Clique aqui para voltar à página inicialhttp://www.novomilenio.inf.br/santos/h0030c.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 03/14/06 11:10:25
Clique na imagem para voltar à página principal
HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - TÚNEIS SECRETOS
Fotógrafo ficou sem magnésio...

Produto era necessário ao velho Marques Ferreira para fotografar na gruta...
Leva para a página anterior
Com localização imprecisa, mas confirmada por vários historiadores, há pelo menos um túnel - talvez diversos deles - sob os morros santistas, destinado primeiro ao uso como refúgio contra piratas e depois como esconderijo para escravos. Há relatos de que também poderia ter funcionado como capela ou mesquita dos judeus coloniais.

Uma das primeiras citações é que Mestre Bartolomeu, ferreiro da armada de 1532, anos antes de morrer, começara uma grande obra para a vila de Santos, continuada pelo filho. Durante um ataque por piratas, Bartolomeu Fernandes, o filho de Mestre Bartolomeu, correu pela então vila chamando as pessoas a acompanhá-lo até uma gruta, disfarçada entre rochas do talude, que disse ser a Gruta de Nossa Senhora do Desterro, que ligava o Tachinho (N.A.: atual morro da Nova Cintra) a São Vicente.

Porém, não ficou registrada a localização dessa gruta - possivelmente construída junto à fonte do Desterro, nas imediações do Mosteiro de São Bento - nem a extensão dos túneis, que segundo alguns pesquisadores atravessariam todo o morro, tendo inclusive uma entrada secreta dentro do mosteiro. Um dos túneis, segundo a lenda, ligaria o mosteiro ao cais, à igreja do Valongo e até ao Convento do Carmo.

Ribeirões - Para melhor compreensão das localizações citadas, vale recordar que um dos ribeirões canalizados em Santos foi o de São Jerônimo, com nascente no Monte Serrat, que passa sob a Praça dos Andradas e a Rua Conde D'Eu, seguindo até o Estuário.

Ele não deve ser confundido com o Ribeirão do Carmo, que nasce no sopé do Monte Serrat (junto à bica do Itororó) e passa sob a Rua Itororó, prosseguindo sob a Rua Augusto Severo e a Praça Barão do Rio Branco, passando ao lado da igreja do Carmo.

Já o Ribeirão São Bento, antigamente chamado do Desterro, e canalizado como os demais no início do século XX, começava no Morro São Bento e passava defronte ao Convento do Valongo, no atual Largo Marquês de Monte Alegre.


Desmoronamento do Monte Serrat, em 1928

Entrada - Conta o pesquisador Francisco Martins dos Santos, em sua História de Santos, que "em 1928, durante as obras de consolidação da encosta do Monte Serrat, após o desmoronamento ocorrido nesse ano, o engenheiro municipal que chefiou os serviços, Dr. Antônio Gomide Ribeiro dos Santos (que mais tarde foi prefeito municipal), encontrou uma pesada grade de ferro, vedando a abertura e que tombou oxidada pelo tempo.

"Ao entrar pela abertura, os operários municipais e da City encontraram um grande salão, de quatro por oito metros aproximadamente e totalmente calcetado. Uma banqueta acompanhava as paredes, e um túnel, por onde os trabalhadores penetraram cerca de trinta metros, aparecia no fundo. Aves noturnas atestavam a existência de um respiradouro. Por causa dos deslizamentos que ameaçavam as encostas do Monte Serrat, a entrada teve que ser emparedada com muros de concreto, impossibilitando assim a continuação das pesquisas no local. O fato foi publicado pelos jornais da época, com desenhos e fotografias do local, que atestam a veracidade do que, até então, se tinha por lenda", continuou o historiador.

Na História de Santos/Poliantéia Santista, (de Francisco Martins dos Santos e Fernando Martins Lichti), a história é repetida, com mais detalhes, no trecho em que é descrita a origem do nome do Monte Serrate:

Por ocasião do grande desmonte de 1928, ficou a descoberto, durante alguns dias, a três quartos da altura da encosta atingida, a entrada de uma gruta que ninguém supunha existir. Segundo a descrição do engenheiro-chefe da Prefeitura (depois prefeito de Santos), o Dr. Antonio Gomide Ribeiro dos Santos, que nela esteve por alguns instantes, sem maior penetração, por se temer, então, novo desmonte, havia à entrada dessa gruta um salão de 8 metros, por 4, com bancos laterais, de pedra ao que parecia, e com inscrições, para ele incompreensíveis, nas paredes. Ao fundo daquele salão, havia um túnel muito escuro, que penetrava no coração do morro.

A nota curiosa do relato do engenheiro Gomide é que, logo após a queda do velhíssimo portão de ferro, desfeito aos primeiros contatos com o ar, as pessoas que se animaram a penetrar no salão descrito, ali viram dezenas de corujas e morcegos em revoada, denotando existência de oxigênio no interior da gruta, e, conseqüentemente, a existência de alguma saída ou respiradouro, em qualquer outra parte, e decerto ao fim do túnel que ninguém penetrou.

À falta de magnésio no momento (pleno dia), o fotógrafo que lá esteve com o engenheiro Gomide Ribeiro dos Santos (o velho Marques Pereira) só pôde fotografar a entrada da gruta, já com o portão esboroado.

Infelizmente, por sugestão dos técnicos, aquela entrada foi de novo tapada, não sabemos se com tijolos e cimento, mas, pelo menos, com uma grossa camada do próprio barro do morro aluído.

Estudando o caso, chegamos à conclusão de que se tratava da Gruta de São Jerônimo, do século XVI (...)

Matéria do jornal A Tribuna em 1980 conta essas histórias, destacando-se o detalhe da grade de ferro na entrada do túnel: no que seria a outra ponta do túnel, no chamado refúgio do Tachinho, junto à cachoeira, também haveria uma grade de ferro - podem ser, portanto, as duas pontas do lendário túnel. A citação "um novo talude de barro e pedra desceu" parece referir-se ao deslizamento na encosta do morro ocorrido na década de 1950:

O Túnel emparedado (*)

Quando ocorreu o catastrófico desmoronamento do Monte Serrate, em 1928, os operários encarregados das obras de consolidação das encostas do morro, ao realizarem o desmonte de taludes, encontraram uma pesada grade de ferro, vedando a entrada de uma gruta, e que acabou tombando, oxidada pelo tempo.

Os funcionários da Prefeitura e da Companhia City penetraram pela abertura, e descobriram um amplo salão, de quatro metros de largura por oito de comprimento, aproximadamente, totalmente calcetado. Em todo o seu perímetro havia uma banqueta, e depois do salão surgia um túnel. A descrição do local foi feita pelo então engenheiro municipal, Antônio Gomide Ribeiro dos Santos, que depois seria prefeito de Santos, ao historiador Francisco Meira, que tempos depois tentou estabelecer o local exato da entrada do túnel, em Santos de Ontem, publicação do Diário Oficial de 1952, republicada, com a devida atualização, em 1970.

Os operários penetraram cerca de 30 metros no túnel, que, segundo os relatos, "sumia-se ao fundo". Francisco Meira cita: "Aves noturnas, despertas pela luz penetrante, esvoaçavam, o que indica a existência de um respiradouro que assegura a perfeita oxidação do ambiente.

"Pessoas já falecidas e outras vivas ainda, sabe-se que penetraram por ele. Nunca o revelaram ou perderam a sua localização. Sua lendária configuração é, porém, sempre idêntica".

Assim Geraldo Perrone descreveu o local: "Ao limiar da porta, que está encravada na face oriental do morro, há um vastíssimo salão com bancos de pedra em toda sua volta, e estavam atacados pelo limo. Ao fundo divisavam-se três portas de pequenas dimensões que davam acesso a outro compartimento. As correntes de ar desafiavam os archotes..."

Antônio Gomide mostrou o local, tempos depois, para o historiador Francisco Meira, exibindo até mesmo uma fotografia da entrada do túnel, onde aparece um significativo encanamento lateral. Porém, a entrada foi, segundo as palavras de Meira, "afanosamente emparedada, visto os perigos que naquela ocasião os deslizamentos no Monte Serrat ofereciam". E, assim, foi enterrada a oportunidade de saber-se um pouco mais sobre a nossa história.


Seta na foto de Carlos Marques mostra onde seria o túnel fechado em 1928

Outro historiador, Francisco Martins dos Santos, denominava o local de Gruta de São Jerônimo, e levantava diversas hipóteses sobre sua origem. Segundo ele, poderia ser um refúgio contra o ataque de piratas, ou ainda serviria para guardar tesouros e riquezas. Mas, ainda segundo Francisco Martins dos Santos, poderia ser uma "capela ou mesquita dos judeus coloniais... um muro de lamentações dos cristãos-novos". Ele diz que, em 1952, apenas dois homens poderiam localizar a entrada, mas não cita quem seriam os dois - e ainda que a gruta foi fechada com tijolos e cimento, e "um novo talude de barro e pedra desceu".

Em artigo publicado por A Tribuna em 1953, Martins dos Santos refere-se a uma expedição que tentaria localizar a entrada da gruta de São Jerônimo: "Muito breve, neste outono, lá iremos com seus descobridores". Mas, além de dizer que haveria inscrições nas paredes do salão, não se sabe o resultado desta expedição, e o mistério e as lendas continuam, sem que o local seja realmente explorado.

Para a historiadora Wilma Terezinha de Andrade, seria preciso ir ao local acompanhado de técnicos e operários, e realizar um trabalho científico, com escavações, para determinar a época em que foi construído o túnel e procurar outros vestígios. Mas ela não acredita tratar-se de um refúgio de judeus, pois isto chamaria muita atenção, por causa de sua localização.

De acordo com as indicações de Francisco Meira, a entrada da gruta e do túnel - que ninguém sabe aonde vai dar - fica nas encosta oriental do morro, próximo à antiga escadaria, junto à subida do Morro do São Bento, na altura do elevado Prefeito Aristides Bastos Machado.

Resta apenas alguém habilitar-se a procurar a Gruta de Sao Jerônimo.

(*) Extraído da matéria Os subterrâneos de Santos, de Lane Valiengo, com foto de Carlos Marques, publicada em 6/1/1980 no jornal A Tribuna, de Santos/SP.

***

Refúgio colonial

Estas raras imagens a seguir foram publicadas no suplemento infantil A Escolinha, do Diário Oficial de Santos, em 12 de junho de 1971. A primeira, apresentada em negativo, indica o local do túnel na encosta do Monte Serrat: "Presume-se que a entrada do túnel ficaria na intersecção das flechas A e B":

Para facilitar a visualização, a mesma imagem, em positivo. O prédio no alto é o do antigo cassino do Monte Serrat, visto das imediações da Praça dos Andradas:

A publicação apresenta esta planta como sendo uma hipótese do formato do túnel, de acordo com as informações colhidas:

Leva para a página seguinte da série