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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - CINEMA
O cinema em Santos (19)

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Até 1929, os filmes apresentados em Santos eram mudos, com uma trilha sonora feita ao vivo por uma orquestra contratada pelo cinema, ou tocando-se um disco que vinha com a película. Nesse ano, chegaram ao porto santista os primeiros equipamentos para projeção de filmes com som, importados dos Estados Unidos e instalados no cine-teatro Coliseu.

O público chegou a ser convidado via imprensa para ver as caixas dos aparelhos sendo abertas, duas semanas antes da inauguração, criando-se grande espectativa em torno do fato. O primeiro filme sonoro apresentado em Santos foi Broadway Melody, e dias depois era anunciado o segundo, Follies of 1929.

Num sábado, 28 de setembro de 1929 - junto com uma página especial de publicidade da empesa Columbia (representante da Radio Corporation, e divulgando o disco do filme) - foi publicado um anúncio de página inteira no jornal santista A Tribuna, destacando a inauguração do sistema. Os dois anúncios foram impressos em cores preto e vermelho (ortografia atualizada no texto transcrito):


Anúncio publicado no jornal A Tribuna em 28 de setembro de 1929

Ao distinto público de Santos

A Empresa Cine Teatral, que tem dado sobejas provas de seus múltiplos esforços para sempre bem servir o público de Santos, sente-se, hoje, orgulhosa por cumprir fielmente a promessa que fez, há tempos, cuja promessa se prendia à instalação dos aparelhos de cinema falado, na sua melhor casa de espetáculos - Teatro Coliseu.

Tardou um pouco, na verdade, essa promessa. Isso se justifica cabalmente pelo desejo da Cine-Teatral, em querer apresentar ao público aparelhos que correspondessem perfeitamente à expectativa de todos quantos aguardavam, ansiosos, essa promessa.

Assim é que adquiriu os possantes aparelhos da Radio Corporation of America, que, na opinião dos entendidos, são os mais perfeitos e os mais completos existentes  nos mercados cinematográficos do mundo.

Mas não ficam somente aqui os desejos da Cine-Teatral. É também seu pensamento que, o segundo desses mesmos aparelhos que venha a instalar, será em um dos cinemas populares e com o fim exclusivo de proporcionar à laboriosa classe operária de Santos as maravilhas dessa prodigiosa invenção, em espetáculos a preços verdadeiramente ao alcance de todos.

M. Freixo & Cia. Ltda.

HOJE - Uma nova era cinematográfica
Coliseu - O leader da Elegância e do Conforto - HOJE
Horário da primeira sessão: às 19,30 horas - Horário da segunda sessão: às 21,30 horas

INAUGURAÇÃO
Dos possantes aparelhos de cinema falado da Radio Corporation of America
com a apresentação do primeiro filme da sempre insuperável e indestronável marca, favorita de todos os fãs...

o leão da Metro-Goldwyn-Mayer
real majestade da tela

É o mais surpreendente espetáculo até hoje visto

Um acontecimento extraordinário nos anais da cinematografia em Santos

E, para maior brilho da inauguração, s. exa. Sebastião Sampaio, cônsul do Brasil em Nova York, vai entreter uma interessante palestra, num filme falado Photophone, apresentando ao público santista a nova marca cinematográfica 
"RADIO CORPORATION",
criadora do Photophone e produtora de magníficos filmes que Santos irá conhecer.

Teremos ainda:

TITA RUFFO

que cantará Largo al Factotum, do Barbeiro de Sevilha, num extraordinário filme sonoro.

Numa só noite: três grandes atrações!

TODO FALADO! TODO CANTADO! TODO MUSICADO! TODO BAILADO!
Uma obra sem rival e de valor incomparável! Uma coisa jamais vista!

A alma de Broadway! Ambientes luxuosíssimos! Cenas riquíssimas, estonteantes e lindamente coloridas!

Enredo fino e sentimental, repleto de quadros que extasiam pela sua beleza!

Fazem parte uma orquestra de 50 músicos new-yorkinos! Um coro de 36 cantores! Um corpo de 40 bailarinas dos Foulies de Nova York!

Broadway Melody reúne em si arte, perfeição, magia e deslumbramento, porque é um filme da Metro-Goldwyn-Mayer


Detalhe do anúncio

O romance de Broadway Melody foi escrito por Edmund Goulding, o diretor de Anna Karenina. Suas músicas são de Nacio Herb Brown. Os versos de suas canções são de Arthur Freed. Seus diálogos são de Norman Houston e James Gleason. Broadway Melody foi dirigida por Harry Beaumont, o realizador de Garotas modernas.

Preços:
Frisas, 30$000 - Camarotes foyer, 25$000 - Camarotes 2ª ordem, 18$000 - Poltronas e Foyer, 5$000 - Crianças, 3$000 - Balcões, 3$000 - Galerias, 2$000

Broadway Melody

será apresentada hoje, ao público de Santos, na forma idêntica à que já bateu todos os recordes em New York e Los Angeles.

Inteiramente falada, cantada, musicada e dançada
 

É um poema de luz, cor, ritmo, alegria e sentimento!

No dia seguinte, domingo, 29 de setembro de 1929, o mesmo jornal A Tribuna publicou matéria sobre o fato (ortografia atualizada nesta transcrição) - note-se que, apesar do afirmado no texto, Santos foi a segunda cidade brasileira a ter cinema sonoro, depois do Rio de Janeiro:


Aspecto da enorme assistência à inauguração do cinema falado, ontem, no Coliseu
Foto publicada com a matéria

A inauguração do cinema falado

O brilhante espetáculo de ontem no Teatro Coliseu

Pode-se dizer, sem eufemismo, que a inauguração do cinema falado (movietone e vitaphone), ontem, no Coliseu, constituiu um verdadeiro acontecimento mundano, estando presentes os mais representativos elementos sociais de Santos.

O aspecto do luxuoso e vasto teatro, em ambas as sessões, era imponente, achando-se repletas as localidades. Muito antes do início da primeira sessão, havia uma enorme multidão que se acotovelava diante da bilheteria e do vestíbulo, ansiosa pela novidade que acaba de revolucionar a chamada cena muda. O mesmo fato se repetiu antes do começo da segunda.

A Cine Teatral, à cuja frente se encontra a verdadeira organização de trabalhador infatigável e tenaz que é o comendador M. Fins Freixo, está de parabéns pelo êxito brilhante que assinalou a inovação cinematográfica, ontem apresentada a Santos, a quarta cidade do Brasil que tem a honra de ser dotada dum aperfeiçoamento de tal vulto.

Não foram excessivos os anúncios encomiásticos de que vem precedida a aparição do filme sonoro. Roça pelo domínio do maravilhoso a invenção do movietone, prodígio de meticulosidade, segurança de técnica e perfeita sincronização.

Desde que a sala escurece e a projeção luminosa enche de formas semoventes a tela branca, uma estranha música flutua no ar, e as vozes dos atores que surgem no écran começam a fazer ouvir-se, reproduzindo o sotaque, as inflexões individuais, a maneira arrastada ou rápida da pronúncia das palavras de cada um.

As figuras na tela adquirem um relevo extraordinário. Cantam, choram, soluçam, gargalham, batem palmas, assobiam...

Ouvem-se os passos que se aproximam ou se afastam, as portas que se abrem e se fecham, o arrastar de cadeiras e até o estalar dos lábios que se beijam...

Em Broadway Melody, que ontem vimos verdadeiramente encantados, pouco falta para nos dar a ilusão do velho teatro "ao vivo", pobre soberano hoje destronado.

Numa cena das Zangfield Follies, de Nova York, tem-se a ilusão de que a tela foi substituída por uma janela aberta para a famosa ribalta, onde os vestuários riquíssimos, os adereços resplandecentes, as imaginosas figuras coreográficas tecem um poema de cor, de luz e de som.

Nova York se retrata numa outra cena, vista do alto, num burburinho de tráfego intenso e um emaranhamento de tetos de arranha-céus erguidos a alturas alucinantes...

Em Broadway Melody sente-se, ao natural, sem disfarces nem truques, a vida estuante da gigantesca city americana do trabalho, formidável atração para as ingênuas aldeãs, sorvedouro de ambições que se estilhaçam, aniquilando existências inteiras...

Confiada a artistas conscienciosos, a interpretação do romance, escrito por Edmundo Goulding, é toda muito boa, destacando os vivos, agilíssimos diálogos de Norman Houston e James Gleason, notáveis pela dicção clara e límpida, perfeitamente compreensível.

Além da movietone, aqui aguardada com o mais vivo interesse, e que se apreciou com geral agrado, ontem ouvimos, num filme sonoro, o grande Tita Ruffo, acompanhando, com a expressão visual, o Largo al Factotum, do Barbeiro de Servilha, tão da estima dos melômanos.

Outro pormenor interessante da inauguração de ontem: o discurso pronunciado pelo sr. Sebastião Sampaio, cônsul do Brasil em Nova York, cuja voz, segundo as pessoas que o conhecem pessoalmente, está reproduzida com absoluta fidelidade pelo Photophone.

Quando entramos no Coliseu, ontem, tivemos duas magníficas surpresas.

A primeira foi a presença de seis imponentes guardas civis, que o dr. Armando Ferreira da Rosa, digno delegado regional, mandou vir de S. Paulo, para ajudar o policiamento interno do teatro.

Surpreendeu-nos também o vistoso fardamento que envergavam todos os empregados da Cine Teatral, demonstrando o apuro de que se rodeou a inauguração de ontem.

Em suma, o cinema falado é, atualmente, uma radiosa realidade tangível em Santos.

O sucesso da sua apresentação deve-se, em grande parte, à maneira inteligente com que a empresa soube conduzir até o belo coroamento de ontem, a intensa propaganda feita por meio de réclames bem lançadas.

Ainda ontem inserimos uma página inteira, a cores, com o anúncio da inauguração, redigido de forma a impressionar agradavelmente o público ledor. Também, ao lado, publicamos outra esplêndida página recomendando os discos Columbia, de que são distribuidores gerais para todo o Brasil os srs. Byington e Cia., que, como representantes da Radio Corporation, muito concorrem para a difusão do cinema falado entre nós.

Em vista do estrondoso êxito de ontem, a Cine Teatral, hoje, em réprise, fará passar o mesmo programa, em vesperal e nas sessões noturnas.



Cine Coliseu - segundo filme falado apresentado em Santos - Follies of 1929
Anúncio publicado no jornal santista A Tribuna em 3 de outubro de 1929

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