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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - INSEGURANÇA
Fogo! A Baixada Santista corre perigo?

O 'selinho' publicado nas páginas do caderno especial de 'A Tribuna'No dia 4 de setembro de 1998, o jornal santista A Tribuna publicou um caderno especial de seis páginas, para relatar toda a movimentação dos bombeiros e o perigo que a Baixada Santista correu no dia anterior.

Junto com a manchete: "Fogo na Ilha Barnabé põe a Cidade em perigo", um selinho colocado em todas as páginas dessa edição especial mostrava um rastilho aceso até um tanque de combustível, e o título "Baixada em Perigo". Apesar da gravidade do incêndio na Ilha Barnabé, o próprio caderno especial explicaria que o risco para a região não era tão grave como poderia parecer.

A primeira matéria dessa reportagem especial resume a história daquele incêndio:


O caminhão onde começou o fogo em 3/9/1998
Foto: Defesa Civil do Guarujá

Fogo na Ilha Barnabé põe a Cidade em perigo

Da Editoria de Porto

Labaredas de fogo tomaram conta de parte da Ilha Barnabé, ontem, no início da tarde. O incêndio foi provocado por um vazamento na casa de bombas instalada ao lado de 66 tanques, todos com líquidos inflamáveis, na área da empresa Brasterminais. Na ilha, onde se concentra o maior volume de produtos químicos do País, estão depositados mais de 170 milhões de litros desses componentes.

Um caminhão-tanque recebia cerca de 80 toneladas de diciclopentadieno (DCPD) - também inflamável -, quando começou o incêndio. As chamas foram controladas uma hora e meia após a primeira explosão, às 12h15. No instante em que os soldados do Corpo de Bombeiros trabalhavam no combate ao fogo, ocorreu novo vazamento. Porém, ninguém ficou ferido.

O motorista do caminhão que recebia o produto aguardava o fim da operação em uma área reservada. No trecho onde ocorreu o acidente estão estocados cerca de 41 mil m³ desses produtos. Há ainda outros 77 tanques gerenciados pela empresa Granel e outros cinco, da Midwesco.

O fogo atingiu dois tanques vizinhos à casa de bombas, ambos com inflamáveis. O equipamento suga o produto dos tanques e o transfere para caminhões-tanque. O risco de explosão desses compartimentos foi descartado pelo Corpo de Bombeiros, ainda que toda a camada que reveste os tanques - para protegê-los contra incêndio - tenha sido queimada pelas chamas. Outros 77 tanques também ocupam a Ilha Barnabé, pertencentes à empresa Granel. São mais 50 mil m³ de líquidos depositados nos tanques da ilha.

Além da nuvem de fumaça provocada pelo incêndio, o fogo também podia ser avistado mesmo do outro lado do canal, em Santos. Do meio do estuário, a visão ainda era mais assustadora. Parte do produto que vazou atingiu mangues naquela região, afetando até mesmo a vegetação.

Mais de 100 homens trabalharam no combate ao incêndio, o maior da Ilha Barnabé desde 1991, quando dois tanques da empresa Granel também pegaram fogo, logo após serem atingidos por um raio.

Segundo o engenheiro de Segurança da Brasterminais, Svoboda Tao Ming Maro, a empresa mantém seis casas de bombas no local. Com a explosão, um segundo compartimento também foi atingido, mas não provocou maiores estragos. Parte dos tanques que ficam ao redor dessas unidades teve de ser resfriado durante o combate ao incêndio.

Seguro - Tao Ming não pôde estimar o prejuízo causado pelo fogaréu. Garantiu, apenas, que aguardará relatório oficial do Corpo de Bombeiros para acionar a seguradora. Também não soube precisar o valor do seguro que cobre prejuízos provocados por sinistros como o de ontem. "Após recebermos o relatório, iremos começar os reparos. Por enquanto, os dois tanques atingidos ficam impossibilitados de receber qualquer produto".

O engenheiro garantiu que os tanques não correram risco de explosão. "Os chuveiros de resfriamento foram acionados automaticamente".

Outro texto analisa o perigo real e os mitos que cercam a ilha:


Foto: Édison Baraçal - reprodução de A Tribuna de 4/9/1998

Perito descarta risco de explosão

Relembrada ontem por conta do acidente na Brasterminais, a associação da Ilha Barnabé a um barril de pólvora, com potencial para levar Santos pelos ares, não passa de um mito. Dois especialistas ouvidos ontem por A Tribuna disseram que, mesmo se um incêndio atingisse a totalidade da ilha, não haveria explosões de impacto.

Como a Ilha Barnabé guarda granéis líquidos como solventes e óleo combustíveis, o maior risco é o de gases tóxicos provocarem problemas de saúde nas populações das cidades mais próximas à ilha (Santos, Cubatão e Guarujá), conforme análise feita para A Tribuna pelo engenheiro industrial e de segurança Élio Lopes dos Santos.

"O maior risco é de formação de nuvens de gases tóxicos", complementa o diretor de Meio-Ambiente da Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Ambiental da Prefeitura, Rogério Migueis Picado, que é engenheiro químico e de segurança.

Segundo os dois engenheiros, eventuais explosões só afetariam as cidades se houvesse, na Ilha Barnabé, gases ou produtos químicos armazenados sob alta pressão. "Nesses casos, você teria o que se chama de bleve", afirmou Santos, que também é perito do Ministério Público Estadual (MPE) e professor universitário.

Explosão de vapor - O bleve é uma sigla que em inglês significa "explosão de vapor em expansão de líquido em ebulição". "Nestes casos, quando estes tanques estouram, há estilhaços, podendo haver sérios riscos".

O caso de bleve mais famoso aconteceu em 1984 na cidade de San Juanito, no México. Um terminal de tanques da estatal Pemex (Petroquímica Mexicana) teve problemas em um dos tanques e houve reação em cadeia.

O resultado foi trágico: 500 mortos e mais de 5 mil feridos. Os impactos foram tão drásticos que um avião que pousaria na Cidade do México chegou a desviar a rota quando o piloto olhou para San Juanito e pensou que estivesse havendo uma explosão nuclear.

Cancerígenos - No caso da Ilha Barnabé, se acontecesse o que no jargão dos bombeiros se chama efeito dominó (tanques incendiando-se em seqüência), haveria poluição do ar, mar e mangues em larga escala.

"A combustão incompleta dos produtos produz o benzo(a)pireno, que é um produto altamente cancerígeno", diz Lopes. "Foi o caso que aconteceu ontem. Só que, como o vento soprou a fumaça para cima, a cidade ficou livre".

Isto não significa que, na hipótese do efeito dominó, as explosões não ocorressem. "Poderia até haver explosões se houvesse algum tanque vazio, onde você tem acúmulo de gases", explica Lopes. "Mas isso não seria suficiente para trazer impactos e radiação térmica (propagação de calor) até Santos", afirma Picado.

Complementando a informação, o caderno especial de A Tribuna incluía uma pesquisa nos arquivos do jornal, a seguir transcrita:


Foto: Édison Baraçal - reprodução de A Tribuna de 4/9/1998

Primeiro acidente ocorreu em 51

O primeiro grande acidente na Ilha do Barnabé, ou simplesmente Ilha Barnabé, como ficou conhecida popularmente, aconteceu em 24 de janeiro de 1951. O petroleiro Cerro Gordo, que descarregava óleo diesel, petróleo bruto, querosene e gasolina de aviação, pegou fogo a poucos metros da ilha. O navio, que era cinzento e ficou totalmente vermelho devido às chamas, foi levado ao largo para domínio do fogo, enquanto a população temia que o combustível vazado no estuário pudesse causar incêndio nos tanques da ilha.

Outro petroleiro, o Guaporé, em 2 de setembro de 1969, incendiou-se e obrigou a equipe de segurança da ilha a trabalhar rápido no resfriamento dos tanques de estocagem. A 29 de julho de 1974, novo acidente causou a morte de um operário e ferimentos em outros, durante uma explosão mecânica na própria ilha. Cerca de 3.150 mil litros de tolueno foram despejados no mar.

Em 10 de outubro de 1991, dois tanques da Granel Química, com acetato de vinila e acrilonitrila, se incendiaram na Ilha Barnabé, causando grande apreensão em toda a Baixada Santista. O fogo começou minutos depois das 6 horas, quando um tanque com acetato foi atingido por um raio. Não houve vítimas.

Comendador Barnabé - O capitão-mór Braz Cubas transformou a Ilha Pequena, que recebera de Martim Afonso de Souza, em uma fazenda produtiva, plantando ali a cana-de-açúcar, trigo, milho e criando gado, em meados do século XVI. A ilha passou a chamar-se Ilha de Braz Cubas, mais tarde Ilha dos Porcos, dos Padres (por ter pertencido aos jesuítas), até que o santista Francisco Vaz Carvalhaes, que possuía o título de Comendador Barnabé, registrou a ilha que acabou levando o seu nome: Ilha Barnabé.

Em seu testamento, de 1892, além de outras posses, Carvalhaes legou parte das suas propriedades à Câmara Municipal de Santos (incluindo a Ilha do Barnabé), uma vez que a Prefeitura só surgiria em 1908. Três anos depois, em 17 de fevereiro de 1911, a Municipalidade permitiu que o Clube de Regatas Vasco da Gama utilizasse uma parte da área da ilha. Posteriormente, os terrenos foram permutados com a empresa Guinle & Irmãos, que se tornaria a Companhia Docas de Santos, hoje Codesp.

As poucas habitações da ilha foram desaparecendo no final da década de 20, quando a Companhia Docas começou a instalar o terminal de combustíveis, inaugurado em 26 de janeiro de 1930.


Um raio causou o incêndio em 10 de outubro de 1991
Foto: arquivo pessoal do editor de Novo Milênio