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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - BOLSA DO CAFÉ
Um palácio para o Rei Café (4)

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O prédio da Bolsa de Café de Santos teve seu projeto divulgado para o público em 1920, como noticiou o jornal santista A Tribuna, em 21 de abril de 1920 (ortografia atualizada nesta transcrição):
 


Imagem: reprodução parcial da matéria original

Palácio da Bolsa de Café

O relatório apresentado

A Companhia Construtora de Santos, de que é digno diretor-superintendente o ilustre engenheiro sr. dr. Roberto Simonsen, apresentou, no dia 7 do corrente, ao governo, fazendo-o acompanhar das plantas respectivas, o relatório sobre o projeto organizado para a construção do Palácio da Bolsa de Café, nesta cidade.

Mais uma vez a importantíssima empresa vem patentear o alto critério e competência com que norteia a sua pujante ação, em prol do desenvolvimento e progresso de Santos.

As plantas, a que faz alusão o relatório abaixo publicado – como ontem noticiamos – estão expostas no salão da Bolsa de Café e já têm sido atentamente admiradas por grande número de pessoas.

O trabalho, que se vai ler a seguir, é da lavra do sr. dr. Roberto Simonsen, e bem demonstra a clareza e precisão com que o distinto engenheiro se ocupa do assunto, positivando, dest'arte, a segurança dos seus conhecimentos técnicos.

O Palácio da Bolsa de Café, como se pode ver pelas plantas e pela farta descrição, vai ser uma verdadeira obra de arte, que honrará a cidade de Santos, destacando-se pelo seu extraordinário gosto e suntuosa imponência.

Damos, sem seguida, o relatório sobre o projeto:

"Santos deve possuir para o edifício da sua Bolsa de Café um estabelecimento que seja digno da posição que a cidade ocupa no mercado mundial desta mercadoria. Deve ser um dos primeiros edifícios da cidade e impressionar pela sua majestade e riqueza.

O projeto obedeceu naturalmente ao programa indicado pelas necessidades do funcionamento da Bolsa e às prescrições derivadas da situação do local onde vai ser o edifício erigido.

A entrada mais acessível da Bolsa está situada em uma posição, que é como que o prolongamento do trecho da Rua 15 de Novembro, onde se efetua a maior parte das transações de café - e é assinalada por um pórtico dórico-romano.

Entra-se para um hall de conversação que, como nas Bolsas de Nova York e do Havre, possuirá um sistema completo de informações comerciais, contidas em quadros apropriados. Este hall é circundado de dependências indispensáveis, como salas para correspondência, telefone, correios e telégrafos, vestiário e instalações sanitárias, e recebe luz suficiente pelas aberturas da fachada e por um rico jogo de vitraux que o separa de uma área interior.

À direita do hall de conversação foi projetada a sala destinada ao funcionamento da Câmara Sindical de Fundos Públicos, que aí poderá permanecer enquanto o seu desenvolvimento e o da Bolsa de Café o permitir.

À esquerda, o hall dá acesso ao grande salão da Bolsa de Café, planejado de modo a preencher os seus fins. Neste salão terão lugar as sessões da Bolsa. O presidente ficará ao centro, bem visível por todos; os corretores, confortavelmente instalados, se podem ver mutuamente, e receber as ordens dos negociantes, que se espalham pela ampla galeria, que envolve a parte que lhes é reservada.

A riqueza e amplitude do conjunto, no Salão da Bolsa, formam um ambiente propício ao desenvolvimento e à magnitude dos negócios que se devem ali realizar.

No fundo do salão, à esquerda, está a sala destinada ao funcionamento da Câmara Sindical dos Corretores de Café, com capacidade mais que suficiente para as suas necessidades, permitindo que os seus membros possam ali se reunir comodamente.

Desenvolve-se, depois, a parte destinada ao funcionamento da Secretaria Geral da Bolsa - com as proporções suficientes para os seus serviços no pavimento térreo.

A secretaria, além de ficar ligada ao salão da Bolsa, tem comunicação para o exterior, pela entrada do edifício sob a torre da praça Azevedo Júnior, por onde tem acesso o pessoal e por onde serão feitas as entregas das amostras de café.

Por esse mesmo pórtico, sob a torre, projetamos a entrada da Caixa de Liquidação, e das pessoas que procuram o presidente da Bolsa nas horas de seu expediente.

Todos os departamentos que devem funcionar no pavimento térreo estão providos de gabinetes sanitários em número suficiente para as suas necessidades.

Quatro escadas e três ascensores dão acesso aos pavimentos superiores do edifício.

No primeiro andar, sobre o Salão da Bolsa e correspondente ao pórtico monumental da Rua Frei Gaspar, existe uma galeria que se presta admiravelmente para um museu comercial, e de onde se poderá assistir às reuniões da Bolsa.

O resto do andar foi dividido em salas e salões que se prestam para dependências da Caixa de Liquidação, Câmara Sindical de Fundos Públicos, e para sede de firmas comissárias.

No segundo andar, em local isolado, está situada a grande sala de classificação da Bolsa de Café, que se acha ligada à secretaria por um elevador especial para amostras de café.

O resto do segundo andar é destinado especialmente à sede de firmas exportadoras, pela facilidade que há no estabelecimento de clarabóias especiais para a classificação do café.

O terceiro andar foi projetado mais especialmente para escritórios de intermediários, podendo dispor-se, ali, de mais de 30 compartimentos.

A maior parte da fachada desse andar está recuada da fachada principal do edifício, em obediência aos preceitos da higiene contidos no regulamento municipal, que determinam a altura máxima dos edifícios em função da largura das ruas.

Dessa exigência tiramos, porém, bom partido para as nossas fachadas, e criamos o terraço, de onde se desfrutam golpes de vista admiráveis sobre o porto e sobre a cidade.

A arquitetura exterior da construção é inspirada no Renascimento italiano, e está tratada de um modo severo e rico ao mesmo tempo, a fim de dar ao edifício todo o caráter da importância que convém a um Templo do Comércio em uma cidade próspera, cuja potência comercial se impõe cada vez mais ao mundo.

E é para fazer ainda mais sobressair toda a solenidade deste palácio, que o flanqueamos de uma torre de 40 metros de altura, que, elevada ao canto da Praça Azevedo Júnior e da Rua Frei Gaspar, isto é, em frente ao porto, chamará a atenção dos viajantes que demandarem este porto e afirmará orgulhosamente toda a prosperidade alcançada pela cultura e pelo comércio de café.

Essa torre é coroada por um belvedere ornado de quatro gênios, simbolizando a Indústria, o Comércio, a Lavoura e a Navegação, e terá nas suas quatro faces um grande mostrador, que indicará a hora oficial a grande parte da cidade e do porto de Santos.

Sobre a cúpula, coberta de folhas de cobre, ergue-se um mastro, para nele ser hasteada a nossa bandeira.

Do lado da Praça Azevedo Júnior observa-se o terceiro andar da construção que, somente nesse lado, é visto em conjunto e em harmonia com os demais pavimentos. A fachada, nesta praça, assim elevada, apresenta um belo caráter monumental, duma importância um tanto especial, pois que se acha em face do porto e bem destacada pela larga zona de recuo que a precede.

Seria desejável que essa fachada pudesse ser isolada das pequenas construções vizinhas por um espaço livre, plantado com arbustos e fechado na frente da rua por um grande pórtico que, esposando o caráter do conjunto da fachada, com ela fizesse corpo.

O alinhamento da fachada do 3º andar está, em geral, separado da linha da fachada restante por terraços, em sua maioria de 6 metros de largura, que o tornam invisível das ruas estreitas que circundam o prédio.

O campo de vista que oferecem as ruas Frei Gaspar e 15 de Novembro é muito pequeno – o que dificultava sobremodo o realce que desejávamos dar ao edifício. Pensamos, porém, ter resolvido esse difícil problema criando o pórtico monumental no ângulo Frei Gaspar e 15 de Novembro.

De fato, o espectador que procure, vindo da cidade, o edifício da Bolsa, terá sua atenção atraída pelo caráter grandioso do pórtico de entrada da Bolsa, construído inteiramente em granito, ornado de oito colunas dóricas e de um entablamento encimado por um frontão flanqueado de duas estátuas deitadas, representando Mercúrio, Deus do Comércio, e Ceres, Deusa da Agricultura, simbolizando a riqueza e fecundidade da terra em que vivemos.

Assim será realçada, no lado da cidade, a importância do edifício, reafirmada ainda pela presença do peristilo circular à cúpula de cobre, a cavaleiro da citada entrada e que serve de abrigo coberto aos terraços superiores.

Do canto da Rua Frei Gaspar e Rua 15 de Novembro, a vista do espectador se poderá estender livremente pelas duas fachadas do palácio, permitindo observar o aspecto majestoso do motivo central na frente Frei Gaspar e sua arquitetura ricamente característica.

Nesta parte central, cujas arcadas se acham abundantemente decoradas de guirlandas de folhas e grãos da nossa rubiácia, se traduz a importância do intenso movimento das transações do café.

No frontão, essa significação se completa com os atributos aí esculturados, simbolizando a cultura, a colheita e a venda do precioso produto.

A planta do arruamento da cidade, que acompanhou o relatório, demonstra que a grande fachada da Rua Frei Gaspar só poderá ser vista em conjunto do canto da Rua 15 de Novembro ou da Praça Azevedo Júnior".

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