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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - BAIRROS DE SANTOS - SÉCULO XXI - [13]
Boqueirão

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Publicado em 8/3/2010 no jornal A Tribuna de Santos, página A-3


INFRA-ESTRUTURA, PAZ E IDOSOS VIRAM MARCA REGISTRADA - Antigo caminho para o mar, bairro hoje oferece uma das melhores infra-estruturas de Santos. Essas qualidades e o clima pacato das ruas atraíram os idosos, que somam 70% dos moradores, segundo cálculos da sociedade de melhoramentos

Imagem: reprodução parcial da primeira página de A Tribuna de 8/3/2010

INFRA-ESTRUTURA

Versátil e completo como poucos

Do caminho que desembocava na praia surgiu o bairro que hoje em dia é um dos mais desenvolvidos da Cidade

Tadeu Ferreira Jr.

Da Redação

Tudo começou em meados do século 19, quando o santista descobriu como era bom um banho de mar. Corria a década de 1860 quando a até então desprezada Barra, como era chamada a praia, começou a atrair adeptos. E o único caminho à disposição era o Boqueirão - em alusão à grande boca que significava este acesso, numa época em que a orla era ignorada quase que por completo.

O traçado que desembocava no Boqueirão da Barra era o chamado Caminho Velho, que saída do Centro de Santos, seguia pela atual Rua Luís de Camões, alcançando o caminho aproximado da hoje Rua Oswaldo Cruz. As décadas se sucederam e aquele que era um recanto pouco valorizado hoje é um dos bairros que detêm uma das melhores estruturas urbanas do município.

O Boqueirão mescla harmonicamente, como poucos, comércios e residências. Gravatas e chinelas. Casinhas e casarões, prédios e escritórios. Nos fins de semana com dias quentes, conseguir uma vaga para o carro no asfalto para pegar sol na praia é missão que exige muita paciência.

"Pode ter lugar tão bom quanto. Melhor não. Aqui tem tudo. Supermercado, correio, médico, ônibus fácil. Só saio daqui morta porque minha campa fica no Paquetá", brincou a aposentada Luciene Miranda, de 63 anos, há mais de 30 vivendo na Rua Oswaldo Cruz.

A moradora faz parte de uma parcela da população do bairro que, conforme o presidente da Sociedade de Melhoramentos do Boqueirão, José Carlos Rodrigues, é a maioria. "Cerca de 70% dos nossos habitantes são idosos. E a estrutura do bairro favorece isso", observou Rodrigues, citando as grandes redes de drogaria e bancos que há no Boqueirão como exemplo. "O comércio aqui é pacato e bastante tradicional", destacou.

Mas o bairro também reivindica. "Tem algumas poucas coisas que o pessoal reclama. Coisa infantil como caminhões que estacionam na porta, falta de poda de árvore, população de rua e barulho de um ou outro estabelecimento", enumerou. No ano em que completa 50 anos, a Sociedade de Melhoramentos do Boqueirão também reclama uma sede, que nunca existiu, para as reuniões dos 70 associados.


Uma das principais vias do bairro, a Rua Oswaldo Cruz abriga o tradicional Super Centro do Boqueirão, além da Unisanta: ecletismo é sua marca

Foto: Rogério Soares, publicada com a matéria

Livros e cadernos - Outra peculiaridade do Boqueirão são as escolas e universidades. Os moradores se acostumaram com a crescente presença dos estudantes ao longo das décadas, espalhados principalmente pelas principais vias do bairro, como a Oswaldo Cruz e Conselheiro Nébias.

Os colégios Santa Cecília, Stella Maris, o Centro Universitário Lusíada (Unilus), a Universidade Católica de Santos (UniSantos) e, principalmente, a Universidade Santa Cecília (Unisanta) são os mais tradicionais.

A mais representativa é a Associação Educacional Santa Cecília (que mantém o colégio e a universidade). Ela se instalou no Boqueirão em 1969 e hoje tem 110 mil metros quadrados de área construída divididos em 34 edificações. O Unilus é ainda mais antigo no Boqueirão: surgiu em 1966, na Rua Armando Salles de Oliveira.

O aposentado Hélio Arantes trabalhou num comércio na Oswaldo Cruz até 2005 e sente saudades da animação dos estudantes. "Eles fazem muita bagunça, mas movimentam o bairro. Isso mantém o comércio vivo", salientou.

Vila Rica - Uma condição curiosa do Boqueirão é manter em seus domínios a chamada Vila Rica, que muita gente trata como bairro mas, na verdade, não passa de um trecho nos arredores da Avenida Washington Luiz.

Há 13 anos no ramo, o corretor de imóveis Ivo Sanches avalia que, apesar do glamour, a Vila Rica não difere do Boqueirão quando o assunto é especulação imobiliária. "É tudo Boqueirão", resumiu. Segundo ele, o metro quadrado no bairro custa entre R$ 2,5 mil e R$ 3,5 mil para imóveis usados e de R$ 3,6 mil a R$ 5 mil para novos.

Saúde - A Saúde é outra área muito bem servida no Boqueirão. Lá estão os hospitais Guilherme Álvaro, Casa de Saúde, Frei Galvão, além de um ambulatório da Unimed.

Há, ainda, um dos mais tradicionais edifícios de consultórios médicos da Cidade, de nº 730 (N.E.: Av. Conselheiro Nébias, 730). Tal desempenho ajuda a sustentar o fato de o maior número de profissionais registrados no Boqueirão serem médicos: 275.


RAIO-X: 45 mil moradores aproximadamente, tem o Boqueirão, segundo sua Sociedade de Melhoramentos. Área: 1.585.935,63 m². Valor do m²: R$ 2,5 mil a R$ 5 mil. Zona Eleitoral: 273. Número de seções: 53. Eleitores: 26.592. Total de imóveis: 1.668. 16.400 residências, arrecadando R$ 22 milhões de IPTU e R$ 2,9 milhões em taxas de lixo; 1.668 comércios, arrecadando R$ 3,6 milhões em IPTU e R$ 356 mil em taxas de lixo; e 46 terrenos, arrecadando R$ 1,2 milhão em IPTU e R$ 5,5 mil em taxas de lixo. No total, R$ 26,9 milhões arrecadados em IPTU e R$ 3,2 milhões em taxas de lixo

Infográfico da Editoria de Arte/AT, com dados da Prefeitura de Santos, Tribunal Regional Eleitoral (TRE) e corretor Ivo Sanches

Chácara resiste na Conselheiro Nébias

Antes de se tornar uma das avenidas mais importantes de Santos, a Conselheiro Nébias abrigou inúmeras áreas verdes no trecho do Boqueirão, sendo que algumas chácaras resistiram até os anos 2000. Porém, para saciar as ávidas necessidades do progresso, tudo foi dando lugar a asfalto e concreto.

Em 1982, reportagem de A Tribuna narrava que, das chácaras da via, apenas duas sobreviviam: a Thaumaturgo, no nº 674, e a Brasil, no 631. Há cerca de cinco anos uma delas sucumbiu às pressões do desenvolvimento e deu lugar a uma escola de futebol society. Assim, no lugar do solo nu, foram instaladas quadras de grama sintética.

Dessa forma, o único oásis verde sobrevivente é a antiga Chácara Thaumaturgo, que mudou de nome e hoje abriga o Espaço Cultural Unilus, que preservou aquele que se tornou um dos grandes pulmões do espaço urbano santista.

Quem passa pela avenida nem repara direito, mas a antiga chácara de 6,3 mil metros quadrados abriga 18 palmeiras imperiais, algumas rivalizando com prédios de dez andares ao redor, pés de manga, abacate, banana, pitanga, goiaba e abil, além de um extenso gramado, orquídeas e um velho chalé que beira os 100 anos.

O reitor do Unilus, Nélson Teixeira, adquiriu a antiga chácara de Olímpia Vergara Thaumaturgo, viúva do fundador, Emmanuel, em 1994. O casal semeou no local espécies adquiridas em viagens ao redor do mundo. Apesar de já ter sido sondado por grandes construtoras com projetos mirabolantes, Teixeira garante que, enquanto for vivo, a Fundação Unilus não perderá sua sede.

De tão grande, o terreno atravessa a quadra e tem uma segunda entrada pela Rua Armando Sales de Oliveira. Nos 6,3 mil metros de área, há, construídos, apenas a casa principal, que hoje abriga exposições esporádicas, uma casa anexa e um velho galpão, além do chalé. O resto é verde. "No entardecer temos o privilégio de receber gaviões, periquitos, até tucanos. Algo impensável em plena área urbana de Santos", gabou-se Teixeira.


O Espaço Cultural Unilus é um verdadeiro oásis verde, com 6,3 mil m²

Foto: Irandy Ribas, publicada com a matéria

O número 1

Não é possível falar em Boqueirão sem lembrar do Super Centro Comercial do Boqueirão, que ajudou a popularizar o nome do bairro. Considerado o primeiro shopping (N.E.: centro comercial) da América Latina - concorre com o paulistano Iguatemi, inaugurado um ano depois - completa 45 anos de vida este ano.

Com perfil diferenciado em relação aos demais shoppings que vieram a se estabelecer na Cidade, o Super Centro resistiu a algumas tentações da modernidade e manteve-se com suas tradicionais praças a céu aberto e piso áspero, por exemplo.

Mas isso vai mudar. Segundo o administrador do local, Júlio Ramos, está em fase final de aprovação um projeto para a repaginação da fachada, que será mais "arrojada". Em seguida, conforme Ramos, virão a implantação de um sistema de isolamento térmico no telhado (o Super Centro não tem áreas comuns climatizadas, tornando-se muito abafado nos dias de calor) e a troca do piso, já amarelado pelo tempo.

Também diferente dos demais shoppings, o Super Centro não tem um dono, é administrado como um condomínio comum. Atualmente abriga 130 lojas dos mais diversos segmentos. Muitas ocupam dois ou mais dos 205 boxes existentes. A maioria é inquilino. Uma das proprietárias mais antigas é Adelaide Lascane Saguir. Hoje à frente da Brut's Moda Masculina (fundada em 1972), ao lado do marido, ela foi uma das pioneiras em 1966, com a Lascane Moda Infantil. "Fechei há dois anos e vim ajudar meu marido aqui", lembra ela.

Adelaide recorda a época em que surgiu o Super Centro. "No início, só feirantes vieram para cá. Então tinha peixaria, açougue, mercearia. Hoje está moderno e muito mais agitado, com a faculdade aí do lado (Unisanta)".

Contemporâneo de Adelaide, Agenor Moraes Pereira também veio da feira, onde vendia meias. Neste ano está completando 40 anos de atividade no Super Centro, com sua Meia Dada. O tempo passou e o comércio se adaptou, hoje é especialista em artigos esportivos. A gestão também foi descentralizada: a filha Sandra já trabalha com a neta Alessandra. O trio atua junto atrás do balcão. "Ainda recebo clientes fiéis da época da feira. Já estão velhinhas e se tornaram grandes amigas", garante Agenor.


Foto: Rogério Soares, publicada com a matéria

Personagem
Darci Merck Heinz - proprietária do Bar Heinz, 62 anos

Há 25 anos à frente de um dos bares que melhor traduz a boêmia do Boqueirão (nos arredores da Rua Pindorama), Darci se prepara para comemorar os 50 anos do Heinz, em junho próximo, fundado por seu sogro Karl logo que chegou ao Brasil no período pós-guerra.

Nunca havia se envolvido com o negócio até ficar viúva. "No começo, o pessoal não aceitava bem, mas, com o tempo, consegui dominar a situação".

Nestes 25 anos, Darci modernizou o bar. Foram três reformas físicas e outras no cardápio, que não deixaram de lado as iguarias alemãs, como o salsichão, mas inseriram petiscos caiçaras ligados ao chope, o carro-chefe: caranguejo e peixes, por exemplo.

Darci cresceu no Boqueirão, onde mantém outros dois empreendimentos mais recentes: o Café Paulistânia e o bar Armazém 29. "Quando era criança a gente andava de bicicleta na rua, pulava muro. Hoje o Boqueirão está muito diferente, mais movimentado. Mas isso também é bom para os negócios. É a modernização".


Foto: Luigi Bongiovanni, publicada com a matéria

Veja o bairro em 1982
Veja Bairros/Boqueirão

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