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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS
Malaquita

Foi numa manhã de dezembro de 1877, no Largo da Banca. Sabem onde ficava? Na área definida pela atual Praça Azevedo Júnior e o começo da Rua Riachuelo, ou pouco mais adiante. Davam-lhe popularmente esse nome porque era lá que se situava a banca de peixe, nas proximidades da qual havia popular chafariz que se denominava Chafariz da Banca.

Muito bem. No Largo da Banca surgiu, sem qualquer aviso prévio, esquisita carruagem pintada de vermelho com arabescos dourados e espelhos de cristal. Na boléia, dois homens vestidos de Conde de Espadas, um dos quais conduzia a parelha de cavalos brancos, enquanto o outro tocava velho e maltratado realejo. Dentro do carro real, um homem já avelhantado, de cavanhaque longo, como o general francês o usava, trajando roupa leve, de brim. Os curiosos, aos grupos, rodeavam a curiosa carruagem e resmungavam:

Largo da Banca, em foto de 1865, atual Praça Azevedo Júnior

- Que será isso?

- Algum rei?

O Conde do realejo virou a manivela e guinchou valsa alegre, mas velha, tão velha como o aparelho, finda a qual o homem de cavanhaque, surgindo à massa, explicou em português afrancesado:

- "Senhores santistas! Venho da Argentina, onde estive durante muitos anos. Sou o dr. Pierre, médico que cura toda e qualquer moléstia com um único remédio - a prodigiosa Malaquita -, com a qual darei vista aos cegos, farei andar os reumáticos e tiro qualquer dente sem a mínima dor. Se entre os senhores houver alguém que padeça, que se apresente; se entrar enfermo no meu carro, sairá em poucos segundos completamente curado!"

E abrindo a portinhola do carro: "Entrem sem receio! Entrem que nada pagarão. Para os senhores, pobres, não exijo dinheiro". A princípio ninguém se atreveu a entrar.

O Conde do realejo moeu outra valsa. Um dos espectadores, de queixo amarrado, entrou no carro. Houve sussurro geral. Até hilaridade. O tal doutor Pierre fê-lo sentar-se, mandou abrir a boca e, voltando-se para o povo, exclamou:

- "Este homem me pede para extrair um dente que o aflige. Pois bem. Vou extraí-lo sem a menor dor, sem recorrer ao boticão". E daí a segundos exibiu na palma da mão direita um molar com raízes. Na verdade, o paciente não acusou nenhuma dor. Olhava estupefato para o doutor Pierre, como que maravilhado. A plebe entreolhava-se admirada, séria, já não mais incrédula, porém pensando em feitiçaria.

Colaborando no sucesso do amo, o homem do realejo sapecou outra valsa. Depois, entrou no carro outro espectador enfermo que mancava, atacado há anos de reumatismo articular. Pierre recebeu-o com amabilidade, levantou-lhe a calça, despejou na palma da mão um pouco de Malaquita que aplicou na área afetada. Finda a ligeira operação, mandou que o homem se levantasse e corresse. Com grande pasmo da multidão, o homem reumático há 5 anos correu em volta do Largo da Banca!

Foi um sucesso a Malaquita. Todo mundo comprou o milagroso medicamento a mil réis o vidro. A exibição repetiu-se por alguns dias. Mais vidros de Malaquita foram vendidos. As farmácias ficaram às moscas. Pierre tornou-se popularíssimo. E na hora de recolher-se, dizendo-se rico, jogava moedas para a garotada, que brigava para alcançá-las.

Isso levou 20 dias, quando o charlatão se despediu. Carlos Vitorino, testemunha ocular, conta o episódio em seu livro Reminiscências - 1875-1898.

Reproduzido da Cartilha da História de Santos (Olao Rodrigues, 1980, Prodesan Gráfica, Santos/SP, páginas 33/34).

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