serviço de que mais se tem falado. Quanto aos outros, a regularidade é evidente. A partir do dia 14, data inicial a que nos referimos acima, o movimento tem sido o seguinte, representando a primeira coluna os volumes descarregados, a segunda os gêneros a granel em quilogramas e a terceira os volumes saídos:

22.401 -------- 10.925
20.513 -------- 12.291
15.202 -------- 12.762
28.496 146.500 20,101
22.193 357.000 25.401
18.340 335.500 26.192
-------- -------- --------
4.131 257.000 7.868
10.951 412.000 13.619
23.912 418.000 16.159
16.590 428.500 25.775
27.256 252.000 14.571
23.985 233.000 19.204
233.970 2.839.500 204.868

É este o colossal serviço feito em uma empresa cujo pessoal é dado como estando em greve, por um conluio criminoso de exploradores! E esse bando não hesita diante de coisa alguma: anarquiza o movimento comercial, anarquiza os serviços de higiene, anarquiza o trânsito público, faz explodir a dinamite, atira balas assassinas, corta os encanamentos de água, ataca as casas dos operários, cria uma atmosfera de terror, pelo emprego de todas as violências!

Essa situação não pode perdurar, disse-o ao governo do Estado a Associação Comercial de Santos; e dizem todos quantos reclamam a repressão dessa anrquia, em nome dos interesses da nossa própria civilização, em nome dos interesses da ordem e da segurança pública.

(Gazeta de Noticias de 23/9/1908)

Publicado em 1 de outubro de 1908 pelo mesmo O Estado de São Paulo, em sua página 2 (Acervo Digital Estadão):


Imagem: reprodução parcial da pág. 2 de O Estado de São Paulo de 1/10/1908 (Acervo Estadão)

Greve de Santos

Os documentos que em seguida publicamos mostram qual foi a intervenção do governo do Estado no conflito entre as Docas de Santos e os seus trabalhadores.

O que se passou foi o seguinte:

"Os srs. dr. Joaquim Miguel Martins Siqueira Brody e Azevedo Junior, representantes da Associação Comercial de Santos, entenderam-se domingo último com o exmo. sr. dr. presidente do Estado, pedindo a intervenção do governo federal junto à Companhia de Docas, para uma solução definitiva da greve. Diante das novas solicitações do comércio de Santos, o mesmo exmo. sr. dr. presidente do Estado telegrafou incontinente aos srs. drs. Antonio Candido Rodrigues e Olavo Egydio [...(trecho dilacerado no original)], transmitindo os desejos daquela Associação.

Em resposta ao telegrama do sr. dr. presidente do Estado, aqueles secretários responderam por telegrama, em 27 do findante, o seguinte: 'Conferenciamos Calmon que afirma Docas concorda pagamentos por hora, devendo operários voltar serviço. Docas estudará salário a pagar por hora, ficando governo federal garantidor salário a marcar seja equitativo. Cordiais saudações. Antonio Candido e Olavo.'

Logo que foi recebido este telegrama o sr. dr. presidente do Estado deu-se pressa em comunicar ao presidente da Associação Comercial de Santos, transmitindo o seguinte telegrama: 'Acabo receber do Rio seguinte telegrama assinado drs. Candido Rodrigues e Olavo: Conferenciamos Calmon que afirma Docas concorda pagamentos por hora, devendo operários voltar serviço. Docas estudará salário a pagar por hora, ficando governo federal garantidor salário a marcar seja equitativo Em tais condições julgo não haver mais razão para continuar agitação. - Cordiais saudações. S. Paulo, 28 de setembro de 1908. Albuquerque Lins, presidente do Estado'.

O sr. dr. secretário da segurança pública, por sua vez, telegrafou ao dr. Joaquim Miguel Martins de Siqueira, em Santos, nos seguintes termos: 'Presidente Estado recebeu resposta ao telegrama ontem passado, no qual drs. Candido Rodrigues e Olavo Egydio comunicam que ministro Calmon diz que Docas aceitará pagar operários por hora e por preço equitativo da hora e que dessa resolução garante o governo federal. Resposta do telegrama foi transmitida à Associação Comercial. Saudações, Washington Luis."

Ainda a respeito da greve de Santos o sr. dr. presidente do Estado recebeu do sr. dr. Affonso Penna, presidente da República, o seguinte telegrama: 'Recebi telegrama de v. exa. expondo gravidade situação Santos pela generalização greve Docas. Quais medidas de que precisa governo Estado dependentes governo federal? Assegura v. exa. cooperação deste, no que couber suas atribuições para debelar crise. Cordiais saudações. Affonso Penna.'.

Em resposta ao telegrama do sr. dr. presidente do Estado ao presidente da Associação Comercial de Santos, enviou esta, em data de 28 de setembro findante, um outro telegrama concebido nos seguintes termos: 'Em vista telegrama v. exa. procuramos dr. Tito Brasil representante grevistas e reiniciamos negociações tendentes solução greve e estávamos esperançosos conseguir normalização trabalho. Chegamos marcar conferência secreta e decisiva, mas neste momento dr. Osorno Almeida nos dá conhecimento seguinte telegrama recebido Gaffré: 'Ministro conferência Egydio e Rodrigues lendo telegrama governador declarou poder garantir Companhia não faria questão aceitar pagamento hora, nada dizendo sobre preço. Ministro inteiro acordo não há greve pessoal companhia que não deve modificar comissões não ser pagamento horas depois restabelecidas a ordem para poder organizar serviço'.

'Nestas condições consideramos impossível acordo visto divergência telegrama v. exa., telegrama Gaffré e por isso rogamos v. exa. nos dizer até seis horas o que devemos declarar conferência. Agradeceremos v. exa. resposta urgente. Cordiais saudações. Francisco M. Inglez de Souza presidente Associação Comercial, A. S. Azevedo Junior vice-presidente Câmara Municipal, em exercício'.

O sr. dr. presidente do Estado na mesma data respondeu a este telegrama: 'Respondendo v. telegrama, comunico que vos transmiti na íntegra, telegrama recebido do Rio, e faço reproduzir por parecer que houve alguma alteração na expedição (segue-se o conteúdo do telegrama que é o mesmo acima referido). - 'Garanto que esse telegrama é resultado fiel conferência ministro. Albuquerque Lins, presidente do Estado.'.

Este telegrama foi respondido nos seguintes termos: 'Agradecemos a v. exa. seu telegrama de ontem à noite que nos habilitou tentar mais uma vez em bases prováveis normalização do trabalho nesta praça para o que muito contribuiu palavra de v. exa. dando governo federal como garantidor trabalho por hora com tabela equitativa e chegamos a ter fundadas esperanças solução favorável. Nestas condições conferenciamos ainda esta manhã dr. Osorio Almeida que nos garantiu quociente seria melhorado e nesse sentido telegrafou Rio. Neste momento porém tivemos conhecimento telegrama Gaffré: 'Companhia aceita pagamento serviço hora, estudará sua aplicação imediata base preço atual sendo café pago saca'.

Consideramos rompidas todas negociações e infelizmente impossível qualquer acordo. Situação gravíssima exigindo pronta solução governo v. exa. visto estarem esgotados todos os nossos meios de ação. Cordiais saudações. A. S. Azevedo Junior, Francisco M. Inglez de Souza, Antonio Freitas Guimarães'.

O sr. dr. presidente do Estado transmitiu aos drs. Candido Rodrigues e Olavo Egydio o telegrama supra recebido dos srs. A. S. Azevedo Junior, Francisco M. Inglez de Souza, Antonio Freitas Guimarães e a resposta que havia dado. Ontem, desses dois secretários, recebeu novo telegrama do teor seguinte: 'Dr. presidente Estado. Conferenciamos Calmon que confirma nosso telegrama todos seus termos. Diz ter havido engano interpretação telegrama Gaffré a Osorio. Só depois volta trabalhadores serviço Docas estudará assunto sendo governo federal garantidor salário equitativo [...(trecho dilacerado no original)].

Logo que o sr. dr. presidente do Estado recebeu este telegrama o sr. dr. secretário da segurança pública comunicou todo o seu conteúdo ao dr. Joaquim Miguel Martins de Siqueira, Brody e Azevedo Junior, representantes da Associação Comercial em Santos".

Dias depois, em 6 de outubro de 1908, na página 2 (Acervo Digital Estadão), o mesmo O Estado de São Paulo divulgava:


Imagem: reprodução parcial da pág. 2 de O Estado de São Paulo de 6/10/1908 (Acervo Estadão)

Telegramas

Serviço especial d'O Estado de S. Paulo

A greve nas Docas - Terminação da parede

Santos, 5 - Terminou a greve. Estão completamente restabelecidos os serviços de cargas, descargas  [...(trecho dilacerado no original)] apresentaram-se às 6 horas da manhã no portão das Docas, em frente à Guardamoria, declarando que desejavam voltar ao trabalho.

À medida que a distribuição de serviço o exigia, a Companhia Docas providenciou para que os mesmos fossem recebidos.

Apenas trezentos operários foram recebidos, porque os trabalhos de hoje já se achavam distribuídos. Amanhã serão aceitos os demais.

O movimento no cais durante o dia foi muito animado, tanto nas descargas como nos embarques, quer de vários gêneros, como também de café.

Percorri o cais do armazém 1 ao 12 e verifiquei que todos os vapores estavam trabalhando.

Não se notava aglomeração de carroças para embarques de café.

Continuaram guardados por forças de polícia os pátios e portas dos armazéns.

Ao dr. juiz de direito desta comarca o dr. Bias Bueno, delegado de polícia, remeteu hoje os seguintes processos, instaurados por uso de armas proibidas, contra os indivíduos: José Ximenes, Pedro Tavares, Manuel de Castro, Antonio Borges, Alonso Domingues, Serafim Silveira, Joaquim Peres, Sebastião Martinez e José Alvares.

Ouvi dizer que a Federação Operária local vai distribuir boletins, convidando aos companheiros a voltar ao trabalho e a aguardarem o que promete da interferência dos poderes públicos junto à Companhia Docas.

[...]

Associação Comercial de Santos

Santos, 5 - A Associação Comercial começou a funcionar novamente no seu belo prédio, completamente reformado e dotado de todos os melhoramentos.

Ainda com referência à greve de setembro de 1908, o governador paulista (então denominado presidente do Estado),  Albuquerque Lins, enviou mensagem ao Congresso Legislativo, em 14 de julho de 1909 (para ser lida na sessão inaugural de seus trabalhos), informando sobre os atos de seu governo no ano de 1908. Esse documento foi reproduzido na primeira página da edição de quinta-feira, 15 de julho de 1909, do jornal paulistano O Estado de São Paulo (Acervo Digital Estadão):


Imagens: reprodução parcial da pág. 1 de O Estado de São Paulo de 15/7/1909 (Acervo Estadão)

Mensagem

Enviada ao Congresso Legislativo a 14 de julho de 1909 pelo dr. M. J. Albuquerque Lins presidente do Estado

Srs. membros do Congresso Legislativo

No desempenho do alto e honroso dever Constitucional que incumbe ao presidente do Estado, venho apresentar ao Congresso, na sua sessão inaugural do corrente ano, a presente mensagem, em que exponho detalhadamente todo o movimento da administração pública durante o ano decorrido, indicando, com relação a alguns serviços, providências e reformas que no momento mais reclamadas me parecem pelos interesse e pelo bem geral do Estado.

[...]

Ordem pública - É com satisfação que informo que a ordem pública não foi em geral alterada.

Em Santos houve uma parede de operários em setembro, que ses estendendo a carroceiros, carregadores e estivadores, paralisou por muitos dias a vida comercial daquela cidade. Nesse movimento, que teve por causa principal o ter a Companhia Docas chamado a si o serviço das capatazias, a atitude do governo do Estado foi sempre manter a ordem, garantir a propriedade e assegurar o trabalho, tomando todas as providências e empregando todas as medidas necessárias para a normalização do serviço.

Por sua vez, o governo federal manteve no porto de Santos vasos de guerra e pessoal de desembarque, que guardaram a alfândega e internamente as Docas.

[...]

Poucos dias antes, na página 3 do jornal paulistano O Estado de São Paulo de 8 de julho de 1909 (Acervo Digital Estadão), era noticiado:


Imagens: reprodução parcial da pág. 3 de O Estado de São Paulo de 8/7/1909 (Acervo Estadão)

Os municípios

Santos - Segundo a Tribuna, uma comissão de operários desta cidade organiza um forte partido político, tendo por fim intervir nas questões do município, tomar parte na política do Estado e da União e prestigiar as ideias políticas que lhe forem simpáticas.

Leva para a página seguinte da série