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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - MONTE SERRAT
O desabamento de 1928 - A

"Horrorosa catástrofe..."
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O grande desmoronamento da encosta do Monte Serrate em 1928 foi registrado na imprensa do dia seguinte, como nesta matéria publicada em 11 de março de 1928 pelo jornal santista A Tribuna (grafia atualizada nesta transcrição):
 


Primeira página do jornal A Tribuna de 11 de março de 1928
Reprodução - exemplar no acervo da Hemeroteca Municipal de Santos

Horrorosa catástrofe enluta a Cidade

O Monte Serrat, despejando terra e pedras que aluíram tremendamente, sepultou com inaudita violência centenas de pessoas e arrasou dezenas de casas

A catástrofe de ontem constituirá a página mais dolorosa na história da vida de Santos - Protegida por uma grande muralha, a Santa Casa não foi destruída, sofrendo embora vultosos prejuízos

Excepcionais medidas adotadas pelos poderes públicos - Mortos e feridos - Serão hoje sepultadas numerosas vítimas na necrópole do Saboó - O serviço de desentulho - O policiamento e a multidão

===== Outras informações =====

... e terra, e árvores, e blocos, e pedras, e casas, e matacões, e o mole informe, e a amorfa avalanche, ruiu, rodou, rolou, num rouco arrasar, de ruinaria...

Depois, a ampla chaga, escancarada e sangrenta ao peito da montanha!

O desabamento duma fatalidade! Lá em cima a ermidinha branca pousada como numa pomba, ao arrepio do vôo; lá dentro a Senhora, entre as palpitações votivas das velas; cá em baixo, a imensa, inesperada sepultura com o mausoléu tão alto, tão grande, tão pesado, como se aprofundasse ainda mais a própria morte.

Ali onde ontem ainda, pascia à lombada da montanha, a tranqüilidade dos ranchos ingênuos, entre tinhorões vigosos e ambições humildes; aqui onde se aconchegavam as casas da travessa da Misericórdia, entre sorrisos de crianças, o convívio das famílias e as compensações do trabalho; acolá, fundos da Santa Casa, onde eram enfermarias, e salas, e dependências, entre esperanças de enfermos e solicitude dos bons; tudo isso que era a vida porque era a luta, tudo isso que era destino porque era o inesperado, tudo isso que eram fragilidades das coisas porque eram convicções de homens, tudo isso mergulhou entre trevas, desfez-se em estilhaços, desarticulou-se em escombros.

A chaga da montanha é um remorso sangrando!

Nunca a nossa cidade sentiu comoção maior, nem sofreu tanto e tão solidariamente a extensão duma desgraça.

O abalo percutiu, sismicamente, pela capital, pelo Estado todo, pela nação inteira!

Dor! Que valem palavras aos teus pés eternos?

Santos veste desde ontem o seu luto maior! A tarja das nossas linhas vale pelo comovido, pelo angustiado silêncio do nosso cr___e! [N.E.: crente? original ilegível por falha de impressão].

Se é verdade que as grandes emoções são mudas, só um enorme silêncio poderia traduzir a mágoa imensa, profunda, irremediável, que nesta hora torva confrange, alanceia e enluta a alma da população santista.

Mas, diante da catástrofe que, desde as primeiras horas de ontem, se desenha com toda a sua brutal realidade, aos olhos atônitos dos que aqui vivem, não é possível abafar-se o grito de angústia que deixam escapar todos os seres dotados dos mais comezinhos sentimentos de humanidade.

O sinistro que ontem encheu de luto centenas de famílias na sua maioria pobres, vivendo do trabalho honesto, é dos que, pelas suas desmedidas proporções, roçam pelos domínios da fantasia. É difícil imaginar-se todo o horror da gigantesca massa de terra, destacada por efeito duma violenta erosão do flanco desprotegido do morro, desabando irresistivelmente, numa alude pavorosa, sobre as frágeis construções, cocheiras e instalações hospitalares existentes no sopé.

O desmoronamento daquela incomensurável mole de barro e blocos de pedras, tombando duma altura vertiginosa, na escuridão da noite, em meio ao fragor da queda e ao alarido das vítimas surpreendidas no leito em que dormiam, assume as proporções duma tremenda, duma inolvidável catástrofe, que, pela extensão dos seus terríveis efeitos, vai repercutir pelo país inteiro. Não há palavras bastante eloqüentes para descrever a onda de tristeza que empolgou, como um negro véu envolvente, o coração do povo santista, ao testemunhar o espetáculo das numerosas vidas sacrificadas tão cruelmente, sem que ao menos se pudesse alimentar a mais tênue esperança de as arrancar às garras duma horrível morte.

Era da mais penosa desolação a atitude da grande multidão, que ontem se manteve o dia inteiro defronte do local em que ocorreu a tragédia mais emocionante aqui verificada neste quarto de século. Impotentes, diante do fato consumado, todos se manifestavam solidários em deplorar a desgraça comum e, ao mesmo tempo, demonstravam o mais vivo sentimento de piedade pelos que foram atingidos pela catástrofe.

Em toda a pungente impressão que o fulminante desastre deixou, o aspecto mais doloroso foi, sem dúvida, o da perda de vidas e de material, que se registrou na Santa Casa de Misericórdia, a benemérita instituição hospitalar a que Santos deve a sua mais gloriosa tradição de cidade eminentemente caritativa. Esta circunstância emprestou ao sinistro a gravidade dum golpe do destino que dificilmente será reparado.

Felizmente, para erguer bem alto o nome impoluto de Santos, terra de benfeitores, não faltou, logo após ser conhecido o sinistro, a abnegação solícita dos que se congregaram para o serviço de salvamento, homens de todas as idades e de todas as condições sociais, operários, engenheiros, médicos, rapazes dos Tiros, enfermeiros, irmanados no mesmo afã de trabalhar em benefício dos que sofreram o pavoroso revés.

E atrás desses devoltados salvadores, que prestaram o seu inestimável auxílio material, formou a ala não menos altruísta dos subscritores de listas para acudir aos que ficaram sem teto, no desconforto duma calamidade sem par.

A causa da grande catástrofe - A causa da grande catástrofe é atribuída às últimas e copiosas chuvas que têm caído sobre a cidade.

Há dias que se notavam naquela parte do Monte Serrate pequenas fendas, pelas quais corriam fios de água.

Justamente apreensivo, o sr. Zico Borges, sócio da firma Domingues Pinto e C., dirigiu-se à Prefeitura Municipal, fazendo sentir ao sr. prefeito a necessidade de uma vistoria.

O sr. Benedicto Pinheiro, tomando na devida conta a alegação daquele cavalheiro, determinou à Diretoria de Obras e Viação as necessárias providências para que dita vistoria fosse realizada.

Assim, estiveram, anteontem, naquela parte do Monte Serrate, os srs. dr. Octávio Ribeiro de Mendonça, engenheiro diretor de Obras; dr. Dalberto de Moura Ribeiro, sócio da firma aludida, e Octávio Ribeiro de Araújo, da firma O. Araújo e C. Ltd. Essa comissão percorreu detidamente o Monte Serrate, verificando, de fato, a existência das fendas e concluindo pela existência de perigo, sem contudo poder precisar fosse ele verificado no dia seguinte!

Acordadas as providências a tomar, ficou estabelecida a construção de valas no alto da parte desmoronada, para o desvio das águas pluviais, e construção de muradas na parte térrea, próximo à encosta do morro.

Outrossim, os aludidos engenheiros eram de opinião que se aconselhasse a mudança das pessoas residentes nas imediações, pois que, em conseqüência das sucessivas chuvas, de momento para outro, qualquer enxurrada mais forte poderia ocasionar a queda de barreiras.

Essas foram as conclusões a que chegou dita comissão, que ia desde logo pôr em execução as medidas.

Estava, porém, escrito que o desastre seria irremediável. Assim quis a Fatalidade!

Mesmo que qualquer medida fosse tomada, sem ao menos dar tempo a que se fizesse remover os habitantes das proximidades, uma enorme e incalculável quantidade de terra desaba, no dia seguinte ao da vistoria, ceifando dezenas de vidas e produzindo incalculáveis prejuízos.

Era de esperar que houvesse corrida de barreira, como das vezes anteriores; mas o que sucedeu foi justamente o contrário: o desmoronamento completo de uma grande parte daquele morro, em virtude das infiltrações das águas, até encontrarem estas a resistência na base. Em conseqüência, o enorme volume de terra tombou pesadamente, em um só bloco, soterrando 7 habitações na travessa da Santa Casa; 7 outras habitações coletivas situadas na área de propriedade do sr. Manuel Domingues Pinto; a fábrica de ladrilhos da firma Domingues Pinto e C., e atingindo os necrotérios da Santa Casa e parte do seu edifício.


A parte desabada do Monte Serrat, que soterrou as casinholas levantadas entre a Santa Casa e a Rua de São Francisco, pode ser vista no clichê acima. Por ele se pode avaliar, com segurança, a massa de terra deslocada e a altura de que ela se deslocou
Foto publicada com a matéria

A quem pertencia a parte desabada - A parte do Monte Serrate que desabou pertence à firma Domingues Pinto e C., que explorava ali uma pedreira e o serviço de aterro.

A Santa Casa de Misericórdia possui também uma pequena parte do morro.

É esta a terceira vez que se registra ali desmoronamento - O local onde se deu o pavoroso desastre de ontem, sempre serviu de caminho para acesso ao Jabaquara. Por ali passavam as pessoas residentes no Monte Serrate e morro do Fontana, cuja união de terra formava uma garganta.

Em 1898 registrou-se o primeiro desmoronamento ali, aliás de pequenas proporções. Não houve desastres pessoais, ficando o desastre somente no dano material.

O segundo desmoronamento foi em 1920, em conseqüência também de grandes chuvas, muito sofrendo a serraria dos srs. Domingues Pinto e C., que tiveram prejuízos no valor de 100 contos de réis.

Por essa ocasião foram sacrificados diversos muares, nenhum acidente pessoal, entretanto, se registrando.

A Santa Casa de Misericórdia, no intuito de proteger a parte do hospital com frente para o Monte Serrate, fez construir ali, há anos, uma grande muralha de perda, de grandes dimensões, cuja obra foi sempre considerada de grande resistência.

O terceiro desmoronamento, e este de proporções funestíssimas, foi o de ontem.

Disse-nos um dos engenheiros que dirigem o serviço de desentulho que, se não fosse a resistência oposta pela grande muralha mandada construir pela Santa Casa, e a resistência encontrada nas casas soterradas, afinal, pelo grande volume de terra, o desastre seria de maiores proporções, pois atingiria até a rua de S. Francisco!

As providências da Prefeitura Municipal - O sr. Benedicto Pinheiro, cientificado da dolorosa ocorrência, compareceu prontamente ao local, determinando todas as providências necessárias para serem prestados os necessários socorros e ser feito o serviço de desentulho.

Assim é que daí a pouco compareciam ao local o Corpo de Bombeiros, todos os trabalhadores da Diretoria de Obras e Viação, turmas de operários da Limpeza Pública, cujo pessoal era dirigido pelos respectivos chefes.

Compreendendo a gravidade da grande catástrofe, todas as empresas da cidade e particulares ofereceram imediatamente o seu auxílio à Prefeitura, concorrendo com inúmeros caminhões, pessoal etc., para o penoso serviço de remoção dos escombros.

Daí a momentos, uma infinidade de operários da Prefeitura, da Repartição de Saneamento, Delegacia de Saúde, São Paulo Railway, Companhia Docas, Companhia União dos Transportes, Companhia City, Companhia Antarctica Paulista, de Severo Conde y Conde, A. Carvalho e Irmão, João Esteves Martins, José dos Santos Sobrinho, de outras empresas e particulares, atacaram o serviço, encontrando sepultadas sob os escombros as infelizes vítimas da tremenda catástrofe - a maior até hoje registrada em Santos.

As providências da Santa Casa - A Mesa Administrativa da Santa Casa de Misericórdia e todo o seu pessoal providenciaram imediatamente para o abrigo dos enfermos existentes nas enfermarias atingidas pela catástrofe, tomando outras medidas tendentes a prestar todo o seu concurso e auxílio na difícil emergência.

Estiveram imediatamente naquela benemérita instituição de caridade, dirigindo os trabalhos, os srs. Alberto Baccarat, comendador Augusto Marinangeli, respectivamente provedor e tesoureiro, e o sr. Arthur Alves Firmino, mordomo geral.

Compareceram, outrossim, naquele hospital, os srs. senador A. S. Azevedo Júnior, Benjamim Mendonça, e outros dirigentes, assim como o sr. d. José Maria Parreira Lara, bispo de Santos; Frederico Whitaker Júnior, dr. Albertino Moreira, vereador.

As providências policiais - A contribuição das linhas de tiro e do Exército - Um serviço dificílimo foi o do policiamento, pois avultado era o número de curiosos que queriam aproximar-se do local da catástrofe. Mesmo assim, o serviço esteve regularmente organizado, sendo superintendido pessoalmente pelo sr. dr. Armando Ferreira da Rosa, delegado regional.

Prestaram seu auxílio contribuindo eficazmente para a boa ordem dos trabalhos, os srs. dr. Manuel Vieira de Campos, delegado de polícia da 2ª circunscrição; dr. Ernesto Jordão de Magalhães, delegado da 1ª circunscrição; dr. Gilberto de Andrade e Silva, comissário de Polícia; dr. Francisco Teixeira da Silva Júnior, subdelegado, e todos os suplentes da delegacia Central, Vila Mathias e da de Vila Macuco, assim como os subdelegados Laércio Azevedo e Custódio de Carvalho.

As autoridades civis foram auxiliadas pelo comandante do destacamento de polícia, oficiais e outros militares do Exército e da Armada.

Os dignos rapazes do Tiro Naval, do Tiro n. 11 e do Tiro n. 598, acudindo ao apelo das respectivas diretorias, apresentaram-se imediatamente uniformizados, prestando valiosa contribuição às autoridades policiais. O Tiro Naval forneceu durante o dia 50 atiradores e durante a noite o policiamento foi feito por 150 atiradores.

Os grilos (N.E.: policiais de trânsito, assim conhecidos por seus apitos) foram destacados para dirigir e fiscalizar o serviço de veículos especialmente empregados no transporte de aterro.

Forças que chegaram da capital - Logo que foi divulgada em S. Paulo a notícia da horrível catástrofe, as autoridades policiais dali, de acordo com as requisições feitas pelo sr. delegado regional de Santos, tomaram providências a fim de enviar as forças necessárias para auxiliar o desentulho e o policiamento.

Assim, às 15 horas, chegaram a esta cidade, em automóveis, pela estrada de rodagem, 50 bombeiros sapadores, sob o comando de 1 segundo-tentente, os quais entraram logo em serviço.

À noite chegaram 50 praças de infantaria e 120 recrutas do Batalhão Escola, embarcados em caminhões da Comissão de Abastecimento, a fim de auxiliar o policiamento.

O diretor da Reserva Naval no local - Compareceu ao local do grande sinistro o sr. capitão-de-fragata Américo Ferraz e Castro, capitão do Porto e diretor da Reserva Naval do Estado, que pessoalmente dirigiu os trabalhos de distribuição dos reservistas navais, tomando outras providências a respeito, de acordo com o sr. delegado regional.

O diretor do Serviço Sanitário do Estado permanecerá em Santos - Em automóvel chegou ontem, também, pela manhã, o sr. dr. Valdomiro de Oliveira, diretor do Serviço Sanitário, que ordenou diversas providências no sentido de evitar a propagação de qualquer mal em virtude da exumação dos cadáveres, visto como esse serviço não ficará concluído em menos de uma semana, tal a quantidade de terra a remover.

O sr. presidente do Estado e secretários do governo chegam a Santos - Logo após a tremenda catástrofe, a mesa administrativa da Santa Casa telegrafou aos srs. presidentes da República e do Estado, dando conhecimento a suas exas. do ocorrido.

Simultaneamente, o sr. delegado regional de polícia e outras autoridades locais comunicaram-se com o dr. Júlio Prestes e secretários do governo, no mesmo sentido.

Imediatamente o sr. presidente do Estado, acompanhado dos srs. dr. José de Oliveira Barros, secretário da Viação; dr. Fernando Costa, secretário da Agricultura, e respectivos ajudantes de ordens, e do sr. dr. Mário Bastos Cruz, chefe de Polícia, dirigiu-se para esta cidade.

O sr. presidente Júlio Prestes e sua comitiva chegaram a Santos às 13 horas, dirigindo-se imediatamente para a Santa Casa, de onde examinaram o local sinistrado, obtendo desoladora impressão do grande desastre. Estiveram também naquele local, em companhia de s.s. exas., os srs. Belmiro Ribeiro, dr. Roberto Simonsen, dr. Alberto Cintra e dr. Renato Pinto, membros do diretório governista.

O sr. presidente do Estado, em pessoa, determinou a adoção de providências diversas, de modo que da capital fossem enviados para Santos todos os recursos necessários a fim de serem conjugados com os da cidade.

Daquele hospital, o sr. presidente do Estado e comitiva dirigiram-se para o cemitério do Saboó, visitando ali, naquela necrópole, o respectivo necrotério, para onde têm sido removidos os cadáveres tirados de sob os escombros.

Em seguida, s. exa. regressou à cidade, dirigindo-se à Delegacia Regional de Polícia, onde, conjuntamente com os secretários de governo, foram concertadas diversas medidas.

Às 16 horas, o sr. presidente do Estado, secretários de governo e chefe de Polícia, regressaram à capital, em automóvel.

Outras autoridades no local - No local do sinistro permaneceram durante todo o dia de ontem, até altas horas da noite, os srs. Benedicto Pinheiro, vice-prefeito, em exercício; senador A. S. Azevedo Júnior, dr. José Luís Gonçalves de Oliveira, chefe da repartição de Saneamento; dr. J. Martins Fontes, delegado de Saúde; dr. Armando Ferreira da Rosa, delegado regional; dr. Vieira de Campos, delegado da 2ª circunscrição; dr. Jordão de Magalhães, delegado da 1ª circunscrição; dr. Gilberto de Andrada e Silva, comissário de polícia; engenheiros da Cia. Docas; dr. Bernardo Browne, gerente da Cia. City e diversos engenheiros; engenheiros da S. Paulo Railway e da Cia. União de Transportes; engenheiros da Prefeitura e da Repartição de Saneamento; Antonio Pereira Franco, chefe da 2ª seção da Prefeitura; major Pedroso de Oliveira, comandante do Corpo de Bombeiros etc.

Compareceram, também, ao local, os srs. dr. J. De Sousa Dantas, prefeito municipal, que seguiu para ali logo após desembarcar na gare da Inglesa, de seu regresso a Caxambu; dr. Ibrahim Nobre, delegado da Ordem Política e Social da capital; diversos médicos da Assistência Policial de S. Paulo; médicos legistas da Polícia, drs. Santos Silva e Roberto Catunda; capitão do Porto, comandante Ferraz e Castro; comendador João Manoel Alfaya Rodrigues, presidente da Câmara Municipal.

A afluência foi numerosíssima, sendo impossível à reportagem anotar o nome de todas as autoridades civis e militares, chefes de firmas, gerentes de empresas, pessoas gradas etc. que ali compareceram, prestando cada qual o seu concurso e auxiliando eficazmente a ação das autoridades.

Da capital vieram inúmeros jornalistas, fotógrafos e operadores cinematográficos, tirando diversos aspectos da horrível catástrofe.

A enorme quantidade de terra desabada - A grande quantidade de terra desabada é calculada pelos técnicos em cento e trinta mil metros cúbicos, ou seja cerca de 130.000 toneladas.

Mesmo empregando-se no serviço 1.000 operários, num trabalho diurno e noturno, e revezando-se esse pessoal, o desentulho de todos os prédios soterrados, desde o de n. 13 até o de n. 25 - sete prédios - levará pelo menos seis dias.

A parte restante não será removida em seis meses.

A Prefeitura combinou com a Cia. City a demolição do prédio n. 11, também atingido em parte pela catástrofe, a fim de facilitar a retirada do entulho, pois o local dificulta o serviço de condução pela sua pequena dimensão.

Além da travessa da Santa Casa, a terra está também sendo retirada pelo lado da entrada principal da firma Domingues Pinto e Cia., à Rua S. Francisco.

O número de operários em serviço durante esta noite até a madrugada de hoje - À noite, todos os operários que trabalhavam ali, desde manhã, foram descansar, sendo os mesmos substituídos por novas turmas especificamente enviadas pela S. Paulo Railway, Cia. City e Cia. Construtora.

A Inglesa forneceu 300 operários; a City, 100, e a Construtora, 50, além de outros enviados por diversas empresas e particulares, num total de 600 homens.

O serviço de transporte continua a ser feito pelos mesmos caminhões, guarnecidos por novos choferes.

Os serviços de hoje - Os trabalhos prosseguirão hoje, ativamente, devendo ser empregados ali 300 operários da Companhia Docas, 100 da S. Paulo Railway, 120 da Prefeitura, 50 da Companhia City, 100 de Severo Conde y Conde, e 60 do sr. Santos Sobrinho.

Da capital chegaram 200 operários da Companhia Construtora, empregados na Comissão de Obras Novas.

Além desse pessoal, a poderosa empresa fez enviar para esta cidade uma cavadeira mecânica e 20 auto-caminhões, que entrarão em serviço logo pela manhã.

O número de operários hoje ultrapassará, pois, de 1.000 homens, e o número de veículos atingirá a 200, pois que o governo do Estado determinou a vinda a Santos de 50 auto-caminhões para o mesmo fim.

Todo o pessoal operário da Prefeitura, assim como todos os auto-caminhões e o Corpo de Bombeiros estão empregados no mesmo serviço, dirigidos pessoalmente pelo sr. vice-prefeito em exercício.

Os grandes prejuízos da Santa Casa - A Santa Casa de Misericórdia sofreu avultado prejuízo com a grande catástrofe.

Foram soterrados os dois necrotérios, sendo que um deles, recentemente construído, foi feito especialmente para os irmãos daquele hospital.

A sala de cirurgia foi completamente destruída, assim como as que lhe ficavam contíguas. Parte da cozinha ruiu, sendo também consideráveis os estragos feitos ali.

Avaliam-se os prejuízos materiais em cerca de 1.100 contos de réis, pois somente a sala de cirurgia importava em 200 contos, inclusive todo o material.

A terra atingiu também parte das enfermarias, inutilizando o assoalho, o teto e as paredes laterais.

Os enfermos que aí se achavam internados foram removidos incontinenti para o hospital da Sociedade Portuguesa de Beneficência e para o Asilo de Inválidos, postos à disposição daquele estabelecimento de caridade, pelas respectivas diretorias.

Para esse fim, estiveram na Santa Casa, conferenciando, também, com as autoridades competentes, os srs. Aristides Corrêa da Cunha, e Carlos Caldeira, respectivamente presidentes daquelas instituições.

A ação de diversas instituições de caridade - Salientaram-se no oferecimento de todos os recursos e de outras providências, diversas instituições de caridade de Santos, dentre as quais releva citar a Cruz Vermelha Brasileira, Sociedade Portuguesa de Beneficência, o Hospital S. José, de S. Vicente, o Asilo de Órfãos, a Associação Creche Asilo Anália Franco, a Associação Beneficente dos Empregados na Companhia Docas, o Asilo de Inválidos e outras.

As instituições que possuem ambulâncias e macas, puseram os respectivos veículos e materiais à disposição da Santa Casa e das autoridades do Município, auxiliando eficazmente o serviço de remoção de enfermos e cadáveres.

Além dessas ambulâncias, entraram em serviço ativo e constante as ambulâncias da Prefeitura, e todo o material rodante da Delegacia de Saúde e da Delegacia de Polícia.

As manifestações de pesar - Inúmeras e incontáveis são as manifestações de pesar pela horrível catástrofe.

Todo o comércio, em geral, hasteou em funeral diversos pavilhões, assim como todas as repartições públicas federais, estaduais e municipais.

A população de Santos, em peso, sofre um pesar profundo pelo lamentável acontecimento.

Os srs. Presidente da Câmara e prefeito municipal têm recebido inúmeros telegramas e ofícios de pêsames. Os chefes dos poderes municipais determinaram o encerramento do expediente antes da hora regulamentar, empregando todo o pessoal disponível no serviço.

O sr. dr. Álvaro Augusto de Carvalho Aranha, juiz de direito da 2ª vara, ao ter conhecimento da triste ocorrência, fez inserir no protocolo um voto do mais profundo pesar, mandando hastear em funeral o pavilhão nacional.

A Santa Casa de Misericórdia tem recebido, igualmente, manifestações de pesar, assim como diversas outras autoridades.

Os clubes e instituições religiosas, beneficentes, instrutivas e esportivas, hastearam também em funeral os respectivos pavilhões.

Todos os cinemas e teatros da cidade e arrabaldes deixaram de funcionar, cerrando suas portas.

Em todas as fisionomias nota-se o grande pesar causado pelo maior desastre até hoje verificado em Santos.

Um verdadeiro exército de salvação – É digno dos maiores encômios o gesto filantrópico e humanitário de todas as instituições de caridade, de empresas particulares, do comércio, de pessoas em geral, que, num decidido apoio às autoridades do município, acorreram imediatamente ao local do sinistro, oferecendo seus préstimos e pondo à disposição das mesmas todos os recursos de que podiam dispor.

Está também neste caso um grupo de auxiliares do nosso alto comércio, que dirigiu ao dr. Ferreira da Rosa um oferecimento para a realização de qualquer serviço, inclusive o de dirigir auto-caminhões.

Esses denodados moços são os srs.:
Clovis Lima, Roberto Sousa Queiroz, Tarquínio Ferreira da Silva, Agenor de Sousa, João de Mesquita, Christalino Mesquita, Armando Donease, João Montes, Benedicto Siqueira, Alcides Salles, José Marques de Paiva, Pedro Gonçalves, Paulo Ruiz, Cassiano Teixeira, Mário Bott, José Gesse, Eliseu Penteado, Benedicto Ribeiro Carvalho, Edmundo Fortunato, Nestor Aratangy, Alfredo Teixeira, David Medeiros, Nelson Salles Pupo, Dacio Matheus, Homero Faria, dr. Raphael Sampaio Filho, José Alexandrino Oliveira, Luiz Baroni, Giney Yonamine, José Alonso, Iga Manchu, Ernesto Stock, Paulo Suplicy, América Neves, Américo Fraga Moreira, Fausto Santos Filho, Walter Faria, Oswaldo Faria, Benedicto Pinto de Almeida, Thom Simonsen, Nabor Silva, Aguinaldo Morgado, Norival Cerqueira, Francisco Bonilha de Godoy, João de Abreu Filho, Agrippino Silveira, Francisco Silveira, João L. Wright, Octavio Barreto Prado, Gastão Guerra, João Dias, Araken Patusca, José Gaspar Filho, Carlos Carril dos Santos, Olavo Sampaio Filho, Paulo Arruda, Velsirio Fontes, Mauro Conceição, Benedicto Ferraz de Arruda, Sebastião de Castro, Álvaro Carvalhaes, Nevio Fagundes, João Azevedo, Athié Coury, Júlio Tavares, Heródoto  Santos Filho, Hermes e Horácio Santos Silva.

A Associação Comercial oficia ao sr. delegado regional – A Associação Comercial de Santos enviou ao dr. Armando Ferreira da Rosa o seguinte ofício:

"N. 506 – Exmo. sr. dr. Armando Ferreira da Rosa, m.d. delegado regional de polícia – Nesta

"Prezado sr.

"Tendo a diretoria desta Associação, por duas vezes, procurado entender-se pessoalmente com v. Exa., hoje cedo, a fim de lhe oferecer o concurso dos seus modestos préstimos para o serviço de salvamento das vítimas do tremendo desastre ocorrido com o desabamento de uma parte do Monte Serrate, e não tendo sido possível tal entendimento em virtude de se achar v. exa. ocupadíssimo  no local do desastre, em ponto inacessível aos particulares, vimos tornar efetiva a oferta da nossa cooperação nesse sentido, podendo a mesma consistir no fornecimento de pessoal para desentulho, de caminhões para o transporte de aterro, de um hospital a ser improvisado e mesmo de recursos pecuniários que pretendemos levantar por meio de subscrição pública, em favor dos atingidos pela medonha catástrofe. Digne-se v. exa. dispor francamente do nosso concurso na presente emergência, e aceitar os nossos protestos de estima e elevada consideração.

"(aa.) Frederico Junqueira, vice-presidente; Adalberto Leme Ferreira, 1º secretário".


Ao chegar à Santa Casa de Misericórdia, também atingida pelo desmoronamento do Monte Serrat, o sr. dr. Júlio Prestes, presidente do Estado, deixou-se fotografar, em companhia do sr. secretário da Agricultura, chefe de polícia, dr. Armando Ferreira da Rosa, delegado regional, e de diversas pessoas gradas desta cidade
Foto publicada com a matéria

A comunicação da catástrofe aos srs. Presidente da República e presidente do Estado – Eis o inteiro teor dos telegramas que o sr. Provedor da Santa Casa dirigiu aos srs. dr. Washington Luís e dr. Júlio Prestes, comunicando a suas exas. a catástrofe, consoante nos referimos:

"Ao exmo. sr. dr. Washington Luís - DD. Presidente da República - Palácio do Catete - Rio - Urgente.

Cumpro o doloroso dever de levar ao conhecimento de v. exa. que hoje,  às 5 horas da manhã, deu-se um grande desabamento da parte do Monte Serrat, causando sérios prejuízos ao Hospital desta Santa Casa, que além de enormes danos materiais teve a lamentar a morte de dois enfermos e vários feridos. A enorme massa de terra e pedras deslocadas atingiu inúmeras casas de residência, soterrando-as por completo, ocasionando a morte de mais de uma centena de pessoas, pelos cálculos que se fazem no momento, tendo sido retirados dos escombros vários cadáveres, com grandes dificuldades. Uma turma de mais de trezentos homens, fornecidos pela Prefeitura Municipal, Companhia Docas de Santos, Repartição do Saneamento, Delegacia e particulares, trabalham ativamente no desentulho que, provavelmente, durará alguns dias. - Respeitosas saudações – Alberto Baccarat – Provedor da Santa Casa".

"Exmo. sr. dr. Júlio Prestes - DD. Presidente do Estado de São Paulo - São Paulo.

Cumpro o doloroso dever de comunicar a v. exa. que, às 5 horas da manhã de hoje, deu-se o desabamento de uma parte do Monte Serrat, danificando grandemente o Hospital desta Santa Casa de Misericórdia, que, além de enormes prejuízos materiais, teve dois enfermos mortos e muitos feridos. A formidável massa de terra deslocada soterrou inúmeras casas de residência nas cercanias deste hospital, ocasionando a perda de mais de uma centena de vidas, pelo cálculo que se faz no momento que estão sendo retirados dos escombros com enormes dificuldades. Mais de trezentos homens, fornecidos pela Prefeitura Municipal, Companhia Docas, Repartição do Saneamento, Delegacia de Saúde e particulares, trabalham ativamente no desentulho, que, provavelmente, durará alguns dias. - Respeitosas saudações – Alberto Baccarat – Provedor da Santa Casa".

O sr. Prefeito municipal mandou vistoriar os morros e o edifício da Santa Casa - O sr. Benedicto Pinheiro, vice-prefeito, em exercício, houve por bem mandar vistoriar o Monte Serrate, por uma comissão especial de engenheiros, assim como o edifício da Santa Casa, para dizerem sobre a segurança que a parte daquele Monte e o edifício oferecem.

Nesse sentido, o chefe do Executivo entendeu-se com o sr. Alberto Baccarat, provedor da Santa Casa, sendo convidados para comporem a comissão técnica os srs. dr. José Luís Gonçalves de Oliveira, dr. Octavio Ribeiro de Mendonça, dr. Aristides Bastos Machado e o dr. Gomide Ribeiro dos Santos.

Eis o ofício que foi dirigido aos referidos engenheiros:

"Santos, 10 de março de 1928 - Illmos. e exmos. srs.:

"Os abaixo assinados, prefeito municipal e provedor desta Santa Casa, havendo verificado a extensão do desastre em conseqüência ao desmoronamento do morro adjacente a este hospital, que o danificou em boa parte e também várias casas de residências particulares onde pereceram inúmeras pessoas, antevendo o sério perigo que ameaça a seguridade do prédio deste hospital, resolveram nomear uma comissão composta de v. excias. a fim de procederem uma vistoria no prédio desta Santa Casa e ao mesmo tempo verificarem o morro na parte sujeita a novo desmoronamento, a fim de dizerem da sua seguridade e as providências aconselháveis no caso.

"Na certeza de que vs. exas. não deixarão de prestar este valioso auxílio a esta Santa Casa e à pobreza desamparada, antecipamos os nossos sinceros agradecimentos, servindo-nos do ensejo para testemunhar-lhes o nosso apreço e alta consideração. - Deus guarde a vs. exas.

"Aos exmos. srs. drs. José Luís Gonçalves de Oliveira, Octavio Ribeiro de Mendonça, Aristides Bastos Machado e A. Gomide Ribeiro dos Santos. - Nesta.

"Prefeito municipal, Benedicto Pinheiro; provedor da Santa Casa, Alberto Baccarat".

Um gesto de grande nobreza - Subscrição a favor da Santa Casa - Logo que a população santista começou a sentir o vulto da tremenda catástrofe, inúmeras foram as pessoas que se prontificaram a contribuir pecuniariamente para auxiliar, nesta grave emergência, a Santa Casa de Misericórdia, já pelo socorro decidido e franco que está prestando às vítimas, já pelos grandes prejuízos que sofreu materialmente e que vêm colocar aquele estabelecimento numa situação difícil de desempenhar-se de seus nobres fins.

Felizmente, o generoso comércio e toda a coletividade santista deu ainda uma vez, e esta mais particularmente grata a Santos, uma solene e expressiva demonstração de sua generosidade.

O sr. Francisco da Costa Pires tomou a si a iniciativa de angariar donativos para a Santa Casa. E a nobre missão do benemérito cavalheiro foi coroada no seu primeiro passo de um grande êxito, pois s.s. encontrou logo o decidido e franco apoio das mais respeitáveis firmas comerciais da cidade, que assinaram na subscrição elevadas quantias.

É um gesto que vem recomendar à gratidão da população de Santos, não só o nome do sr. Francisco da Costa Pires, como de todos aqueles que contribuíram com o seu auxílio valioso, neste momento de angústia e de sofrimento.

Pelo resultado obtido, pode-se antever que a subscrição a favor da Santa Casa ultrapassará da quantia de quinhentos contos de réis.

E esse auxílio diminuirá o grande prejuízo sofrido pela Santa Casa, o qual monta a quantia superior a mil contos de réis.

A subscrição aberta pelo benemérito cavalheiro, senhor Francisco da Costa Pires, atinge a importância de 325 contos de réis.

A lista é encabeçada pelos seguintes dizeres:

"Santos, a terra da caridade, acaba de ser atingida por enorme catástrofe com o desmoronamento de uma parte do Monte Serrate, fazendo incalculável número de vítimas.

"A nossa Santa Casa de Misericórdia foi também atingida, sofrendo grandes danos, que a colocam em situação dolorosa, pela perda total de valiosa parte de suas dependências.

"O comércio de Santos, a sua população, não podem ser indiferentes a tamanha calamidade.

"Em favor da Santa Casa, para que ela possa voltar a prestar à população os seus serviços, recebe esta lista os donativos dos amigos da terra generosa e boa que é a nossa cidade.

"Santos, 10 de março de 1928.

Ass. Comercial de Santos   20:000$
Cruz Vermelha Brasileira em Santos   20:000$
Theodor Wille e C.   15:000$
Banco do Comércio e Indústria de São Paulo   10:000$
Banco Comercial do Estado de São Paulo   10:000$
Banco do Estado de São Paulo   10:000$
Banco de São Paulo (Santos)   10:000$
Rodrigues Alves e C.   10:000$
Francisco da Costa Pires e senhora   10:000$
Origenes Tormin e Cia.   10:000$
Arantes e C.   10:000$
Junqueira Netto e C.   10:000$
Soc. Nacional Exportadora Ltd.   10:000$
J. Aron e C. Ltd.   10:000$
Lima Nogueira e C.   10:000$
Cunha Bueno e C.   10:000$
Whitaker Brotero e Cia.   10:000$
Leon Israel C. S/A   10:000$
Naumann, Gepp e C. Ltd.   10:000$
Queiroz Fereira, Azevedo e C.   10:000$
Junqueira Carvalho e Cia.   10:000$
Almeida Prado e C.   10:000$
Cia. Paulista de Exportação   10:000$
Andrade Junqueira e Cia.   10:000$
Baccarat e Cia.   10:000$
Cia. Construtora de Santos   10:000$
Cintra e Cia.   10:000$
Silva Ferreira e C.   10:000$
Total 325:000$"


Reprodução parcial da publicação original

O aspecto da Rua S. Leopoldo – Logo cedo, a Rua São Leopoldo apresentava ontem um aspecto fúnebre, tétrico mesmo.

Carros e automóveis, de todos os tipos, numa azáfama medonha, em loucas correrias, passavam carregando pedaços de madeira, tijolos e terra, os escombros do tremendo desabamento.

De parceria com este espetáculo, famílias assustadas, ainda sob a primeira impressão, comentavam, do modo o mais variado, a extensão do desastre.

E os comentários de vez em quando eram entrecortados pelo alegrinho que, em demanda do necrotério do Saboó, infundia maior pavor, na sua sinistra passagem.

Um voto de pesar apresentado pelo juiz da 2ª vara – O dr. Álvaro Augusto de Carvalho Aranha, juiz de direito da 2ª vara, ao abrir a audiência ordinária de ontem, disse que o fazia sob a impressão da dor mais profunda ante o imenso desastre ocorrido na cidade, pela manhã, e no qual perderam a vida dezenas de pessoas.

Disse que ainda não se conheciam as proporções do horrível sinistro que trouxe tanto luto à nossa cidade. Fazia consignar no protocolo estas linhas de tristeza, como homenagem aos entes infelizes que ali pereceram.

Em sinal de pesar pelo mesmo fato, aquele magistrado mandou arvorar a meio pau, no edifício do Fórum, por oito dias, a bandeira nacional.

A subscrição de A Tribuna - A Tribuna lamenta, como toda a população, a hecatombe que veio enlutar a cidade, com a perda de diversas existências.

Inúmeros são também os prejuízos materiais da benemérita Santa Casa de Misericórdia, que fica provisoriamente inibida de executar parte de seus serviços hospitalares.

A fim de minorar essa situação aflitiva, A Tribuna abre, hoje, uma subscrição popular em favor daquele estabelecimento pio, aceitando qualquer quantia.

A Tribuna
1:000$000
M. Nascimento Júnior
1:000$000
Ettore Golzi
200$000
A. Ribeirão e C.
100$000
Casa das Meias (S. Paulo)
100$000
Total
2:400$000

A Beneficência Portuguesa e a sua generosa atitude - O sr. Aristides Corrêa Cabrera da Cunha, logo que foi informado do doloroso desastre, ofereceu o hospital da Beneficência Portuguesa para tratamento de todos os feridos retirados dos escombros e para recolhimento de todos os enfermos da Santa Casa de Misericórdia, que, para segurança do edifício desse estabelecimento pio, tenham de ser removidos.

A mesa da Santa Casa aceitou e agradeceu o generoso oferecimento.

A Câmara fará os funerais das vítimas – O sr. prefeito municipal resolveu fazer, a expensas do município, os funerais das vítimas da horrível catástrofe, para as quais a Câmara também dará campa nos cemitérios da cidade.

Os cadáveres retirados dos escombros e recolhidos ao necrotério do Saboó - Damos, abaixo, o número preciso de cadáveres que foram retirados dos escombros, até ontem à noite, quando intenso era o movimento no local do sinistro:

Miguel Romano, italiano, de 40 anos.

Antonio Carlos Bueno, brasileiro, de 32 anos, solteiro, engraxate.

Um desconhecido, que constou, era irmão de Felício Calabez, sendo todos estes retirados dos escombros da casa n. 23 da travessa da Santa Casa.

Um desconhecido, de cor branca, bigodes raspados, cabelos castanhos, de 40 anos, mais ou menos.

Zulmira Loureiro, brasileira, de 24 anos, filha de José Loureiro.

João Faria (que era motorista dos mais antigos de Santos), Maria (sua mulher), João Faria Filho, Maria Faria, Clarice Faria, Armenio Faria, Oswaldo Faria e Isaura Faria, todos filhos de João Faria.

Todos foram retirados do prédio n. 13, da Travessa da Santa Casa.

Elvira de Freitas, branca, de 12 anos, e Arnaldo de Freitas, de 10 anos, filhos de João Gomes de Freitas, retirados dos fundos da casa n. 14, da Rua Rubião Júnior.

Os cadáveres dum casal de sírios - Eram mais ou menos 16 horas, e prosseguiam os trabalhos de desentulho, quando se ouviu dizer que tinham sido encontrados dois cadáveres.

Momentos depois, não sem grande trabalho, tal o estado em que ficaram os corpos, foram retirados dos escombros dois cadáveres, o de um homem e o de uma mulher. Esta era o de Helena Latuf Farah, síria, de 21 anos, e o cadáver era o de seu marido, Jamil Farah, também sírio, que se casara ainda há pouco, tendo também há pouco vindo de seu país a sua esposa. Ambos, assim, tiveram morte horrível.

Os dois corpos, depois de envoltos em lençóis, foram transportados para a Santa Casa, de onde, às 18 horas, foram removidos para a casa n. 92, da Rua Bittencourt, de onde, hoje, sairão para o cemitério do Paquetá.

Jamil Farah era comerciante, fazendo parte da firma proprietária da Casa Rio de Janeiro, à Rua Senador Feijó.

Uma mocinha do abandono – Numa das casas da Rua Rubião Júnior residia a família de um operário, José de tal. A filha deste saíra muito cedo para o serviço e, à hora do almoço, voltando para a casa, teve a dolorosa surpresa de ver todo o seu lar desfeito, desaparecendo, nos escombros, toda a sua família.

À tarde, tentamos falar com a infeliz menina, mas nada conseguimos, tal o estado da pobre mocinha, que andava como que doida.

Depois nos informaram que fora recolhida por uma família, em Vila Mathias.

O Tiro 11 e a catástrofe do morro do Fontana - Logo após o tremendo desastre ocorrido no morro do Fontana que enlutou o coração dos santistas, enchendo-os de imensa dor, esta sociedade militar, cônscia de seus deveres, e por intermédio de seus abnegados atiradores, quis mais uma vez patentear o seu interesse pelas causas nobres.

Assim sendo, notou-se que o Tiro 11 logo se prontificou a prestar os socorros que se tornassem necessários ao salvamento dos infelizes que ainda tivessem vida, ou no desentulho do local do desastre, para retirar daí os cadáveres.

Diversas turmas, as primeiras que lá se apresentaram, têm empregado os seus melhores esforços para a perfeição de seus serviços, sendo notório o interesse de cada um.

Essas turmas, que têm trabalhado incansavelmente, e que são revezadas constantemente, continuarão a trabalhar por toda a noite, contando o Tiro 11 com um número de 250 atiradores, reservistas ou não, sendo pensamento da diretoria que até hoje esse número seja elevado para 400 homens.

É digna de elogios a admirável abnegação dos "peitos de bronze", bem como os evidentes esforços que vem empregando a diretoria nessa obra tão meritória.

Comunicado oficial – Apelo – A diretoria apela para o sentimento patriótico e de humanidade de todos os reservistas e atiradores do Tiro 11, a fim de prestarem os seus serviços na catástrofe do Morro do Fontana.

Os que ainda não se apresentaram devem, urgentemente, comparecer, hoje, no quartel, das 7 horas em diante, a fim de receberem as devidas ordens.

Espera a diretoria que os soldados do Tiro 11 desejem deixar bem patente a indiscutível primazia que goza esta sociedade em momentos dolorosos como este, e por isso está certa de que nenhum dos seus sócios deixará de atender ao apelo que lhe é feito.

O auxílio da S.P.R. - Logo que se soube do desastre e de suas tristes conseqüências, os chefes da seção de Importação e Exportação, fazendo coro com a administração da Cia. Docas, com que trabalham de comum acordo, telefonaram incontinente ao sr. Nicolau Alayon, chefe do tráfego, solicitando o auxílio necessário.

Aquele sr., que ainda se achava em sua residência, à Rua Brasílio Dias, em S. Paulo, ordenou imediato socorro, sendo então enviadas para o local do desastre duas turmas daquelas seções, num total de 80 homens.

Mais tarde, juntou-se a estes uma outra turma de trabalhadores da engenharia, chegando, também, às 13,30 horas, trabalhadores das conservas mais próximas e o engenheiro-chefe dessa ferrovia, sr. Wellington, acompanhado de seu ajudante.

Durante a noite, os empregados da S.P.R. trabalharam ativamente no desentulho, prestando inestimáveis serviços.

O que disseram dois moradores do monte – Em conversa com a nossa reportagem, Manoel Gonçalves Faya e José Gonçalves Britto declararam que, há três dias, tinham sido avisados pelo sr. Coelho, da firma Domingues Pinto e Cia., para se mudarem, pois estavam eles na iminência de ser vítimas de um grande desastre.

Ambos chefes de numerosa prole e lutando com dificuldades financeiras, não se puderam mudar naquele dia, o que ontem fizeram às pressas, deixando em pleno campo os seus poucos móveis, e abrigando-se com as suas respectivas famílias num grande barracão ali existente.

De fato, o local em que se encontram as casas referidas é perigosíssimo, pois o solo se acha fendido, ameaçando ruir a qualquer momento.

A substituição dos trabalhadores da noite – Hoje, pela manhã, uma turma da Companhia Docas, de 300 homens, substituirá a turma que trabalhou à noite.

Vários enfermos operados – Na Beneficência Portuguesa estão recolhidos 2 feridos do desastre e 17 enfermos operados da Santa Casa, que para ali foram removidos.

A Associação do Comércio, do Rio, telegrafou, enviando pêsames - O sr. comm. M. Rodrigues Alfaya recebeu ontem o seguinte telegrama:

"Sr. presidente da Câmara Municipal - A Associação dos Empregados no Comércio do Rio de Janeiro apresenta a v. s. sentimentos profundo pesar, motivo catástrofe desabamento aí. - Atenciosas saudações - Arthur Cabrera, presidente; Antenor Carvalho, 1º secretário".

O diretório do P.R.P. em Santos, no local do desastre - O sr. deputado Alberto Cintra, presidente da Associação Comercial desta cidade, tendo conhecimento, na capital, da dolorosa catástrofe, comunicou-a ao sr. presidente do Estado, partindo incontinenti para esta cidade. S.s., em companhia dos membros do diretório do P.R.P., acompanhou os trabalhos de remoção dos escombros, no local do desastre. A s.s. telegrafou o sr. Martinho de Camargo, que se acha ausente, expressando o seu pesar pelo triste acontecimento.

A Casa Pharol oferece os seus serviços - O sr. Luís Couceiro, proprietário da Casa Pharol, à Praça Iguatemy Martins, ns. 46 e 47, enviou ao dr. Ferreira da Rosa, delegado regional, a seguinte carta:

"Prezado sr. - Lastimando a grande catástrofe que acaba de ocorrer em a nossa cidade, cobrindo de luto inúmeras famílias e deixando na orfandade muitos inocentes, e desejando colaborar, com os meus fracos préstimos, nessa grande obra de humanidade, venho pela presente pôr à disposição de v. exa., a quantidade que desejar do grande estoque de minha casa comercial, de pás cavadeiras, pás de bico, pás quadradas, picaretas, enxadas, enxadões, forcados, gadanhos, carrinhos para aterro etc., podendo v. exa. requisitá-los a qualquer hora do dia, ou da noite, pelos telefones 645, particular, Rua da Constituição, 270, e comercial 488, Praça Iguatemy Martins, 46-47. Ao inteiro dispor de vossas prezadas ordens, firmo-me com elevada estima e distinta consideração".

Um casal de sírios que pereceu na catástrofe - Vítimas do lamentável desastre que abalou a nossa cidade, morreram, soterrados, o conhecido e estimado negociante nesta praça, Zamil Farah e sua esposa, d. Helena Latuf Farah, ambos de nacionalidade síria.

A morte desse casal foi bastante sentida no seio a colônia síria, onde gozavam de geral estima. Os corpos foram retirados dos escombros e trasladados para a Rua Bittencourt n. 96, de onde sairão os féretros, hoje, ao meio dia, para o cemitério do Paquetá.

A catástrofe do Monte Serrate e a Humanitária - Gesto digno de louvor - O sr. José Abelardo Monteiro de Barros, presidente da Sociedade Humanitária dos Empregados no Comércio, logo que teve conhecimento da espantosa catástrofe da madrugada de ontem, mandou hastear o pavilhão da Sociedade, em funeral, associando-se assim à grande mágoa que crucia os corações santistas.

A diretoria da aludida associação de classe deliberou enviar ofícios aos srs. presidente da Câmara Municipal e provedor da Santa Casa de Misericórdia, oferecendo-lhes os préstimos da Humanitária.

Esses ofícios estão assim redigidos:

"Exmo. sr. comendador J. M. Alfaya Rodrigues - m. d. presidente da Câmara Municipal. - Nesta.

"Prezadíssimo senhor. - A diretoria da Sociedade Humanitária dos Empregados no Comércio de Santos, profundamente consternada com o pavoroso sinistro ocorrido na madrugada de hoje, em que uma formidável avalanche de terra, desprendida do alto do Monte Serrate, reduziu a ruínas tantos lares outrora felizes, repercutindo dolorosamente no coração de todos os santistas, não só pelas inúmeras vidas tão tristemente sacrificadas, como também pelos avultadíssimos prejuízos materiais verificados, vem respeitosamente pedir a v. exa. permissão para apresentar-lhe os mais sinceros sentimentos de pesar.

"Associando-se vivamente à profunda dor que alanceia neste momento a alma generosa do nobre povo santista, esta diretoria, por nosso intermédio, põe à inteira disposição de v. exa. os préstimos da Sociedade Humanitária dos Empregados no Comércio.

"Prevalecendo-nos do ensejo que se nos oferece, protestamos a v. exa. a segurança da nossa respeitosa estima e consideração distinta. - Atenciosas saudações - (aa) José Abelardo Monteiro de Barros, presidente; Edistio de Camargo Santos, 1º secretário".

"Ilmo. sr. Alberto Baccarat - M. d. provedor da Santa Casa de Misericórdia - Nesta - Prezadíssimo senhor. - De ordem desta diretoria, é com imensa mágoa que vimos apresentar-lhe os nossos mais sinceros sentimentos de pesar pela tremenda catástrofe desta madrugada, a qual, reduzindo a um montão de escombros as casas situadas ao sopé do Monte Serrate, ocasionando a morte de infelizes criaturas, causou graves danos no edifício da benemérita Santa Casa de Misericórdia.

"Dolorosamente impressionada com a espantosa hecatombe, esta diretoria, inteiramente solidária com a grande dor que acabrunha os corações santistas, põe à disposição da Santa Casa, por intermédio de v. s., os préstimos da Sociedade Humanitária dos Empregados no Comércio.

"Prevalecendo-nos do ensejo que se nos depara, protestamos a v. s. a segurança da nossa elevada simpatia e distinta consideração. - Respeitosas saudações - (a) José Abelardo Monteiro de Barros, presidente. - (a) Edistio de Camargo Santos, 1º secretário".

O número de mortos pode ser calculado em 150 - Vários têm sido os cálculos feitos sobre o número de infelizes que foram, quando dormiam, surpreendidos pela morte e que se acham sob formidável quantidade de terra. Pela manhã falava-se em 300 mortos, mas, acreditamos, seja exagerado esse cálculo.

Pelo número de casas existentes em toda a extensão atingida pela tremenda avalanche de terra que se despencou sinistramente, pode-se dar como tendo perecido cerca de 150 pessoas, entre adultos e menores.

Na Travessa da Santa Casa, foram destruídas as casas ns. 13, 15, 17, 19, 21 e 25, lá não existindo casa com o número 23.

A casa n. 11, que é a que fica quase em frente ao portão lateral da Santa Casa, sofreu alguns danos, servindo, depois, de grande entrave para o trabalho de desentulho, justamente por ser muito estreita a Travessa da Santa Casa.

O auxílio dos populares - Foi um belo movimento o que se notou por parte dos populares, querendo prestar também o seu quinhão de socorro, num momento de angústia e dor para toda a cidade.

Era tal o número de populares a querer prestar serviços, que estes, às vezes, se tornavam complicados e difíceis, o que também é justificável em tal emergência.

O pessoal da Santa Casa - Foi de extrema dedicação todo o pessoal da Santa Casa, sendo injustiça destacar-se este ou aquele nome, desde o mais modesto auxiliar até o mais graduado.

Todos os médicos estavam em seus postos, para todo e qualquer serviço, assim como os enfermeiros e irmãs de caridade.

E o movimento, ontem, naquela casa de caridade, foi verdadeiramente notável.

São todos, pois, aliás como todos aqueles que prestaram auxílios e socorros, merecedores de vivos elogios.

Na Beneficência Portuguesa - O pessoal e ambulância da Sociedade Portuguesa de Beneficência, desde cedo, foi para o pátio da Santa Casa, para qualquer emergência, assim como o seu pessoal, que esteve a postos, para todo o auxílio preciso, que foi muito valioso.

O trabalho das autoridades policiais - As autoridades policiais, dr. Ferreira da Rosa, dr. Gilberto de Andrada e Silva, dr. Vieira de Campos, dr. Jordão de Magalhães e dr. Teixeira Filho, logo que tiveram conhecimento da pavorosa ocorrência, foram para o local da mesma, lá ficando durante todo o dia, prestando todo o serviço possível, já o referente às suas funções, já providenciando sobre outras.

Os suplentes das autoridades também lá estiveram todos.

Também os funcionários policiais lá estiveram todos, assim como os inspetores de segurança.

O destacamento de polícia - Todas as praças disponíveis do destacamento de polícia foram para o local do sinistro, onde estiveram permanente o capitão Pacheco, comandante do destacamento, e seus oficiais, que prestaram apreciáveis serviços em geral.

Os artistas da companhia Ra-ta-Plan - Um belo gesto foi também o dos artistas da companhia Ra-ta-Plan, que, ao terem conhecimento do desastre, foram para o local, onde estiveram prestando bom auxílio.

João Faria ia mudar-se - João Faria, que pereceu com toda sua família, era para mudar-se para a Rua de S. Leopoldo, anteontem, não o fazendo por um contratempo qualquer.

Ficou na casa da Travessa da Santa Casa, onde o colheu a morte, de modo tão triste e trágico.

A Sociedade dos Chauffeurs fará, hoje, o seu enterramento.

Vendedores de jornais que perecem - Vários foram os pequenos vendedores de jornais que pereceram na tremenda ocorrência, pois os infelizes moravam em casas da Rua Rubião Júnior, habitações essas todas destruídas.

Numa só dessas casas residiam nada menos de 14 pessoas, que pereceram todas.

Fábrica de ladrilhos e cocheira destruídas - Nas imediações das oficinas da firma Domingues Pinto e C. estavam localizadas uma fábrica de ladrilhos e uma cocheira, que foram totalmente destruídas.

Todos os muares que se achavam na cocheira foram soterrados.

Veio de S. Paulo visitar uma família que pereceu toda - Armando Ladeira, morador em S. Paulo, na Penha, viera ontem de S. Paulo, para visitar a família de João Faria, que, como dissemos, pereceu toda.

Armando Ladeira, ao saber da tristíssima ocorrência, desatou num choro copioso, não tendo coragem de ir ver, no necrotério, o cadáver de seu amigo.

Desapareceu a família João Costa Carvalho - Na casa n. 25, da Travessa da Santa Casa, residia, com seus filhos, o sr. João Costa Carvalho, pai do sr. Raul Carvalho, agente da Polícia Marítima.

Uma sua filha, de nome Bemvinda, anteontem fora para a casa do sr. Raul, à Rua Pedro Américo n. 122.

Essa foi uma das famílias vítimas da medonha catástrofe, morrendo soterrados João Costa Carvalho e seus filhos, João Costa Carvalho Júnior, de 36 anos; Augusto, de 21; e Wenceslau, de 16 anos.

À noite falamos com o sr. Raul Carvalho, que mal podia balbuciar uma palavra, tal o seu estado de abatimento pela profunda desgraça que o atingira.

Foi salvo - Felício Calabrez Giovanni, solteiro, de 22 anos, engraxate, foi, com vida ainda, retirado dos escombros e, sendo levado para a Santa Casa, ali foi devidamente socorrido e removido, depois, para a Beneficência Portuguesa, onde ficou.

Móveis, roupas e utensílios - À tarde, começaram a ser retirados dos escombros malas, mesas, objetos e móveis, todos em lastimável estado.

Tais objetos foram todos levados para a Central.

Outro que foi salvo - Antonio Lani, italiano, que viera há pouco de S. Paulo, residia numa das casas da Rua Rubião Júnior e foi salvo milagrosamente.

Saíra de casa antes de 4 horas, pretendendo ir a Juquiá. Estava na estação quando soube do desastre e ficou apavorado, começando a chorar.

Um pequeno chorava pela mãe - Um pequeno, cujo nome não foi possível obter, chorava, na Rua São Francisco, chamando por sua mãe, a qual, segundo se soube, estava soterrada; o filho tinha passado o dia inteiro na casa de uma família conhecida.

Várias importâncias encontradas - Várias foram as importâncias encontradas, ontem, no local do sinistro, por funcionários da Delegacia Regional, sendo essas importâncias entregues ao dr. Ferreira da Rosa.

Os moradores do morro do Fontana transitando pela Santa Casa - Ficando completamente impedida a subida para o morro do Fontana, os moradores desse local passaram a transitar por dentro da Santa Casa.

Vários feridos - Durante os trabalhos de desentulho, ficaram feridos vários operários, entre os quais João Ignacio Maria, que foi medicado na Santa Casa.

Um perigo - O Monte Serrate fendido! - Foi suspenso o funcionamento do elevador - À noite soubemos que o Monte Serrate estava fendido, oferecendo grande perigo.

Procuramos nos inteirar do fato, apurando estar mesmo oferecendo perigo aquele morro, o mesmo se dando com o edifício que se acha no alto do monte, que encontra com fendas na parede.

O sr. Helladio Martins, à noite, comunicou isso ao dr. Armando Ferreira da Rosa, delegado regional de polícia, cientificando-o também da ida, àquele local, de vários engenheiros, inclusive o dr. Bernardo Browne, gerente da Cia. City.

A polícia, por isso, proibiu, até segunda ordem, o funcionamento do funicular do Monte Serrate, sendo também cientificados os moradores do morro.

Uma notícia que alarmou - Ruiu, à noite, mais um pedaço do morro - Cerca de 21,30 horas, mais ou menos, quando animadíssimos eram os serviços no local do desastre, que oferecia um estranho aspecto, correu uma notícia verdadeiramente alarmante. Estava caindo o morro! Grande número de operários, espavoridos, largaram suas enxadas e picaretas, correndo para lugar seguro, tendo-se ferido no atropelo um deles, que recebeu socorros na Santa Casa.

Ruíra, de fato, um bloco do morro, que se encontrava envolto na terra solta.

O rumor do fato chegara até a rua, onde centenas de populares se aglomeravam, na ânsia de conhecer pormenores da tremenda ocorrência que enlutou toda a cidade, consternando todos os corações.

Uma família soterrada! - Na casa n. 13, da travessa da Santa Casa, residia, com sua família, o chofer João Faria, motorista da máquina P. 1240, de propriedade de Asdrualdo Ramos.

Aquela casa, a última daquele correr, que desapareceu na horrenda avalanche, de terra e pedra, foi uma das primeiras, devido ao fácil acesso, a ser desentulhada. Após alguns minutos de trabalho afanoso, foi encontrado o primeiro cadáver. Mais  alguns momentos, e uma menina morta era também retirada de sob os escombros. Prosseguindo o trabalho de remoção dos escombros, foram ouvidos uns gemidos e os operários e bombeiros foram dar com um menino imprensado entre uma cama e várias vigas de madeira, vivo ainda.

Depois de alguns minutos de trabalho árduo, foi a infeliz criança retirada viva e transportada para a Santa Casa.

Com a continuação do serviço, mais cadáveres foram retirados de sob o entulho de barro, pedra e madeira, a esposa de João Faria, os menores João Faria Filho, Armênio, Isaura e outros, cujos nomes não conseguimos apurar.

Mais tarde foram encontrados mais cadáveres, inclusive o de João Faria, o chefe da inditosa família.

Os moradores do morro tiveram ordem de mudança - A polícia está intimando os moradores das circunvizinhanças a se mudarem.

Já tiveram ordem de transferir suas residências Manoel Gonçalves Faya, casado, com 11 filhos, e José Gonçalves Prito, casado, com 7 filhos.

Muitas outras famílias serão obrigadas a deixar aquele lugar sinistro, onde, na manhã de ontem, muitas vidas foram sacrificadas.

Perdeu toda a família - Hugo Baroni, jornaleiro do ponto da Praça Mauá, esquina da Rua D. Pedro II, saíra de casa cedo, para o seu mister. Deixara todos dormindo em casa, menos um seu inquilino, que saíra um pouco antes para o seu trabalho.

Ao saber do ocorrido, dirigiu-se para a sua casa e teve a desdita de não vê-la, pois um grande monte de barro era só o que se divisava onde, momentos antes, um grupo de casas, habitadas por gente de trabalho, resguardava mais de uma centena de vidas, que, com o desastre, desapareceram.

Foi grande, enorme mesmo, a dor do jornaleiro Hugo Baroni, quando teve a exata compreensão do que ocorrera. Perdera, naquele sinistro, nada menos de 14 parentes.

Sua idolatrada esposa e seus estremecidos filhos e demais parentes haviam sido esmagados pelo peso horrível dos destroços.

Hugo Baroni, que conta 46 anos, é vendedor da Folha de Santos e da A Tribuna, trabalhando, há muitos anos, na Agência Magalhães.

Salvou-se milagrosamente - Francisco Ferreira, empregado no café e bar A Maré, residia, também, na casa de Hugo Baroni. Mudara-se para ali apenas há dois dias.

Como tivesse que abrir as portas do café acima referido, saiu de casa um pouco antes de Hugo e, assim, livrou a sua vida. Escapou porque tinha de ir trabalhar cedo!

Em conversa conosco, disse Francisco Ferreira que tudo perdeu no desastre, ficando sem um níquel no bolso, pois até saíra de casa em mangas de camisa, quando fora para o trabalho.

Mas, salvara a vida e estava bastante satisfeito com isso. Ia trabalhar mais um pouco e dentro de algum tempo teria novamente o necessário à sua vida de empregado modesto...

O auxílio da firma A. Carvalho e Irmão - Magnânimo, o gesto da firma A. Carvalho e Irmão, construtores. Ao terem ciência do ocorrido, os seus diretores mandaram imediatamente suspender o serviço em todas as suas obras e puseram os seus operários à disposição dos serviços de salvamento.

Todos os seus caminhões foram também empregados no transporte de terra e entulho.

O sr. Alcino Carvalho, num gesto de abnegação, conservou-se à frente dos seus operários, transportando, mesmo, pedras e tijolos, no serviço de salvamento.

Além disso, aquele senhor mandou servir café aos obreiros em atividade, oferecendo-se para todo e qualquer serviço.

Quadro tétrico - Numa casa em ruínas, populares depararam com um quadro verdadeiramente contristador: abraçada a uma mulher, morta, sua mãe, ainda se encontrava com vida uma criança de tenra idade.

Transportaram-na para a Santa Casa, onde lhe foi prestada a assistência reclamada.

A multidão no cemitério do Saboó - Logo cedo, quando se soube que muitos e muitos cadáveres de desconhecidos tinham sido transportados para o Saboó, para lá se foi uma grande romaria, e romaria da dor e do desespero, formada por centenas de pessoas, que iam em busca de entes queridos, sem saber se ali os poderiam encontrar.

E os cadáveres das vítimas, numa macabra e dolorosa procissão, ali iam chegando, passando por entre alas de pessoas abatidas ao peso da tremenda desgraça que caiu sobre a cidade.

Como explicar-se? Milagre? - João Pinto, sua esposa e 3 filhos residiam próximo à serraria de propriedade da firma Domingues Pinto e Cia., bem nos fundos da Travessa Santa Casa.

Às 4,50 horas, ao ouvir o primeiro ruído, pois, contra os seus hábitos, estava acordado àquela hora, abandonou a casa, com sua mulher e filhos. Momentos após, o morro ruía fragorosamente, e aquela casa, onde ainda há minuto e meio dormitavam tranqüilos e felizes os seus filhinhos e sua esposa, desapareceu num monturo de barros e pedras.

Palestramos, também, no local, com o sr. João Pinto, que, ali, com duas praças de polícia, tomava conta de um móvel, onde estão guardados papéis de grande valor. Documentos comerciais de grande importância.

Disse-nos, ainda meio estremunhado, aquele senhor, que apenas pôde correr com a sua mulher e 3 filhos para a rua, porque a barreira caiu logo em seguida. Nada puderam salvar, senão as próprias vidas, o que representava tudo para eles, e mostrou-nos uma camisa e uma calça, que arranjara emprestado, para vir tomar conta dos documentos soterrados e pelos quais é responsável.

A família do inspetor Porto - O inspetor Porto, muito conhecido em Santos, e atualmente ao serviço da polícia carioca, estivera, ontem, em visita à sua família, tendo seguido, à noite, pelo Conte Verde, para o Rio.

A sua família pereceu toda.

O luto da Cine-Teatral - Associando-se à consternação geral causada pela tremenda catástrofe, que veio encher de desespero e luto inúmeros lares, o sr. comendador Manoel Fins Freixo, digno gerente da Empresa Cine-Teatral, resolveu suspender as sessões cinematográficas anunciadas para ontem, em todos os seus cinemas.

Um redivivo - Trabalhavam ativamente para retirar Antonio Carlos da Silva de sob aquele mundo de destroços, quando um bombeiro que estava metido num buraco, no serviço de salvamento, ouviu gemidos angustiosos de um outro lado fronteiro aonde estava.

Removendo alguns troços de madeira e tijolos, pôde aquela praça ver que um outro homem, também soterrado, clamava por socorro.

Redobraram de atividade os bravos bombeiros, operários da Câmara, da Cia. Docas e de várias outras firmas particulares, no sentido de salvarem o soterrado aparecido por último.

Todos davam conselhos, todos ansiavam por ver mais aquela vida, pelo menos, poupada ao duro sacrifício de uma morte lenta e angustiosa, como deve ter sido a de todos aqueles que, por muitas horas, talvez, tenham ficado sofrendo a tortura de um ferimento grave ou a terrível morte, muito lenta, muito triste, pela asfixia.

Sepultados em vida - Uma turma de bombeiros e operários, sob o comando do comandante Pedroso, resolveu iniciar o serviço pela parte dos fundos onde ficava o cortiço de n. 25, da Travessa Santa Casa, na junção com o local onde era a casa do sr. João Domingues Pinto.

Ao serem removidos os primeiros destroços na parte onde a terra, de roldão levando tudo, esbarrou, foram ouvidos vários gemidos. Imediatamente foram tomadas as necessárias providências com o fim de salvar, ainda, aquele que tão dolorosamente ansiava pela existência, sob os escombros.

Depois de retirarem vários cadáveres, os bombeiros encontraram o preto João Gomes, gravemente ferido, mas vivo, ainda, preso entre duas escoras de madeira. Após uma hora e vinte minutos de trabalho afanoso, foi salvo João Gomes e transportado logo, em padiola, até a Santa Casa.

Momentos após, no mesmo local, era encontrado um outro corpo. Tratava-se de Antonio Carlos da Silva, de cor preta, que em conversa com um dos nossos repórteres, disse ter 26 anos e trabalhar na Rua Amador Bueno. Perguntado se tinha alguma parte do corpo machucada, ele declarou que sim, que sentia um ferimento na cabeça e as suas pernas estavam imprensadas contra uma viga de madeira, na altura da coxa. Tinha, também, um braço preso, mas naqueles mesmo momento retiraram uma tábua e ele teve os braços inteiramente livres. Continuando os serviços, depois de 40 minutos de penoso trabalho, foi o infeliz Antonio Carlos da Silva levado para a Santa Casa em uma maca.

A salvação desta vítima da catástrofe deve-se à sua grande sorte em ter ficado entre um grande pedaço de madeira e uma porta, ficando resguardado, assim, na cabeça e no peito, contra as pedras e demais entulhos.


Reprodução parcial da publicação original

Manifestações de pesar

Os clubes esportivos associam-se às manifestações de pesar

A maioria dos clubes esportivos santistas, pesarosos pelo tristíssimo acontecimento que despertou a cidade na manhã de ontem, trazendo o luto e a dor a numerosos lares, resolveram adiar os jogos marcados para hoje, conservando à sacada de suas sedes as bandeiras em funeral.

Sobre este fato, recebemos os seguintes comunicados:

Associação Santista de Esportes Atléticos (Comunicado oficial) - A Asea, reunida ontem, extraordinariamente, resolveu lançar em ata um voto de profundo pesar pela catástrofe do Monte Serrate, oficiando ao exmo. sr. prefeito municipal, dando-lhe pêsames, como representante que é da cidade.

Resolveu mais, hastear em funeral a bandeira social, destinando uma percentagem sobre a renda do festival de hoje para as vítimas desse desastre.

Sul-América F. Clube - Querendo este clube associar-se às manifestações de pesar pelo grande desastre ocorrido nesta cidade, a diretoria deste clube resolveu suspender o jogo amistoso que estava anunciado contra o C. A. Marapé, ficando o mesmo transferido para o próximo domingo.

Cia. City A. Clube - Em nome da diretoria deste clube, venho participar a v. s. que, em sinal de pesar pelo lutuoso acontecimento desta madrugada, na encosta do Monte Serrate, resolvemos suspender a realização dos jogos anunciados para hoje, entre este clube e o E.C. Estrela de Ouro.

Municipal A. Clube - Em sinal de pesar pelo horrível desastre acontecido ontem, nesta cidade, fica transferido o jogo que deveria realizar-se hoje, entre este clube e o Bairro Chinês Quadro.

Congregação Mariana de Santos - A diretoria da Congregação Mariana de Santos, associando-se às demonstrações de pesar por motivo do sinistro, deliberou adiar sine-die o festival que devia realizar, hoje, em comemoração à passagem do aniversário de sua fundação.


Três vítimas do desmoronamento, no necrotério do Saboó
Foto publicada com a matéria

Telegramas de pesar

O sr. comendador Manoel Alfaya Rodrigues, presidente da Câmara Municipal, recebeu, ontem, os seguintes telegramas:

"S. Paulo, 10 - Apresento a v. excia. meus sentimentos mais profundo pesar pela horrível catástrofe que acaba de enlutar a cidade de Santos. - (a.) Manoel Villaboim, deputado federal".

"Santos,10 - Com a expressão mais sincera do meu profundo sentimento, apresento as minhas mais sentidas condolências pelo horrível quanto lamentável sinistro que tão tragicamente enluta hoje a nobre cidade de Santos - (a) Santa Ilduara, cônsul da Espanha".

Liceu São Paulo - Os atiradores e inscritos da Escola de Instrução Militar n. 83, ontem, depois das 19 horas, por deliberação do diretor do estabelecimento, estiveram no local do sinistro, auxiliando os serviços de desentulho e remoção do aterro.

Tiro de Guerra n. 11 - Todos os graduados, reservistas e inscritos no patriótico Tiro de Guerra n. 11 compareceram, ontem, ao quartel, atendendo ao chamado do vice-presidente.

Depois de receberem as necessárias instruções, os distintos moços seguiram para o local do desastre, onde prestaram valiosa cooperação até alta hora da noite.

Pêsames à Santa Casa - A Santa Casa recebeu ofícios das seguintes instituições, dando pêsames e pondo-se à disposição: Sociedade Portuguesa de Beneficência, São Vicente de Paula, S. P. R. Futebol Clube, Associação Protetora do Hospital São José, Cruz Vermelha Brasileira, Real Centro Português, Sociedade União Operária, uma carta da Empresa Cine-Teatral comunicando que, em sinal de pesar, suspendeu os espetáculos de ontem, em todos os seus cinemas, e telegramas do sr. arcebispo, d. Duarte Leopoldo.

Sarau transferido - O sarau lítero-musical comemorativo do 12º aniversário da Congregação Mariana de Santos, e que se deveria realizar hoje, fica transferido para o dia 18.

Motivou essa resolução o luto que pesa sobre a cidade, com o tremendo desmoronamento que ceifou tantas existências.

C. A. Santista - Da diretoria deste grêmio, recebemos o seguinte comunicado: "Cumpre-me comunicar que a diretoria do Clube Atlético Santista, reunida hoje, extraordinariamente, deliberou levar a efeito, sob o seu patrocínio, um festival esportivo em benefício das vítimas sobreviventes do lamentável acidente que foi o desmoronamento da parte do Monte Serrate, a realizar-se, provavelmente, no domingo, 18 do corrente, ou na primeira data que lhe for cedida pela Liga de Amadores de Futebol, sendo que, para esse fim, acaba de receber o apoio incondicional do valoroso Espanha F. C, gesto que, certamente, será secundado pelas demais associações desportivas locais".

Rádio Clube de Santos - O Rádio Clube de Santos também, em sinal de pesar pelo triste acontecimento que enlutou a cidade, deliberou suspender as irradiações de ontem e de hoje.

Real Centro Português - Associando-se à dor que no momento confrange a população santista, pela horrível catástrofe de ontem, a diretoria desta associação resolveu pôr à disposição da Santa Casa de Misericórdia a sua sede social, hastear a bandeira a meio pau e suspender a festa semanal, a realizar-se hoje.

Sociedade Amiga dos Pobres "Albergue Noturno" - O administrador da Sociedade Amiga dos Pobres Albergue Noturno, logo que teve conhecimento da catástrofe, comunicou-se com o sr. major Norberto de Macedo, administrador da Santa Casa, pondo à sua disposição os salões daquela benemérita instituição de caridade.

Em sinal de pesar pela grande desgraça, a diretoria deliberou, também, hastear o seu pavilhão em funeral, por 5 dias.

Sociedade União Operária - A diretoria da benemérita Sociedade União Operária, desejando também ser útil às infelizes vítimas atingidas pela horrível catástrofe, num gesto nobilíssimo, deliberou pôr o seu edifício social à disposição da Santa Casa de Misericórdia, para nele serem recolhidos os enfermos que necessitarem de alojamento.

As casas de diversões da praia não funcionaram - A firma V. Fernandes e Cia., associando-se ao luto da cidade, por motivo da horrível catástrofe, suspendeu todas as diversões do Miramar, Cine-Teatro Casino e Cine Jockey Clube.

Também não funcionaram os cassinos e o cabaré do Miramar.

Espanha F. C. - "Cumpro o dever de comunicar-lhe que a diretoria do Espanha F.C., em sinal de pesar pela horrível catástrofe verificada na madrugada de ontem, no Monte Serrate, em que foram sacrificadas inúmeras vidas, resolveu não realizar o seu festival marcado para hoje, com o União Fluminense, da capital.

"Outrossim, avisa aos seus associados, admiradores e ao público em geral que, oportunamente, será realizado, de comum acordo com o C. Atlético Santista, um festival esportivo em benefício dos sobreviventes de tão lamentável desastre, procurando, assim, minorar-lhes a sua triste situação".

Clube de Regatas Saldanha da Gama - A diretoria do Clube de Regatas Saldanha da Gama, associando-se às homenagens que se prestam às vítimas da lamentável catástrofe, ocorrida ontem, nesta cidade, e tendo em vista grande número de seus associados acharem-se prestando serviços nas fileiras dos Tiros de Guerra, deliberou transferir a competição de natação que devia se realizar hoje, em sua sede social.


Reprodução parcial da publicação original

Outras notas

O pesar da cidade - Toda a cidade se comoveu ante o tremendo desastre, ficando de luto a população em peso.

As fachadas todas se embandeiraram a meio pau, cerrando suas portas muitos e muitos estabelecimentos.

Em nossa redação, desde cedo, foi hasteada a bandeira, em sinal de pesar pela desgraça que caiu sobre a nossa cidade.

Na Companhia Construtora de Santos - Várias providências - Ao ser conhecido o desastre, logo depois apresentava-se ao sr. Coelho, sócio da firma Domingues Pinto e C., o chefe do escritório das oficinas da Cia. Construtora de Santos, apresentando seus serviços imediatamente efetivados com a remessa de 30 carpinteiros e 70 trabalhadores, ferramentas apropriadas, transporte completo da Cia., dirigido pessoalmente pelo respectivo encarregado.

Com a chegada do dr. Roberto Simonsen, presidente da Cia. Construtora, foram tomadas providências de tal vulto que revelam seu grande coração em face de tamanha desgraça.

Foi resolvida a vinda das turmas da Cia. Construtora de Santos, da seção de São Paulo, vindas em autos caminhões pela rodovia, e embarcadas pela S.P.R. as escavadoras elétricas em serviço da mesma em S. Paulo.

Em virtude de não poder o Corpo de Bombeiros dar acolhida aos operários vindos de S. Paulo, pelo grande número de soldados e bombeiros que chegaram de fora, por ordem do sr. presidente do Estado foram os mesmos abrigados provisoriamente nas próprias oficinas da Cia.

Ficaram de prontidão durante toda a noite, grande parte de auxiliares, caminhões, assim como pessoal apto para o fornecimento de café durante a noite, para os operários em serviço.

Os carpinteiros da Cia. Construtora de Santos, ao receberem a notícia do desastre, ficaram como que desesperados e disputaram a honra de socorrer a seus semelhantes abatidos pela grande dor, que era geral.

Escapou milagrosamente um médico da Santa Casa - Estava de plantão, na noite de ontem, na Santa Casa, o dr. Osvaldo Santiago, que à hora do sinistro estava em seu quarto, que é situado justamente na parte atingida do hospital.

Aos primeiros rumores, o dr. Santiago, num sobressalto, levantou-se, deixando, alarmado, o quarto.

Era tempo.

Mais um instante e enorme bloco de terra, num choque tremendo, punha abaixo aquela parte do edifício da Santa Casa, derrubando-o, num fragor medonho, tudo envolvendo numa densa nuvem de poeira.

Também escapou o sr. Theodureto Bueno Franco, guarda-livros do hospital, do mesmo modo que o dr. Santiago.

Os operários da Docas - Logo cedo, a Companhia Docas forneceu 200 homens, que trabalharam sob a direção dos srs. drs. Victor de Lamare e Horácio de Lamare.

À tarde, esse número de operários foi aumentado.

O transporte de terra - Dezenas de caminhões, durante todo o dia de ontem, noite e madrugada de hoje, fizeram o serviço de transporte de terra, tendo várias empresas e companhias fornecido aqueles veículos, sendo também empregado nesse serviço caminhões do Saneamento, Prefeitura e de outras repartições.

A Delegacia Regional de Polícia ao Público - A Delegacia Regional de Polícia é muito reconhecida ao movimento de humana solidariedade e de alto civismo, de quantos se lhe apresentaram, oferecendo seus préstimos.

Aliás, esse confortador movimento é de toda a população e de todas as nossas classes sociais. O serviço de desentulho, já metodizado sob a direção técnica de notáveis engenheiros, exige, porém, inteiro desembaraço de ação, razão pela qual a Delegacia Regional pede e espera que o nosso público auxilie o cordão de policiamento, isolador da área daquele serviço - Ferreira da Rosa.

Choferes que oferecem serviços - À noite, ontem, vários choferes estiveram na Delegacia Regional, onde foram oferecer seus préstimos.

Um belo gesto - Dezenas e dezenas de cavalheiros da nossa sociedade deixaram, ontem, seus nomes na Delegacia Regional, oferecendo seus serviços em tudo que puderem ser úteis.

Pela manhã, no local do desastre - Cedo, ontem, nos primeiros momentos, no local do desastre, notamos, entre dezenas de outras pessoas, a presença das seguintes:

Benedicto Pinheiro, vice-prefeito municipal, em exercício; dr. Burgos Sobrinho, dr. Moreira Gomes, dr. Osório Leite, dr. Roberto Catunda, dr. Costa Simões, dr. La Terza, dr. Américo Pereira, dr. João Carlos de Azevedo, dr. Martins Fontes, dr. Alberto Moura Ribeiro, dr. B. Moura Ribeiro, dr. Pedro Paulo de Giovani, dr. Porchat de Assis, dr. Rivaldo de Azevedo, dr. Assis de Sousa, dr. Othon Feliciano, dr. Leão de Moura, dr. Nicolino R. Machado, dr. Santos Silva, senador Azevedo Júnior, comendador M. Alfaya Rodrigues, M. Nascimento Júnior, G. Santini, Adelino Ferraz Barros, Domingos Duarte, dr. Molina Cintra, B. Browne, Davis (City), cap. Pacheco, comandante do destacamento; Alberto Baccarat, Benjamim de Mendonça, dr. F. Vieira de Campos, dr. Armando F. Rosa, dr. Octavio Mendonça, dr. Victor de Lamare, dr. Horácio de Lamare, major Norberto Macedo, dr. José Luís, dr. Aristides Machado, dr. Albertino Moreira, major Arthur Alves Firmino, d. José Maria Parreira Lara (bispo de Santos), cônego Uchôa, Aristides Cabrera da Cunha, Dick Martins, Américo Machado, Antonio Pereira Franco e muitas outras, inclusive redatores desta folha e colegas nossos.

Oferecimento do dr. Oscar Weinschenck - O dr. Oscar Weinschenck, diretor da Companhia Docas de Santos, telegrafou ao comendador Manoel Augusto de Oliveira Alfaya, presidente da Câmara Municipal, manifestando o seu profundo pesar por tão fatal acontecimento, e pondo à disposição da municipalidade tudo quanto possa ser preciso por parte da Companhia Docas de Santos.

Instituto Paulista de Biologia - Um oferecimento valioso - O Laboratório Paulista de Biologia, por intermédio do seu representante nesta praça, fez distribuir aos srs. médicos 25 quilos de seus produtos, assim como autorizou os srs. médicos a assinalar "medicamento gracioso" nas receitas.

As receitas encimadas com tais dizeres destinam-se às famílias dos flagelados, e nada custarão. A resolução acima se estende, também, à Cruz Vermelha Brasileira, desta cidade.

Serviços médicos - O distinto médico, sr. dr. Theophilo Falcão, ofereceu graciosamente à Santa Casa da Misericórdia e Beneficência Portuguesa os seus serviços profissionais.

O Tiro Naval presta serviços - O capitão-de-fragata Américo Ferraz e Castro, diretor da Reserva Naval, logo que teve ciência do lamentável sinistro, convocou os componentes do Tiro Naval para, revezando-se em turmas, prestarem serviços no desentulho dos prédios soterrados e auxiliarem o serviço de policiamento.

Atendendo ao apelo do capitão-de-fragata Américo Ferraz de Castro, os abnegados rapazes do Tiro acorreram pressurosos, ao quartel, seguindo dali para o local do sinistro, onde prestaram relevante auxílio.

Hospital "São José" - A diretoria do Hospital "São José", de São Vicente, oficiou ao dr. Ferreira da Rosa, delegado regional, nos seguintes termos:

"Ante o lamentável desastre ocorrido com o desabamento de parte do Monte Serrate, ocasionando considerável número de vítimas, pondo a Santa Casa dessa cidade em sérias dificuldades, por ter sido essa associação também atingida pelo desastre, venho, em nome da diretoria deste hospital, pôr à disposição de v. exa. os recursos que possamos prestar, muito embora esteja esta casa em reformas.

"Queira v. exa. aceitar os protestos da minha elevada estima e alta consideração. (a) José Meirelles, presidente".

A demolição do prédio n. 16 da Rua Rubião Júnior - O sr. Abelardo Pinto Ferreira, procurador do sr. Manoel Domingues Pinto, enviou ao dr. Ferreira da Rosa, delegado regional, a seguinte carta:

"Exmo. sr. dr. delegado regional de Santos - Tratando-se de caso de calamidade pública, qual o do desabamento de terras do Monte Serrate, apresso-me a vir até a v. exa., autorizando-o, na qualidade de procurador do sr. Manoel Domingues Pinto, proprietário do prédio n. 16 da Rua Rubião Júnior, nesta cidade, a mandar demolir dito prédio, a fim de facilitar os serviços de desentulho. Aliás, esse prédio foi atingido e sacrificado pela tremenda catástrofe.

"Na persuasão de que a medida que ora desinteressadamente ofereço a v. exa. é de alta vantagem pública, tenho a honra de reafirmar-lhe meus protestos de elevado apreço".

Operários do Saneamento - A Repartição do Saneamento forneceu 100 homens, para o trabalho de desentulho, sob as ordens dos drs. J. Luís e Aristides Machado.

Pobre padeiro! - Foi soterrado o infeliz homem quando, com sua carrocinha, de entrega de pão, passava, próximo ao local desabado, quando foi atingido por enorme bloco de terra, que o soterrou.

Dezenas de episódios - Dezenas e dezenas de episódios foram os que ontem presenciamos, no local do desastre, que no entanto não nos foi possível anotar, ante o tumultuar dos tristes acontecimentos.

Os que vieram de São Paulo - Na capital, logo cedo, foi conhecida a catástrofe, que encheu de dor a cidade, sendo muitas as pessoas que de lá vieram, pela Inglesa e pela estrada do mar.

Hoje, esse movimento será ainda maior, tendo sido já tomadas providências para evitar corridas desenfreadas, dos automobilistas, na estrada do mar.

A Câmara de S.Paulo associa-se ao luto da cidade - S. PAULO, 10 - Na sessão de hoje, da Câmara Municipal, o sr. Spencer Vampré pronunciou o seguinte discurso:

"Sr. presidente. É bem dolorosa a impressão que hoje passa no espírito dos srs. vereadores, ante o monstruoso desastre do Monte Serrat, em Santos.

"Não nos queremos limitar à manifestação escrita da nossa dor, neste momento angustioso, para a vizinha cidade: queremos, embora pela minha pálida palavra, fazer consignar, da tribuna desta Câmara, o nosso profundo pesar, por esse tão triste acontecimento".

O orador, depois de se referir à morte do dr. Olavo Egydio de Souza Aranha, enviou à mesa requerimentos relativos à catástrofe de Santos e à morte do dr. Olavo Egydio, a fim de que a mesa os submetesse à consideração da casa. - A.


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Artes e Artistas

Cerrando ontem suas portas em sinal de pesar, as empresas de diversões retomam hoje sua atividade - Em todas as suas classes sociais, a população santista se solidarizou no pesar que domina a cidade pela tremenda catástrofe do Monte Serrate, ontem ocorrida.

Horas sem conta, horas de dor, horas de profunda emoção, vem vivendo o espírito público, estarrecido ante as dolorosas conseqüências que, de momento a momento, vêm sendo constatadas, à medida que vão surgindo corpos humanos de sob os escombros.

Nem podia haver lugar nos corações bem formados senão para uma intensa piedade pelos entes vitimados.

Daí o hiato que na vida recreativa da cidade se fez por deliberação espontânea de todas as empresas de diversões, num gesto unânime de solidariedade humana.

Passado o primeiro instante, refeita a calma dos espíritos por força do inevitável, retomam hoje essas empresas a sua atividade do costume.

Realizar-se-ão, pois, hoje, as diversões que ontem noticiávamos nesta seção.

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