Clique aqui para voltar à página inicialhttp://www.novomilenio.inf.br/santos/h0100b04a.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 11/06/02 15:10:16
Clique na imagem para voltar à página principal
HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - SEU BAIRRO/mapa
Embaré, um bairro em constante transformação (2)

Leva para a página anterior da série Conheça seu Bairro

Publicado em 27/5/1982 no jornal A Tribuna de Santos

 Leda Mondin (texto) e equipe de A Tribuna (fotos)


Já dirigiu do Centro à Ponta da Praia e vice-versa, sem cruzar com qualquer carro no caminho

É o mais antigo motorista de táxi. Com muito orgulho!

Querem conhecer o motorista de táxi mais antigo de Santos? É fácil: se o TL azul, placa WY-0004, estiver estacionado no ponto da Pedro Lessa com Senador Dantas, podem ter certeza que seu dono, Manoel de Oliveira, está sentado em um banquinho de madeira, na calçada. Alto, forte, não aparenta 76 anos de idade, e muito menos que enfrenta o trânsito diariamente há 56 anos.

Em 1926, com apenas 19 anos de idade, começou a trabalhar na praça com o Chrysler chapa 134, que não era seu. Na época, havia uns 150 táxis em Santos, e ele lembra que, certa vez, chegou a cumprir o percurso entre a Praça Mauá e a Ponta da Praia, ida e volta, via Avenida Conselheiro Nébias, sem cruzar com qualquer carro no caminho.

Andar em seu táxi é fazer uma dupla viagem: cumprir o trajeto desejado propriamente dito e, ao mesmo tempo, conhecer Santos de ontem e se envolver em histórias das mais interessantes. A cada instante se revela um ótimo contador de casos, daqueles que relembram os mínimos detalhes e mesclam tudo com uma boa entonação de voz.

Gosta de falar sobre passageiros ilustres e não esquece quando aquele homem muito camarada, paletó sob o braço, pegou seu táxi no Armazém 15 e pediu que tocasse para o Palácio da Justiça, em São Paulo. Lá, criou-se uma situação embaraçosa: o homem obrigou-o a estacionar no lugar reservado a desembargadores. O guarda veio direto reclamar, mas tudo acabou bem quando o passageiro se identificou: era nada menos que o ex-ministro da Justiça, José Linhares, que chegou a assumir a presidência da República interinamente, em substituição a Café Filho.

O dia 21 de abril de 1934 Oliveira recorda de modo especial: um homem desembarcou do navio Araranguá e pediu que o levasse a São Paulo. Conversa vai, conversa vem, descobriu que se tratava do ex-procurador da República, Alceu Otacílio. Se ficou contente e honrado com isso, imagine sua surpresa quando retornou a Santos: havia mais um herdeiro em casa.

Tomou café, sem ser convidado, e foi ao banheiro, sem vontade - O motorista de táxi número 1 de Santos já transportou também o general Pedra, em missão urgente do governador Getúlio Vargas. Por outro lado, enfrentou uma situação difícil no dia em que aqueles dois homens, bem vestidos, desceram do trem das 17 horas, na Estação São Paulo Railway (hoje Santos-Jundiaí) e pediram que os levasse até o gerente da Cia. Antárctica.

A visita seria rápida, o motorista deveria esperar. Realmente, não demorou muito e os dois saíram apressados, portando uma valise, e rumaram para o Santos Hotel, na Praça Barão do Rio Branco. Lá resolveram seguir de táxi para São Paulo, o que deixou Manoel de Oliveira mais intrigado. O que pretendiam com tanta andança?

São Paulo. Rua Direita. Os homens descem para tomar um café. Oliveira desconfiou, pois o bar tinha saída para a José Bonifácio. Não teve dúvida: foi tomar café também, sem ser convidado. E mais: acompanhou-os ao banheiro, mesmo sem ter vontade.

Os passageiros não tiveram jeito de escapar e pagaram os 200 mil réis da corrida quando desceram no Hotel São Luís, no Bairro da Luz. Desceram, mas não entraram no hotel, o que levou Oliveira, que não era nem um pouco bobo, a avisar dois guardas.

Quando retornou a Santos, a polícia já o aguardava. O delegado Gilberto de Andrade e Silva, ansioso, queria saber o paradeiro dos dois homens. Haviam praticado um grande assalto na Cia. Antárctica.

Nenhum acidente, briga ou multa, em 56 anos de profissão - Passagens da vida de um homem que exatamente ontem completou 56 anos de profissão, 33 deles servindo os que procuram o ponto da Pedro Lessa com Benjamin Constant, no Embaré. Acreditem: seu prontuário permanece limpo, sem registro de acidente ou briga com passageiros. Nunca foi multado por excesso de velocidade ou por ultrapassar sinal vermelho. Só uma ou outra multa, por estacionamento proibido.

Não esconde o orgulho quando diz que é o sócio número 6, benemérito, da Associação dos Choferes, além de conselheiro e diretor, há cerca de 20 anos. Faz um pedido especial: que seja citado o nome do presidente da entidade, Manoel Mateus, e do presidente do conselho, Manoel Teixeira Filho.


Não há mais chácaras, brejos ou mato,
mas as imagens de ontem continuam na memória dos antigos moradores

A igreja e o santo casamenteiro

Os turistas olham a igreja e se sentem aliviados. Não há mais dúvidas, estão no Embaré. O velho templo, em estilo gótico, imponente, serve como referência e diante dele ninguém se sente perdido.

Sua história antecede em muito a data da inauguração da basílica que se conhece hoje. Remonta ao tempo do Barão do Embaré (depois visconde), que em 19 de setembro de 1875 dava por encerrada a obra de uma pequena capela, em homenagem a Santo Antônio, na chamada Praia da Barra, em chácara mantida por ele. Até Dom Pedro II chegou a visitar o pequeno templo, em passagem por Santos, naquele mesmo ano.

Não se sabe bem o motivo, mas a capela acabou abandonada. Padre Gastão, até hoje lembrado no bairro, se encarregou de reconstruí-la, em 1911, marcando uma nova fase de sua existência. Onde anos depois, o arcebispo metropolitano dom Duarte Leopoldo e Silva a entregava aos cuidados dos frades capuchinhos e, em 1930, iniciou-se a construção da atual igreja. Quatro anos mais tarde era inaugurada, para satisfação do construtor Carlos Regos; dos irmãos Gentile, artistas italianos que fizeram as pinturas; e do escultor Giácomo Scopelli.

Dizem que Santo Antônio ganhou um templo à altura da devoção dos fiéis. O certo é que terça-feira, dia consagrado a ele, a igreja permanece cheia. Homens e mulheres de todas as idades correm para reverenciar o santo casamenteiro. Se ele atende ao apelo, fazem questão de se casar no mesmo templo do Embaré, ao som do órgão alemão levado para lá em 1948.

Santo Antônio, quem diria? Em 1956, o então prefeito Antônio Feliciano gastou nada menos que Cr$ 150 milhões antigos dos cofres públicos para instalar um monumento em seu louvor, em frente à basílica. Monumento que a criançada fazia questão de olhar, quando passava de bonde...


O templo em estilo gótico fica cheio na terça-feira, dia dedicado a Santo Antônio, o casamenteiro

A primeira televisão, e muitos curiosos

O acontecimento ganhou espaço na última página de A Tribuna do dia 9 de setembro de 1950: na véspera, fora instalada a primeira televisão em uma residência de Santos. Leonel Ferreira de Souza e sua esposa Julieta Pangoldi Ferreira de Souza, que moravam na Avenida Siqueira Campos, 666, foram os primeiros a levar o tal aparelhinho para casa.

A Tribuna registrava: "A novidade, como não podia deixar de ser, tem despertado curiosidade e interesse, ainda mais porque estão sendo recebidos em Santos programas de televisão quando, no dizer dos técnicos, seria impossível tal recepção aqui, em virtude da serra".

Sem dúvida, o grande assunto do momento. O casal vivia com a casa cheia de gente, todos querendo ver como funcionava o televisor GE. E Leonel Ferreira de Souza não foi notícia só nessa ocasião: era delegado de Trânsito durante a Segunda Guerra e recebeu a Medalha Real, conferida pelo Rei George VI, da Grã-Bretanha, em 1951.

Veja as partes [1], [3] e [4] desta matéria
Veja Bairros/Embaré

Leva para a página seguinte da série Conheça seu Bairro