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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - ESTRADAS
Um vagão com hélice, na Serra do Mar

Muitas idéias já surgiram como alternativa as estradas de ferro e de rodagem que atravessam a Serra do Mar. Sistemas de elevadores, funiculares e outros, em que os veículos não precisariam ser dirigidos pelos motoristas, podendo estes descansar e até apreciar a paisagem enquanto transporiam o trecho de serra, com a vantagem adicional de encurtar a viagem em dez, vinte ou mais minutos. Dúvidas sobre a tecnologia a ser empregada, sobre a viabilidade econômica dos projetos, sobre a segurança e principalmente sobre a obtenção dos recursos necessários aos empreendimentos, fizeram com que nenhum dos projetos fosse avante.

Sobre um desses projetos, bem como sobre a Via Anchieta em si, é que trata este artigo, parte de uma série de memórias relacionadas com o café e sua comercialização via porto de Santos. Foi publicado em 5 de novembro de 1991 no jornal santista A Tribuna:

Foto publicada com a matéria

Velhos flashes no reino do café - 67

Francisco De Marchi
Historiador

A Via Anchieta veio socorrer velha estrada, até então a única substituidora dos perigosos caminhos do mar. Que era estreitíssima, semeada de curvas fechadas e de aclive de meter medo; os autos que dela se serviam, incluídos os famosos Ford de bigodes, com freqüência paravam em meio do trajeto e nos raros acostamentos. Fervendo como chaleiras!... Carros cujos motores eram resfriados a água e lhes entupiam os radiadores; não obstante, os motores superaqueciam-se, no ingente esforço de galgar ladeiras vertiginosas.

A Anchieta foi inaugurada em 22 de abril de 1947 pelo governador do Estado, Adhemar de Barros. Com pistas de sete metros de largura, curvas com raio máximo de 100 metros na Serra e 400 no Planalto. Rampa máxima de subida de 6% e de 7% para descida. Constituía-se estrada-modelo, das mais belas do mundo, orgulho para nós. Estrangeiros maravilhavam-se com seus cenários; e mais argentinos e uruguaios, acostumados a percorrer estradas intermináveis em seus países, monótonas, provocadoras de sono, deitadas em planícies áridas sem fim!

Veja-se a espetacular vista parcial deste meio de comunicação - a Via Anchieta - apanhada em 1965, que não deixava prever, para tempos muito próximos, a sua quase superação quanto ao volume de tráfego suportável. Tivemos, depois de sua inauguração, o acréscimo de novas rotas de comunicação: a Mairinque-Santos (ferrovia), e a Rodovia dos Imigrantes, ousada, ultramoderna. E, apesar de tudo, há que pensar-se em novos caminhos auxiliares.

No fim do século passado (N.E.: século XIX), com menor movimentação, já se cogitava da construção de ferrovia, a somar à São Paulo Railway; sob a responsabilidade da Mogiana, seria construída do lado de lá do estuário, na área da Juréia, se estamos certos. Foi até estabelecido canteiro de obras e feitos cortes, em morretes. Depois, tudo foi paralisado; a Mogiana assustou-se com a sua ferrovia de simples aderência; os custos de construção dessa via e sua manutenção, ante problemática movimentação de carga apreciável, induziram-na a desistir do empreendimento.

A ligação dos transportes Santos-São Paulo e vice-versa nunca será motivo de atribulações se, desde já, passarmos a prever demandas em tempos mais próximos. Há algumas décadas sugeriu-se até o transporte complementar de pessoas e pequenas cargas, através de composições deslocáveis em trilhos suspensos, fixados em sólidos e gigantescos pilares. O vagão dianteiro, dotado de motor a hélice, tracionaria os demais. O sistema não exigiria grande faixa de terreno e, livre de obstáculos, as viagens Santos-São Paulo e no sentido inverso se realizariam em 20 ou menos minutos.

Houve um cidadão nesta cidade, ferroviário, que apresentou projeto e plantas pormenorizadas nesse sentido. Assunto por mim reportado em A Tribuna, na época. Uma companhia italiana, industrial, também se prontificou a responder pelo empreendimento, utilizando técnica própria. Tudo, como acontece com os perfumes, se dissipou no ar...

Velhas idéias que poderão ressurgir, em qualquer momento, como soluções inéditas para moderno e cruciante problema!