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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - GREVE!
Conferentes, entre gangues e lixas grossas - 1

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Neste trabalho não datado (mas escrito em 1993), o jornalista e historiador santista Paulo Matos (falecido em julho de 2010) relata a história da fundação do Sindicato dos Conferentes de Carga e Descarga do Porto de Santos. Correndo em paralelo com a história relatada no livro Caixeiro - Conferente - Tally Clerk - Uma saga em um porto do Atlântico, que teve sua primeira edição (digital) em Novo Milênio, em 2010, este é um relato biográfico centrado no fundador da categoria dos conferentes, Orlando dos Santos:

Paulo Matos, em foto pouco antes de seu falecimentoPaulo Matos

Orlando dos Santos - a trajetória do fundador da categoria

Paulo Matos [*]

Foi como uma revolução, com todas as características e ingredientes de um processo de ruptura e mudança na estrutura social, em benefício das maiorias secularmente oprimidas pelas elites. É este o sentido das transformações iniciadas e consolidadas sob a liderança de Orlando dos Santos - que derrubou a histórica predominância do poderoso cartel das agências [marítimas], que controlava o sindicato e a classe.

Não há, entre os conferentes, quem nunca tenha reconhecido que foram essas conquistas, implementadas no período de Orlando dos Santos, que construíram o atual estágio evoluído da categoria. os postos de escalação, as turmas, o rodízio igualitário e o pagamento por produção - a remuneração devida final e merecidamente paga aos conferentes - foram frutos desse processo. Que criou ainda condições de dignidade para os aposentados.

Gangues e Lixas Grossas - A separação dos conferentes entre os integrantes das gangues - os escolhidos das agências para o trabalho de conferência - e os lixas grossas - também denominados "pedintes engravatados", que percorriam quilômetros do chão de pedra do cais à procura de trabalho - foi sempre uma realidade que nem a união sindical, fundada em 1932, conseguiu solucionar, pois que econômica. A modificação dessa conjuntura não se faria sem unidade e luta do conjunto dos conferentes discriminados, o que se fez 28 anos depois da fundação do sindicato, com Orlando.

Para que houvesse essa ruptura, a resolução das maiorias no sentido da modificação das tradicionais estruturas de privilégio, sustentadas pelos cartéis patrimoniais, apontou para a escolha de Orlando dos Santos como presidente da junta governativa que, em 1960, substituiria o presidente deposto Nestor Bittencourt.

Apesar de ter sido o primeiro representante dos lixas grossas na direção sindical, Bittencourt não tinha, segundo Orlando, compromissos com as mudanças propostas por essa subclasse há décadas. E nos três meses de permanência de Orlando dos Santos na junta, foram implementadas as sementes das antigas reivindicações dos desprivilegiados "pedintes engravatados".

Tirado doente de casa - estava com úlcera - para assumir a presidência da entidade, é ele mesmo que lembra que foi a conquista dos postos de escalação que possibilitaram as demais transformações: "Os postos evitavam que os conferentes tivessem que correr atrás dos encarregados, que viriam a eles. Mas foi a partir de sua implantação que foi possível paralisar o trabalho e fazer conquistas", conta.

"Foi humanismo", explica Orlando.

Segundo o líder dos lixas grossas, "com os postos de escalação acabava-se aquela prática de obrigar os conferentes a fazerem como as prostitutas nos bordéis, chamando a qualquer um de benzinho. Não era mais preciso convidar os encarregados para jantar em casa,humilhar-se diante das oligarquias do cais, de seus representantes". Ele se recorda que "essa forma deficiente de se tratar o material humano, onde o ser era aviltado e desprezado", sempre o revoltou: "Ficava alucinado", diz.

Para reverter a prática secular, rompendo com o continuísmo imposto pelas agências - que elegiam as diretorias sindicais desde a fundação, "pois os encarregados vinham mandados", diz -, foi necessária uma estratégia e uma ocasião. Segundo Orlando, esta se deu nesse momento, em função de uma dívida para com os conferentes, "uma pilha de faturas não pagas pelas agências, que gestão após gestão se arrastava sem solução", esclarece.

No movimento, organizado para obrigar as agências a pagarem as dívidas para com os conferentes, articulou-se uma greve que paralisou nove navios. "Havia, pela primeira vez, condições objetivas para isso - e foi essa ação que deu consciência do poder de mobilização da categoria", reflete. Poderia se dar, a partir daí, uma solução para os vexames e roubos impostos aos trabalhadores, conta Orlando, como quando os encarregados se apropriavam do pagamento de conferentes não convocados. "Em uma época de grandes dificuldades econômicas, havia conferentes sem trabalho nem renda e outros ganhando por dois", relata.

O combate à ruptura com o cartel das agências tinha inimigos dentro da própria junta governativa, pois que dois de seus membros - Carlos Pereira e Silvio Vaz - eram egressos das gangues organizadas, defensores do método tradicional. Mas Orlando Leopoldino de Souza organiza, em duas horas no Café Carioca, um abaixo-assinado pela destituição da dupla.

Como consequência, eles recuaram. Não interessava às agências o rompimento, que daria aos lixas grossas o domínio absoluto. "Iniciava-se assim, em 1960, a grande caminhada", relembra orlando dos Santos. "Os empregadores sentiam, como os trabalhadores, o significado de um sindicalismo coerente", completa.

Era terrível a ansiedade sofrida pelos "pedintes engravatados", que se punham elegantes, ao máximo de suas precárias possibilidades, para conquistar o beneplácito de um serviço. Vendo o caderno passar, para, finalmente, ser entregue a outro - como descreve o ex-presidente -, a tensão fazia "a calça deles cair,d e tanto nervosismo, esperando ser escalado para poder pagar sua luz e água", lembra Orlando. Que considera que "qualquer estudante de Medicina do Trabalho acabaria com isso, tamanho era o mal que causava ao profissional".

"Carlos Pereira? Liderança? De fato.

Um homem que fala 24 horas por dia

 tem que ter, ao menos, 2 horas em

 que alguém para para ouvi-lo".

Após encerrado o curto verão das "reformas de base" no setor, produzido pela gestão da junta governativa de Orlando dos Santos, ele, que fora encarregado de organizar as eleições, promove-as - e decide não apoiar ninguém. Seu argumento era que isso podia colocar em risco as conquistas efetuadas, conforme refletiu, tendo observado Osmar Diegues que "ninguém esperava a vitória de Serafim Mendes", como ocorreu.

O candidato da situação, comprometida com as reformas, tinha sido Sebastião Monteiro de Lima, que fora derrotado pelo representante das oligarquias, Serafim. "Uma categoria submetida há trinta anos - desde a fundação do sindicato, e mesmo antes -", reflete Orlando, "não seriam três meses que a modificariam. E nós não estávamos preparados para isso", considera.

Serafim Mendes ganha as eleições de 1960 e, com ele, retorna o poder oligárquico. Muitos benefícios conquistados são cancelados. Há uma luta intensa, pois nesse período a oposição se consolida e se amplia, a ponto dos empregadores perceberem que estavam perdendo o controle do sindicato. Os conferentes não mais aceitam a situação imposta pelas agências. Serafim ameaça renunciar, renuncia e volta atrás. O circo se desmonta. Transformações de base se aproximavam.

É nessa época que as agências eliminam a figura do conferente-pagador, usado por 95% das empresas. Eram eles que faziam os cálculos e pagavam os avulsos. Acabaram com isso para eliminar os gastos e também para bloquear o acesso deles às contas, pois, quando os conferentes, através de uma greve, conquistam o pagamento por produção, eles serão essenciais na fixação dos valores.

"Tinha alguns animais que gostavam de ver o conferente sofrer na hora da escalação. Esperavam até a hora limite - 7 horas -, para ele não poder ir buscar ouro serviço. Fingiam que iam dar o caderno, o que significava a convocação, e davam para outro. Me lembro de um, só que já morreu. E daí?, pergunta o entrevistador. Não é porque morreu que deixa de ser filho da puta. O nome dele é Lauro, lembrei", diz Osmar Diegues.

A questão do pagamento aos conferentes era outra questão que impunha vexames aos trabalhadores. Dois ou três dias para receber, o trabalhador precisando do dinheiro - e o pagador da agência regateava. O serviço acabava às 11, e quando eles chegavam na agência para receber às 11,30, o pagador dizia: "Eu só pago até as 11,15". E pronto. Baseado na lei, Orlando consegue trazer o pagamento para o sindicato.

Participação política - Apesar do nítido engajamento de Orlando dos Santos com o espírito que tanto vicejava no sindicalismo, reivindicatório e ativo, nunca foi um comunista. Ele recusou sempre a participação na política partidária - e critica os que fizeram uso do sindicato para promoverem-se eleitoralmente -, mesmo porque acha que isso prejudicaria a categoria com a qual se comprometera. Mas bastava ser legítimo...

"Não importava para mim se o associado era ou não comuna - explica Orlando -, mas para mim política partidária era coisa para ser feita no partido e não no sindicato. A posição dos discriminados pedintes engravatados era frágil e não podia sofrer a concorrência da luta política. Eram dominados por poderosos grupos, potências que influíam em tudo, até nas eleições sindicais. Eu precisava me resguardar, pois não poderia, por vaidade minha, colocar em risco a situação dos colegas", conta Orlando.

Ele se recorda que foi convidado por José Gonçalves para ser candidato a vereador pelo PTB, quem lhe garantiu o apoio do presidente João Goulart. Em 1963, relembra Orlando, tentaram colocá-lo frente a frente com o então chefe da nação, para convencê-lo a se candidatar. "Havia um trabalho nesse sentido", recorda, "e quando me procuraram não me acharam mais. Segui o que havia ouvido no sindicato: 'Nós precisamos mais de você do que a Câmara'. Isto bastou", afirma.

As conquistas - A intervenção do Serafim Mendes não conseguiu derrubar os postos de escalação, conta Orlando, dizendo que "eles queriam que o pessoal fosse correr cais novamente". Ocorre que os postos de escalação eram de livre escolha do encarregado do navio, que apontava os "seus" conferentes prediletos. Isto não modificava na essência o problema maior da classe, que só seria resolvido neste aspecto com o rodízio - finalmente implantado na gestão de Orlando dos Santos, após 30 anos de luta dos lixas grossas. Mas antes do rodízio Orlando implanta o "câmbio, dobra e avançada" - disciplinando e democratizando o acesso ao trabalho.

"Era um início de rodízio", explica Orlando, "para evitar que um pequeno grupo pegasse os melhores serviços". No câmbio, a escolha era do conferente "da vez"; depois ia para a dobra e só pegava na fala. A avançada era o passo seguinte, pronto para voltar à pole position, como se diz hoje. "É o sistema que vige até hoje na estiva", argumenta. "Mas era falho: tinha gente que deixava passar a vez nos serviços ruins, para pegar só os bons". Esta sistemática evoluiu para o rodízio, por número, democratizando efetivamente o trabalho.

"Nesta época, implantei também o câmbio livre, dentro do critério de implantação da justiça na área. Ocorria que os mais antigos, prestes a se aposentarem, tinham seus proventos calculados pelo último ano de suas contribuições. E estas se reduziam na medida em que se exauriam as forças destes trabalhadores, que já haviam cumprindo longo percurso de cais. Era preciso inverter isso, pois eram vidas humanas em jogo", recorda.

Orlando dos Santos relembra que, na renovação do acordo salarial de 1963, houve a concordância dos empregadores em dar mais 2% para a categoria doar para o Fundo de Aposentadoria. Ele conta que este acordo feito com o Paulo Ferraz, então presidente do Sindarma (N. E.: Syndarma - Sindicato Nacional das Empresas de Navegação Marítima, com sede no Rio de Janeiro), não consta em lugar nenhum. "Isto para não despertar a cobiça de outras categorias, que também faziam esta reivindicação" - com a diferença de que queriam incluí-la na taxa de serviço portuário. "Os empregadores estavam renitentes em concedê-la, mas o fizeram a nós dessa forma", explica.

O antigo dirigente comenta que os aposentados tiveram, pela primeira vez, condições de vida digna, "podiam ter sua casa, passear. Atendemos àqueles que nunca tiveram uma liderança que trouxesse para eles os salários justos. Era o fruto do trabalho dividido humanamente, dos ativos para os que um dia o foram", argumenta Orlando.

"Isto é socialismo puro", diz o entrevistador.  "Se é socialismo, não sei", diz Orlando - mas foi humanismo. Foi a implantação de um sistema inédito no mundo, consolidada em 30 anos de prática, que não pode ser alterada", diz.

Foi nessa época que, pela primeira vez, o sindicato começou a ser remunerado em equivalência com a receita do profissional - 3% ia para o sindicato, sendo 2% para os aposentados -, reforçando a atuação coletiva da entidade.

Greve - O ganho na produção - "Ato contínuo, com as mudanças no rodízio e na sistemática do pagamento dos aposentados, que instituímos a complementação, formamos a União dos Sindicatos da Orla Marítima de Santos (USOMS) para separar os interesses da categoria portuária das demais, reforçando sua mobilização. Isso foi em maio de 1963 e este foi o instrumento para conseguirmos o atendimento da antiga reivindicação de pagamento do salário-produção", esclarece Orlando. Diegues observa que foi essencial o apoio da estiva, concatenado nessa união sindical, que permitiu detonar a greve de agosto - rumo ao salário-produção.

Todos os anos, há 15 acordos anuais, o pagamento por produção era citado - e nunca acertado. As agências, que controlavam os sindicato, sabiam quanto isto lhes custaria e só ficava escrito que "será montada uma comissão para estudar..." - um pagamento que já era efetuado aos estivadores, que então ganhavam acima dos conferentes, "bem mais", frisa Orlando.

O presidente que efetuou as grandes transformações na categoria explica que "os conferentes ganhavam menos do que o menino do carrinho elétrico - o trenzinho das Docas que trazia as mercadorias -, menos do que o motorista do caminhão de café. E em função da democratização do trabalho, partimos para a equiparação com os ganhos dos conferentes no resto do mundo. Lá, eles faturavam 20 vezes mais do que aqui", ilustra Orlando.

Apenas a cobrança do cumprimento de uma lei - o artigo 288 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que regulava o trabalho portuário -, que dizia que o estivador deveria ganhar cota e meia sobre o salário do trabalhador, foi o que se pleiteou neste movimento. "Fiz analogia da aplicação", explica Orlando, recordando que depois do golpe militar de 1964 se modificou o texto da lei. "A intervenção do golpe no sindicato também fez sumir muita coisa. Até a galeria dos ex-presidentes desapareceu, alguns a bico-de-pena. Dizem que foi proposital para não ter que homenagear o Orlando", ironiza, afirmando que "se deveria cobrar da interventoria a localização desse patrimônio".

"Me magoam certas atitudes tomadas ainda hoje, como do Nelson Mattos escrevendo um artigo no jornal do sindicato e, propositalmente, omitindo o nome de gente que trabalhou - e até de quem já morreu - pelas conquistas da categoria. A bronca dele é que a sucessão de mandatos dele acabou quando eu apoiei o Bartolomeu. Ele mesmo disse na A Tribuna, na ocasião, que quem tinha ganho a eleição fora eu, que ele perdera para mim", relembra.

"Dois colegas, da mesma profissão, chegavam em um bar e enquanto um sentava e pedia um bife com fritas, o outro, de cotovelos no balcão, um sanduíche de mortadela. Eram assim os conferentes, com uns privilegiados no salário e no trabalho, outros sem nada. E eu não podia aceitar isso".


"Muito embora não seja considerado como agente da 'ala subversiva das hostes comuno-sindicalistas', que predominavam até o episódio que marcou o fim do regime de agitações na Baixada, Orlando dos Santos, ex-presidente do Sindicato dos Conferentes, foi preso ontem..." (O Diário, 5/5/1964).


"Há questões, que se apresentam no transcorrer da caminhada desta categoria, que provocam indagações sobre a natureza de seus agentes - não se inserindo em uma análise habitual. Como explicar que sendo Orlando dos Santos responsável por todo um arcabouço de mobilizações e conquistas, nitidamente comprometidas com a justiça social e o igualitarismo, não era comunista ou alinhado? Enquanto ele, causador da reviravolta que impôs às elites (agências) as antigas reivindicações deste proletariado, tinha essa atuação revolucionária em todos os aspectos, comunistas de carteirinha se mantiveram alheios. Muitas vezes estiveram contra, mesmo, como quando de sua eleição os comunistas do Fórum Sindical de Debates emitiram uma Nota de Pesar".


Osmar Diegues conta que havia até oposição dos comunistas do PCB às transformações, colocadas em programa e claramente comprometidas com as maiorias. "...Entretanto, pode-se afirmar que Orlando dos Santos, agora recolhido ao xadrez, onde se encontra entre elementos esquerdistas, não era visto com bons olhos pelos assalariados de Moscou, que faziam sua pregação subversiva em nome do Fórum Sindical de Debates. Recorda-se, outrossim, que o FSD aprovou voto de pesar na ocasião em que foi dado a público a eleição de Orlando dos Santos..." (O Diário, 5/5/1964)

Episódios decisivos da produção - Com o porto congestionado, a greve explodiu no dia 5 de agosto. O cais parado pelo cumprimento dos acordos antigos de pagamento da produção. Nem a Federação dos Portuários tinha conhecimento dessa greve, era localizada. "Fomos levados ao Rio de Janeiro - conta Orlando -, chamados para conversar com o ministro do Trabalho. Isso onze e meia da noite. O avião saía à meia noite. O sindicato não tinha carro, arrumamos um e com o Henrique Martins de piloto, chegamos no horário de saída do corujão - o último avião para o Rio de Janeiro".

É ele quem conta que as agências já sabiam, antes, da realização dessa reunião e, chegando lá, já estavam, com o assessor Gilberto Crockett de Sá e o almirante Ari Gonçalves, representando os empregadores. O presidente Jango - revela Orlando - não queria a greve. E tudo deveria se negociar para se chegar a um acordo. "Eles levaram o almirante porque gostavam de ostentar uma patente militar, para ganhar força", explica Orlando. "Aquele respaldo oficial" - acrescenta -, dizendo que ele consultava o líder patronal, o dr. Paulo Ferraz, por telefone. "Meia dúzia de telefonemas para a Ivete Vargas e outros e, na madrugada, saiu o entendimento", emenda.

Depois de um vai-e-vem de divergências e concessões de ambos os lados, eis que chega a hora do acordo. "Mas, naquela hora da madrugada, o palácio do Catete estava com todas as salas fechadas. E não tinha máquina de escrever. Que não fosse esse o problema: saquei a minha máquina, que trazia embaixo do braço a toda hora, pois eu fazia acordo pela categoria até em botequim. Datilografado e assinado, depois o Paulo Ferraz o leu e ele foi retificado", recorda.

O antigo presidente ressalta que "a cópia de tão importante acordo também desapareceu do sindicato. Parece que conseguiram outro. Assinam eu, pelo sindicato, o Gilberto Crockett de Sá pelo governo e o almirante Ari Gonçalves, pelo Centro de Navegação Transatlântica.

Enganação - "O que o Serafim e a turma dele falam, de que foi ele que instituiu a produção? Eram aqueles acordos fajutos que se faziam todo ano, para enganar a categoria e continuar a situação. No último ano, instituíram o pagamento por uma tonelagem impossível de se alcançar. Era a fraude. Não tinha mais jeito de esperar. A categoria estava esmagada. No exterior, os conferentes ganhavam mais do que os oficiais de bordo. Aqui, menos que o motorista de caminhão. Fazer greve? Eles riam. Isso até ter uma greve de conferentes em Liverpool, na Inglaterra. Se eles podem...", diz Orlando.

"Quando eu concorri, em 1962, tinha 42 itens no meu programa. Tiravam sarro. Me diziam: se eu cumprisse metade estava mais do que bom. Cumpri 80% -recorda -. Dentro do princípio de justiça, mandei até trocar a guarnição  quando carregavam no porto os trólebus, que chegavam da Itália nesse ano. Para distribuir melhor o ganho excessivo. Nesse momento é que surge a discussão sobre metragem e tonelagem", relembra.

Teve conferente que quando viu o pagamento por produção se recusou a receber, dizendo que era muito, que estava errado. Teve conferente de cidade pequena que comprou carro e ficou esperando. Não tinha ponte para chegar".

"É curioso destacar que o dinheiro negado aos conferentes era, há décadas, cobrado dos armadores. Constavam dos manifestos e ninguém percebia. Eles se apropriavam do dinheiro, calculado pela tonelagem. As diretorias passavam e não viam isso. Nas madrugadas chuvosas e frias, davam um cartãozinho para o conferente tomar café e uma bolacha. Eu entrei aqui foi para corrigir isso, que é desumano". (Orlando)

"Orlando dos Santos pagou muito caro por sua luta em favor dos conferentes. Acompanhei tudo e sou testemunha de seu esforço e de sua coragem", observa Michelângelo Antonio Addante - conferente aposentado da turma de 1945, que deixou o trabalho em 1968, em março, quando completou 23 anos de cais e 33 de contribuição à Previdência. Mas que retornaria 3 meses depois, "pois com o dinheiro da aposentadoria, não dava para sobreviver", disse ele ao jornal O Confferente, em outubro de 1984.
A volta, pelo voto - Em 1962, nova eleição e disputam Orlando dos Santos, na oposição ao candidato apoiado por Serafim Mendes, Manoel Bento de Souza, da situação. Carlos Pereira e Casimiro Ribela formam com Orlando, na eleição que terminaria empatada, 227 votos para ele e 227 para Manoel Bento - irmão de João Bento de Souza, o João Vaguinho. Novo escrutínio e Orlando ganha por 7 votos. É tempo de avançar nas transformações.

Nos dois anos de Serafim, representante dos empregadores, muitos dos benefícios haviam sido cancelados. Mas Orlando continua a desafiar o cartel. Adqui9re o imóvel onde está hoje a sede do Sindicato e consolida as conquistas do salário-produção, turmas e pontos de chamada, além do rodízio na convocação para o trabalho. Está quebrado o cartel, mas os conferentes-pagadores estavam extintos. Os empregados haviam passado todo o pagamento para a Sociedade Profissional das Entidades Estivadoras.

Março/64 - "Era época de mais um acordo coletivo", relembra Orlando dos Santos. "E eu, representante da categoria, fui ao Rio. Lá havia um clima político intenso, e nós lá, na Confederação Geral dos Transportes. Senti que havia decisões políticas importantes. Havia uma assembleia de marinheiros no Sindicato dos Metalúrgicos. Eu não quis participar; meu problema é com os conferentes e não com os marinheiros. Isto até que o Pacheco - Oswaldo Pacheco da Silva, presidente da Federação dos Portuários - me chama e diz que o ministro quer falar comigo. Só sei que me levaram para o Sindicato dos Metalúrgicos, cheio de gente fardada, os marinheiros. Que faço aqui? Não uso farda. Só lápis e prancheta. A questão estava além. Fui para o hotel, arrumei minha mala e fui para o aeroporto. Era 30 de março de 1964", recorda.

Chegando a Santos, Orlando vai para o sindicato e recebe a notícia, já no dia 31, de que havia urutus (N. E.: Urutu, Cascavel, Jararaca são tanques blindados militares, sobre rodas, para transporte de soldados, produzidos pela empresa nacional Engesa na década de 1970. A semelhança com os antigos tanques M-8 Greyhound, oriundos da Segunda Guerra Mundial, levou à generalização do apelido inclusive para citações pretéritas) na rua, tudo tomado por tanques de guerra. Os militares haviam dado um golpe de estado e tomado o poder pela força. "Acontece que o dinheiro do sindicato estava na sede, onde era feito o pagamento. Se a Polícia Marítima invade, nunca mais o veríamos. Fechei o sindicato e fui para um café da Praça Mauá - "15 qualquer coisa" - comandar de lá, onde recebo a notícia de que havia um interventor nomeado e queria a chave. Dei-a, pois não era mais o presidente", diz.

Para derrubá-lo da direção sindical, conta, de início não fizeram nenhuma acusação. "Mas depois arrumaram", ilustra Orlando. "Um cidadão escrivão de polícia chamado Silveira, cunhado do Serafim Mendes, cuidou de armar a infraestrutura do golpe local. Nomearam uma comissão no sindicato e garantiram: esse cara é comunista. Não provaram nada. Depois, disseram que eu havia me apropriado do dinheiro do sindicato, no episódio dos Lacerdinhas - quando uma ação judicial bloqueou os fundos dos trabalhadores e nós tivemos que garantir os pagamentos. Mas nem o Tribunal Superior Militar conseguiu me condenar. Eles se perderam", traz de volta Orlando, amargo.

"Eles enfiaram a viola no saco e, até hoje, se dizem os grandes vencedores de 64. Quantas cadeias, quantas despesas. Tudo porque levantei e pus em brios uma categoria, economicamente, socialmente, moralmente. Por quê fiz tudo isso? Para preservar o direito do homem. Não fiz nada por acaso. Fiz tudo pensado, calculado, tudo humanamente planejado", discorre Orlando.

O Raul Soares - Sindicalista atuante, mas que não se imiscuía em questões políticas ou partidárias - aliás como a maioria dos dirigentes sindicais, que apenas aproveitavam o momento político para satisfazer antigas reivindicações -, ainda assim Orlando dos Santos foi parar no navio-prisão Raul Soares. Que atracou aos primeiros dias do golpe militar de 1964 ao largo da barra de Santos, para encarcerar centenas de políticos, líderes estudantis e sindicalistas, em um dos episódios mais vergonhosos da história política brasileira.

"Estávamos nas mãos da pior polícia que existia na época - conta -, a temível Polícia Marítima. Todos os bárbaros que existiam na cidade eles puseram lá. Gente da pior espécie, sem sentimento nenhum, que resolvia tudo na porrada. Só com muita inteligência para não apanhar", relembra, observando que "sofreu pouco" no navio-prisão. "Mas só estar preso ali já era uma tortura", diz.

"Me colocaram do lado do forno e depois no frigorífico", descreve, o que era uma prática usual com os demais presos. "Isso abalou a minha saúde até hoje", salienta Orlando. O Raul Soares era um navio "aposentado", que chegou no porto de Santos sem ser esperado, no dia 24 de abril de 1964. Construído em 1900 para o transporte de passageiros, depois se tornou navio de carga - antes de servir como cárcere político.

Raul Soares, o navio-prisão - O Raul Soares ficou assentado em um banco de areia, no canal do estuário, próximo à Ilha Barnabé. E lá os presos eram coagidos e humilhados, submetidos a pressões físicas e psicológicas. Faziam refeições na mira de metralhadoras e muitos não resistiram - enlouqueceram ou desapareceram para sempre. Para manter o clima de tensão, diziam que logo chegaria um rebocador para levar o navio para alto-mar e que ninguém retornaria.

Ficou famoso o episódio em que os presos do Raul Soares foram libertados por um suposto habeas-corpus, levados ao capitão dos Portos - onde tiveram ordens para retornar, pois estavam presos de novo. Helicópteros faziam evoluções sobre eles, tiros eram dados a esmo, entre gritos dos torturados. Mais do que um presídio, sua presença em Santos era uma forma de macular o orgulho e a resistência da cidade, de sua organização operária.

Sempre houve e haverá quem, desconhecendo a realidade e a importância do trabalho operário, considere como "exageradas" as reivindicações do contingente trabalhador naquele tempo. Daí a se aceitar que Santos era assim por ser a "Moscou Brasileira", como a denominavam pela constante presença do Partido Comunista Brasileiro no sindicalismo - que tinha bases atuantes -, vai uma grande distância.

Como vimos, as conquistas da época não ultrapassaram os limites da normalidade, apenas eliminavam a rude predominância patronal na área. Em outros casos, apenas a lei era cumprida.

Cidade Vermelha? - No início do século XX, Santos foi denominada internacionalmente Barcelona Brasileira, pela pujança da organização anarco-sindicalista, que aqui tinha a maior expressão do país - quando a cidade era um dos três maiores polos do movimento operário brasileiro, junto do Rio de Janeiro e São Paulo. Isso durou até os anos vinte, para ser dali a duas décadas a Moscou Brasileira, Cidade Vermelha ou República Sindicalista - pela força da sua organização trabalhista.

Barcelona, cidade-porto da Espanha - país em que o Anarquismo (ideologia socialista libertária da sociedade autodirigida pelo operariado) foi predominante -, era sede da poderosa Federação Nacional dos Trabalhadores, anarco-sindicalista e com um milhão de membros. Foi de lá que veio o segundo maior contingente imigrante, depois dos portugueses, que juntos formavam 80% da mão-de-obra local, em 1910. Moscou Brasileira depois, porque esta era a capital da União Soviética, onde a massa operária tinha tomado o poder.

Vanguarda incontestável do sindicalismo brasileiro, onde os trabalhadores se aglutinavam no porto, os articuladores do golpe militar de 1964 engendraram um mito de que Santos era uma cidade "dominada pelos comunistas", apoiados pelos meios de comunicação. Onde os sindicatos armazenavam fuzis e metralhadoras em suas sedes, preparando a "Revolução Socialista". Na verdade, era apenas fortemente reivindicatório o sindicalismo; havia comunistas, é claro, mas eles não predominavam em qualquer setor. E nenhuma sede sindical guardava sequer uma garrucha...

Como escrevem Carlos Mauri Alexandrino e Ricardo Marques da Silva, no livro Sombras sobre Santos, editado pela Prefeitura local em 1988, essa imagem não resistia à análise histórica. A grande maioria dos sindicalistas locais inspirava-se no trabalhismo de Getúlio Vargas, distante de qualquer tomada do poder pela força. No entanto, a repetição da balela justificou as prisões em massa, as violentas invasões de sindicatos, a cassação de políticos, a escalada do terror e do medo.

O livro, editado no final do governo do prefeito Oswaldo Justo, cita um depoimento do major Erasmo Dias, um dos líderes locais do golpe de 64 e um dos mais expressivos quadros da direita. Ele diz que foi em Santos onde a Revolução correu o maior perigo, o maior risco. "A cidade era como um ponto de partida, a própria origem da Revolução", diz o militar responsável por inúmeras atrocidades. "Aqui - esclarece -, o esquerdismo adquiriu uma força potencial que não existia no Brasil. Durante um ano não houve um dia sequer que não tivesse uma greve. A Câmara de Santos era dominada pelos comunistas, o prefeito era ligado aos comunistas. Toda potencialidade política de Santos era ligada ao que costumo chamar de peleguismo sindical comunista. Essa força vinha do sindicalismo. Aqui havia um tal de Fórum Sindical de Debates que era uma espécie de Soviet... Eles paravam Santos quando queriam", diz Erasmo.

É o mesmo major que reconhece a "natureza psicológica" da vinda do Raul Soares para Santos, para humilhar a cidade-operária: "Um dos casos mais citados nos depoimentos dos presos é o de Waldemar Neves Guerra, na época presidente do Sindicato da Administração Portuária. Ele havia lutado na Segunda Guerra Mundial, com os pracinhas que foram à Itália. Um dia, provocado pelo comandante Astolfo, chefe dos guardas do Raul Soares, disse que ele ali parecia muito valente e corajoso, mas que não se lembrava de tê-lo visto na guerra, com toda sua coragem. Após isso, ele foi levado para uma cela ao lado da caldeira do navio e depois para outra ao lado do frigorífico, repetidas vezes. Após ser libertado, sua saúde foi piorando e ele acabou morrendo.."

A loucura que acometeu o estivador Zeca da Marinha também é lembrada no livro, pois que não pôde suportar o encarceramento e as humilhações, de que nunca mais se recuperou. Lá, Nelson Gatto escreveu o livro O Navio-presídio, jogado ao mar pelos seus algozes - mas que ele salvou uma cópia.

Como forma de desanuviar o ambiente, os prisioneiros deram nomes às celas de castigo, como de El Moroco - a do lado da caldeira, totalmente metálica, sem luz ou ventilação. A sala constantemente alagada com água gelada, onde os presos ficavam contraindo doenças, era o Night and Day. Casablanca era o nome do lugar onde eram jogadas as fezes dos presos e para onde eram mandados os mais resistentes e obstinados - o castigo máximo. Nomes de casas noturnas famosas na Boca de Santos.

"O Raul Soares representou um castigo especial, na exata medida do brilho ousado por Santos, quando prevaleceu o obscurantismo absoluto e tudo se tornou possível. O tétrico navio foi o símbolo perfeito do castigo sem crime, dos efeitos da ilimitada extensão do poder usurpado "(Sombras sobre Santos, p. 21).

"...elemento simbólico da dominação, o pior de todos os crimes do homem contra o homem".


Vislumbramos o conteúdo revolucionário, produzido na gestão de Orlando dos Santos - no início da década de 60, quebrando o cartel das agências -, no enfoque do rompimento de décadas de submissão ideológica da categoria aos que, superiores economicamente, a determinavam, mantendo a submissão.

Há um processo de rebeldia acumulado contra os privilégios de décadas, que explode quando surge uma liderança capaz de fazer valer o sentido da organização sindical. Não como uma utopia, mas como fator de mobilização rumo aos direitos essenciais deste contingente do cais.

É o momento em que as maiorias oprimidas dos pedintes engravatados, que palmilhavam o chão de pedra sob a chuva de um céu de guindastes e sacarias ameaçadoras, quilômetros a fio, assumem sua consciência de classe - negando a continuidade do suborno do capital "adquirindo-os" individualmente. É uma atitude de maturidade, frente a outra de infantilismo.

Suplantando a carente individualidade, assumem seu papel coletivo, rejeitando o coronelismo produtos de uma conjuntura social indesejável. Que evolui, com a classe subalterna recusando-se à cooptação e caminhando em sentido próprio.

Tanto o tratamento dado às questões da democratização do acesso ao trabalho, como a dos justos ganhos e ao apoio aos trabalhadores em fase de aposentadoria - "câmbio livre" - e a complementação aos aposentados, têm um nítido caráter socialista. Por quê, então, ele recebeu um "voto de pesar" do Fórum Sindical de Debates?


Bastidores da eleição - Orlando dos Santos foi secretário geral da chapa que concorreu às eleições no sindicato em 1952, sendo derrotada. Era encabeçada por Rodolpho de Cesare. Em 1955, ele formaria com Nelson Mattos, na qualidade de suplente, tendo alcançado a vitória no pleito. Por duas vezes fez parte do Conselho da Delegacia do Trabalho Marítimo, indicado pelo presidente da República, representando os empregados.

Apesar da vitória da chapa de oposição, no pleito posterior ao seu desempenho como presidente da junta governativa, em 1959/1960 - com a destituição de Nestor Bittencourt -, encabeçada por Serafim Mendes, Orlando declara ter sido seu colaborador, participando várias vezes de comissões e outras tarefas. Nas eleições seguintes, escolhido para a presidência da chapa, apresentou um programa, em 21 de outubro de 1961, data de sua homologação como candidato.

Nas eleições de 6/2/1962, ocorre episódio único da história do sindicato, que é o empate dos votos entre Orlando e Manoel Bento de Souza. Este último tenta ser declarado vencedor por ser o mais idoso, segundo publica o jornal O Estado de São Paulo de 7/2 desse ano. O grupo de Orlando pede novas eleições. O jornal santista A Hora, de 8/2, publica uma investida contra ele, na coluna apócrifa Roteiro Sindical, chamando-o de "demagogo".

Para a coluna, que tentava conturbar o processo no qual pela primeira vez, em 22 anos, a oposição vencia as eleições - o primeiro lixa grossa a presidir o sindicato foi Nestor Bittencourt, em 1940 -, o "legítimo" presidente é Manoel Bento de Souza, antigo membro das gangues das agências. Tenta armar um conflito entre Orlando e o chefe da Divisão Regional do Trabalho, Hilario Ferrari, a quem ele argumentara pelo novo pleito. É tentada a impugnação do direito ao voto dos conferentes-chefes, vinculados às empresas, neste difícil momento de decisão.

O jornal A Hora de 23/2/1962 divulga que a chapa apoiada pela diretoria procura, por todos os meios, ser empossada, enquanto a chapa de Orlando exige o cumprimento da lei e nova eleição. A 28/2/1962 se realizam as novas eleições e a chapa de Orlando vence por apenas 14 votos.

Assim noticia o jornal O Diário, de 1/3/62. A Gazeta da mesma data e outra vez o Diário, no dia 3. No dia 16, A Tribuna anunciava a posse para o dia 17, ao mesmo tempo em que a foto de Serafim assinando a escritura da sede própria adquirida por Orlando.

À posse da diretoria não compareceram convidados ou autoridades, que não foram notificados pela gestão de Serafim, que também não compareceu.

Nas eleições sindicais de 1973, Orlando é eleito 1º suplente de Nelson Mattos, mas renuncia na posse.

O sindicalista Orlando dos Santos - Responsável pelas maiores conquistas da categoria em seus 62 anos de história, o conferente Orlando dos Santos se inscreve ao lado do nome de Antonio Carneiro nessa trajetória de afirmação da classe. carneiro sacrificou-se pela fundação do sindicato, perseguido pela polícia e boicotado no trabalho pelos patrões. Orlando foi de fato o fundador, não do sindicato, mas da categoria -, tendo arrancado uma a uma as condições para que hoje desfrute de um patamar digno para seus membros.

Casado com dona Altair Rodrigues dos Santos, Orlando é pai de uma única filha chamada Marize, comunicóloga, professora e cantora. Tem atualmente (N. E.: 1924+69=1993) 69 anos, nascido em 9 de julho de 1924, no dia em que, em 1932 - ano de fundação do Sindicato dos Conferentes - explodiria a Revolução Paulista Constitucionalista.

Presidente do sindicato que logrou elevar a conjuntura econômica,social e moral da categoria, nivelando-a democraticamente nas oportunidades de trabalho e ganho, criou também um sistema de promoção dos aposentados - que recebem complementação derivada dos trabalhadores da ativa, há 30 anos. Ocupou todas as funções existentes em cada época de conferência, e se formou contador pelo Liceu Coelho Neto, em 1945.

Antes de entrar para a categoria, em 1947, com 23 anos, Orlando trabalhou em empresas de importação e exportação, como a Companhia Brasileira de Café, Moreira Salles e Ferreira Lage & Companhia, depois na Companhia Docas.

"Passageiro da agonia" do Raul Soares, em 1964, esteve antes preso na DOPS (N. E.: Delegacia de Ordem Política e Social) por vários dias, na Avenida São Francisco. E foi mentor e presidente nos primeiros três anos, consolidando-a, da "Mútua" - a associação dos conferentes que presta todo tipo de assistência social à categoria, fundada em 10 de junho de 1986.

[*] Paulo Matos é jornalista, escritor e historiador pós-graduado.

Em 6/8/1965, o presidente da Junta Governativa, João Moraes da Silva - que substituiu Serafim Mendes no final da intervenção, para que este pudesse concorrer nas eleições de 12 de setembro desse ano - assina um ofício-resposta ao juiz Amador da Cunha Bueno Netto. Nele, informa ao titular da 2ª Vara Criminal de Santos algumas das atividades "subversivas" do presidente anteriormente destituído, Orlando dos Santos.

Imagem: arquivo do jornalista Paulo Matos, anexada ao texto datilografado

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