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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - PIONEIROS DO AR
Gago Coutinho e S. Cabral em Santos (4)

Visita ocorreu pouco depois de sua travessia aérea Lisboa-Rio de Janeiro
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Também estiveram em Santos, onde foram calorosamente recepcionados, os aviadores portugueses que fizeram a travessia pioneira de Lisboa ao Rio de Janeiro, em 1922. Essa travessia foi atentamente acompanhada pela imprensa, em todos os seus detalhes e peripécias, e até nos cinemas eram exibidos filmes-documentários sobre cada etapa da viagem. A visita dos aviadores a Santos ocorreu quase um mês depois do feito, e sua continuação foi registrada pelo jornal santista A Tribuna numa quarta-feira, 12 de julho de 1922 (ortografia atualizada nesta transcrição):
 


Imagem: reprodução parcial da matéria original

O dia dos aviadores

Gago Coutinho e Sacadura Cabral continuam a receber as mais expressivas homenagens
Visitas - Passeios - Inaugurações - As nossas notas

Durante o dia de ontem, Sacadura Cabral e Gago Coutinho realizaram várias visitas.

Deixando o Parque Balneário Hotel às 11 horas, os dois aviadores, em automóvel, em companhia de várias pessoas, visitaram ligeiramente o Asilo de Inválidos, onde foram acolhidos com muita simpatia por parte da direção do estabelecimento e internados.

Gago Coutinho e Sacadura Cabral demoraram-se na visita àquela recolhimento, cuja organização elogiaram calorosamente.

NA PRAIA DO GUARUJÁ

O almoço da Municipalidade - Depois de percorrerem a praia José Menino e adjacências, os nossos hóspedes dirigiram-se para o Guarujá, percorrendo-a em toda a extensão.

Os nossos ilustres visitantes mostraram-se encantadíssimos com o local, constando até que Sacadura Cabral ali permanecerá em repouso alguns dias.

No Grande Hotel de La Plage, foi servido aos aviadores e sua comitiva um lauto almoço.

À mesa sentaram-se os srs.: almirante Gago Coutinho, comandante Sacadura Cabral, Valentim Ribeiro de Mello, cônsul de Portugal; Arnaldo Ferreira de Aguiar, vice-prefeito municipal, em exercício; comendador João M. Alfaya Rodrigues, vice-presidente da Câmara; Benedicto Pinheiro, Alberto Fernandes Leal, coronel Manuel Ribeiro de Azevedo Sodré, vereadores; Carlos Luiz de Affonseca, João Mourão, dr. Thomaz d'Alvim, capitão João Salermo, Mariano Câmara Leite, Aristides C. Correa da Cunha, Antonio Marques Bento de Souza, capitão Amando Stockler Fernando Canto e Castro, oficialidade dos cruzadores República e Carvalho Araújo e Oswaldo Silva, por esta folha.

Foi servido finíssimo menu, e uma esplêndida orquestra tocou durante a refeição.

Ao champanha, o sr. Arnaldo Ferreira de Aguiar, vice-prefeito, em exercício, saudou o contra-almirante Gago Coutinho e o comandante Sacadura Cabral, oferecendo-lhes o almoço.

Gago Coutinho, em poucas palavras, agradeceu, em seu nome e no do seu companheiro de travessia.

Falou ainda o comendador Alfaya Rodrigues, que, além de saudar os bravos pilotos, aludiu à solenidade do lançamento da pedra fundamental do monumento a Bartholomeu de Gusmão, que seria por eles presidida.

Houve ainda vários brindes.

Uma multidão de curiosos, que estacionava em frente ao edifício do hotel, aclamou incessantemente os gloriosos aviadores.

O REGRESSO

Visita à Beneficência Portuguesa - O regresso dos excursionistas à cidade deu-se às 15 horas, mais ou menos.

Uma vez no centro, os aviadores estiveram em visita à Beneficência Portuguesa, onde foram recebidos pela diretoria da instituição e grande massa popular.

No salão nobre da Beneficência, Sacadura Cabral e Gago Coutinho receberam, solenemente, os diplomas de sócios honorários.

Em seguida, por entre aclamações gerais, dirigiram-se todos ao Largo do Rosário, a fim de procederem ao lançamento da pedra fundamental da estátua a Bartholomeu de Gusmão.

No Hospital da Santa Casa - Finda a tocante e expressiva cerimônia, os aviadores visitaram o Hospital da Santa Casa de Misericórdia.

Ali foram recebidos pelo provedor, sr. Manoel Augusto de Oliveira Alfaya, srs. Augusto Marinangeli, Luiz Alves de Carvalho, Sérgio da Costa Fontes, major Norberto de Macedo, Belmiro Ribeiro de Moraes e Silva, Augusto de Carvalho, Alvaro Pinto da Silva Novaes, Theodoro Hayden, Antonio Candido Gomes, João Esteves Martins, Amedeu Ratto, Joaquim dos Santos Ribas, Luiz Antonio da Silva e outras pessoas.

Depois de percorrerem demoradamente várias dependências do hospital, os aviadores regressaram ao Parque Balneário Hotel.

No Teatro D. Pedro II - A brilhante récita em homenagem aos aviadores - O entusiasmo da população santista em torno das figuras, já agora legendárias, dos bravos aviadores Sacadura Cabral e Gago Coutinho, ainda ontem teve ensejo de transbordar numa exuberante demonstração.

A récita de gala no Teatro D. Pedro II, no Macuco, assumiu as proporções de uma deslumbrante apoteose.

Como havíamos noticiado, a receita bruta desse festival será entregue aos aviadores para que os mesmos a distribuíssem às famílias das vítimas do desastre do Avaré.

A comissão promotora dos festejos, associando-se a esse belo gesto de altruísmo, fez correr por sua conta as despesas do espetáculo de gala.

A Companhia Italiana de Operetas Léa Candini, dirigida pelo festejado tenor Arthur De Angelis e pelo distinto maestro Giovanni Gemme, representou a linda opereta de Oscar Strauss Última Valsa, peça que tem tido ali um êxito excepcional em suas sucessivas interpretações.

Ao elegante teatro, que a Empresa Cine-Teatral mandou ornamentar condignamente, logo que foi aberto, começou a afluir uma seleta assistência, notando-se as nossas figuras mais representativas tanto na sociedade santista como na colônia lusa.

O espetáculo foi iniciado à hora do costume, tocando no hall, durante os intervalos, a banda do Corpo Municipal de Bombeiros, que o sr. Arnaldo Aguiar, vice-prefeito municipal, gentilmente cedeu para abrilhantar a festa.

Cerca das 22 horas, deram entrada no teatro os dois heróis. Logo que os autos que os conduziam estacaram à porta, a multidão, que ali se aglomerara, compacta, prorrompeu numa frenética aclamação, dando vivas aos dois gloriosos aviadores, a Portugal e Brasil.

O contra-almirante Gago Coutinho e capitão Sacadura Cabral vinham acompanhados dos srs. vice-prefeito, em exercício, Arnaldo Aguiar; comendador Alfaya Rodrigues, oficiais da Marinha portuguesa e demais membros da comitiva dos aviadores; comissão promotora dos festejos e muitas outras pessoas gradas da colônia portuguesa e sociedade santista.

Quando os aviadores deram entrada no salão de espetáculos, toda a assistência, de pé, batia palmas estrepitosamente.

A orquestra executou seguidamente os hinos português e brasileiro, sob o entusiasmo estuante da platéia.

Os dois heróis do espaço tomaram assento em seus lugares de honra.

Por essa ocasião, o dr. Heitor de Moraes, vereador municipal, leu uma formosa saudação aos aviadores portugueses.

Falando em nome da cidade, o dr. Heitor de Moraes teve conceitos os mais expressivos, fazendo a evocação dos primeiros tentamens para a realização dessa miraculosa conquista que é o vôo do homem, triunfando da miserável contingência de algemado da matéria. Recorda o padre Bartholomeu de Gusmão. É Santos, a terra de poetas e heróis, que teve a glória de participar desse arrojo do engenho humano, em seus primórdios.

O orador fala do heroísmo da raça portuguesa, evoca o infante D. Henrique na Escola de Sagres, o ninho de capitães aventurosos, os primeiros desbravadores das vastidões incomensuráveis.

Ao terminar a sua peça oratória, o orador foi estrepitamente aplaudido pela vasta assistência.

Do palco, as artistas, que haviam suspenso a representação, atiraram ao camarote dos aviadores braçadas de flores.

A orquestra executou, novamente, os hinos português e brasileiro, findo o que prosseguiu o espetáculo.

Encerrando a festa, realizou-se um leilão, no palco, de um original aeroplano, todo ele feito de doce, oferta gentil da conhecida confeitaria À Leoneza, e cujo resultado reverteu em benefício das vítimas do Avaré.

Foi arrematante o sr. Agostinho Flores, que deu o maior lance, 60$000.

Posto novamente em leilão, o doce foi arrematado pelo sr. Luiz Alves de Castro, que o licitou por 100$000, perfazendo assim um total de 160$000 o resultado do leilão.

Os aviadores visitam o dr. Ibrahim Nobre - Passou ontem, pessoalmente, pela Delegacia Regional, a fim de cumprimentar o dr. Ibrahim Nobre, delegado regional, o comandante Sacadura Cabral.

O heróico aviador foi ali recebido por aquela autoridade, que também teve a visita do contra-almirante Gago Coutinho, representado pelo oficial seu ajudante de ordens.

Em trem especial, que partirá às 10,20 horas, da gare da Inglesa, regressará a São Paulo o contra-almirante Gago Coutinho, acompanhando-o os demais membros da sua ilustre comitiva.

O comandante Sacadura Cabral, ao que ouvimos, ainda se demorará alguns dias, fazendo uma cura de repouso em Guarujá.

Gago Coutinho despede-se da A Tribuna - Veio ontem à nossa redação o oficial da armada portuguesa, sr. Horácio de Faria Pereira, ajudante de ordens do contra-almirante Gago Coutinho, o qual, em nome do intrépido aviador luso, nos agradeceu as palavras de entusiasmo com que nos vimos referindo à gloriosa façanha, que é a travessia do Atlântico, e à missão altamente afetiva que desempenham no Brasil os dois ilustres e vitoriosos pilotos.

Um belo gesto da À Leoneza - Os srs. A. Florez e Irmãos, proprietários do acreditado estabelecimento comercial À Leoneza, sabendo que se realizava, ontem, no Teatro D. Pedro II, um espetáculo de gala em benefício das famílias dos marujos brasileiros perecidos no naufrágio do Avaré, não quiseram deixar de associar-se a esse ato humanitário e, por isso, resolveram concorrer também para o brilho do festival.

Assim, aqueles comerciantes fizeram a oferta de um hidroavião manipulado na fábrica da À Leoneza, em homenagem à travessia aérea do Atlântico.

Esse hidroavião, que é inteiramente fabricado de doce e trabalhado com capricho, foi vendido em público pelo leiloeiro oficial sr. Olegário Mendes, que gentilmente se prestou a fazê-lo, revertendo, como se disse, o seu maior lance, em benefício das famílias dos tripulantes do Avaré.

Uma comissão do Centro Republicano Português, antecipando-se à visita que os aviadores lusitanos deveriam fazer àquela casa, e onde seriam recebidos solenemente, procurou-os ontem, no Parque Balneário Hotel, e entregou-lhes, como afetuosa lembrança, um lindo e custoso bronze - Glória aos esportes -, de afamado autor francês.

Essa cerimônia realizou-se com a maior simplicidade e por isso mesmo foi especialmente agradável aos ilustres representantes de Portugal.

- Entre as alegorias com que a cidade tem celebrado a grande façanha dos aviadores portugueses, está a que foi armada na vitrine da Chapelaria Gomes. É o hidroavião Santa Cruz, em marcha sobre o oceano.

Com uma perfeição que tem merecido os mais calorosos elogios, conseguiu um modesto artista local reproduzir, em folha de Flandres, o Fairey vitorioso, cujas hélices são acionadas por um pequeno ventilador oculto entre folhagens.

Tem sido muito apreciada essa alegoria, principalmente porque o hidroavião em miniatura é uma fidelíssima reprodução do Santa Cruz.

- Na secretaria do Real Centro Português, acham-se à disposição de seus donos um agasalho de pele para senhora e um alfinete de gravata.

Missa em ação de graças - Conforme anunciamos, efetuou-se ontem, às 9 horas, na igreja do Rosário, a missa mandada rezar pela Associação das Mães Cristãs, em ação de graças pelo êxito da arrojada travessia dos aviadores portugueses.

As orquestras reunidas da Cine-Teatral, gentilmente cedidas pelo sr. Manuel Fins Freixo, e o corpo de cantores corais daquela igreja, regido pelo distinto maestro Leonardo de Castro, prestaram o seu valioso concurso a essa carinhosa homenagem.

O templo achava-se repleto, apresentando um belo aspecto, notando-se a presença de todas as congregações religiosas desta cidade.

Não tendo podido comparecer, por motivo de força maior, os heróicos aviadores, fizeram-se representar pelo tenente João Caldeira, que compareceu acompanhado do sr. João Mourão, membro da comissão de festejos.

Ao terminar a cerimônia, as crianças do catecismo aclamaram entusiasticamente os gloriosos homenageados, na pessoa do seu digno representante.


Placa comemorativa, baixo relevo executado em bronze, oferecida pela Colônia Síria de Santos aos aviadores portugueses - Trabalho do escultor sírio S. H. Maluf.
Esta placa, que perpetua a travessia aérea do Atlântico pelos bravos azes lusitanos, merece elogios, pela maneira original com que o escultor procurou traduzi-la. As cabeças de Gago e Sacadura, ambas cortando a amplidão, unidas por uma única junção de asas, transpondo os ares, como que a seguir a esteira luminosa que a nave de Cabral deixara, através dos séculos, entre a Torre de Belém e Porto Seguro.
Imagem publicada com a matéria

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