Clique aqui para voltar à página inicialhttp://www.novomilenio.inf.br/santos/h0066r.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 07/29/18 14:05:26
Clique na imagem para voltar à página principal
HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - MONTE SERRAT
Cinco séculos de história

Leva para a página anterior
Esta monografia sobre o Monte Serrat foi enviada a Novo Milênio pelo professor e pesquisador Francisco Carballa, em julho de 2018:
 

Monte Serrat de Santos já foi Outeiro de Braz Cubas, da Vigia e de São Jerônimo

Francisco Carballa

Esse outeiro, como lhe chamavam os primeiros colonos, tem formação pré-histórica, como tudo que nos cerca, havendo estudos de que faria parte de um gigante monólito na região - motivo pelo qual, quando se explodiu a submersa pedra do Teffé que ficava no canal do porto de Santos [01], essa ação também causou tremores no Monte Serrat assim como na parte velha de Itapema junto ao forte Vera Cruz, havendo nas proximidades da fortificação relatos de moradores que afirmaram nunca haver sentido um terremoto antes.

Quando o Mestre Cosme Fernandes Pessoa, conhecido como Bacharel, ocupou esta região pelos idos de 1511, não fez construção alguma sobre o Outeiro da Vigia, talvez só usando o seu cume para essa finalidade - devido à sua posição e altura, seria fácil monitorar com uma luneta a barra com o que viria do litoral norte e sul, entorno e as terras hoje conhecidas como na parte de Santos continental ou perto das proximidades de Cubatão e Itapema, ou seja, pelo ataque dos nativos ou embarcações, da menor à maior.

Ao ser avisado da vinda de Martim Afonso por informantes amigos seus, o povoador não reconhecido pela coroa incendiou tudo o que ele fizera em 1531 [02] não ficando explicação exata sobre se fizera isso apenas com suas propriedades e construções ou também com as edificações de outros colonos que, devido ao seu aparato e organização de segurança, por aqui se instalaram.

Com a vinda do dono oficial dessas terras concedidas pela coroa portuguesa, temos novamente menção de que o outeiro que no futuro seria chamado de Monte Serrat passaria a pertencer ao colono Braz Cubas em 1531 e que além de ocupar essas terras com criações e plantações - cujos registros se perderam ficando somente essa menção de historiadores -, tomou posse concedida por Dona Ana Pimentel em 1540, quando suas terras ele ocupou.

Existem menções de que possivelmente teria construído ou se apossado de uma casa sobre o pequeno e estratégico outeiro que existe do outro lado do mar em terras antes chamadas de Jarabaitibaçu, que recebeu os nomes de Ilha Pequena, Ilha de Braz Cubas, Ilha dos Padres e atualmente de Ilha Barnabé - mostrando, pelas identificações, que a terra dos nativos passou depois por vários proprietários [03]. Ocorre que as ruínas não especificam a época e, portanto conseguimos afirmar que existia em 1865, mas não existem menções conhecidas da mesma casa.

Uma referência antiga afirma que o Monte Serrat pertencia a Braz Cubas, essa informação foi levantada pelo estudo em documentos antigos por Francisco Correa de Almeida Moraes, que nos relata em seu livro sobre uma concessão do Capitão-mor António de Oliveira feita em 2 de junho de 1541 a André Botelho “Que partiriam pela regueira (brejo que serve para regar plantações), que ali faz o outeiro que diziam ser de Braz Cubas”, claramente podemos acreditar se tratar do pequeno ribeiro formado pelas águas da bica do Itororó que seria canalizado junto com os demais em 1892.

Braz Cubas ocupa essa região do Enguaguaçú em 1531 e durante sua vida vai reclamar de invasões em suas terras por gado de outros colonos principalmente durante a tentativa de demarcação do rocio da Vila de Santos por ordem de Tomé de Souza em 1553 o que vai levar a uma ação jurídica do fundador da Santa Casa de Santos até seus herdeiros posteriormente.

O tempo passou e em 1592 Braz Cubas vem a falecer [04], seus herdeiros vão dividindo e vendendo lotes de terra e a Vila vai se expandindo e curiosamente existirá até 1865 segundo se verifica nas fotos de Militão de Azevedo uma divisão entre o que se conhece como Rua São Francisco (de Paula) atualmente e o sopé do Monte Serrat, formando uma faixa de terreno com muito mato e sem ocupação, sendo a bica do Itororó frequentada pela população para o abastecimento de água.

Com a vinda de Dom Francisco de Souza à região, o lugar vai passar por uma mudança significativa e semelhante ao que ocorreu no Rio de Janeiro quando edificaram a igreja do Padroeiro São Sebastião no alto do Morro do Castelo por ser local estratégico de segurança e defesa. Por algum motivo que não foi registrado, ele deitou os olhos no Morro da Vigia e decidiu instalar ali a celebre ermida dedicada para Mãe de Deus Nossa Senhora do Monte Serrat.

Foi a capela construída no final do século XVI (como se afirma: 1599), ereta em boa proporção em referência as que se construía e existia na época a maioria em menor tamanho, mas seguindo sempre proporções distintas, como vemos a Capela de São Gonçalo de Amarante da cidade de São Sebastião ou a capela do Convento de Nossa Senhora da Conceição de Itanhaém ou a igreja de Nossa Senhora da Conceição de Peruíbe o Abaré-bebê (um pouco maior em capacidade de abrigar fiéis).

Sempre acreditei que o doador Dom Francisco de Souza queria que ali se instalassem os frades beneditinos, constituindo mosteiro e com o tempo até aumentassem o prédio conforme ocorreu com outros templos onde havia essa ordem.

Para construir, serviram-se dos sambaquis da região e possivelmente do que existiu no Jardim Casqueiro (Cubatão) que deve seu nome aos concheiros, como os chamavam os portugueses que usavam essas reservas de conchas pré-históricas para fabricar a cal de concha por todo o Brasil onde os encontraram, e igualmente se serviram de madeiras extraídas de árvores, pedras e barro do próprio morro que completaram os materiais necessários.

FACHADA

Curiosamente, quando a igreja foi construída ficou voltada para as terras de Santo Amaro, não fizeram esse templo voltado de frente para o porto da vila, sendo que não há uma explicação adequada, pois se fosse a questão do terreno para abrigar a construção, seria feita na parte mais baixa do platô do monte, onde caberia a igreja nessa posição, fazendo frente para a Vila e fundos para a barra, mas por algum motivo foi feita de forma diferente.

Mencione-se que - voltados para o mesmo lado - estão o Santo Antônio do Valongo e Mosteiro de São Bento, cujas construções são próximas nos anos.

Ao que se percebe, na época da construção, o atual santuário do Monte Serrat, mencionado em 1602 [05], teria a porta retangular nos seus batentes, comuns ao prédio inteiro, visto que era em uso naquele tempo por ter mais simples e prático e dispensar os vidros - motivo pelo qual o óculo seria o único local com um pouco de vidro (colorido ou não) nas igrejas.

A maioria das construções que chegaram ao nosso tempo, desse período, são assim, seguindo um padrão de linhas retas, mas com algumas portas e janelas de arco abatido (já ouvi o nome barbacã) em certos casos, podendo ser explicado em reformas ou reconstruções posteriores na nossa região, principalmente quando em 1745 foi criada a diocese de São Paulo (em desmembramento da diocese do Rio de Janeiro), e o primeiro bispo manda reformar ou restaurar todas as igrejas - motivo pelo qual serão gravadas datas nesse período ou se farão mudanças significativas nas construções.

Fica a minha observação de que para levar o material ao alto do morro - seja a água, cal de sambaqui, pedras que tanto podem ter sido retiradas das encostas quanto vindas de longe, madeiras e todo material usado na edificação - levou a um esforço custoso. Outra coisa que também me deixa pensativo é a razão de se construir uma igreja bem no alto do morro. Qual seria o motivo na época?

Os poucos registros da capela no alto Monte Serrat do século XVIII ao XIX não deixam um estudo mais exato de como seria sua porta principal no início da construção.

Apenas numa foto de Militão de Azevedo de meados do século XIX podemos perceber, mesmo à distância, que haviam colocado uma porta neoclássica na igreja - bem ao gosto da época em que até prédios antigos recebiam tais arcos como modernidade ou gosto.


Capela do Monte Serrat em 1915

Foto: álbum Exploração do Littoral - 1ª secção - Cidade de Santos á fronteira do Estado do Rio de Janeiro, da Commissão Geographica e Geologica do Estado de S. Paulo, impresso por Typographia Brazil de Rothschild Co., S. Paulo, 1915.

 Acervo da Sociedade Humanitária dos Empregados no Comércio (SHEC) de Santos

Já em foto postal do início do século XX [06] percebemos o arco da porta com o sistema possivelmente idêntico ao que era usado nas janelas do Instituto Dona Escolástica Rosa, onde a bandeira da porta se abre para o lado interno, permitindo a entrada de ventilação. Também poderemos perceber nas duas janelas fronteiras uma colocação de madeiras para dar a impressão de leve arqueamento nas vidraças ou reaproveitamento de vidraças de janelas usadas e a parte que ficaria aberta tampada com madeiras.

Na reforma do ano de 1907 [07] quando se mexeram nos pisos de madeira por ordem da Comissão Sanitária de Santos, podemos supor que a porta em arco neoclássico - devido ao contato das bases do batente dessa porta principal com o piso - ficasse comprometida e corroída por cupins, o que levaria a seu rápido apodrecimento pela ação das intempéries (muito fortes por ser alto o morro).

Curiosamente, nesse postal antigo, podemos ver um para-raios ao lado esquerdo do adro de quem olha de frente e outro para-raios ao fundo da construção, não ficando claro se seria inserido no prédio ou na lateral.

Outra probabilidade dessa porta em arco neoclássico ter sido removida - possivelmente devido aos problemas de se estressar a fachada devido ao peso do frontão e ao avanço do espaço da bandeira da porta - o que pode estar em desacordo com o equilíbrio da parede da frente: em santinhos do final século XIX e início do século XX vemos a porta em arco neoclássico devido à moda vinda com a família real desde 1808, o que está em desacordo com a moda do período colonial em que a igreja foi ereta.

Posteriormente, em fotos - uma delas datada de 1915 e outras entre 1927/1930 - vemos a porta em semiarco percebendo que já ocorreu a reforma que eliminou a porta em arco neoclássico [08] onde até fizeram batentes de alvenaria, contrariando o correto, que seriam os mesmos batentes produzidos por pedreiros em alvenaria e não em pedra, para reforçar a fachada de um estressamento. Esse mesmo detalhe está na foto postal colorida que existe da década de 50 para 60. Ainda vemos a recriação de semiarco com uma bandeira de porta com vidros.

Comum no início do século XX, essa interferência arquitetônica de não haver o batente esculpido em pedra ou madeira mostra um desuso desse elemento nas construções - como seria comum por todas as cidades do Brasil - ou o desconhecimento de quem projetou essa reforma em não devolver características mais apropriadas ao imóvel, aliás costume comum em qualquer construção no país.

Passou a igreja por recente reforma iniciada em janeiro de 2009 e terminada em dezembro de 2012, e a porta foi refeita e linhas retas retangulares, mas sem os batentes de pedra que possam garantir a sustentação da fachada que avança os quatro séculos, assim como devolver uma característica mais exata a essa igreja.

Vale recordar que em fotos de Militão de Azevedo percebemos em Santos uma enorme quantidade de portas com vergas retas e batentes mais grossos em construções particulares de moradias ou residências e públicas, então dominando toda cidade em 1865, desde casas de rés do chão a casas com um pavimento superior, remanescentes do início da colonização da região.

Ocorre também a preservação de fachadas, como podemos ver várias nas fotos, que tiveram suas partes internas demolidas e depois seriam reconstruídas, mas de acordo com a época é possível que os materiais desprezados nas reformas, se não foram usados para fazer entulho e os calçamentos laterais, ainda se encontrem jogados pelas encostas e pode ser que ainda sejam encontrados um dia, como ocorre com tantas coisas por aí.

TORRE

A torre tem duas sineiras voltadas para frente e duas sineiras voltadas para o lado direito, sendo acessível por uma escada de madeira, sendo os mesmos bimbalhados e não tangidos. Com apenas um pavimento, podemos chegar por uma escada em madeira quase à altura dos sinos, tendo um piso igualmente de madeira bruta.

Havia como ponteira possivelmente um galo como seria o costume, mas temos as fotos de Militão de Azevedo de 1865 que os mostram no cimo da torre da Matriz e do Carmo.

Olhando a fotos do convento, percebemos que - devido à circulação do vento - em uma foto aparece o galo e na outra não. Isso pode ser a explicação para a torre do santuário que - devido à distância - não conseguimos descrever o que havia naquela ponteira, inclusive se fosse um galo; esses objetos, por circularem com o vento e se estivesse de frente não seria possível ver.

Posteriormente, em cartão postal vemos uma cruz estilizada do final do século XIX para início do século XX, quando foi substituída por uma cruz simples de madeira e depois de 2009 ficando sem nada no topo.

Vale recordar que até o início da década de 1970 havia uma estrela de cinco pontas com lâmpadas comuns verdes que era acesa ao anoitecer e era vista do alto mar [09], e ficava no cimo da torre. Com a reforma de 2009, o mais correto seria conseguir uma figura do galo de bom porte, em bronze ou cobre (como era o costume), e enfeitar a torre com o ensinamento dessa representação.

Em fotos de Militão de Azevedo podemos perceber que existe uma porta na parede direita da torre, como era comum em algumas construções, onde o acesso era feito por fora das dependências internas.

BATISTÉRIO

O batistério da capela do Monte Serrat ficou em um local que podemos imaginar que receberia outra torre em tempos posteriores, pois a maioria desses locais sempre foi colocada debaixo de uma torre como podemos ver na Matriz de São Vicente, Santa Ana de Itanhaém, Catedral de Santos etc. Curiosamente, a maioria das igrejas Santistas tem suas torres na mesma localização da encontrada na capela do Monte Serrat, ou seja, no lado direito.

Em determinado momento, o local foi transformado em banheiro, o que passou despercebido aos que não conheciam a parte interna da construção ou ignoravam o que havia ocorrido com aquela sala, acredito que era meio desagradável para os usuários do local. Eu mesmo, quando entrei para lavar as mãos após tocar os sinos - e percebi o painel de azulejos com o batismo de Nosso Senhor Jesus Cristo por São João Batista, em referência ao batistério que ali existiu -fiquei pasmo e perguntando o porquê daquilo ali: me disseram que fora o batistério.

Deixa-me um pouco desgostoso a falta de consideração do bispo da época e dos demais clérigos que usaram o mesmo banheiro sacrílego. Ele ficou ali e suas águas passaram pelo local onde era jogada a água restante dos batismos, isso até iniciarem a reforma em janeiro de 2009 e terminada em dezembro de 2012.

Nessa obra ocorreu a retirada de uma parede interna do batistério, ficando em desacordo com esse local em todas as igrejas da época (que sempre seria isolado das demais áreas de um templo, como percebemos em qualquer construção antiga de nossa região) [10]. Esse painel de azulejos andava jogado em um quarto de obras que existe ao lado do banheiro público existente do lado esquerdo do monte.

Ainda na parede foi colocado ou revelado um retângulo sulcado na parede que recorda os armários de batistério. Sabemos que ali existiu um dia a imagem de São João Batista menino, mencionado em algumas ocasiões.

Existe uma descrição do senhor Clóvis Benedito Farias de Almeida (falecido em 2015) que afirmava que existiu uma grade semelhante à que existe na Cadeia Velha e que possuía em determinado local um adorno do mesmo ferro em forma de cordeiro, sendo a pia batismal do tipo grande, em pedra, com o pé em gomos esculpidos na pedra. Esse batistério era usado ainda, conforme informação em 1945 de Dona Hermelinda das Neves [11].

NAVE

No ano de 1907 [07b], quando em reforma se mexeram nos pisos de madeira por ordem da Comissão Sanitária de Santos - que removeu o sacristão com grave enfermidade por causa dos ratos no piso -, pode ser que exista um relatório que fale sobre esses assuntos. O piso recebeu ladrilho hidráulico muito em uso na época e posteriormente deu lugar a um piso de mármore que depois foi novamente substituído por madeira.

Existia um costume antigo - hoje ignorado pela separação de quase um século e a morte dos antigos que o usavam -, que era o tratamento (típico do passado) de se passar um pano úmido todos os dias pela manhã - usando um balde com água - para manter as tábuas sem envergar ou apodrecer. Assim os pisos - muito usados e sem a possibilidade de se passar verniz (pelo desgaste) ou cera - ficavam preservados. Recorde-se que em dias de festas se deitavam sobre o piso pilhas de aroeira, manjericão, alecrim e demais ervas de cheiro e em dias de chuva serragem fina.

Podemos imaginar que a nave seria comum sem bancos até metade do século XIX, tendo dois nichos trabalhados nas duas paredes laterais da frente que mais tarde foram substituídos por duas peanhas simples de madeira em formatos retos e altos relevos sulcados, como era comum nas janelas das casas, e ainda que se encontrassem ali as imagens de São José e do Sagrado Coração de Jesus fundidas em gesso: essas devoções eram próprias do início do século XX.

O forro que recobria a capela era de ripas de madeira finas entrelaçadas, formando desenhos geométricos com duas grandes claraboias no meio do presbitério, antes pintado (ou envernizadas) de escuro, até que depois foi pintado na cor cinza - uma mania de monsenhor João Leite, que fez a mesma coisa na Catedral de Santos. Quando esse forro foi colocado (possivelmente em 1907), se percebia que fora rebaixado, pois no óculo da fachada o mesmo forro tampava um pouco dessa janela, sendo comum nessas construções o forro ser mais alto que o óculo.

Quando foi destruído o retábulo, o grande crucifixo do século XVII foi colocado na parede direita da nave, de onde era retirado para a procissão no domingo mais próximo após o dia 8 de setembro. Ele ficou até 2009, quando na reforma o retiraram, sendo mantido no Museu de Arte Sacra e depois retornando para o santuário.

Igualmente o presbitério era recoberto com azulejos azuis - muito comuns em varandas de residências - chegando à altura de um ser humano, com o objetivo de facilitar a limpeza das paredes e evitando as sujidades comuns da ação humana. Igualmente, foram retirados na reforma de 2009.

Ainda é preservado no lado esquerdo da nave o púlpito feito de madeira com a base esculpida em pedra, igual às sacadas de casas comuns com suas bases de pedra e que podemos ver em fotos de Militão de Azevedo. Depois da reforma de 2009 ficou sem o acesso ao mesmo pelo lado de dentro. Também é preservado o coro acima da porta de entrada, com os seus balaústres simples.

Em uma antiga foto circulada na Internet podemos ver o presbitério com os veleiros antigos de metal que ainda podem ser vistos no Santuário. Ainda se mantém o coro com o balaústre - que não deve ser antigo, mas uma reprodução do início do século XX, pois os antigos seriam mais grossos e trabalhados, tendo acesso pela torre.

Durante a reforma de 2009 não houve um posicionamento por parte dos responsáveis, sobre se no piso da igreja havia sepulturas, como era comum naqueles tempos. Seria meio complicado enterrar uma pessoa levando seu corpo naquela altura, mas não seria impossível.

PRESBITÉRIO

Separado da nave por um tradicional arco colonial, o presbitério, pelas dimensões, recorda a igreja de Nossa Senhora do Monte Serrat de Humaitá, em Salvador na Bahia, que fora construído por Dom Francisco de Souza, ou o próprio Mosteiro de São Bento de Santos [12] e ainda a Igreja de São Gonçalo do Amarante da cidade de São Sebastião, no Litoral Norte paulista.

O altar mor e retábulo da Igreja do Monte Serrat, quando era de madeira, se assemelhava ao do Convento de Nossa Senhora da Conceição de Itanhaém, tendo a Virgem do Monte em um nicho central adornado, diante dela o sacrário e acima dela o crucifixo do Senhor do Bom Fim. Ele ainda hoje, na capela, ali está, mas na época tinha o cruzamento da cruz exatamente de frente da pequena janela que se vê na parede do presbitério; quando a igreja foi reformada, tiraram as madeiras do retábulo (possivelmente por estarem arruinadas pelos cupins e demais insetos que comem madeira).

Colocaram no altar de mármore que vemos ali uma placa com os seguintes dizeres: "Oferta de Deolinda de Freitas Leão Malheiros e Juventino Malheiros - Setembro de 1924".

Uma curiosidade desse altar é que o fiel passa por uma escadaria de mármore (substituída por uma de madeira em 2009), pelo lado de trás do nicho de Nossa Senhora, seguindo o sentido horário. Essa passagem, para muitas pessoas, tem o significado devocional de visita ao santuário e à sua oraga, mas no passado havia quem desse um significado de exorcizar coisas que fossem ligadas ao mal, funcionando como uma benção para a pessoa.

Existe no Museu de Arte Sacra de Santos uma imagem de São Bento, além de outra de São Francisco (de médio porte, esculpida em madeira com um crânio aos pés), que teria vindo da Galícia com um espanhol devoto e ali foi colocada.

Essa imagem de São Bento que tem bom porte e que se dizia estar antigamente no retábulo da igreja, foi representada atrás de uma medalha de Nossa Senhora do Monte Serrat de alumínio vendida na igreja em tempos passados, assim o comprovam. Para os que tiverem mais dúvidas, será comprovado oficialmente ao ser encontrada uma foto do antigo retábulo da capela.

Esse retábulo era semelhante ao do Convento de Nossa Senhora da Conceição de Itanhaém que ainda está lá. Infelizmente, o de Santos foi removido em 1924 tanto pelo problema de cupins ou modernização (comum naquele início de século XX, onde nem se respeitou a Matriz). Esperamos que ainda apareçam fotos do mesmo, pois a que existia no Instituto Histórico e Geográfico de Santos desapareceu.

Percebemos no presbitério dois lampadários - o que é incomum, sendo o tradicional apenas um do lado esquerdo, mas existem dois no Monte Serrat - que remontam ao início do século XX (pelo seu desenho) e que tiveram seus ganchos de metal substituídos (ou recobertos por madeira). Um deles foi usado por um tempo na capela de Santa Josefina Baquita, tendo retornado para o santuário.

Com as mudanças no culto do Concílio o local recebeu uma mesa eucarística descolada da frente do altar e de frente para os fiéis.

IMAGEM DA PADROEIRA

De porte pequeno e comum para os séculos XVI/XVII - podemos ver semelhantes como o São Gonçalo da cidade de São Sebastião/SP, o padroeiro São Sebastião do Rio de Janeiro, Nossa Senhora da Graça (hoje no Arte Sacra de Santos), demais imagens de oragos espalhadas pelo Brasil. Só após aparecerem escolas de pessoas que não eram ligadas ao sacerdócio é que as imagens aumentaram de porte ou tiveram arte diversa.

Existe em Viana do Castelo (Portugal) uma imagem semelhante à que se venera em Santos. sendo usada nas procissões. Possivelmente alguma estampa serviu de inspiração para o nosso artista, sendo essa iconografia curiosamente de pele branca e não negra, numa expressão puramente portuguesa para esse título mariano.

Nos anos 1960, ao passarmos por detrás do nicho, era possível ver uma armação de madeira que sustentava a base da imagem (que estava danificada devido aos anos de uso - inclusive. no próprio andor ela tinha uma espécie de cadeirinha que acomodava a parte detrás da imagem, como forma de segurança para o transporte na procissão).

Houve uma polêmica em que se afirmou que a representação em estilo rococó então existente no nicho da sacristia do Mosteiro de São Bento de Santos - e que os beneditinos levaram para Vinhedo/SP - seria a imagem do milagre, o que está em desacordo com o estilo de arte do século XVIII daquela obra em relação à nossa, que é do início do século XVII.

Ignoraram tanto a devoção quanto a tradição do povo santista desde que ocorreu o milagre de 1614, pois a que temos já foi chamada “a bem relevada” devido ao seu desenho delicado, ao contrário da que existe no Rio de Janeiro no Mosteiro de São Bento, que é como se fosse um alto relevo e quando vista de lado é muito estreita; já a da Bahia é mais elaborada e tem uma aldeia aos pés, sendo muito cheia de detalhes.

Realmente os beneditinos quiseram levar a imagem da Senhora do Monte para o seu mosteiro em Santos e lhe fazer uma capela, mas essa empreitada não vingou em 1652. Isso se devia talvez ao fato das constantes brigas jurídicas pela posse das terras e da igreja do Monte Serrat em poder dos beneditinos e sempre reclamada pelos carmelitas (na época conhecidos no Rio de Janeiro pela violência com que se impunham, inclusive mandando surrar os que passavam com enterros pela sua porta).

Não recebeu a imagem os olhos de passarinho [13], mas simplesmente foram pintados e se um dia os recebeu os perdeu, sendo que temos uma reencarnação registrada em 1887 e durou mais de cem anos até que foi repintada, desta vez com tintas impróprias que lhe tiraram toda delicadeza antiga.

Era comum Nossa Senhora do Monte a cada ano descer com um manto novo e subir com o oficial da cidade que tem várias pedras preciosas presas nele. Ocorre que esse manto era guardado e a Virgem tinha seus mantos trocados com certa frequência, sempre feitos em veludo ou cetim bordado. Inclusive, o senhor Alcides das Neves (falecido em 1992), quando esteve preso no navio Raul Soares, ofereceu para a Santíssima um manto que depois ficou com Nossa Senhora da Piedade no cemitério do Saboó, sendo usado nas procissões, conforme se vê em fotos.

Essa peça de barro cozido já sofreu forte dano, devido a uma queda durante seu manuseio, o que forçou o restaurador Marcos Lamouche a arrumar a mesma às pressas; naquele ano, ela foi transportada com o manto bem fechado, havendo quem afirmasse que fora costurado, e ela subiu pelo bondinho em vez de ser conduzida pelas escadarias. Depois das festas, passou por um restauro mais delicado. Tanto esse dano quanto os anteriores se devem ao uso continuo desde o século XVII.

Tinha a Virgem do Monte uma comenda que passava por trás do manto esculpido no barro e pendia sobre seu peito. Nada sabemos dessa joia ou qual era seu objetivo, mas ainda existem santinhos que a mostram claramente, tratando-se de uma cruz com o Divino Espírito Santo.

ADJACÊNCIAS LATERAIS

Sabemos pela informação da Comissão Sanitária de Santos que havia um morador no Monte Serrat que era responsável por zelar pelo local e até abrir e fechar a igreja, passando a mesma responsabilidade depois para as Irmãs Servas de Jesus Sacerdote, entre elas a Irmã Aldenora que ficou no Santuário desde os anos 1960 até os anos 1990 (sua moradia era a primeira casa logo na descida da escadaria do lado direito, ao lado da última estação).

Essas partes dos lados esquerdo e direito do prédio tinham telhado rebaixado da parede da nave, conforme vemos nas fotos de Militão de Azevedo em 1865; possivelmente em 1907 o telhado foi erguido e o forro interno do templo remodelado com madeiras de forro de forma trabalhada, antes envernizadas e depois pintadas com a fria cor cinza.

Até a reforma estavam todas as partes unidas pelo mesmo telhado em duas águas, assim esses cômodos se tornaram uma cozinha e refeitório, banheiro, sacristia, sala de promessas, veleiro, administração e depósito. Se houvessem residido ali os beneditinos, decerto teriam aumentado as dependências do prédio para sua moradia, mas a falta de água e distância da vila não o permitiu.

No passado eram essas adjacências divididas por paredes em quartos com acesso por portas internas, isso até a reforma de 2009. Atualmente, o que existe ali é uma sala retangular sem divisões que vai do batistério ao fundo, igualmente do outro lado.

SALA DE PROMESSAS

Ex-voto é a comprovação de uma graça alcançada; assim, se a ferida foi na perna esquerda se ofereceria uma perna esquerda de cera com a ferida desenhada, se a cura foi na cabeça se oferece uma cabeça de cera, se foi na mão direita se oferece uma mão direita e assim por diante - costume que vem de uma passagem bíblica que se refere a uma situação semelhante [14]. O local dessas ofertas é a sala de promessas, que recebe esse nome segundo a função que desempenha, que é mostrar as promessas pagas pelo cristão.

Fica do lado direito em direção da torre. Muito conhecida pelos santistas, nessa sala havia grande quantidade de objetos ortopédicos, quadros mostrando o que ocorreu com os miraculados, réplicas de navios salvos pela intersessão da Virgem Santíssima, corações de metal, roupas, objetos de ex-votos, fotos e quadros dos devotos, fotos de pessoas falecidas que pediam para ficar lá (podemos ver alguns com roupas tão antigas quanto a própria foto), objetos de cera referentes à parte do corpo curada.

No local onde antes havia uma passagem para a nave, esta foi fechada e transformada em armário para o lado da sala de promessas onde se viam lindos vestidos de noiva que a Irmã Aldenora, após um tempo. para evitar que ficassem estragados pela exposição, doava para noivas pobres ou para o interior onde se transformavam em vestidos de primeira comunhão para moças da roça - como foi doada uma grande leva para a Capela de Nossa Senhora da Piedade no bairro do mesmo nome em Caçapava.

A respeito dos ex-votos temos o relato de dona Alzira da Silva Santana (nascida no Monte Serrat em 8 de novembro de 1926 e falecida em 9 de setembro de 2006). Seus pais vendiam os ex-votos que vinham de São Paulo e ela, junto com os pais, pintavam as feridas ou males nos pontos onde estariam nas partes do corpo afetadas (quando os milagres aconteciam, o fiel indicava onde localizar esses lugares). O povo prometia ofertar a Nossa Senhora e assim a pessoa os comprava. Quando faltava algum ex-voto ia dona Alzira até a sala de ex-votos e pegava a peça necessária, que seria trabalhada e assim vendida, satisfazendo a necessidade do cristão, isso devido ao acordo com quem administrava a igreja, pois também cedia outra peça para a igreja, quando preciso.

SALA DAS VELAS

Do lado oposto, na direção dos fundos, ficava a sala das velas com seu exaustor, azulejada e com os veleiros coloniais que ali podem ser vistos e são usados para velas de mais de metro, segundo a promessa cumprida, mas sem as cruzes que encimavam suas esferas armilares. Era um local de muito calor em dias de festa e chegaram a acontecer incêndios pela teimosia das pessoas colocarem de forma imprópria velas em maço.

Vi várias pessoas - inclusive a minha mãe, Maria Carballa Villar, em 1972, ou dona Izabel Ana da Costa, em 1985 - entrarem com uma vela de sua altura, de joelhos até o altar da Santíssima, subirem as escadas e depositarem a vela na sala das velas, naqueles antigos veleiros de metal.

Os veleiros de ferro fundido são quatro, tendo cada um o formato retangular com um grande espermacete ou bandeja na parte inferior (que recebe a vela derretida) e subindo umas armações feitas do mesmo ferro enegrecido. Esses apoios - que seguram uma ou mais velas de até dois metros de altura - têm nas duas extremidades uma esfera armilar com uma cruz igualmente trabalhada acima de cada esfera.

SACRISTIA

Ficava no lado esquerdo, logo ao se sair da porta esquerda do presbitério, e ali havia uma sala em direção da frente que servia como sacristia e loja de recordações e também para o atendimento aos fiéis para marcarem missas, comprarem recordações ou velas.

Havia um balcão com partes de vidro e prateleiras igualmente guarnecidas de vidros onde se colocavam os mais diversos produtos de lembranças, desde pequenas imagens da Virgem Maria em chumbo (dentro de um oratório feito com uma espécie de plástico rosado duro e colorido), até uma peça para pendurar escovas de dente e outra para portar chaves, quadrinhos escritos com frases bíblicas, postais que eram moda na época em que não havia muitas câmeras, chaveiros, santinhos - inclusive alguns que portavam um fragmento mínimo de um manto azul de Nossa Senhora - sempre sendo o mais velho e que a Irmã Aldenora com cuidado recortava e colava; assim, as pessoas os adquiriam como um sacramental ou objeto que porta uma benção.

SALA DO PÁROCO

Ficava no lado direito de quem saia da porta esquerda do presbitério em direção aos fundos da capela. Era o escritório do sacerdote, onde ele recebia o fiel para tratar os mais diversos assuntos e onde se paramentava para as missas.

Havia outros padres que celebravam missas na igreja, entre eles o mais famoso foi o monsenhor padre Moreira (nascido em 1833/falecido em 1924) que deu nome ao caminho e frei Rafael Maria Marinho (falecido em 1998) da Ordem do Carmo, que - evitando o funicular, mesmo tendo problemas de trombose nas pernas - subia as escadarias rezando seu terço e assim recomendava a todos que ali fossem rezar.

SUBIDA OU CAMINHO ANTIGO

Já existiam moradores na Vila de Santos muito tempo antes da fundação oficial e na região em 1506 já produziriam utilidades domésticas como potes, alguidares (pratos), panelas, lajotões para chão e possivelmente telhas devido ao uso de taipas ou pedras nas construções - não sabemos se já havia tijolos na região de São Vicente. Em 1523 dois franciscanos ou irmãos terceiros são mortos no local que recebeu o nome de “Rio dos Frades”, mostrando que havia a presença da religião cristã por aqui.

Era o Monte Serrat - antes da entronização de Nossa Senhora com seu título referente aos picos catalães - conhecido como morro de São Jerônimo, por causa da capela que existia em seu sopé, justamente onde hoje estão os restos da parede de seu presbitério. Em frente de onde seria a igreja, construída no final do século XIX está a escadaria da terceira Santa Casa de Santos, que melhorou o acesso ao hospital - que antes era barrento e lamacento em dias de chuva, pelo que podemos descobrir ao ver as fotos de Militão de Azevedo de 1865.

Essa capela já houve quem afirmasse ter pertencido ou sido construída por Gonçalo da Costa cerca de 20 anos antes de 1531, quando alertaram ao Bacharel Cosme Fernandes Pessoa da vinda de Martim Afonso de Souza com a missão de expulsá-lo para o local de degredo que era em Cananeia. Esse Bacharel teria vindo para a localidade do Guaiaó conhecida como São Vicente cerca de vinte anos antes e, na partida, mandou incendiar todas as construções comerciais, armazéns, estaleiros e residências da vila que fundara, mas não existe referência de ter ocorrido o mesmo no Enguaguaçu depois conhecido como Vila de Santos, onde haveria uma capela ao lado do Morro da Vigia ou Morro de São Jerônimo, e povoadores (que seriam degredados) vivendo com os nativos.

O caminho de subida ao morro começava ao lado dessa capela em época que se dizia ser anterior à elevação da povoação como Vila em 1543 e mencionada em 1532, por estar em ruínas. Muito tempo depois, o local foi cedido para um grupo devoto que ali instala a igreja de São Francisco de Paula [15] mantendo-se inclusive a primitiva imagem de São Jerônimo em devoção [16].

Sabe-se pelas informações de Frei Gaspar da Madre de Deus O.S.B. que posteriormente, quando ocorreu a distribuição de terras aos colonos, dois deles (Pascoal Fernandes e Domingos Pires) se instalaram no Enguaguaçu, fixando moradia no lado oriental do Ribeiro de São Jerônimo e entronizando no sopé do monte (Monte Serrat) o santo doutor da igreja.

Eles receberam o título da propriedade em 1º de setembro de 1539, dado pelo capitão-mor António de Oliveira, passando o tempo e deteriorada pelos anos, a capela seria doada pela Irmandade da Misericórdia, que a requereu, e aumentada - transformando-se na Igreja de São Francisco de Paula, assim constando em mapas da metade do século XVIII.

Em 1536 é concedida a escritura lavrada em Lisboa da doação do Enguaguaçu ao Capitão Braz Cubas, que seria o proprietário do Monte Serrat conforme se afirma em livros antigos, e a teria deixado aos Carmelitas em doação, o que vai causar uma interminável guerra jurídica entre carmelitas e beneditinos.

No mapa intitulado Plano da Vila de Santos de 1798 podemos ver que o lugar hoje identificado como Rua Bittencourt, ladeando a Rua João Pessoa, está identificado como “Terreno plano sede de campina com pequenas porções de pântanos e matos”, sendo esses charcos a eterna reclamação da Comissão Sanitária de Santos. Para transitar por ali, seria necessário haver um acesso com menos problemas de locomoção, mesmo havendo ali a fonte do Itororó, para onde haveriam caminhos. Em tempos de chuva, o lugar deveria ficar instransponível, principalmente no início da ocupação da região, no século XVI.

O mapa intitulado Planta da Villa de Santos em 1822, feito por Benedito Calixto em suas pesquisas, claramente assinala o caminho antigo - justamente o que vemos nas fotos de Militão de Azevedo. Podemos perceber um caminho que seria o mais antigo e aquele em linha reta que desceria até o lado da Santa Casa Velha, passando nas proximidades da fonte que ainda se encontra na encosta do morro de São Bento.

Segundo estudo, a mesma dataria de 1889. Uma edição de 1894, intitulada Carta de Santos, assinala ainda o caminho antigo, assim como no mapa Atlas Saneamento de 1895.

SUBIDA OU CAMINHO MONSENHOR MOREIRA

Na Planta de Santos e Seus Arrabaldes datada de 1903, pela primeira vez se assinala o caminho novo e se percebe o traçado do caminho antigo saindo no morro do Fontana, onde atualmente existe uma descida na parte detrás do morro e somente o caminho novo em 1930 na Planta de Santos.

Foi essa fonte reformada no início do século XX após o desabamento de 1928 conforme se lê acima do arco da porta AM MCMXXXV (Ave Maria 1935) quando ainda estava em atividade o hospital da Santa Casa naquele local e o morro de São Bento começou a ser ocupado pelos lusitanos - possivelmente antes de 1865, conforme casas que vemos nas fotos daquela época.

Ainda com referência à bica próxima da Igreja de São Francisco de Paula, eu me recordo que em 1977 ao vir da procissão de Nossa Senhora da Assunção do morro de São Bento, pude ver que havia um pequeno tanque mais abaixo em frente a uma antiga casa que ainda se vê na subida que por um pequeno cano ficava escorrendo água limpa e fresca de fonte.


Arredores do Monte Serrat, vistos da Rua do Rosário, em foto de Militão Augusto de Azevedo em 1865

Foto: albúmen com 10,7 x 17,3 cm . Acervo Museu Paulista. Imagem reproduzida no livro Santos e seus Arrabaldes - Álbum de Militão Augusto de Azevedo, de Gino Caldatto Barbosa (org.), Magma Editora Cultural, São Paulo/SP, 2004

Nas fotos de Militão de Azevedo de 1865 podemos ver vários detalhes do caminho colonial pra subir o monte e na foto intitulada “Arredores do Monte Serrat visto da Rua do Rosário”. Curiosamente, naquele mesmo local aparece uma estrutura como um grande telheiro, parece haver um galpão próximo ao local da bica onde ele fotografou “O largo da cadeia nova”, podemos ver que está situada bem no local da atual fonte e que mais atrás parece haver uma murada na foto ou construção destinada à outra finalidade como lavanderia pelo hospital ser próximo dessa fonte e a água necessária para essa instituição, numa época em que não havia água encanada nas casas (depois teve suas águas desviadas dali).

Na foto intitulada “Caminho da Barra” - que parecem ser duas fotografias unidas - podemos ver o rasgo na mata com o caminho em linha reta indo para o cume do monte. Já na foto intitulada “Campo da Misericórdia e Chafariz da Coroação” percebemos o rasgo na mata desse caminho antigo e talvez a marca do caminho que hoje é conhecido como Monsenhor Moreira. que é o principal de subida, dando a impressão que se junta com o antigo em certa altura.

Desse caminho antigo - que decerto estava ficando em desuso ou foi prejudicado pela instalação do funicular em 1927, assim com o desmoronamento de 1928 - não ficaram marcas ou referências de que ainda possa existir um vestígio em alguma parte do traçado primitivo. Finalmente, prevaleceu o atual, que conhecemos e usamos, e do antigo ficaram apenas as nítidas marcas visíveis nas fotografias do século XIX.

Ocupação por moradores no Monte Serrat: pelas fotos de 1865, sabemos que não os havia no local além do sacristão, e não se tem referência se vivia com a família ou sozinho. As encostas do Monte Serrat eram evitadas, pelo que se vê nas fotos antigas. onde as construções mantêm distância do morro e seu cimo e encostas eram despovoadas até o final do século XIX. O que impedia sua ocupação talvez fosse a falta de água potável, que forçaria as pessoas a buscarem o precioso liquido na fonte do Itororó, em seu sopé, em penosa subida com os cântaros, barris ou potes. A falta de água era a principal dificuldade e queixa da Comissão Sanitária de Santos em 1907.

O local começa a receber famílias de moradores. Em 1902 temos a conhecida família Silva Santana [17] que se fixa próximo da capela. Quando vieram de Portugal, fizeram sua casa onde hoje está a última estação da via sacra (de nº XIV) tendo do lado oposto um pequeno bar onde serviam refrigerantes e iguarias aos romeiros, e ex-votos de cera.

Os maiores povoadores de morros em Santos são os portugueses da Ilha da Madeira que - por estarem acostumados com alturas - acham agradável se fixar nas encostas dos morros santistas, sendo uma das causas que leva essa população de imigrantes a desbravar e ocupar nossos morros. Eles trouxeram costumes ilhéus, segundo o senhor Clóvis [18], sendo seguidos por pessoas migrantes do Norte que da mesma forma não viam problemas em morar no morro.

Outros moradores ficariam no meio do caminho, instalados na década de 1920 aproximadamente (pelo tipo de construção) em uma casa que mostrava até os anos 1990 uma roda de moenda de cana, vendendo o caldo em dias de festa.

Em 1928, através de fotos antigas, podemos ver muitas casas construídas no começo da subida do morro. Tive o relato de um vizinho meu, senhor Francisco, nascido em 1904 e criado no Monte Serrat para os fundos da igreja em um “rancho simples de madeira”, afirmando que sua mãe de noite ouvia uns estranhos roncos vindos da terra e reclamando para o marido se mudaram para um terreno na Praia Grande (para um lugar onde se via um navio encalhado na areia da praia) e souberam depois que ocorrera o desabamento da encosta.

Durante os festejos de 1945 no Jornal A Tribuna de Santos do dia 7 de setembro (pág. 10), lemos uma notícia que nos leva a confirmar inclusive com antiga foto que o caminho era de barro batido; também havia partes com madeiras que faziam pequenos barrancos em forma de degraus ou usaram pedras muito afastadas segundo relato de uma antiga moradora. Isso finalmente chegou ao fim com os populares degraus, “...e agora com o caminho inteiramente pavimentado de fácil acesso, com os lindos nichos, tornados realidade, como se sabe com uma subscrição popular aberta por esta folha e que tanta repercussão teve na época em que foi levada a feito.”

Naquele ano, a Senhora do Monte Serrat foi trazida dia 4 de setembro até a Catedral, e muitas associações como a Congregação Mariana e as irmandades colocaram avisos no jornal pedindo para todos portarem suas insígnias (medalhas, fitas ou opas).

Na década de 1950 havia cerca de 15 casas visíveis pelo caminho e segundo as informações em uma reportagem de 1982 temos a informação de que começou uma ocupação desordenada e aparecem ligações adentrando as encostas através do Caminho Monsenhor Moreira, com uma subida pela Rua Tiro Naval.

Na década de 1960 já existiam cerca de 20 residências visíveis no caminho; no alto havia várias, sendo a mais conhecida a do lado esquerdo, bem na encosta e que se via da Avenida Ana Costa; outra bem nos fundos da capela, onde vendiam caldo de cana e para isso tinham uma barraca de alvenaria; além de vários moradores no caminho que descia e ligava o lugar ao Morro de São Bento.

Logo que a cidade começou a contar com a força elétrica, esse caminho ficou conhecido pela iluminação até o seu cimo, comn o carreiro de lâmpadas elétricas nos fazendo imaginar como faziam os antigos para subir e descer ao entardecer e de noite o caminho de acesso ao Monte.

Essa sequência de lâmpadas era colocada na metade do mês de agosto pelo senhor Edson, que o fazia com gosto e devoção com a sua equipe de funcionários da Prefeitura de Santos. O objetivo era iluminar o caminho de noite para a população que acudia ao cimo do monte - o que antes era feito com velas ou lanternas à luz de vela ou querosene.

Essas lâmpadas eram colocadas no século XX por Edson Marques de Oliveira (falecido em 1999) [18]. Seu penoso trabalho consistia em subir com os molhos de lâmpadas pelas escadas ou subir pelo funicular e descer os degraus necessários para com escadas instalar essas lâmpadas, tão tradicionais na cidade.

SUBIDA OU CAMINHO DA RUA TIRO NAVAL

Outro caminho mais recente vai se unir ao caminho Monsenhor Moreira nos anos 1980, sendo seu acesso pela Rua Tiro Naval, passando pelos restos da famosa Bica da Feiticeira e subindo uma escadaria que foi pouco povoada até a década de 70 quando ocorre uma grande ocupação desordenada e que tende a avançar ainda mais pelas encostas chegando aos lados da Avenida Senador Feijó onde já houve registros em jornais de desmoronamentos devido às fortes chuvas.

Assim, essas encostas do Monte Serrat seguem perdendo toda sua cobertura natural, até que a natureza não possa segurar suas encostas pela perda de árvores, e pedras e sustentações naturais do lugar venham a causar danos materiais e perdas de vidas.

A referência mais antiga do local era assinalada pela identificação “Duas Pedras" e pela bica, mas essas grandes pedras também já foram destruídas para a passagem do progresso, apagando os resquícios exatos desse local onde residiu a famosa feiticeira [19], sendo palco da história que comoveu a cidade de Santos em 1850 quando uma mulher desconhecida que vivia entre as duas pedras foi reconhecida como a mãe de uma pessoa importante e querida pela benemerência, pelo mapa de 1822 podemos ver que eram afastadas do Monte Serrat, ficando aproximadamente onde hoje se inicia a Rua Sete de Setembro ou próximo.

Nos anos 1980 havia ali uma garagem e os funcionários fizeram um pequeno oratório de alvenaria com uma auréola de luz neon e com vidro na frente, onde puseram Nossa Senhora sobre o título das Graças e depois o título de Aparecida, acreditando algumas pessoas ser aquele nicho do século XIX, mas não era.

SUBIDA OU CAMINHO PELO MORRO SÃO BENTO

Entre o morro da Padroeira e o Morro de São Bento existe a Rua Rubião Junior, que em certo momento dá acesso à Rua Nossa Senhora de Lourdes, que se une à Rua Santa Marina. No começo dessa rua termina a escadaria que vem do alto do Monte Serrat, no estreito caminho que no passado era acessado por grandes pedras muito espaçadas umas das outras, sendo também um local muito ocupado por casas que curiosamente são bem próximas e fazendo fundos para o local do desabamento de 1928.

Subindo por ali no ano de 1977, tive que correr devido à grande quantidade de cães que policiavam aquele acesso.

FONTES

As fontes são uma importante opção de abastecimento de água para todas as povoações humanas e na nossa região não foi diferente. O Monte Serrat chegou a ser chamado de “olho d’água”, devido à quantidade de bicas que brotam em suas encostas, umas conhecidas e outras ignoradas, usando-se as suas águas nos chafarizes. Eles foram sendo desmontados no século XIX, restando alguns que se podem ver em fotos. Mas, com a importância reduzida devido à água canalizada e oferecida por empresas, desaparecam.

Entre as principais fontes ligadas ao morro da padroeira temos:

São Jerônimo e seu ribeiro – Ficaria próxima da Igreja de São Francisco de Paula, havendo ainda na encosta do Morro de São Bento uma espécie de monumento que é uma gruta e fonte e que já existia antes de 1935, mostrando a data de quando fora toda reformada. Suas águas ainda se vertem por ali ou foram desviadas - não se pode afirmar -, e tem a imagem de Nossa Senhora de Lourdes ligada à cura dos enfermos, recordando-se que o hospital continuou suas funções até os idos da década de 1950.

Devemos fazer pesquisas para saber o local exato da antiga fonte que ficava junto da capela que existiu (como se comprova no mapa de 1822) e - uma vez arruinada no início do século XIX - foi cedida, sendo reformada e usada pela Santa Casa Velha. Nesse mapa podemos perceber que o início do leito do ribeiro começa justamente onde está essa antiga fonte, mas na encosta do Morro de São Bento e não no Monte Serrat, sendo a explicação dada pela proximidade e pelo caminho antigo de acesso ao seu cimo. Como as demais bicas era o local de abastecimento dos colonos e o início do ribeiro canalizado, como os demais.

Itororó e seu ribeiro - A mais conhecida de todas as bicas da Vila chegou a ter um curtume próximo (que pertenceu a Braz Cubas segundo referência em documentos), gerou a regueira ou ribeiro do Carmo por passar ao lado do convento dos carmelitas, sendo usado na irrigação das plantações antigas e canalizado durante o forte processo de urbanização que ocorreu no século XIX.

Existe a música de ciranda conhecida como “Fui no Itororó”, cuja elaboração se atribui a Santos, embora esse nome exista em outras localidades do País e seu chafariz sofreu várias remodelações, como se pode observar à medida que vão surgindo fotos mostrando o local, década após década.

Duas Pedras ou da Feiticeira e seu ribeiro - O antigo chafariz, do qual existem fotos, já faz muito tempo que foi retirado do sopé onde o morro forma o beco com a rua. Comparando com as fotos antigas vemos sua exata localização, hoje coberta com muitas caixas de correio, colocadas sobre os azulejos brancos fixados no local em que no passado foi o chafariz das Duas Pedras, Pedra da Feiticeira ou Bica da Feiticeira e que também teve seu tanque destruído. Na planta de 1822 podemos ver que existia um caminho que se dirigia para esse local e que acaba por se tornar uma rua, talvez suas águas formassem charcos que aparecem num desenho de Willian John Burchell em 1826.

Subindo a escadaria em 1988 ,atrás do local de onde sairia a água da bica da feiticeira, vi uma grande quantidade de água limpa correr pela vala ao lado da escadaria. Subindo um pouco mais, percebi que iria até certa localidade que acabaria saindo no Caminho Monsenhor Moreira. O que pude imaginar é que estaria o local da nascente canalizado, como disseram, para a casa de uma pessoa naquele local do morro; também acreditei na possibilidade de ser apenas um vazamento qualquer, mas o local atualmente é meio perigoso para quem não é morador ou conhecido.

Bica do Quilombo (CSTC) e seu ribeiro – Ainda existe dentro da velha garagem dos bondes na Vila Matias uma enorme pedra onde os trilhos dos bondes já desgastados pela ferrugem passam ao lado e seria o local onde se lavavam os veículos, mas já a firmaram que não seria ali a famosa bica e que seu local é próximo de onde existiu a vertente maior de água que um dia serviu o quilombo do Quintino de Lacerda.

JUSTIFICATIVA DE A PORTA PRINCIPAL SER EM VERGA RETA

Para entendermos por que a igreja possivelmente um dia teve portas e janelas com vergas retas - e entender que essa mesma porta passou por várias modificações que os mais velhos se recordam de ver pessoalmente -, aqui vai um pequeno estudo do estilo referente ao tema através das épocas.

Outro detalhe que percebemos é que no início a maioria das construções está direcionada para a frente do porto, seja para aproveitar a aragem ou visualizar o que ocorria. Também existe a possibilidade dos morros evitarem maior circulação de vento - o que na época era uma forma de arejamento necessário para passar por dentro dessas construções, onde de porta para porta se criava uma passagem para essas correntes e assim se purificava o ar dentro dos ambientes, eliminando os famosos miasmas, como se dizia.

Quando esses terrenos vão sendo fracionados - por questões de herança ou a necessidade de ganhar dinheiro com essas propriedades (que antes equivaliam a uma pequena chácara, ocupando quase uma quadra inteira, onde a frente estava voltada para uma rua e os fundos para outra rua de frente, para as construções vizinhas) -, vão sendo construídas em menor escala e com a frente fazendo fundos para o mar. As fachadas de templos, casas ou comércios vão se direcionar para os quatro pontos cardeais.

As construções que surgiram em Santos estão assim mencionadas em uma lista, levando em conta uma cronologia por data do início da construção ou conclusão, menção de sua existência ou até reforma. Algumas já foram demolidas, mas preservadas em fotografias.

1540Capela de Santa Catarina de Alexandria - Porta com verga reta.
1543Igreja Nossa Senhora da Misericórdia/posterior Matriz, reformada em 1754.
1547Forte de Bertioga – Portas e janelas de verga reta.
1565Capela Nossa Senhora da Graça – Porta arqueada e janela em verga reta.
1583/1583Fortaleza de Santo Amaro da Barra Grande – Portas e janelas de verga reta.
1585Capela de São Miguel dos Jesuítas - Porta com verga reta.
1599Capela de Nossa Senhora do Monte Serrat – Janelas e portas com verga reta.
1599Igreja Conventual de Nossa Senhora do Carmo – Início das obras usando arco abatido.
1640/50Casa do Trem Bélico - Porta com verga reta.
1641Igreja Santo António do Valongo – Portas e janelas em arco abatido.
1650Mosteiro Nossa Senhora do Desterro - Porta com verga reta após os três arcos do adro.
1697Casa de Câmara - Porta com verga reta.
1723 - Casa de Câmara reconstruída mantendo as vergas retas, demolida no século XIX.
1742Capela de Santo Amaro da Fortaleza da Barra – Porta e janelas em linhas retas
1756Igreja Nossa Senhora do Rosário dos pretos – Portas e janelas em arco abatido.
1756Jesus Maria e José – Ano de registro, com portas e janelas em arco abatido.
1764Ordem Terceira do Carmo – Portas e janelas em arco abatido.
1765 – Igreja São Francisco de Paula (São Jerônimo) – Portas e janelas em arco abatido.
1789 – 16 de maio - menção da morte do padre Nepumoceno Ferreira Lustosa proprietário da casa ao lado da Capela da Graça e fotografada por Militão de Azevedo em 1865.
1816Capela da Santa Casa ou Igreja São Francisco de Paula – Portas e janelas em arco abatido.
1839/66Cadeia Velha – Portas e janelas em arco abatido.
1855 – Capela do Senhor Jesus Crucificado no Paquetá – portas e janelas em arco abatido.
1867 – Prédio na frente do Valongo – Janelas e portas em arco pleno.
1872 - Prédio na frente do Valongo – Janelas e portas em arco pleno.

Século XVI e século XVII - As linhas retas em portas eram comuns na Europa em prédios medievais ou do Renascimento, havendo até hoje igrejas com portas em linhas retas, em total desacordo com as construções anteriores ao século XVI, com elementos góticos, manuelinos ou românicos.

Quando Benedito Calixto fez o seu desenho do antigo colégio dos Jesuítas da cidade de Santos [20], por algum motivo omitiu a porta de linhas retas, que pode ser comprovada em fotografias antigas, colocando a verga da porta em arco abatido em sua representação, totalmente em desacordo com a realidade, pois no início as construções seguiam uma tendência próxima do Renascimento, com a porta e janelas com a verga reta que perderia espaço para porta e janelas de vergas arqueadas do Barroco. Já, quando fez o desenho da capela de Santa Catarina de Alexandria, Benedito Calixto colocou a verga da porta reta.

No Brasil temos vários exemplos de igrejas com portas e janelas de vergas retas em templos cristãos por todo o Brasil, pelo menos a partir do início da colonização até meados do século XVII, sendo que em muitos casos essas linhas foram substituídas por outros estilos usados em cada século, nas reformas pelas quais passaram essas igrejas, em muitos casos restauradas. Assim temos:

Igreja de São Cosme e São Damião de Igarassu em Pernambuco de 1535, com portas e janelas em linhas retas, terminada no século XVII.

Igreja de Nossa Senhora da Ajuda da Bahia, iniciada em 1550 e reformulada em 1772.

Igreja de São Miguel em São Miguel Paulista/SP, iniciada em 1550, foi reconstruída em 1622, mas constantes reformas privaram os aspectos antigos, sendo restaurada.

Igreja de São Sebastião do Morro do Castelo, no Rio de Janeiro, edificada em 1567 e demolida em 1922, quando ocorreu a destruição daquele morro, havendo cogitação de se fazer o mesmo no morro da padroeira de Santos.

Igreja de Nossa Senhora da Graça, de Pernambuco, reformulada em 1567.

Igreja de São Pedro da Aldeia, iniciada em 1617 (ou 1620) no Rio de Janeiro, tem igualmente o estilo do início da colonização.

Igreja de Nossa Senhora do Rosário do Embú/SP, construída em 1624, que passou por restauro em 1939/40, devolvendo seu aspecto antigo e removendo os estilos que foram colocados posteriormente.

Igreja de São Lourenço dos Índios/RJ, construída em 1627 no lugar de outra capela anterior e reformulada em 1729.

Igreja de São João Batista de Cananéia/SP, reconstruída no lugar da capela em 1660 (data estendida até 1680).

Os moradores mais antigos de Cananéia contavam a história de um sacerdote que vivia especulando o piso ou paredes em busca de ouro escondido, em uma dessas prospecções encontrou uma sala escondida nas paredes que guardava objetos sacros em ouro e prata, imagens e mobílias - as quais a população ajudou a pagar o transporte em um caminhão fechado para restaurar: na verdade, ele negociou tudo e depois sumiu do lugar.

Igreja de São Francisco Xavier de Niterói/RJ, construída em 1662 (data estendida até 1696), essa se assemelha ao nosso Monte Serrat santista por causa de sua nave, do presbitério, do local onde está o púlpito e das dimensões; foi restaurada em 1937, quando foram encontrados os elementos primitivos do templo.

Na Espanha, na província de Pontevedra, se percebe em vários prédios a mesma tendência das linhas retas em janelas e na verga da porta principal, tanto em igrejas como em prédios públicos, muito deles anteriores ao Renascentismo. Assim temos exemplos que conheci bem como:

Igreja de São João de Leiro, construída com características do século VI (estendendo até o século VIII) e reformada no século XVIII com grande quantidade de elementos românicos.

Igreja de San Benito em Cambados, do século XV.

Igreja de Santa Eulália de Dena, igualmente medieval, com a reconstrução usando um dos braços da cruz da igreja, colocando uma porta reta e guardando o tímpano da antiga incrustado na parede lateral direita da nave [21], todas com a porta em linhas retas, sem os elementos da época da construção, sendo removidos e adequados ao retângulo por algum motivo (como economia ou evitar o frio invernal).

Paço ou Palácio de Fefiñanes, do século XVI, tem as mesmas linhas retas em toda construção, sendo uma referência turística da cidade de Cambados.

Igreja de São Bartolomeu de Pontevedra, edificada entre 1696 e 1714 pelos jesuítas.

Séculos XVIII e XIX - O formato semi arqueado ou arqueado também está presente no início da colonização, mas ficaria quase como regra a partir do século XVIII, onde casas reconstruídas reaproveitavam fachadas antigas e remodelava-se ou se mantinha essa forma reta, mas com a porta principal quase sempre modernizada.

- Séculos XIX e XX - O formato de arco pleno vem com o estilo neoclássico, já no início do século XIX, com as modernizações trazidas pela família real depois de 1808 [22], seguida pela Missão Artística Francesa e a fundação da Imperial Academia e Escola de Belas Artes de 1820, que foi projetada pelo arquiteto francês Auguste Henri Victor Grandjean de Montigny (Paris, 1777). Ainda pode ser vista uma parte de sua entrada dela no Horto Florestal do Rio de Janeiro.

As inúmeras influencias vão aparecer em fachadas de igrejas, prédios públicos e principalmente em casas de pessoas mais abastadas. Pouco a pouco, o velho estilo colonial em linha reta ou arco abatido vai desaparecendo. surgindo portas com o arco neoclássico e também o arco ogival (gótico) em muitos casos, principalmente a partir de 1870.

Podemos comprovar pelas fotos de Marc Ferrez de 1889 que as casas com portas de vergas retas ou semi arqueadas davam lugar a portas com o arco neoclássico ou arco-pleno, principalmente quando vem o estilo Art Nouveau a partir de 1890 até 1910 (em algumas menções de 1880 e terminando com a 1ª Guerra Mundial em 1914). Tudo vai ser renovado a partir da demolição dos prédios antigos, agora considerados como insalubres, úmidos e perigosos, principalmente depois das novas construções mais seculares começarem a ter paredes adernadas, causando a queda de forros, trincas, rachaduras e desabamentos.

CRONOLOGIA REFERENTE AO MONTE SERRAT

1512 – Nome de Morro de São Jerônimo dado pelo Mestre Cosme Fernandes.
1532 – Menção da fonte do Itororó servindo aos colonos.
1532 – Mestre Bartolomeu, o ferreiro, desembarca em Santos e projeta a gruta do desterro.
1541 – Menção do Monte Serrat pertencer a Braz Cubas.
1591 – Ataque do pirata Cavendish e o uso da gruta do mestre Bartolomeu Fernandes.
1599 – Possível início da construção.
1602 – Recebimento da Imagem por Dom Francisco de Souza (existem outras datas).
1610 – A capela é administrada pelo Vigário de Santos.
1614 - Milagre de proteção ao povo da vila refugiado no monte.
1630 – Deixa de ser administrada a capela pelo Vigário de Santos.
1630 – Início da questão entre Beneditinos e Carmelitas.
1631 - Mapa de João Teixeira Albernaz assinala a Igreja de Nossa Senhora do Monte Serrat.
1650 – 4 de fevereiro - dia da festa, monges beneditinos tomam posse da capela do Desterro.
1652 – Vigário Fernão de Roiz responde pelas igrejas em Santos.
1652 – 14 de abril - Quiseram levar a imagem para o mosteiro de São Bento de Santos.
1652 – 27 de abril - Os monges beneditinos são donos e curam a capela do Monte Serrat.
1659 – Juiz reconhece a posse dos Beneditinos dos terrenos do Monte Serrat.
1660 – Questão judicial pelos carmelitas.
1745 – Criação da Diocese de São Paulo.
1758 – Os carmelitas tentam novamente através da justiça a posse do Monte Serrat.
1765 – Desenho da Praça de Santos a igreja assinalada com a letra H.
1775 – Desenho da Vila da Praça de Santos com o nome.
1798 – Recenseamento de Portugal: os Carmelitas se declaram donos dos terrenos.
1822 - Planta da Villa de Santos por Benedito Calixto assinala o caminho antigo.
1841 – Análise das águas do Itororó a mando da câmara.
1847 – Códigos de Posturas para exploração dos recursos naturais do Monte Serrat.
1868 - Topografia do porto de Santos assinala o Monte Serrat.
1868 – Suspensão da questão da posse entre Carmelitas e Beneditinos até 1910.
1881 - Canal e Porto de Santos assinalando o Monte Serrat.
1887 – A imagem da Virgem do Monte é repintada.
1889 – Lançada em 1894, Carta de Santos assinala o caminho antigo.
1892 – Canalização do Ribeiro do Itororó.
1895 - Atlas Saneamento, mais uma vez com o caminho assinalado.
1898 – Desmoronamento em época de chuvas.
1899 – Referência à festa do Senhor do Bom Fim.
1900 – Início da ocupação por moradores nas encostas do Monte Serrat.
1902 – Família Santana se fixa perto da capela (hoje a última estação).
1903 - Planta de Santos e Seus Arrabaldes que assinala o caminho antigo e o novo.
1907 – 15 de julho - Retirada do piso de madeira e colocação do piso hidráulico.
1907 – Possivelmente a grande reforma na estrutura da igreja.
1910 - Os carmelitas alugam perpetuamente o Monte ao Dr. Roberto Cochrane Simonsem.
1910 – Questão forense reaberta.
1917 – Benção da cruz da cúpula da Catedral trazida Nossa Senhora em procissão da capela.
1920 – Desmoronamento em época de chuvas.
1921 – 15 de outubro - Posto Semafórico do Monte Serrat.
1924 – 4 de julho - Criação da Diocese de Santos.
1924 – Altar de mármore branco substitui o antigo retábulo de madeira.
1924 – 08 de setembro - agradecimento pela cidade ser poupada durante a revolução em SP.
1926 – Milagre do salvamento do barco Araguary.
1929/30 – As águas do Itororó passam a ser engarrafada e usada em refrigerantes.
1927 – 1º de junho - Inauguração do funicular.
1927 – Declínio do serviço de carregadores de coisas e pessoas.
1928 – Desmoronamento em época de chuvas.
1928 – Descoberta da gruta do mestre Bartolomeu até o Engenho dos Erasmos.
1928 – Começam a projetar o desmonte do Monte Serrat.
1930 - Planta de Santos, somente o caminho novo.
1939 – Início da instalação das estações da Via Sacra no Caminho Monsenhor Moreira.
1941 – 13 de setembro - Término da instalação da Via Sacra na escadaria do Monte Serrat.
1945 – 7 de setembro - descida da Virgem em procissão na Semana Cívica.
1945 – Fim da empresa que engarrafava as águas do Itororó e refrigerantes.
1945 – Proibição dos jogos e fim do cassino do Monte Serrat.
1945 – Caminho Mons. Moreira totalmente pavimentado (degraus de alvenaria).
1947 – 9 de abril -acidente com o funicular.
1949 – 22 de dezembro - início da construção do Túnel Rubem Ferreira Martins.
1954 – 6 de dezembro - entrega da 1ª pista do Túnel Rubem Ferreira Martins.
1955 – 23 de dezembro - entrega da 2ª pista do Túnel Rubem Ferreira Martins.
1955 – 4 de setembro - descida da Virgem para coroação.
1955 – 8 de setembro - Ata de coroação reconhecida como Padroeira de Santos.
1955 – Recebe um manto oficial com pedras semipreciosas.
1955 – Hino de Nossa Senhora do Monte composto para sua coroação “ó Virgem do Monte”.
1956 – Descida dia 4 de setembro às 20h00 e retorno dia 8 de setembro às 15h00.
1956 – Desmoronamento em época de chuvas.
1972 - Forte incêndio sobe o monte ladeando a mata do funicular.
1973 – Aproximadamente quando a estrela é retirada da torre.
1975 – 11 de novembro - Hino Oficial de Nossa Senhora do Monte Serrat de Santos.
1978 – A missa campal deixa de ser nas escadarias da Prefeitura e passa para a frente do Fórum.
1979 – A procissão de retorno passa a ser pela manhã após missa campal das 9h00.
1980 – Nossa Senhora visita todas as paróquias da cidade, saindo do monte um mês antes.
1980 – Colocação do sino doado pela câmara - ficou no lado direito da torre.
1980/81 – Retirada da curva e degraus do sopé e colocação de um arco de alvenaria.
1984 – Oferta do 3º estandarte de Nossa Senhora do Monte.
1987 – Descida para a Catedral começa a ser feita cerca de 12 dias antes às 17h00.
1990 – 9 de setembro - Última procissão do Senhor do Bom Fim, a festa dos barraqueiros.
1996/97 – Repintura da imagem com tintas impróprias.
1998 – Oferta do 4º estandarte de Nossa Senhora do Monte.
2005 – Oferta do 5º estandarte de Nossa Senhora do Monte.
2009 – Iniciam uma restauração.
2009 – Retirada dos azulejos de paredes internas, presbitério, nave e da cruz da torre.
2009 – Fortes ventos e chuvas fazem o pároco mudar o dia da subida, mas vai à câmara.
2012 – Entrega do prédio restaurado.
2016 – Recebe novo manto oficial.

NOTAS DE RODAPÉ

[01] - Essa trepidação foi causada durante a implosão desse gigante rochedo marinho entre agosto e novembro de 2011 pela necessidade de se manter o canal livre dos perigos que causava e para facilitar a navegação e passagem das embarcações evitando estragos nos cascos de navios naquela localidade do armazém 26.

[02] – Existe relato de Frei Gaspar da Madre de Deus recolhido no século XVIII sobre esse evento, tanto em documentos que ele conheceu como o relato de pessoas antigas que assim o transmitiram ao frade beneditino.

[03] – Conhecemos atualmente essa elevação de terra como o morro da ilha Barnabé, onde ainda existem os restos de uma construção sem os devidos estudos e prospecções, apenas a referência de vários estudiosos, entre eles um ex-funcionário aposentado, professor, que esteve no local pesquisando essas ruínas do “castelo do Braz Cubas” como lhe chamavam seus amigos trabalhadores, levando-o a verificar.

Esse professor Francisco, sendo funcionário na Ilha Barnabé, usava suas horas vagas para escalar o outeiro e averiguar as ruínas, das quais tirou fotos, relatando sobre o assunto, envolveu-se em uma querela com uma arqueóloga conhecida como Eliete - a mesma que me omitira da descoberta dos restos mortais do negro Julião da antiga capela da Graça, em setembro de 2000, assim mais uma vez reivindicando para ela a descoberta das ruínas, como sempre fazia com tudo o que pudesse ser encontrado nesta região.

Prontifiquei-me a ajudar como testemunha o professor que havia me mostrado as fotos, muito tempo antes de surgir essa disputa, dando o meu relato do que me ocorreu com o encontro dos ossos entre a Rua José Ricardo e Rua do Comércio onde eu - sendo funcionário efetivo concursado RE 97431-5 - fui alertado pelos trabalhadores de uma empreiteira contratados pela antiga Telesp.

Eles me informaram que iriam novamente abrir o piso da calçada e que antes haviam encontrado “ossos de um crime ocultado” e que haviam sido mandados com o entulho para o lixo.

Finalmente, ao chegar ao local, estavam os restos mortais que o trabalhador João Caolho (por ter uma vista com problemas) acreditava serem restos de capivara; para defendê-los, chamei o IPARQ; quando chegaram, trataram de me expulsar do local e a própria arqueóloga, me reconhecendo, disse ao jornal que um transeunte havia avisado o órgão que cuidava desses assuntos. Sendo professora universitária de História, ela tinha por costume direcionar os alunos em pesquisas, seja nas prospecções em vários locais que fossem avisados ou no Mosteiro de São Bento.

O que ocorreu no final dessa pendenga, não me foi informado, pois eu perdi o contato com esse professor.

Da casa e posteriormente dessas ruínas temos fotos do século XIX e XX, onde podemos observar uma construção com janelas muito altas para aproveitar a luminosidade o que indica ser a sua construção muito antiga, nos restaram duas fotos de Militão de Azevedo em 1865 e do acervo da Cia. Docas de Santos sendo uma delas:

- Foto da Estação de Trem da São Paulo Railway Co., onde vemos ao fundo a casa sobre o morro da Ilha Barnabé.

- Foto do Porto do Consulado, onde vemos a proa de uma embarcação antiga e outras duas menores, onde podemos perceber quase apagada devido a iluminação forte a mesma construção quase ao meio da paisagem de morros do outro lado do mar.

- Foto da “Construção dos tanques da ilha Barnabé em 1929” onde se vê o monte Serrat ao fundo com o trajeto do funicular, sendo tirada da parte de trás desse pequeno monte.

- Foto das “Ruínas da Ilha Barnabé construção do início da colonização do Brasil” igualmente dessa época, onde aparecem mais detalhes da construção já arruinada sem seu telhado e com uma parte desabada.

- Todas as fotos tiradas por Militão de Azevedo, do outro lado do mar, na Santos Continental, podem ter sido feitas de cima da Ilha Barnabé justamente no local dessa construção.


Desenho de Francisco Carballa representando sua tese de que o ano do falecimento de Braz Cubas seria 1592

Foto do autor, em 17 de julho de 2018

[04] – Se verificarmos a data de 1592 presente na antiga lápide de Braz Cubas, cujo último número está assemelhado a um 7 e que foi identificado como 2, temos que perceber que ocorreu um desgaste na pedra, justamente no lugar onde estava esse número desgastado por cerca de 250 anos de padres e pessoas pisando em cima.

Isso me fez pensar e ter certeza de que a parte de cima do número 2 foi apagada pelo constante atrito de calçados, como ocorre com tantas pedras que vemos por aí, ficando as mesmas lisas e desgastadas, como ocorreu com a última sepultura remanescente do Santuário de Santo António do Valongo, cujos dizeres e datas estão quase ilegíveis pelo mesmo desgaste de tempo. Ali se verificando um desgaste menor por ser do século XIX - então uma lápide do século XVI sofreria muito mais, tanto que existe a referência de que o pároco a mandou trocar por outra mais moderna antes do século XX se iniciar. Gostaria de ver muito essa lápide de perto e poder estudar sua gravação rudimentar antiga.

Não sabemos o que ocorreu com a lápide de pedra quando a retiraram, se foi parar no depósito de algum museu e de repente a teremos redescoberta, se a enterraram com entulhos da época, se a atiraram ao mar próximo para erguer o costão do cais do porto, se a levaram para a Igreja do Rosário do Pretos e dali se perdeu como tantas outras coisas ou se alguém a guardou ou até usou como parte de material de construção.

[05] - Segundo o livro Santos Noutros Tempos, foi dom Francisco de Souza que deu a imagem e mandou erigir a capela que em 1652; ao ser entregue para os Beneditinos estava arruinada pela falta de manutenção.

[06] – A primeira foto de autoria de Militão de Azevedo de 1865 com o título "Caminho da Barra", mantida no Museu Paulista; podemos nas suas fotos perceber um caminho de acesso ao cimo do monte pelas proximidades da Igreja de São Francisco de Paula em linha reta ao cimo com a parte do caminho que existe e sai na frente da igreja que ainda existe e outro acesso ao monte por onde existe o atual.

A segunda foto (dos Editores M. Pontes & Co. Bazar de Pariz nº 49), mostra nitidamente a igreja que - pela ausência de fios elétricos visíveis a partir da posição da foto - dá uma referência anterior a 1909. Era comum que essas fotos do final do século XIX fossem amplamente usadas em postais que circularam até a década de 1940 do século XX - o que comprova isso é que existe um deles datado de 1915, com a vista panorâmica da cidade, e nele nos deparamos com a Matriz demolida até 1908. É curioso que não houvessem fotografado essas igrejas por dentro, como era costume na Europa: ou não o fizeram ou ainda não encontramos um postal desses.

[07] [07b] - A Campanha Sanitária de Santos. Suas Causas e seus Efeitos – cap. 6, ano de 1907. Guilherme Álvaro, 1919.

Ali podemos ler: "Na manhã de 15 recebemos comunicação de que havia um pestoso na Capela do Monte Serrat; para lá seguimos em companhia do dr. Ugolino Penteado, que vinha iniciar as suas funções de Inspetor Sanitário em Santos, e verificamos, de fato, estar atacado da doença o sineiro da igrejinha, e residente em dependência do prédio. Era um caso benigno, quase supurado já, o grande bubão crural de que se queixava.

"Removemos o doente para o Isolamento, descendo-o com dificuldades grandes pelas íngremes ladeiras do outeiro, e com maiores dificuldades ainda lutando, para conseguir conduzir até aquelas alturas a água necessária à desinfecção do prédio contaminado. Estando a capelinha com o solo esburacado, servindo de ninho de ratos, aproveitamos a ocasião para mandá-la reformar, o que se fez, ladrilhando-se toda a nave do templo e o solo das dependências".

[08] - Possivelmente essa remodelação ocorreu em 1907, quando, a mando da Comissão Sanitária de Santos - que teve de remover o sacristão atacado por uma enfermidade transmitida pelos ratos que infestavam o local devido à ruína do piso de madeira - foi então requerida a retirada desse piso e que fossem feitas reformas mais significativa no prédio.

[09] - Quando fomos pra Espanha no Navio Libertad, da Cia. Argentina, pudemos vê-la do convés no alto mar enquanto nos afastávamos de Santos em direção do Rio de Janeiro, recordando que sendo agosto as escadarias estavam iluminadas por causa da proximidade da festa da padroeira.

Infelizmente a Irmã Aldenora ficou muito incomodada com os telefonemas que a faziam sair de casa para ir à igreja ligar as luzes da estrela, quando ela esquecia, e por isso preferiu que a mesma tivesse outro local, já que ligação automática, só se pertencesse ao Poder Público (ou seja, a Prefeitura). Foi essa estrela colocada ao lado esquerdo da igreja próxima da cerca de madeira, até que foi dali retirada e seu paradeiro é ignorado.

Encimando todas essas estruturas, existe sempre uma cruz ricamente adornada, pois está mais alta que as cabeças humanas que a contemplam, por ser digna e importante para o cristão, recordando uma profecia do Antigo Testamento que afirma que o Messias "levantará o seu estandarte sobre as nações" (cf. Isaías cap. 11 vers. 12). Assim, a cruz é o símbolo do cristão e se ergue em todas as nações, mas em alguns casos exibe também a figura de um galo, cujo significado catequético é o seguinte:

Obediência - Lembrando que, assim como o galo serve ao homem que irá matá-lo, igualmente o homem serve a Deus que um dia lhe tirará a vida terrena.

Fraqueza – O galo é um animal fraco que qualquer golpe mata, e assim é o ser humano igualmente fraco.

Sinceridade – Obediente e sincero, o galo é pontual para anunciar as horas, lembrando as obrigações aos demais galináceos; igualmente o homem deve ser sincero com o seu próximo por toda sua vida.

Outro significado importante é a recordação de que assim como o galo cantou três vezes anunciando o cumprimento da profecia de Jesus, negado por São Pedro quando lhe faltavam a fé e o entendimento (cf. Ev. São Mateus cap. 26 vers. 69/75), nós devemos estar prontos para confessar nosso Salvador e nunca o negar diante dos homens e mulheres deste mundo.

[10] - Os batistérios mantiveram sempre a característica de quarto isolado em uma igreja, geralmente debaixo de uma torre, o que indica que um dia o Monte Serrat receberia uma segunda torre - tão comum nas igrejas - ou apenas algum acabamento.

[11] - Dona Hermelinda das Neves Gonçalves Campos era esposa do senhor Abraão Gonçalves Campos. Ambos levaram o seu filho António Tadeu Gonçalves Campos (nascido em 20 de outubro de 1945/falecido em 2013) para o batismo no Monte Serrat em 1945, com os padrinhos e demais familiares. Ela ainda brincava, fazendo troça, com muitos risos, que - devido a subir com o menino (que era muito pesado) no colo até a ermida da Virgem do Monte - o filho seria sempre cansado. No seu relato, temos a certeza do pagamento de promessas subindo o lugar e que ainda se batizavam cristãos naquele templo.

[12] - As construções idealizadas por dom Francisco de Souza são semelhantes em tamanho do seu interior e posição das devoções, mas com o tempo receberam adereços distintos.

[13] – Eram usados para fabricar olhos nas imagens os ovos de pássaros pequenos que depois de vazios eram aproveitados inteiros ou cortados ao meio, depois de pintados recebiam uma camada de verniz ou pasta vítrea que acabaram recebendo o nome de “olhos de passarinho” tendo a característica de ser apenas uma esfera preta representando a íris sem a pupila que será representada a partir do final do século XVIII, havendo ainda uma predileção pelo molde antigo.

[14] - Iº Samuel cap.06 vers. 01/05 ”...Que oferta expiatória, perguntaram eles, devemos fazer?” Responderam: “Cinco tumores de ouro e cinco ratos de ouro, conforme o número dos príncipes dos filisteus, porque foi esta praga que vos feriu, a vós e vossos príncipes. Fazei, pois figuras de vossos tumores e figuras de ratos que devastavam a terra. Dai assim glória ao Deus de Israel...”

[15] - Ocorreu tal interferência em muitas igrejas de nossa região mesmo antes de 1745 quando o 1º bispo. d. Bernardo Rodrigues Nogueira, de São Paulo, ordenou a reforma ou reconstrução das igrejas de seu bispado, mas em 1650 na capela de Nossa Senhora do Desterro (atual Mosteiro de São Bento) a estrutura se tornou o presbitério, a nave foi aumentada e suas paredes elevadas para se adequar a uma igreja maior. As marcas foram mantidas pelos restauradores e podemos ver assim na parede do presbitério, aos fundos, a linha divisória que acusa a diferença de materiais usados na construção.

Consta no desenho Praça de Santos em 1765 assinalada com a letra I, Vila da Praça de Santos em 1775 assinalada com a letra F, Plano da Vila de Santos em 1798 identificada com o número 28 e continua com esse nome quando é cedida para a Santa Casa em 1835. Ali iniciou missão confiada pela rainha Santa Izabel de Portugal ao povo lusitano cristão no século XIV; quando governou, a capela foi aumentada e como tantas da nossa região a antiga estrutura se tornou o presbitério e uma nave foi construída aumentando a capacidade da frequência dos cristãos para as funções religiosas. tendo o nome mudado para Igreja de São Francisco de Paula muito tempo antes da Irmandade da Misericórdia ocupar o lugar.

O orago São Francisco de Paula nasceu na Itália na região da Calábria, em uma cidade com o nome Paula em 27 de março de 1416. Fundou a Ordem dos Mínimos aos 19 anos de idade com aprovação de Roma, inspirado nos beneditinos a cor preta do hábito em sua iconografia que também mostra a cor marrom terra com detalhes dos franciscanos.

Seu lema é Caritas, que seria o que viu escrito em um resplendor na aparição de São Miguel Arcanjo, além da humildade e penitência. Sua vida é marcada por milagres e fatos sobrenaturais de que nunca tirou proveito ou lucro. Foi vegetariano, sua ordem se dedicou ao socorro da pobreza, de forma a mostrar o caminho para se inserir na sociedade seja com auxílio médico, alimento na hora de maior necessidade ou instrução.

Entregou seu espírito em 2 de abril de 1507 em Tours, na França, sendo reconhecido com o título de santo (canonizado) em 1518 pelo papa Leão X. Em 1562, seu corpo incorrupto foi queimado pelos protestantes calvinistas segundo uma predição sua que afirmava para o convento de Plessis. onde estava inumado, que esse templo cristão seria destruído por infiéis e ainda fez profecias que serão alertas para nossos dias.

Era conhecido como o santo que prove as mesas e protetor dos provedores de irmandades e seus provedores como na Misericórdia.

[16] – Dizia o senhor Clóvis Benedito Farias de Almeida que a imagem não era muito grande e parecia de pedra pelo jeito como fora feita. Ficava em uma fonte ou bica que pertencia à Santa Casa, onde pessoas pegavam água por devoção ou para usar em casa. Essa imagem vai desaparecer com a mudança de endereço da Santa Casa para os lados do Jabaquara.

Realmente, o relato nos recorda a imagem de Santa Catarina de Alexandria do Outeiro que pela sua cor e talha recorda uma peça de barro e até pedra, ficando a dúvida se não seriam da mesma época. Quanto às imagens da Santa Casa, foram muitas delas vendidas em um leilão promovido por um provedor em que a própria Irmã Melíta lamentava que Santa Izabel, mãe de São João o Batista ter sido negociada com outras antiguidades da instituição.

[17] - Migraram da Ilha da Madeira da Freguesia de Quinta Grande no Conselho de Câmara de Lobos e ficaram conhecidos pelo comércio de ex-votos, os quais ofereciam em frente à sua casa.

[18] - Clóvis Farias Benedito de Almeida (falecido em 2015) observou os portugueses com um cabo de vassoura fazendo um furo na terra e plantando sementes de árvores, entre elas as jaqueiras, abilzeiros, mangueiras e abacateiros que ainda vemos alguns exemplares ali e que foram poupados da ocupação das casas de forma desordenada nas encostas. Ele também falou dos ilhéus fazendo muros de arrimo, usando pedras e terra à moda dos que existem em Portugal, como forma de segurar a terra e evitar desmoronamentos; também podemos ver exemplos ainda intactos devido à eficácia dessas construções.

[19] - Pesquisando nos livros de enterramento da Venerável Ordem Terceira de São Francisco da Penitência no Valongo, no livro tombo que abrange a data de 1850, me deparei com as mesmas faltando, o que não me permitiu descobrir o local exato da sepultura do senhor Antônio o nome e sobrenome seu e de sua mãe; talvez alguém que não queria que se envolvesse o nome da família devido aos costumes dessa época, pois um escândalo familiar levaria o nome deles à zombaria ou a perseguições com fofocas. Há também a possibilidade de a última pessoa que pesquisou antes de mim não querer que outros pesquisassem sobre o mesmo assunto.

[20] – Existe foto de Militão de Azevedo do colégio dos Jesuítas onde percebemos que a verga da porta é reta e existem paredes de sustentação laterais iguais as que encontramos na igreja de São Bartolomeu de Pontevedra, igualmente construída por Jesuítas.

[21] – O tímpano esculpido mostra a cena da adoração dos magos ao Menino Jesus no colo de sua mãe, no final dos anos 1960 e início dos 1970. Essas pedras ficavam ao lado do retábulo no chão do presbitério, encostadas na parede direita. Posteriormente foram inseridas na parede da nave nova, igualmente no lado direito, sendo que a porta foi reconstruída em linha reta e percebemos que um dia foi um arco com o tímpano esculpido. Essas reconstruções pelas Rias Baixas se deveram em parte à Guerra Civil Espanhola de 1936 a 1939, quando os comunistas, unidos aos anarquistas, destruíam as igrejas ou cruzeiros com explosões.

[22] – A Igreja de São Sebastião do Morro do Castelo passou por uma remodelação após 1808, que foi mantida até a demolição, conforme percebemos em várias fotos onde a porta principal da igreja era com um grande arco neoclássico ladeado por outros dois de menor tamanho e que estão em desacordo com a época da construção. Pela porta em verga reta, na lateral direita de quem olha o templo por fotos antigas, percebemos que houve uma remodelação que tirou suas primitivas linhas, percebidas por marcas na fachada acima das portas menores.

Os prédios ali existentes seriam demolidos totalmente em 1922, junto com suas casas, a igreja dos Jesuítas (semelhante a que existiu em Santos), seminário e demais prédios históricos com a e remoção de pedras e terra como podemos comprovar em fotos antigas. Curiosamente, vão encontrar um túnel semelhante ao que existe em nossa cidade, conhecido como Buraco ou Túnel do Mestre Bartolomeu no Monte Serrat de Santos e que no Rio de Janeiro causou muita curiosidade do público, visto que foi totalmente arrasado junto com o morro que o encobriu. Já o nosso aguarda o dia de ser revelado onde o encontraram em 1928.

BIBLIOGRAFIA

ÁLVARO, Guilherme – A Campanha Sanitária de Santos - 1919
ANCHIETA, Padre – Cartas de José de Anchieta 1554-1594 – Civilização Brasileira - Rio de Janeiro - 1933 – pág. 301.
AREIAS, Armando – Portugal – Crónica A descoberta do Brasil - 1998 – Ano10 - Nº 95 – pág. 09 - Jan/Fev.
BARBOSA, Gino Caldatto - Santos e seus Arrabaldes - fotos do álbum de Militão Augusto de Azevedo - Magma Cultural e Editora Ltda. - 2004
CYMBALISTA, Renato – Martírios e Massacres - Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade de Campinas, Brasil. Bolsista FAPESP.
COARACY, Vivaldo – Memórias da Cidade do Rio de Janeiro – Livraria José Olympio Editora - 1965 – vol.03.
CORDEIRO, José Pedro Leite – Braz Cubas e a Capitania de São Vicente – 1951 – São Paulo – Do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo e do Pen Club - págs. 34
FRANCO, Jaime - Santos Noutros Tempos - 1953 -. Págs. 226/227
FRANCO, Jaime - História da Igreja do Rosário de Santos – Jornal A Tribuna e Editora Ltda. - Coordenada por Jaime Franco – 1973 – pág.100.
GASPAR da Madre de Deus, Frei - Memória para a Capitania de São Vicente -Typografia da Academia Lisboa - 1797 – pág. 47.
HUE, Sheila Moura – As incríveis aventuras e estranhos infortúnios de Anthony Knivet – Jorge Zahar Editora Ltda. -2008 – págs. 39/48.
PIMENTEL Mendes, Carlos – Site Novo Milênio – 2000.
SOBRINHO, Costa Silva – Santos Noutros Tempos - 1953
SOUSA, Alberto – Os Andradas – 1922 – Tomo Iº
VARAZZE, Jacopo de - Legenda Áurea vida dos Santos – Companhia das Letras - 2003.
VILADARGA, José Carlos – São Paulo na órbita do império dos Felipes: Conexões castelhanas de uma vila da América portuguesa durante a União Ibérica (1580-1640) – São Paulo - 2010 – pág. 67/68.
Museu de Arte Sacra de Santos.
Hemeroteca do Jornal A Tribuna de Santos.
Jornais Cidade de Santos referentes aos períodos das festas.
Hemeroteca do Centro Municipal de Cultura/Teatro Municipal de Santos.
Jornais A Tribuna referentes ao período das festas.
Matéria do Jornal A Tribuna em 3 de junho de 1982 Conheça seu bairro.
Matéria do Jornal A Tribuna em 26 de janeiro de 1939.
Pesquisa com famílias que estão ligadas ao morro ou o frequentavam.
Pesquisas de campo.

Leva para a página seguinte da série