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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - CANAIS - BIBLIOTECA NM
Inauguração do trabalho do Saneamento - 04


Cique na imagem para voltar ao índice deste livroUma exposição sobre as obras de saneamento projetadas para o município de Santos foi apresentada neste livrete de 92 páginas, impresso na capital paulista pela Typographia Brazil de Rothschild  & Co., e publicado em 1913 pela Comissão de Saneamento de Santos, liderada pelo engenheiro Saturnino de Brito, em meio a uma grande polêmica iniciada em 1910 com a Câmara Municipal de Santos, divulgada pela imprensa santista e paulistana.

O exemplar foi cedido a Novo Milênio para digitalização pela Biblioteca Pública Alberto Sousa, de Santos, através da bibliotecária Bettina Maura Nogueira de Sá, em maio de 2010. A ortografia portuguesa foi atualizada, nesta transcrição (páginas 41 a 43):

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Inauguração dos Trabalhos

de Saneamento de Santos

Comissão de Saneamento de Santos - 1913

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IV - Princesa dos mares

ovos marcos de prosperidade e civilização acabam de ser fincados na opulenta cidade marítima de Santos, já hoje um dos primeiros portos da América do Sul, e que arrojadamente se arma e se encaminha para ser contado como empório do Atlântico e do comércio mundial.

Foi a monotonia do assunto político nos jornais desta capital que nos levou a passar os olhos e distraí-los pela imprensa de S. Paulo, devorando colunas cerradas de descrições e discursos sobre as festas ultimamente celebradas em Santos, a propósito da inauguração das magníficas obras de saneamento e da futurosa estrada de ferro de Juquiá.

Não perdemos tempo; ganhamos algumas belas surpresas e vimos que o acontecimento tinha alcance nacional e social muito mais elevado do que se podia crer ao primeiro golpe de vista.

Toda gente sabe que Santos pôs à prova de fogo o espírito empreendedor dos paulistas e dos filhos arrojados de outros estados, nomeadamente do Norte, atraídos pelo comércio do seu esplêndido porto natural, pagando, embora, largo tributo de vida pela formidável letalidade da cidade, bela e operosa, que não se conformava com a sua sorte e tinha a consciência dos seus gloriosos destinos na civilização brasileira.

Conhecemo-la nesse mesmo período mortífero em que, com a maior naturalidade deste mundo, corriam as notícias do desaparecimento brusco de amigos e conhecidos, na véspera fortes e robustos. Semelhante situação passou a ser história antiga, depois de construído o cais de atracação que o governo federal confiou à Companhia Docas de Santos.

Extinguiu-se a febre amarela, ficou imediatamente feito o saneamento do litoral; mas Santos não parou aí e quis ser uma cidade moderna, digna do seu poderio econômico, luxuosa, hígida e agradável aos forasteiros.

Daí as obras agora inauguradas, a intervenção direta dos governos do estado, fazendo-se sentir desde 1892, na encampação da rede de esgotos, nos estudos para a sua reforma, no contrato para a distribuição de água potável abundante e pura, na criação de higiene domiciliar, finalmente, na execução de todas as obras constantes do plano do dr. Saturnino de Brito, serviço que se diz ser o mais completo possível, monumento de Engenharia Sanitária, atestando a capacidade técnica dos brasileiros e servindo de exemplo às nossas cidades marítimas, onde o visitante ainda hoje pisa cauteloso, mal impressionado com o desgraçado aspecto das ruas, as praias lamacentas, a ausência absoluta da higiene pública e doméstica.

Ora, o que cumpre salientar, em todo esse magnífico hino de trabalho e progresso que foram as festas recentes da cidade de Santos, é, primeiramente, a firmeza do governo paulista, continuando a sua tarefa civilizadora através das maiores crises financeiras e concluindo-a enérgica e rapidamente logo que o Tesouro estadual se robusteceu com os resultados milagrosos da valorização do principal produto da lavoura do grande estado brasileiro.

Em segundo lugar, é de elementar justiça, é um dever cívico, é um estímulo à iniciativa dos que trabalham, repercutir na imprensa a vitória brilhantíssima que acabamos de conquistar no campo da Engenharia Sanitária, com a execução das obras do saneamento de Santos.

Aos que maldizem da nossa raça, Santos será sempre um desmentido solene e vibrante. As suas belezas naturais foram logo descortinadas pelo português, que aqui veio fundar uma nova nacionalidade.

Mais tarde, as suas péssimas condições sanitárias não impediram o afluxo de brasileiros, vindos de todos os pontos do país.

O estrangeiro passava sem se deter em Santos. O estado de S. Paulo crescia em prosperidade, mas só o brasileiro arrostava com a vida de Santos, onde a morte vibrava os seus golpes incessantes, zombando do próprio arrojo das gerações de moços que ali se instalavam.

Foram capitais indígenas que cimentaram as docas de Santos, tornando-o um dos primeiros portos do mundo, uma princesa dos mares, um entreposto do comércio universal.

Em suma, agora é ainda aí que um brasileiro firma escola na Engenharia Sanitária, segundo a autorizada opinião de outro profissional brasileiro, como o dr. Baeta Neves, que muito viajou e estudou o assunto, considerando o dr. Saturnino de Brito uma glória nacional, o exemplo vivo do trabalho sistemático, aquele que rompeu com o torpor colonial que nos abatia o espírito, deixando-nos em miserável dependência passiva da intervenção estranha para a solução dos nossos problemas.

O saneamento de Santos é uma conquista de civilização brasileira, uma contribuição inteiramente nossa no trabalho universal e eterno de adaptação do meio físico, irradiando as possibilidades da vida sobre o planeta.

E foi diante das obras ora inauguradas no glorioso pórtico do estado de S. Paulo, que as mais competentes vozes de profissionais não hesitaram em reclamar para todo o Brasil as mais sinceras alegrias e o mais justo desvanecimento.

Santos e S. Paulo festejavam o seu progresso, mas o Brasil conquistava naquele trabalho, executado por um profissional brasileiro, a sua definitiva "emancipação intelectual e prática".

Mais uma vez S. Paulo dá ao resto do país um duplo exemplo de iniciativa e de civismo, oferecendo a mais apropriada oportunidade para se manifestar, em toda a sua pujança técnica, o método original de um filho do país, que abre horizontes novos à engenharia sanitária das cidades.

Compreendemos as palavras de entusiasmo que proferiu em Santos o dr. Baeta Neves, enaltecendo francamente a vitória daquele que chama mestre na importante especialidade a que ambos se dedicam.

Votado desde cedo, com o ardor da mocidade, à conservação das florestas e aos métodos aperfeiçoados da indústria agrícola, oxalá o digno discípulo possa conquistar para a higiene dos campos o que o glorioso mestre dr. Saturnino de Brito acaba de obter, com um colossal sucesso, para a higiene urbana.

Não lhe faltam, para isso, a tenacidade e o descortino intelectual. O que é preciso é que S. Paulo tenha imitadores nos governos dos outros estados, capazes de sacudir para longe o torpor colonial, não atirando ao monturo as pérolas brasileiras, como se eternamente precisássemos importar a ciência e a arte exóticas...

Curvello de Mendonça.

(O Paiz, 29 de abril de 1912)

Imagem publicada na obra da Comissão de Saneamento de Santos (página 43)