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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - ESTRADAS
Prussiano e Andradas na rota da ferrovia

E grave acidente marca a inauguração da S. P. Railway

Francisco Martins dos Santos (*)

(1856) - A estrada para a capital da Província tinha sido melhorada, sendo o seu tráfego intenso, e os santistas já pensavam em ligar-se à cidade serrana por um caminho de ferro, tentados pelo novo meio de transporte inaugurado dois anos antes no Rio de Janeiro, graças à iniciativa de Irineu Evangelista de Sousa, depois Visconde de Mauá, e do velho Augusto Fomm, santista de ilustre estirpe.

Aliás, a idéia de ligar Santos a São Paulo e a Jundiaí pertencera a Frederico Fomm, natural da Prússia, unido em Santos à família Andrada, o qual estabelecera os planos necessários, determinara o lugar por onde devia subir o caminho de ferro, e por fim conseguira, em favor da firma de que fazia parte, o privilégio para construção e exploração dessa estrada, em 1838, pela lei nº 24, de 30 de março desse ano, que autorizava o Governo a conceder carta de privilégio exclusivo à Companhia Aguiar, Viúva & Filhos, Platt & Reidd, de que Frederico Fomm era gerente.


Trecho ferroviário na Serra do Mar, no início do século XX, junto à usina de vapor da cremalheira
em cartão postal da Union Postale Universelle, nº 92 da série de Santos
Imagem cedida a Novo Milênio pelo historiador santista Waldir Rueda

Falecendo Frederico Fomm, antes de ter podido incorporar os capitais necessários para a realização de seus projetos, ficaram seus papéis com sua viúva, a qual os entregou ao Marquês de Monte Alegre, seu compadre, o qual por sua vez mais tarde se uniu ao Visconde de Mauá, e ao Marquês de São Vicente, obtendo novo privilégio em substituição ao anterior, não realizado e tornado assim caduco por força de suas cláusulas.

Mauá, nessa ocasião, era um dos donos da firma Mauá & Cia., estabelecimento que faliu mais tarde e com o passivo de oito mil contos. Esse cidadão efetuou a venda do novo privilégio obtido em seu nome e em nome dos marqueses de São Vicente e Monte Alegre a uma companhia inglesa, pela quantia de 40.000 esterlinos, e assim surgiu a S. Paulo Railway Co.

Santistas se uniram na defesa da igreja do Valongo,
ameaçada pela construção das instalações da S. Paulo Railway
Imagem: bico-de-pena de J. Wasth Rodrigues,
publicado no jornal santista A Tribuna, em 26/1/1939

Só a 24 de novembro de 1860 (N.E.: essa informação foi corrigida por Círo Carneiro, em 1941: a data correta é 15/5/1860), porém, foram inaugurados em Santos os trabalhos de construção dessa estrada, assistindo então os santistas à demolição de toda a ala esquerda do Convento de Santo Antônio, vendido aos mesmos ingleses para a construção da estação local e assentamento dos trilhos iniciais.

Esse caso da venda do velho convento aos ingleses constituiu verdadeiro escândalo em Santos, porque se viu, desde logo, que o Provincial da Ordem de São Francisco da Penitência, no Rio de Janeiro, vendera também a igreja duas vezes secular, sem a menor satisfação à comunidade local.

Não fora a atitude assumida pelo irmão Ministro da Ordem em Santos, o cidadão Francisco Martins dos Santos, e um fato milagroso acontecido com a pequenina imagem de Santo Antônio, na ocasião em que os operários procuravam demolir a sacristia da velha igreja, e o tradicional monumento da fé santista teria desaparecido naquele ano. Representando ao Imperador, o cidadão Francisco Martins dos Santos dele obteve ao cabo de algum tempo a ordem de manutenção da igreja e do que restava do convento de Santo Antônio, em favor da Ordem Terceira de São Francisco da Penitência, pelo Aviso do Império nº 513, de 7 de novembro de 1861.

Somente no dia 16 de fevereiro de 1867, como se vê no Relatório do Desembargador José Tavares Bastos, governador da Província, apresentado à Assembléia Provincial em 12 de maio do mesmo ano, puderam os santistas ver chegar ao Valongo a primeira locomotiva a vapor, e a nota mais interessante da viagem inaugural dessa estrada (N.E.: também esta informação foi corrigida: o acidente ocorreu em 6/9/1865), por onde desde então se realizou todo o movimento comercial e industrial de São Paulo, foi o grave desastre havido na composição, entre o Ipiranga e São Paulo, do qual saíram feridos o presidente da Província, secretários do governo, autoridades diversas e alguns convidados.

Interessante, também, é recordar, hoje, o movimento dessa estrada, em 1870, para confronto com o movimento extraordinário de agora. Naquele ano, transitaram por ela 75.399 passageiros das três classes, 15.416 volumes de bagagem, 3.343 animais e 102 dúzias de aves; mercadorias taxadas por peso, 68.431 toneladas; e por volumes, 708, sendo a receita de 1.932.577$650 e a despesa de 785.599$670, do que resultou um lucro líquido de 1.206.777$975 (SIC).

Santos-Juquiá - Em 1910 verificou-se um grande melhoramento para a cidade, inaugurava-se a Estrada de Ferro Santos-Juquiá (Southern S. Paulo Co.), via férrea essa que em 1928 foi encampada pelo Governo do Estado, passando para a Estrada de Ferro Sorocabana. Com a inauguração da Mairinque-Santos, ainda maiores benefícios advieram para a cidade.

(*) Francisco Martins dos Santos publicou estas notas no capítulo "Cronologia Santista" de seu livro História de Santos, de 1937, reeditado por Fernando Martins Lichti (1996, Editora Caudex Ltda., São Vicente-SP, volume II). O homônimo citado no texto teria sido parente colateral deste historiador.


As pontes da Grota Funda, um trecho ferroviário na Serra do Mar construído pela S. Paulo Railway Company, no início do século XX em cartão da Union Postale Universelle, nº 23 da série de Santos editada pela empresa santista M. Pontes & Cia., e circulado em 17 de dezembro de 1912, com destino a Rio IV, em Córdoba (Argentina)

Imagem: reprodução de cartão postal negociado no site de leilões Ebay-EUA, em 15/12/2010


A mesma cena, em cartão da Union Postale Universelle, nº 23 da série de Santos
Imagem cedida a Novo Milênio pelo historiador santista Waldir Rueda