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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - BIBLIOTECA - TEATROS
Memórias do Teatro de Santos (13)


Clique na imagem para voltar ao índice da obraComo em muitas outras cidades brasileiras, a memória do teatro santista raramente é registrada de modo ordenado que permita acompanhar sua história e evolução, bem como avaliar a importância dos artistas no contexto nacional, rememorando as grandes atuações, as principais montagens etc.

Uma tentativa neste sentido foi feita na década de 1990 pela crítica teatral santista Carmelinda Guimarães, que compilou depoimentos escritos e orais, documentos e outros registros, nas Memórias do Teatro de Santos - livro publicado pela Prefeitura de Santos em 1996, com produção de Marcelo Di Renzo, capa de Mônica Mathias, foto digitalizada por Roberto Konda. A impressão foi da Prodesan Gráfica.

Esta primeira edição digital em Novo Milênio foi autorizada pela autora, Carmelinda Guimarães, em 6 de janeiro de 2011. O exemplar aqui utilizado foi cedido pelo ator santista Osvaldo de Araujo:

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Memórias do Teatro de Santos

Carmelinda Guimarães

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Teatro nos Clubes

O Clube XV é o mais antigo clube social do País. Para Martins Pena, era "O cofre de prata antigo de nossas tradições". Vamos compor o visual da cidade na segunda metade do século passado (N.E.: século XIX). Surge à nossa frente uma pequena vila de nove mil habitantes, residindo no centro e nos morros mais próximos, ocupando cerca de 1.300 moradias. As praias permaneciam em total primitivismo. Alguns julgavam uma temeridade habitá-las. Contudo, algumas chácaras iam aparecendo.

A ligação entre o centro e as praias era fita pelas famosas gôndolas puxadas por animais, que depois foram substituídos pelos bondes de burros. A iluminação era feita por lampião a gás, não havia saneamento, nem esgoto. Uma parte da população era de escravos, mas a luta pela abolição e os ideais da República já fervilhavam. O progresso ia se fazendo muito lentamente. Entretanto, existiam vários grêmios que congregavam as famílias santistas.

Um deles, a Sociedade Carnavalesca Santista, foi a precursora do Clube XV. Havendo uma dissidência de seus associados, o grupo decidiu que deveriam fundar uma nova Sociedade. Dirigiram-se para a residência de Antonio Pinho de Brandão e sem perda de tempo fundaram o novo grêmio. Um dos participantes contou o número de pessoas e sugeriu que o nome da entidade fosse Clube dos XV; no dia seguinte, resolveram que, para não parecer restritivo, a agremiação se chamaria Clube XV.

Os fundadores foram: Adolfo Augusto Millon, Alberto Bittencourt, Antonio Alves da Silva, Antonio Freire Henriques, Antonio de Pinho Brandão, Benedito Aires da Silva, Bernardino Bernardes Pereira, Bernardo Martins dos Santos, Eugênio de Oliveira, Isaías Mariano de Andrade, João da Luz Pimenta, Joaquim Otaviano da Silva, José Marques de Carvalho, Raimundo Gonçalves Corrielo. A nova sociedade estava destinada a promover reuniões artísticas, literárias e sociais.

A primeira sede foi na Rua Áurea, 152, hoje Rua General Câmara. Depois mudou-se para o palacete construído pelo comendador Manoel Joaquim Ferreira Neto, em frente à estação do Valongo. A terceira sede foi na Rua Itororó, 25. Em 1875, formaram um grupo, o Comuna XV, com o objetivo de promover pândegas. No mesmo ano organizaram a Bohemia Santista, grupo dramático com a finalidade de incentivar as promoções culturais.

A quarta sede foi na Rua General Câmara, 87. Em 1894 instalou-se à Rua Amador Bueno, 193. Época de grandes bailes, o clube tinha o Grêmio das Violetas, formado pelas moças que o freqüentavam. Durante o baile, elas portavam pequenos carnês onde eram anotados os compromissos de dança.

O trabalho dos associados do XV em prol das Artes era encarado com muita seriedade. Em 1900 foi reorganizado o grupo de teatro, do qual faziam parte, entre outros, Mimi Alfaia, Alfeu Silva, Paulo Figueiras e Davis Ferreira, e que recebia o nome de Os Conspícuos. Eles exerceram esta atividade por longo tempo.

Outra mudança da sede aconteceu aos 11 de outubro de 1919: instalava-se no palacete da Av. Conselheiro Nébias, 166. Sentindo necessidade de chegar-se junto à praia, em 1934, transferiu-se para a Avenida Presidente Wilson. O prédio era de propriedade do Jockey Club, mas agradou tanto que a diretoria decidiu comprá-lo.

Vários grupos de teatro estiveram no XV. Em 1953 apresentou-se pela primeira vez em Santos um grupo de Teatro de Arena. Já em 69, quando houve o Festival de Teatro, organizado pela Comissão Municipal de Cultura, foi oferecido no encerramento um almoço no Clube XV. Há fotografias dessa ocasião que mostram Cacilda Becker, Tônia Carrero, Dercy e outros.

Na década de 60, desejando uma sede mais moderna, conseguiu o clube vender o imóvel que ocupava e começou a construir uma nova sede, que mesmo inacabada foi inaugurada no dia 12 de junho de 1969, na festividade dos seus 100 anos.

Já nos anos 70, quando Emanoel Leon foi diretor cultural, convidou José Gregui Filho para dirigir o grupo de teatro do XV. Lá surgiram nomes como: Jonas Mello, Evelina Alca Santana, Cláudio Silveira e Beth Caldeira, que montaram as peças Não Consultes Médico e Como Ele Mentiu ao Marido Dela, de Machado de Assis. Também se apresentaram lá Lima Duarte e Ricardo Bandeira, num espetáculo de mímica, para surdos-mudos, que foi uma sessão realmente muito especial.

Belarmino Franco e o Teatro do Clube XV

Foi na década de 70, Belarmino Franco abriu um cursinho de teatro no Clube XV, eu fui fazer com a Renata Zanetta. Fizemos um espetáculo chamado A Máquina do Tempo, que o Belarmino criou com dezesseis esquetes, adaptando uma estória de Monteiro Lobato. Passava-se no Sítio do Picapau Amarelo, onde chegavam todos os personagens dos contos da Carochinha. Eram quarenta e poucos personagens e eu fazia a Cigarra, a Renata era a Formiga.

Ficamos mais de um ano com casa lotada, todo o final de semana, mas era uma loucura porque sempre faltava algum ator e tínhamos que improvisar. O Belarmino ficava louco, mas ele era uma pessoa adorável e nós gostávamos muito de fazer teatro com ele. Depois o Tanah Correa veio trabalhar com o grupo e ainda fizemos Casadas e Solteiras, de Martins Pena, e em seguida o Tanah fundou o Motim.

Também participei do grupo de teatro do Caiçara Clube, GTAC.

Depoimento de Magali Prado.

Depoimento Jean Louis

O Clube XV sempre deu muita importância à parte cultural. Do fim do século até quase o início da Segunda Grande Guerra eram constantes os saraus, concertos, recitais e conferências em seus salões, com a presença das famílias mais tradicionais de Santos. Por exemplo, a gente não diz que é teatro, mas a Berta Singerman, uma das maiores declamadoras de língua hispana do Clube XV, era célebre pela interpretação poética que fazia nos palcos, vestida a caráter, de acordo com os personagens que interpretava em suas poesias.

Sou sócio do XV desde 1959. Após ter se desfeito o grupo idealizado por Emanuel Leon, surgiu outro criado por Belarmino Franco, do qual eu fiz os figurinos e o cenário de A Máquina do Tempo, de Monteiro Lobato. O grupo foi desfeito logo depois para dar origem a Os Jograis.

Lembro-me de Henriqueta Brieba apresentando-se no XV com uma peça soberba na qual ela fazia o papel de uma paralítica que dominava toda a família. Vi também Rodolfo Mayer apresentando As Mãos de Eurídice. Raul Cortês também esteve aqui com Greta Garbo Quem Diria Acabou no Irajá.

Quando vim para o Brasil em 1959, vim a convite de Walter Pinto, o grande produtor de revistas musicais, que se apresentava anualmente na Argentina e para quem eu fiz os figurinos da que foi infelizmente sua última revista - Tem Bububu no Bobobó. Vim da Argentina para o Rio de Janeiro e logo depois para Santos.

Mas não tinha documentação para permanecer no país. O jornal A Tribuna de Santos me fez um contrato de trabalho até que eu resolvesse minha situação. Pela minha experiência com Walter Pinto fui convidado a trabalhar com a companhia de Nídia Lícia e Sérgio Cardoso, fazendo figurinos e cenários. Fiquei com o grupo de 1959 a 1962.

O grupo vinha a Santos para o Teatro das segundas-feiras, no Independência.

Por essa participação, os grupos de teatro de Santos começaram a me procurar. O primeiro foi o Tic - Teatro Íntimo de Comédia, no Parque Balneário, com o qual fiz duas montagens muito simpáticas, nas quais trabalharam Waldirez Bruno, Gildinha Vandenbrande e Jonas Mello.

Fiz depois cenário e figurino de Inimigos Íntimos, no antigo Clube Sírio Libanês, com Raul Cortês em início de carreira. Passei a fazer trabalhos isolados, no teatro profissional e amador: Esta Noite Improvisamos, de Pirandello, As Lobas, Guerra do Alecrim e da Mangerona, do português Carlos José, De Repente no Último Verão, com Tarcísio Meira em início de carreira, Miriam Mehler, Nídia Lícia, Mariana Freire.

Nídia Lícia era a empresária da tournée pela América do Sul (Brasil, Argentina e Uruguai) de um grupo de atores do Actor's Studio, que apresentavam três peças de Tennessee Williams - De Repente no Último Verão, Uma Noite e outra que eu não recordo o nome.

Fiz os figurinos e cenários. Entre os atores estava Viveca Lindford.

Em Esta Noite Improvisamos tivemos que usar o Coliseu porque havia 35 artistas em cena e o palco do Teatro Independência era pequeno, quebrando a rotina das segundas-feiras. Cheguei a ter um programa de modas na TV Excelsior, antes do programa de culinária de Ofélia Anunciato. Mas o meu ganha-pão passou a ser a costura e eu precisei abandonar estas atividades teatrais. Mas sempre estive e estou à disposição para trabalhos na parte artística e cultural, graciosamente, nesta cidade que tão bem me acolheu.

Atlético

Gregui Filho participou também ativamente do Clube Atlético Santista no desenvolvimento de sua movimentação teatral. O clube recebia os grupos amadores no seu teatro de bolso ou mini-teatro, como era conhecido, e também ensaiava o seu próprio núcleo. Greghi foi diretor do grupo Tecas II, Teatro do Clube Atlético Santista Núcleo II, nos anos de 1977 e 79. Montou os espetáculos: A Princesa e o Sapo, A Rosa Verde e A Farsa do Príncipe Invisível. Participaram deste grupo: Irã Rocha, João Grillo Cristie, Jandira Negrão, Angela Ribeiro, Sergio e Luiz Antonio de Queiroz, Sérgio Mariotto, José de Abreu e Newton de Souza Telles.

Nesta época, o diretor cultural do clube era João Albino Filho, e depois Greghi Filho também assumiu o cargo.

Nesta fase, uma turma dissidente do grupo Motim formou o Opção, que teve direção de Edivaldo Francisco Pereira, Yara Maria do Nascimento, Carlos Carlsen e Paulo Maurício. Os anos 80 foram muito ricos para o clube, que já há 30 anos mantinha uma verdadeira escola de teatro. Mantinha também uma temporada fixa de teatro infantil.

Edivaldo ensinava o beabá com a preocupação de formar os artistas para o futuro. Muitos deles estão aí hoje atuando plenamente, como Ruy Felipe, Geraldo Frotta, Ana Paula Arcuri, Simone Rodrigues, Wilson Marques, André Durante, Marcia Simões, Carlos Francisco, Newton Frattin, Potyguara Nascimento.

O grupo Opção de Teatro ministrou um curso de 150 horas de Iniciação Teatral no clube, e como resultado montaram duas peças: A Viagem de um Barquinho e Um Lobo na Cartola. O grupo tinha 35 elementos, na sua maioria adolescentes. Depois vieram Branca de Neve, No Reino do Rei Malvadum, A Volta do Camaleão Alface e O Guará do Lago Encantado. Este último, premiado no V Fenac - Festival Nacional de Teatro Amador Infantil de Ponta Grossa (Paraná).

O Atlético, além de produzir os espetáculos, fazia temporada de apresentações totalmente grátis para sócios e não-sócios. Mas mesmo muito antes dos anos 70 e 80 o Atlético já tinha tradição com seu corpo cênico, embora poucos são os registros. Foi neste clube que se realizou a reunião inaugural da Federação Santista de Teatro Amador, em 1964.

Data de 1953/54 a apresentação da peça Saudade, com direção de Benigno Magno, realizada no Atlético. Seu grupo era o Tecas I, o primeiro núcleo que surgiu, quando ainda era City Atlético Clube.

Hoje a sede do clube é na Avenida Washington Luiz, fundado em 7 de setembro de 1913, na sala da História Natural da Escola do Comércio José Bonifácio. Começou sua caminhada arrendando o campo que pertencia ao Internacional (futebol), à Avenida Ana Costa. Dali o clube começou a alçar vôos para os Esportes.

Em 1930 adquiriu um terreno na Rua Alexandre Martins. Trabalharam intensamente para que o estádio ficasse pronto até 1932, prazo concedido para disputarem campeonatos oficiais. Chega então a Revolução Constitucionalista. O Atlético Santista doa então todos os seus prêmios em prol do "Ouro para a Vitória".

O clube começa a se preparar para o campeonato de 1933, mas um golpe de força maior tira o Atlético do APEA (órgão oficial). Todavia, desse momento ingrato para o clube, se inicia o período mais histórico. Por muitos anos transformou-se num clube de dança, promovendo eventos sociais, com saraus e matinês nos salões da Humanitária.

Em 1946, sagra-se campeão da Primeira Divisão de Basquetebol. No ano seguinte é campeão invicto no Voleibol. No dia 7 de setembro de 1948, uma placa surge à frente do terreno da Washington Luiz e nasce o clube de hoje. Mas nunca esqueceremos das grandes festas e magníficas atrações com figuras internacionais, numa vida intensiva e exuberante que fez com que o Atlético Santista se tornasse nacionalmente conhecido, pois sua programação era a mais intensa do Brasil.

Cena de Los Palos. Cenografia marcante e despojada

Foto publicada com o texto