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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - SEU BAIRRO
Do mosteiro ao vendedor de jacas, tudo é São Bento (3)

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Publicado em 3/2/1983 no jornal A Tribuna de Santos

 Leda Mondin (texto) e equipe de A Tribuna (fotos)


Seu Américo e seus muitos anos de luta por melhorias

Gente por todo lado
nessas encostas com 11 mil moradores

Nem parecia que se estava no Brasil, tal era o número de madeirenses cultivando os usos e costumes da santa terrinha. E, como bons portugueses, sentiam saudades do foguetório, dos copázios de vinho e, principalmente, das solenidades religiosas...

Volta e meia as famílias se reuniam para conversar e relembravam com muita saudade as bonitas festas realizadas na Ilha em homenagem à padroeira, Nossa Senhora de Assunção. E se eram tantas e boas as recordações, porque não tentar promover uma Festa da Assunção igual àquela da qual participaram do outro lado do oceano?

E foi a partir dessa idéia e do esforço de gente como o Frade, o Lãzinha, o Cagarro, o Daniel e o Vieira que nasceu a famosa festa de agosto do Morro de São Bento. A princípio, a mangueira do Largo de São Bento abrigava os fiéis na hora da missa campal. No mais, bastavam churrasco, vinho, sanfonas, cavacos e rojões para a xaramba estar formada.

Vai daí que apareceu alguém falando em construir um templo em louvor à padroeira. E para tornar isso possível, foi formada uma comissão integrada por três Marias - Maria da Silva Vieira, Maria Gonçalves e Maria Ferreira - e por Manoel Gonçalves, José de Jesus, Daniel Ferreira, José de Abreu Frade, José Gonçalves e Odete de Jesus Gonçalves.

Essa turma se entregou a um trabalho incansável, e pedra a pedra, foi surgindo a capelinha. Em 1960 já se realizava, em sua laje, a tradicional missa e, em 1961, estava coberta e pronta para servir de templo aos oradores da Senhora da Assunção.

O morro mudou, tem 11 mil habitantes e muitos não saem de lá por dinheiro algum - A igrejinha continua firme como nunca, mas a festa perdeu muito da pompa de outros tempos. Conseqüência, evidentemente, das novas características que o morro ganhou. As coisas começaram a mudar a partir de meados da década de 1940, quando chegaram os primeiros migrantes nordestinos, com os costumes e hábitos próprios da região de origem. A partir da década de 1960, cresceu e muito o número daqueles que vinham do Nordeste, querendo concretizar nas encostas do morro o sonho de uma vida melhor.

Hoje, 11 mil pessoas dividem esse que é o morro mais populoso de Santos. E essa ocupação se deu comprometendo, em muitos pontos, todo um equilíbrio natural. Conclusão: volta e meia caem barreiras, como na última terça-feira, e o desespero toma conta dos lares.

Apesar desse problema crônico - e da negligência da Prefeitura, que não providencia as obras de segurança necessárias - o São Bento se destaca como um dos melhores morros para se morar. Até divide com a Nova Cintra o privilégio de ser chamado de Cidade Alta...

Ao longo dos anos, o lugar ganhou boas casas, como a do seu Manoel Daniel de Souza, e as vendas e bares proliferaram, acompanhando o desenvolvimento populacional. E os ônibus já circulam em boa parte das ruas, livrando o pessoal das históricas caminhadas de outras épocas.

Tem gente que não se muda de lá em troca de dinheiro nenhum no mundo. Um deles é seu Américo de Souza, que além de ter cansado de trabalhar para conquistar melhorias, mora em um ponto privilegiado, onde sopra uma brisa gostosa mesmo nos dias mais quentes de verão. Seu quintal parece um pequeno bosque e nada na Cidade poderia lhe proporcionar tanta alegria como os tanques onde cria dezenas de peixinhos coloridos. Tanques, aliás, abastecidos com a água cristalina que brota entre pedras.

E ninguém pode negar que se trata de um privilégio poder observar toda Santos, sem estar envolvido com seus carros velozes, o som de buzinas e o corre-corre típico de um lugar com mais de 400 mil habitantes. Uma alegria para a vida de um aposentado como o seu Manoel Daniel.

Dona Dolores e a tradição dos bordados

Mais: o São Bento pode ter mudado um bocado, mas não perdeu suas famosas bordadeiras, sempre às voltas com cestos de linha e armadas de muita paciência para fazer surgir sobre os tecidos pontos e detalhes de uma beleza sem igual.

Todos apreciam a graça do trabalho, mas poucos se dispõem a pagar o preço que valem. Por isso, raramente dona Dolores, dona Cecília, dona Conceição, dona Maria José e outras aceitam encomendas de particulares. Preferem bordar para as fábricas, mas nem elas pagam bem: oferecem apenas Cr$ 2.500,00 por um lençol que leva 15 dias para ficar pronto e Cr$ 2.200,00 por três toalhas que consomem três semanas de serviço. Não é à toa que as filhas das bordadeiras nem querem saber de bordados, o que fatalmente levará ao fim de uma tradição.

Além do perigo nas encostas, o descuido da Prefeitura gera situações desagradáveis - O morro só não é melhor por causa dos perigos sempre presentes nas encostas, mas também porque a Prefeitura não cuida direito de sua limpeza ou providencia serviços de manutenção. Quando quebra alguma manilha, como aconteceu na Rua Santa Cecília, em frente à casa 12 da ligação 27, os moradores têm que agüentar o mau-cheiro, ratos e insetos por dias e mais dias. A Prefeitura diz que mantém uma equipe permanente nos morros. Será que esse pessoal não vê isso?

Muitos reclamam e em alguns casos só conseguem aliviar a tensão quando o Largo de São Bento Futebol Clube ou o Santa Isabel Futebol Clube entram em campo. O primeiro já foi capaz de mostrar tudo o que sabe em seus muitos anos de existência, e o segundo, fundado a 10 de outubro de 1980, tem dado muito o que falar. Quantos não se entusiasmam com os lances de jogadores como o Serginho, Delucie, Nêgo, Bira, Nego Hélio e Pescoço, todos do primeiro quadro, e mais Chico, Cicó, Waldir e Nelico, do segundo? E nisso tudo sobram elogios para o Vati, organizador do clube e da equipe.


Em 1961, o templo para a padroeira

Veja as partes [1], [2] e [4] desta matéria
Veja Bairros/São Bento

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