Clique aqui para voltar à página inicialhttp://www.novomilenio.inf.br/santos/h0134f.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 07/13/05 14:10:42
Clique na imagem para voltar à página principal
HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - MADEIRENSES
Madeirenses em Santos (3-D)

Leva para a página anterior
Quando habitantes da montanhosa ilha da Madeira resolveram migrar para o Brasil, encontraram na região de Santos um dos melhores lugares, a começar pelo nome da ilha, São Vicente, que recordava localidade homônima em seu arquipélago do meio do Atlântico. Além disso, ilustres patrícios já os antecederam, trazendo na bagagem os instrumentos e as técnicas para a usinagem do açúcar e o preparo do vinho, além de atuarem como entreposto no comércio entre Brasil e Portugal.

E, em Santos, as encostas dos morros lembraram também sua montanhosa terra natal. Em terras santistas, a colônia madeirense ficou conhecida por suas festas e pelas bordadeiras, que continuaram em terras brasileiras as técnicas ancestrais que deram fama à sua ilha.

Esse é o tema de um livrete editado em 1992 pela Secretaria de Cultura da Prefeitura Municipal de Santos, com apoio da Comissão Municipal de Folclore e Artesanato, em trabalho escrito por Francisco Ribeiro do Nascimento, com ilustrações de Lauro Freire, capa de Eugênio Lara e fotos do arquivo do Diário Oficial/D.O.Urgente, Casa do Folclore, Assessoria de Comunicação/PMC e Tadeu Nascimento:

BORDADOS DA MADEIRA NOS MORROS DE SANTOS [4]
Nova etapa

A 27 de outubro de 1984, no recinto da Igreja de Nossa Senhora Assunção, iniciamos, com a presença de um técnico da Secretaria de Estado da Promoção Social, Gisela Ione dos Santos, nova etapa do projeto: visamos não só a preservação do bordado como traço da cultura portuguesa, mas também como uma atividade produtiva para geração de renda.

Nessa ocasião, as bordadeiras puderam expor suas dificuldades, falta de recursos para aquisição de material como tecido e linha, poucas perspectivas a curto prazo, e venda dos produtos.

Desse encontro resultou a concessão de uma pequena verba do Estado, destinada à compra dos materiais, possibilitando assim a primeira exposição e venda dos bordados na "Casa da Madeira", fundada em 15 de abril de 1934, com a denominação de Centro Beneficente da Madeira.

A partir daí, após efetuadas as vendas nas exposições levadas a clubes, hotéis e outros locais, o valor destinado à compra dos materiais retornou, constituindo-se num Fundo de Participação, administrado pelas próprias bordadeiras.

O projeto está restrito à União das Bordadeiras do Morro de São Bento, com nove artesãs efetivas na faixa etária de 24 a 65 anos, sendo 70% naturais da Ilha da Madeira; 30% suas descendentes, e brasileiras. Trata-se de um embrião que deverá crescer com o apoio da sociedade e do Governo.

Um fato que merece destaque: em 27 de outubro de 1984, uma das bordadeiras fez a seguinte indagação: "Qual o nome que devemos dar à nossa roda?" Dessa simples pergunta, surgiu a denominação da "União das Bordadeiras do Morro São Bento".

Desse momento em diante, os coordenadores do projeto sentiram que a organização das bordadeiras estava se efetivando. Havia já uma conscientização do grupo em relação à validade das propostas de trabalho. A Casa do Folclore "Professor Albino Luiz Caldas" tem cadastradas 60 bordadeiras, residentes no morro, mas há um levantamento informando que elas ultrapassam a 100. Muitas, no início, não acreditaram no projeto. Outros tantos aguardam uma oportunidade para participarem do grupo, ou da constituição de novos núcleos. Enquanto isso, continuam trabalhando para os intermediários.

Das bordadeiras cadastradas, 36 são da Ilha da Madeira e 24 são brasileiras. É interessante notar que do grupo das 24 se incluem algumas não descendentes de madeirenses. Apenas uma aprendeu o ofício em curso profissionalizante, em colégio religioso. As demais no processo de aculturação das comunidades dos morros.

A União das Bordadeiras reúne-se sempre que necessário. Todas as atividades são discutidas, desde as mais simples, como: preço das peças, o que vende mais, até as mais complexas como a realização de mostras.

Foram realizadas 19 exposições com vendas, num total de 41 dias, obtendo-se resultados satisfatórios: uma, em 1984, na casa da Madeira; 15, de 1985 a 1989, no Ilha Porchat Clube; três em 1987 e 1988, no Parque Balneário Hotel; e uma, 1989, no Clube Internacional de Regatas.

Em 1986, a Casa do Folclore "Prof. Albino Luiz Caldas" conseguiu a cessão de uma sala na Sociedade União Portuguesa, para funcionar como sede da entidade, exposições e realizações de cursos.

As bordadeiras participam desde 1984, no mês de agosto, do Mutirão do Folclore de Santos. Além de expor e vender seus trabalhos, ensinam a técnica deste artesanato aos alunos das redes de ensino do Município e do Estado, nas Oficinas de Trabalho (Folclore na Educação) instaladas nesse evento oficializado pela Prefeitura Municipal de Santos.

Também desde 1984, no mês de dezembro, são convidadas para expor seu artesanato na festa de aniversário do Museu de Arte Sacra de Santos, nas Universidades Unisantos, Uniceb e na Factur da Aelis.

O projeto em foco contou também em 1985 com apoio técnico de uma assistente social da ASPE - Associação Promocional Educativa, da Diocese de Santos, em atividade no Morro de São Bento.


D. Maria Paixão de Abreu, entusiasta no trabalho de aglutinação das bordadeiras através de uma entidade específica

A Secretaria da Promoção Social e a Casa do Folclore "Prof. Albino Luiz Caldas" apresentaram em dezembro de 1986, à Secretaria de Relações de Trabalho, os projetos: Oficina de Trabalhos - Bordados da Ilha da Madeira - Morro São Bento e Curso de Bordados, aberto à comunidade do morro, numa tentativa de aliar a preservação da cultura e a conscientização do associativismo.

Aprovados os projetos propostos, em maio de 1987, realizou-se a Oficina de Trabalho, tendo a União das Bordadeiras (em organização) recebido verba para compra de materiais necessários à confecção de peças bordadas. Após a venda em exposições, o resultado obtido, menos o custo da mão-de-obra das artesãs, passou a constituir-se em um Fundo de Participação.

E no período de 23 de novembro a 18 de dezembro de 1987 realizou-se, em convênio com o Projeto de Geração de Renda, programa de aperfeiçoamento de mão-de-obra, o curso de bordados a 30 alunas, adolescentes e adultas, com carga horária de 80 horas, com currículo de: confecção de pano de amostras: pontos básicos (haste, boinha, cheio, matiz, areia, caseado, ponto aberto, cordão crivo) e arremate com pontos: Paris e Rolitê.

Foram entregues certificados, a todas, emitidos pela Secretaria de Relações de Trabalho, em solenidade com a apresentação das peças, em conjunto com a exposição e venda, promovida pela União das Bordadeiras, dias 16 e 17 de julho de 1988, no Ilha Porchat Clube, com as presenças dos diretores e técnicos dos órgãos e entidades envolvidas no projeto.

Assim, em 1989, os componentes da União das Bordadeiras se constituíram num grupo autônomo, detendo os seus próprios meios de produção e colocando os trabalhos diretamente no mercado.

Portanto, atingiram os objetivos propostos. Diz dona Maria Paixão de Abreu, uma das artesãs, nascida em 29 de março de 1928, na Ilha da Madeira: "Esse trabalho da União deveria ter começado há mais tempo. Passamos muitos anos trabalhando para fábricas, com remuneração baixíssima. Agora não. Vendemos nossa produção, a preço razoável, diretamente aos interessados. Antes, por causa desse baixo retorno financeiro, não tínhamos nem o apoio de nossas famílias para nos dedicarmos aos bordados. Nem nossas filhas queriam aprender a técnica. Com a União das Bordadeiras, tanto nós, como os compradores, fomos beneficiados. Nós recebemos mais, e o comprador, certamente, compra mais barato, pois no sistema anterior quem lucrava mesmo eram as fábricas". (1)

Leva para a página seguinte da série