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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - PROCISSÕES - 4
Procissão marítima de São Pedro

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No caso da procissão marítima em homenagem a São Pedro, o maior obstáculo à realização desse evento tem sido econômico: falta patrocínio para as despesas de se colocar os barcos no mar, à disposição do público, e com a própria redução de seu brilhantismo, o público não tem comparecido à festa com a intensidade de outros anos. Apesar do esforço da Prefeitura Municipal e das autoridades religiosas, bem como da comunidade de pescadores, na reativação dessa festa, os primeiros anos do século XXI não se comparam, mesmo de longe, às festividades observadas duas a três décadas antes.

Este registro da festa foi enviado a Novo Milênio pelo professor e pesquisador de História Francisco Carballa, em 29/6/2013:

Este estandarte de São Pedro foi criado em 2004 pelo professor Francisco Carballa
Foto: acervo de Francisco Carballa

 

Festa de São Pedro (Festa dos Navegantes)

29 de junho

 

Celebrada todos os anos na Ponta da Praia, na igreja de Nossa Senhora dos Navegantes. A igrejinha, segundo algumas fontes, foi construída na altura do leito antigo da praia, antes dos aterros que elevaram a calçada. Por isso, para nela entrar, é preciso descer alguns degraus.

São Pedro foi o apóstolo primaz de Jesus Cristo, entre todos ousou duvidar e depois acreditar acima de tudo, líder da igreja nascente; é dele a primeira sentença do Credo, onde se diz: "Creio em Deus Pai todo poderoso..."
[01].

 

É padroeiro dos pescadores por ser um deles, e das viúvas, situação explicada devido a ele deixar sua esposa para ir cumprir sua missão pelo mundo da época [02] seguindo o ensinamento de Jesus em seu Evangelho. É sempre lembrado pelos galos nas torres de igrejas, que insistem em nos alertar que trairemos Deus de alguma forma.

Por estarmos em tempos modernos, e depois da reforma no calendário religioso brasileiro, quando o dia de São Pedro deixou de ser feriado em muitos lugares, passou a procissão a ser realizada no domingo posterior ao dia 29 de junho, muitas vezes avançando o mês de julho. Por isso, em alguns anos concorreu com a festa de Santa Isabel da Santa Casa; nesse caso, dependendo do horário, as pessoas saiam de uma festa e se dirigiam para a outra.

A festa ocorreu por muitos anos no Entreposto de Pesca que havia na Ponta da Praia; bem na entrada do prédio havia uma pequena escadaria, tendo acima um mosaico de azulejos representando a pesca milagrosa
[03].

As pessoas começavam a embarcar nos pesqueiros a partir das 13h00, geralmente todos enfeitados com as tradicionais bandeirinhas juninas e outras bandeiras comuns à navegação. Eram muitas pessoas por embarcação e em muitas se servia quentão e pipoca ou havia música popular
[04].

 

A passagem de embarcações era vedada um pouco antes de a procissão ter início, quando vinham os andores de Nossa Senhora dos Navegantes, São Pedro e o pequeno estandarte azul da Virgem Maria como Estrela do Mar [05], bem como outro estandarte de cetim de amarelo com a figura de São Pedro em vestes papais com os brasões, entre eles o do falecido bispo dom Idílio José Soares, dom Davi Picão e um brasão de um papa.

 

A banda vinha tocando a marcha Cisne Branco e o bispo embarcava com São Pedro em um pesqueiro e a Virgem Maria com os fiéis devotos em outro, seguindo então a procissão marítima, que era saudada na Ponta da Praia e na velha Fortaleza da Barra com fogos de artifício. Para evitar problemas, os navios não entravam nem saiam durante esse percurso. Saía então outro grupo da praia de Santa Cruz, e quem não embarcava em Santos tentava embarcar por lá.

A procissão seguia até a Barra, bem próxima do fundeadouro dos navios que demandam o porto, e era realizada uma antiga cerimônia onde o bispo benzia e lançava um anzol de ouro ou dourado no mar e assim retornava o comboio marítimo.

Havia muita reclamação das beatas quando pessoas retiravam as flores do andor e as jogavam nas águas, vista como atitude suspeita pelos católicos
[06]. Para evitar isso, passou-se a montar guarda ao redor do andor, que ficava na frente da embarcação. Já no barco com São Pedro embarcava um senhor bastante idoso, que fora Policial Militar, mostrando com orgulho um santinho do século XIX de São Pedro, dizendo que fazia questão de montar guarda ao lado do andor; ninguém ousava tirar nenhuma flor até o fim da festa. Depois, ele mesmo retirava uma flor para si, junto com os demais.

Chegando ao Entreposto, era a procissão recebida pelo forte odor de peixe ali reinante e pela banda da Polícia Militar ou a de Carlos Gomes, tocando o Hino Queremos Deus, seguindo-se um pequeno percurso pelas dependências desse entreposto pesqueiro, até a citada escadaria, onde era celebrada uma missa campal pelos pescadores. O ato reunia muita gente, sendo esperada a hora em que o coral cantava a Marcha Pontifícia (que seria um hino dedicado a São Pedro e aos Papas), terminando tudo ali. Ocorria ainda uma quermesse onde os pescadores vendiam quitutes de peixe e iguarias juninas.

 

Só no final dos anos 1980 a procissão mudou seu percurso, saindo do entreposto e percorrendo as avenidas Rei Alberto I e General San Martin, recolhendo-se à capelinha dos Navegantes.

Com a ocorrência de um naufrágio no Rio de Janeiro, durante os festejos do Ano Novo de 1988/89
[07], as autoridades decidiram proibir a procissão marítima, e esta se manteve apenas saindo da capela, embarcando o clero e membros atuantes da comunidade, parando na Ponta da Praia e voltando à capela, até que finalmente a parte marítima foi suspensa de vez.

Agora ainda ocorre a festa, mas o cortejo vai até a ponte de embarque da Praia dos Navegantes, jogam ali os anzóis bentos e dali circulam pelas ruas próximas, recolhendo-se à igreja ou celebrando a missa campal a seu lado.

Hino - Marcha Pontifícia
 

Ó Roma eterna, dos Mártires, dos Santos,
Ó Roma eterna, acolhe os nossos cantos!
Glória no alto ao Deus de majestade,
Paz sobre a terra, justiça e caridade!
A ti corremos, Angélico Pastor,
Em ti nós vemos o doce Redentor.

A voz de Pedro na tua o mundo escuta,
Conforto e escudo de quem combate e luta.
Não vencerão as forças do inferno,
Mas a verdade, o doce amor fraterno!


Salve, salve Roma! É eterna a tua história,
Cantam-nos tua glória monumentos e altares!
Roma dos Apóstolos, Mãe e Mestra da verdade,
Roma, toda a cristandade o mundo espera em ti!

Salve, salve Roma! O teu sol não tem poente,
Vence, refulgente, todo erro e todo mal!
Salve, Santo Padre, vivas tanto mais que Pedro!
Desça, qual mel do rochedo,
A bênção Paternal!

 


Notas:

[01] Segundo a tradição apostólica da Igreja, os doze apóstolos formaram doze sentenças com os fundamentos de sua missão, assim surgiu a oração do "Credo" que significa creio, ou "Série dos Apóstolos", sendo uma das mais antigas da igreja.

[02] Evangelho de São Marcos, capítulo 10 versículos 28 até 31.

[03] Nesse mosaico em cores era mostrada a passagem bíblica da pesca milagrosa, constando nele o ano de 1969 e vendo-se a figura de Jesus em pé e na barca e os seus apóstolos lançando as redes.

[04] Nem todos iam para acompanhar e rezar, acontecendo de muitos pilotos de barco estarem embriagados e causarem transtornos. Em determinado ano, nós estávamos rezando ao redor da Virgem Maria quando uma embarcação perdeu o rumo e veio ao nosso encontro pelo bombordo, ao que gritamos "Virgem Santa nos Acuda", e nos ajoelhamos para rezar e aguentar o impacto. As pessoas estavam se deliciando com quentão e pipoca servida pelo capitão da mesma embarcação, sem dar atenção às orações ou ao que estava para ocorrer. Nesse momento, nosso barco foi violentamente sacudido e todos se puseram de joelhos a rezar ao redor do andor, que ficava preso com cordas. Eu, que antes estava puxando o terço, comecei a rir com a atitude do povo e também por nervoso.

[05] Esse estandarte fora feito a partir de outro de madeira que existia na capela da praia de Santa Cruz dos Navegantes. Era um pequeno retângulo de madeira sustentado por um mastro; na base, entre a figura e o encaixe do mastro, pendiam fitas de tafetá coloridas. Por algum motivo, essa bandeirola caiçara não voltou para a igreja de Santos e hoje seu paradeiro é desconhecido. A Virgem Maria era retratada em traços muito simples, andando sobre o mar e segurando em suas mãos uma estrela, vendo-se de um lado a famosa embarcação bíblica e ao longe um arco Iris, mostrando na simbologia a aliança de Noé.

[06] Muitos encaravam como uma oferta para a deusa africana Iemanjá, mas na verdade era uma imitação da embarcação principal em que o bispo dom David Picão jogava os anzóis depositados em uma bandeja com flores, e algumas mais eram atiradas no mar, entre elas palmas-de-Santa-Rita de todas as cores e rosas.

[07] Foi durante as festividades de Ano Novo em 31 de dezembro de 1998, no Rio e Janeiro, quando a embarcação Bateau Mouche - devido a problemas de cálculo de sua capacidade - foi a pique, matando muitas pessoas.

 

Sede do Clube de Pesca de Santos (CPS), a Ilha das Palmas promove em fins de junho a homenagem ao protetor dos pescadores, São Pedro Pescador. Estas imagens são da festa de 26 de junho de 2004, registradas por volta das 20 horas
Fotos: acervo de Francisco Carballa

Veja as fotos de 1981... [A] [B] [C] [D] [E] e as de 2003: [F] [G]

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