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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - SEU BAIRRO/mapa
Encruzilhada e o seu grande dilema (4)

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Publicado em 11/11/1982 no jornal A Tribuna de Santos

 Leda Mondin (texto) e equipe de A Tribuna (fotos)


Na Gota de Leite, assistência às crianças desde o começo do século XX

O comércio avança. O que fazer?

"Tem muita macumba lá, hem? Encruzilhada..."

Muitos moradores da Encruzilhada já cansaram de ouvir a pergunta, em tom de gracejo, invariavelmente acompanhada de um sorriso de deboche. Uns nem ligam, outros partem para a ignorância e desfiam uma lista de palavrões, e há os que, se pudessem, mudavam o nome do bairro, para acabar de vez com as brincadeiras.

A Encruzilhada, enquanto bairro propriamente dito, surgiu sobre áreas que pertenceram ao Macuco e outras conhecidas como Entre Avenidas, situadas entre a Conselheiro Nébias e a Ana Costa. Mexeram de cá e de lá para fazer surgir esse núcleo, delimitado pelas ruas Joaquim Távora e Campos Melo, trilhos da Fepasa e Avenida Ana Costa. Está encravado bem no meio da chamada Santos Leste e faz divisa com nada menos que seis bairros: Vila Matias, Macuco, Boqueirão, Gonzaga, Campo Grande e Vila Belmiro.

A vizinha que mais incomoda é a Vila Matias, com seu comércio diversificado, suas oficinas, marcenarias, lojas que vendem peças para automóveis e coisas do tipo. Parece cada vez mais próxima e disposta a avançar ainda mais, nem que seja na calada da noite. Será que, futuramente, a Encruzilhada deixará de ser um bairro residencial?

As fachadas dos sobrados, escondidas atrás de placas - Essa perspectiva vem assustando muita gente desse bairro, que estremece quando passa um caminhão cheio de contêineres, arrastando junto os galhos das árvores. E é esse pessoal que de certo modo agradece a chegada do Conjunto Ana Costa, que ajuda a reforçar o caráter residencial.

Mas, outros prédios chegaram para abrigar escritórios, empresas ou concessionárias, e o maior exemplo disso é o da Telesp, na Avenida Washington Luís. Ao mesmo tempo, os tradicionais sobrados que caracterizam a maior parte das ruas se transformam em escritórios, consultórios médicos e escolas.

Ninguém nega que a maioria se conserva como residencial: o que se discute são as mudanças que ficam cada vez mais evidentes. Será que o destino do estilo arquitetônico das moradias é ficar escondido atrás de placas?

Há que se ver a beleza daqueles sobradinhos antigos, com fachadas trabalhadas, cheios de detalhes típicos dos tempos em que construir uma casa não representava um desfalque tão significativo para o bolso. E que visão pitoresca proporcionam também os sobrados da Pérsio de Queiróz Filho, entre as ruas Joaquim Távora e Carvalho de Mendonça, enfileirados junto à calçada, com sacadas no primeiro andar.

Volta e meia a gente depara com uma moradia maior, que chama a atenção. Na Rua Campos Mello, há uma esquina ocupada por um casarão todo em tijolo e pedra, com telhado lembrando as construções alemãs. A casa de número 522 da Conselheiro Nébias ostenta uma entrada em forma de arco e duas pequenas estátuas enfeitando as laterais da escadaria. Por incrível que pareça, o mais difícil é encontrar algum chalé, apesar de terem sido maioria há uns 40 anos.

Quem pode negar a poesia de uma pequena vila como a Ribeiro Conceição? Embora as casas estejam bem cuidadas, parece parada no tempo devido aos paralelepípedos da rua e ao mato que cresce entre eles. E por falar em paralelepípedos, o pessoal da Rua Cunha Moreira reclama que essa é a única via das imediações que não recebeu asfalto e continua com luminárias antigas, dessas que não iluminam nada. Mas, quem reivindica em nome da Encruzilhada?

O abandono cresce e não há ninguém para reivindicar - A Encruzilhada é considerada um bairro tamanho médio: ocupa uma área de 95 hectares, onde estão comprimidas quase quatro mil residências. E, apesar de sua população beirar 18 mil habitantes, não tem uma sociedade de melhoramentos.

Está certo que nas duas últimas décadas as sociedades de melhoramentos, de um modo geral, perderam força e poder de barganha. Mas daí a não haver um único grupo disposto a lutar pela conquista de melhorias, é uma outra história.

Talvez por isso a Encruzilhada anda tão esquecida, com ruas mal iluminadas, praças sujas e sem áreas de lazer. As duas únicas praças - a Almirante Tamandaré e a Padre Champagnat - vivem cheias de desocupados. Sem terem para onde ir, sem perspectiva de vida, migrantes e indigentes buscam refúgio nelas: se aproveitam do abandono geral e tentam passar despercebidos entre os monumentos, o mato e as árvores.

A falta de parques de diversões, de espaços livres para as crianças, surge como o mal maior. Se a Prefeitura não dispõe de áreas, por que não desapropriar alguma, já que os moradores pagam impostos e têm seus direitos? Ou, então, que se urbanizem os ociosos terrenos ao longo dos trilhos da Fepasa, que se instale lá algum equipamento de lazer, com as necessárias medidas de segurança, evidentemente. Além de minimizar uma carência do bairro, terminaria de vez com o famigerado ciclo: lixo junto aos trilhos, riscos para a saúde, reclamações de populares, limpeza num dia, mais lixo no seguinte.

As ruas, movimentadas como elas só, não servem como substitutas dos quintais, que desaparecem gradativamente. Assim, a maior alegria da garotada é poder dar uma fugidinha até a Avenida Washington Luís, subir nos jamboleiros e colher seus frutos. Repete-se o que pais e avós fizeram. Afinal, os jamboleiros são ou não a maior tradição da Encruzilhada?

E vejam que incoerência: a comunidade reivindica espaços para o lazer, mas o bairro abriga um dos maiores e mais bem instalados clubes do País, o Atlético Santista. Fundado em 1913, cresceu juntamente com tudo à sua volta, mas freqüentar as suas instalações é um privilégio dos 7.200 sócios e dependentes. O pessoal da Encruzilhada não poderia ter seu dia de ir ao clube? Que tal um maior intercâmbio entre o Atlético e a comunidade? A reivindicação está surgindo e promete ganhar forças.

Escolas e entidades tradicionais, um motivo de orgulho - Tem muita gente que se orgulha de a Encruzilhada comportar um clube do porte do Atlético. Outros preferem se vangloriar de duas escolas muito tradicionais: a Dino Bueno e a Independência. A primeira por muitos anos se destacou entre as unidades da rede estadual, até que o Estado decidiu encerrar suas atividades (alegou que o aluguel do imóvel onde funcionava estava muito alto) e ampliar, em contrapartida, as instalações da Cleóbulo Amazonas Duarte, que também fica na Encruzilhada. Mas, o nome tão conhecido não desapareceu do ensino de Santos, já que o Município resolveu ocupar o prédio da Avenida Ana Costa, 285, e criar a EMEIPG Dino Bueno.

O Colégio Independência, por sua vez, comemora este ano o cinqüentenário de existência. Nasceu como escola primária, no endereço onde se mantém até hoje (Avenida Conselheiro Nébias, 532), porém cresceu muito e hoje oferece cursos pré-primário, de 1º e 2º graus e supletivos.

É também na Encruzilhada que ficam o Hospital dos Estivadores, a Casa dos Pobres do Centro Espírita Ismênia de Jesus e três outras entidades muito conhecidas: a Gota de Leite, o Educandário Anália Franco e o Lar Mensageiros da Luz. A última se distingue como uma das poucas no País que assiste gratuitamente crianças portadoras de paralisia cerebral, do tipo irreversível. Para quem quiser visitar: Cunha Moreira, 47.

E para aqueles que acham que tudo isso representa um patrimônio insignificante, aí vai mais uma: a Encruzilhada é a sede da Capitania dos Portos, o mais importante órgão da Marinha do Estado.


Nas fachadas de casas e sobrados, detalhes bonitos para bons observadores

Veja as partes [1], [2] e [3] desta matéria
Veja Bairros/Encruzilhada

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